Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

Kaaba
Kaaba*

 

 

* Kaaba (Ka'bah, Kabah ou Caaba) é uma construção espiritual que é reverenciada pelos muçulmanos na Mesquita Sagrada de Al Masjid Al-Haram, em Meca, e é considerado pelos devotos do Islã como o lugar mais sagrado do mundo; está localizada nas coordenadas 21°25'21,15"N e 39°49'34,1"E. A Kaaba é o centro das peregrinações (Hajj), e é para onde o devoto muçulmano volta sua face para as suas preces diárias (Salat ou Salah, que são as cinco orações rituais que cada muçulmano deve realizar diariamente voltado para Meca). Hoje, a Kaaba representa a casa de Deus. Um devoto muçulmano, esteja onde estiver, para Ela humildamente se volta em suas preces diárias, pois a Kaaba, segundo a fé islâmica, representa não só o centro do mundo, mas o centro do próprio Universo.

 

 

 

Continuação

 

 

 

Para ler a Primeira Parte deste trabalho-estudo, por favor dirija-se a:

1ª Parte:
http://paxprofundis.org/
livros/alcsag/alcsag.htm

 

Esta Segunda Parte está constituída de excertos recolhidos (e eventualmente comentados) da 17ª Surata (Al Isrá) à 30ª Surata (Ar Rum).

 

 

 

 

 

 

 

Pérolas Alcorânicas Eternas

 

 

 

Se praticardes o bem, este será revertido em vosso próprio benefício; se praticardes o mal, será em prejuízo vosso. (Surata Al Isrá, versículo 7). [Contudo, a prática do bem não pode estar vinculada a um temor por qualquer tipo de castigo. Também não se deve praticar o bem esperando um prêmio futuro ou uma consolação especial. A Lei é: praticar sempre o bem. Ponto final. É evidente que o Profeta Muhammad não poderia, em função do nível cultural do povo de sua época, apresentar sua mensagem em termos puramente místico-metafísicos. Nem hoje isso é possível. Por isso, prometeu muito e ameaçou mais ainda, que era (e ainda é) a linguagem que poderia ser entendida pela incultura que grassava naqueles tempos. O medo do tártaro1 e a esperança do paraíso, em determinados níveis de compreensão, são apelos insubstituíveis.]

Aqueles que anelarem a outra vida e se esforçarem para obtê-la, e forem fiéis, terão os seus esforços retribuídos. (Surata Al Isrá, versículo 19).

Não cerres a tua mão excessivamente nem a abras completamente porque te verás censurado, arruinado.2 (Surata Al Isrá, versículo 29).

Evitai a fornicação porque é uma obscenidade e um péssimo exemplo. (Surata Al Isrá, versículo 32).

Pesai na balança justa... (Surata Al Isrá, versículo 35).

De todas as coisas, a maldade é a mais detestável, ante o teu Senhor. (Surata Al Isrá, versículo 38).

Quem estiver cego neste mundo estará cego no outro... (Surata Al Isrá, versículo 72). [Depois de cumprirmos nossas experiências neste Plano, quanto tempo será preciso para que reconheçamos nossas ilusões? Para muitos, uma eternidade; para outros, nem tanto.]

O Livro-registro será exposto. Verás os pecadores atemorizados por seu conteúdo, e dirão: Ai de nós! Que significa este Livro? Não omite nem pequena, nem grande falta, senão que as enumera! E encontrarão registrado tudo quanto tiverem feito. Teu Senhor não defraudará ninguém. (Surata Al Cahf, versículo 49).

É inadmissível que o Clemente houvesse tido um filho. (Surata Máriam, versículo 92).

Dela [da Terra] vos criamos, a Ela retornareis, e Dela vos faremos surgir outra vez. (Surata Taha, versículo 55).

Desfrutai de todo o lícito com que vos agraciamos, mas não abuseis disso, porque a Minha abominação recairá sobre vós; aquele sobre quem recair a Minha abominação, estará verdadeiramente perdido. (Grifo meu.) (Surata Taha, versículo 81).

Não vêem, acaso, os incrédulos, que os céus e a Terra eram uma só massa que desagregamos, e que criamos todos os seres vivos da água? (Surata Al Anbiyá, versículo 30).

Mas quem praticar o bem e for, ademais, fiel, saberá que seus esforços não serão baldados, porque os anotamos todos. (Surata Al Anbiyá, versículo 94).

Entre os humanos, há quem discuta nesciamente acerca de Deus e segue qualquer demônio rebelde. (Surata Al Hajj, versículo 3).

Foi decretado sobre (o maligno): Quem se tornar íntimo dele, será desviado e conduzido ao suplício do tártaro. (Surata Al Hajj, versículo 4).

Entre os humanos, há aqueles que disputam nesciamente acerca de Deus, sem orientação... (Surata Al Hajj, versículo 8).

Entre os humanos há, também, quem adora Deus com restrições. Se lhe ocorre um bem, satisfaz-se com isso; porém, se o açoita uma adversidade, renega e perde este mundo e o outro. Esta é a evidência da desventura. (Surata Al Hajj, versículo 11).

Jamais imporemos a uma alma uma carga superior às suas forças, pois possuímos o Livro, que proclama a justiça, e, assim, nenhuma alma será defraudada. (Surata Al Muminum, versículo 62).

Aqueles que não crêem na outra vida desviam-se da Senda. (Surata Al Muminum, versículo 74). [Mais do que simplesmente crer, é necessário, se for possível, uma uma experiência pessoal, concreta e efetiva da Unidade da Vida, experiência, religiosa ou mística, que produz confiança, certeza e humildade.]

Deus não teve filho algum, nem jamais nenhum outro deus compartilhou com Ele a divindade! Porque, se assim fosse, cada deus ter-se-ia apropriado da sua criação e teriam prevalecido uns sobre os outros. (Surata Al Muminum, versículo 91). [Em um trabalho que já escrevi há alguns anos, argumentei: em qualquer tempo não podem coexistir harmoniosamente dois Princípios Constitutivos do Universo. Se houvesse, pois, dois Princípios, ou seriam diferentes, ou seriam iguais. Se fossem diferentes, anular-se-iam mutuamente; se fossem iguais, seriam idênticos como se um só houvesse. A multiplicação e a proliferação de deuses é produto da humana ignorância. Hoje, no mundo, associaram-se em um consórcio de brutalidades e de cobiças o deus-dinheiro com o deus-guerra. A Unidade é. É Aquilo que é. E por ser Aquilo que é, sempre foi, será e não pode não ser. Na inexistente eternidade sempre será. Isto quanto às múltiplas idéias de Deus; quanto ao Deus de nossos Corações, só nós poderemos edificá-Lo, como só nós poderemos destruí-Lo. O resto é ilusão. Portanto, misticamente, é este o entendimento que tenho do versículo 116 desta Surata: Exaltado seja Deus, Verdadeiro, Soberano! Não há mais divindade além d’Ele, Senhor do honorável Trono!]

Em verdade, aqueles que difamarem as mulheres castas, os inocentes e os fiéis serão malditos, neste mundo e no outro, e sofrerão um severo castigo. (Surata An Nur, versículo 23).

Dize aos fiéis que recatem os seus olhares e conservem seus pudores... (Surata An Nur, versículo 30).

Não vos exijo, por isso, recompensa alguma, além de pedir, a quem quiser encaminhar-se até a Senda do seu Senhor, que o faça. (Surata Al Furcan, versículo 57). [Aqui está, por exemplo, um conceito absolutamente místico-metafísico ancorado em liberdade e tolerância.]

Dize (àqueles que rejeitam): Meu Senhor não Se importará convosco, se não O invocardes. Mas desmentistes (a verdade), e por isso haverá um (castigo) inevitável. (Surata Al Furcan, versículo 77). [A verdade, ainda que relativa, não poderá ser encontrada fora; só dentro, no Coração. Ainda que sempre relativa. E mais: a verdade (relativa) de um não poderá jamais ser igual (ou idêntica) à verdade (relativa) de outro. Então há mil e uma verdades? Não. Isto seria absurdo. Só há uma Verdade. Eterna, imutável, mas inalcançável, inatingível, no todo. É a cultura pessoal de cada ser-no-mundo que permite uma maior e melhor compreensão daquilo que é entendido como Verdade Absoluta. Peregrinar sempre, pois a Peregrinação é ilimitada. As baldeações são ajustes.]

E não diminuais os direitos dos humanos em seus bens e não pratiqueis devassidão na Terra, corrompendo-A. (Surata Ach Chu'ará, versículo 183).

Logo saberão os iníquos as vicissitudes que os esperam. (Surata Ach Chu'ará, versículo 227).

 

 

 

 

Mas se alguém, tendo-se condenado, logo se arrepende, trocando o mal pelo bem, (saiba que) sou Indulgente, Misericordiosíssimo. (Surata An Naml, versículo 11). [Não sei onde escrevi isto, mas a coisa é mais ou menos assim: a atitude-chave é o arrependimento sincero. No tempo – que é tempo e que não é tempo – nada é para sempre.]

O que é preferível: Deus ou os ídolos que Lhe associam? (Surata An Naml, versículo 59).

E não te aflijas por eles, nem te angusties pelo que conspiram contra ti. (Surata An Naml, versículo 70). [Uma mente serena, confiante, nada teme.]

E não há mistério nos céus e na Terra que não esteja registrado no Livro Lúcido. (Surata An Naml, versículo 75).

Tudo quanto vos tem sido concedido não é mais do que um gozo da vida terrena com os seus encantos; por outra, o que está junto a Deus é preferível e mais persistente. (Surata Al Cassas, versículo 60). [Este versículo faz clara referência às ilusões desencaminhadoras e tentadoras do Plano Objetivo. Nossos sentidos nos iludem e inconscientemente conspiram para nos afastar da Eterna Vida e do Sumo Bem. Daí, a avareza, o egoísmo, a usura etc.]]

Porém, quanto ao que se arrepender e praticar o bem, é possível que se conte entre os bem-aventurados. (Surata Al Cassas, versículo 67). [Não poderá haver jamais arrependimento sem compreensão. E a compreensão não virá jamais pela razão noética. Mas, quando fala e é ouvida a Voz do Coração...]

Destinamos a morada, no outro mundo, àqueles que não se envaidecem nem fazem corrupção na Terra... (Surata Al Cassas, versículo 83).

Porventura, pensam os humanos que serão deixados em paz, só porque dizem: Cremos!, sem serem postos à prova? (Surata Al‘Ankabut, versículo 83).

Crêem, acaso, os malfeitores, que poderão iludir-Nos? Quão péssimo é o que julgam! (Surata Al‘Ankabut, versículo 4).

O exemplo daqueles que adotam protetores, em vez de Deus, é igual ao da aranha que constrói a sua própria casa. Por certo que a mais fraca das casas é a teia de aranha... (Surata Al‘Ankabut, versículo 41).

E no dia em que chegar a Hora do Juízo os pecadores se desesperarão. (Surata Ar Rum, versículo 12).

Ele extrai o vivo do morto, e o morto do vivo... (Surata Ar Rum, versículo 19). [Em termos místico-alquímicos isto pode ser entendido como Transmutação. Cabe a todos os religiosos sinceros e a todos os místicos verdadeiros Decantar o vivo do morto e Destilar o morto do vivo. Entretanto, tristemente, há aqueles que, iníquos, se entregam nesciamente às suas luxúrias, como está escrito no versículo 29 desta Surata.]

Volta o teu rosto para a religião monoteísta. (Surata Ar Rum, versículo 30). [Só há um Deus – o Deus de nossa Compreensão. O Deus – a compreensão de Deus – de um aborígine certamente será diferente do Deus – a compreensão de Deus – de um muçulmano. Logo, obrigar a alguém que aceite o Deus de nossa Compreensão, mais do que um ato autoritário, é uma crueldade. Crueldade inútil.]

Quando a adversidade açoita os humanos suplicam contritos ao seu Senhor; mas, quando os agracia com a Sua misericórdia, eis que alguns deles atribuem parceiros ao seu Senhor... (Surata Ar Rum, versículo 33).

Quando emprestardes algo com usura, para que vos aumente (em bens), às expensas dos bens alheios,3 não aumentarão perante Deus... (Surata Ar Rum, versículo 39).

A corrupção surgiu na terra e no mar por causa do que as mãos dos humanos lucraram. (Surata Ar Rum, versículo 41). [Sugiro a quem não conhece a obra O Mercador de Veneza que a leia. É uma peça de William Shakespeare (1564 – 1616) escrita entre 1594 e 1597. Os nossos tempos não ficam a dever nada a Shylock, o agiota judeu.]

 

 

 

 

 

Fim da 2ª Parte.




 

 

 

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Notas:

 

1. Assim como Gaia era a personificação da Terra e Urano a personificação do Céu, o Tártaro simbolizava miticamente o Inferno. Na Ilíada, de Homero, representa-se este mitológico Tártaro como prisão subterrânea tão abaixo do Hades quanto a Terra é do céu. Segundo a mitologia, nele eram aprisionados somente os deuses inferiores, como Cronos e outros espíritos titãs (criaturas sobre-humanas); já os seres humanos eram lançados no submundo, chamado de Inferno.

 

 


O Mitológico Tártaro
(Animação Pictórica)

 

2. Não devemos, como adverte Samir El-Hayek, ser tão liberais a ponto de nos tornarmos carentes, e incorrermos, assim, na censura dos homens de bom senso; nem tampouco é plausível que neguemos os nossos recursos às devidas necessidades daqueles que têm direito à nossa ajuda. Até os estranhos têm tal direito. Portanto, devemos manter uma justa medida entre a nossa capacidade e a necessidade dos outros.

3. Riba, como explica Samir El-Hayek, é qualquer aumento, obtido através de meios ilegais, tais como usura, suborno, logro, tráfico fraudulento etc.. Todas as obtenções ilícitas de riqueza, às expensas de outras pessoas, são condenadas. O egoísmo econômico e muitas das práticas ríspidas, individuais, nacionais e internacionais, estão incluídas neste banimento.


 

Bibliografia:

ALCORÃO SAGRADO. Versão portuguesa diretamente do árabe por Samir El-Hayek. Apresentação de S. E. Dr. Abdalla Abdel Chakur Kamel. São Paulo: Tangará - Expansão Editorial S/A, 1975; e Rio de Janeiro: Otto Pierre Editores Ltda., 1980.

 

Páginas da Internet consultadas para a elaboração deste estudo:

http://www.hulinks.co.jp/
support/tecplot/issue_18_02.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/
T%C3%A1rtaro_(mitologia)

http://www.islam.com.br/
quoran/traducao/index.htm

http://www.hackneymuslim.org/
HomePage.html

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Zakat

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Alcor%C3%A3o

http://www.alcorao.com.br/

 

Fundo musical:

Domminy

Fonte:

http://www.regiaomediterranea.com/
morocco/mo_musmn.htm