INCOERÊNCIAS ECLESIAIS

 

 

 

 

 

 

Papa Emérito Bento XVI

Papa Emérito Bento XVI

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução e Objetivo do Estudo

 

 

 

Como quem coleciona borbonhocas, minholetas, selos, moedas, revólveres, bonecas, melecas, caveiras, venenos, pecados e outros bagulhos, a Igreja Católica vem sistematicamente colecionando incoerências, absurdos, desarmonias, desconexões, discrepâncias, inconseqüências, incongruências, impropriedades e desinteligências desde a fundação paulina do Catolicismo, tudo isto sem levar em conta as centenas de milhares de cadáveres empilhados ao longo dos séculos por conta de abortos, de envenenamentos, de assassinatos, de conspirações, de coligações, de apoios ilícitos (como, por exemplo, foi o caso da dissolução da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão pelo Papa Clemente V em apoio ao Rei Filipe IV, da França), de conventículos, de tramas, de medo de perder o poder temporal, de falsas acusações, de desvirtuamentos, de variadas fobias (a principal sendo a homofobia), de julgamentos improcedentes (como, por exemplo, foi o caso de Joana d'Arc e de Giordano Bruno), de mentiras [como, por exemplo, foi o caso de Maria Madalena, identificada por São Gregório Magno, como a pecadora (Lucas: VIII: 2)], de concordatas, de opções hipotéticas, de preconceitos, de obscurantismos, de visões esquizofrênicas, de perseguições, de torturas, de manipulações, de adulterações (como, por exemplo, foi o caso do limbo – um lugar fora dos limites do céu, onde se vive de forma esquecida e sem a visão plena da eternidade e privado da visão beatificada de Deus), de mesquinharias, das cruzadas (tradicionalmente, são admitidas nove Cruzadas, mas, na realidade, elas constituíram um movimento quase permanente) e da inquisição (que começou no século XII e persistiu até o início do século XIX). A lista de absurdezas é imensa e o que apresentei acima está incompleto, mas, se eu tivesse que escolher o pior de todos os absurdos, eu não hesitaria em indigitar o celibato, porque, espuriamente criado, está aí celibatarizando os celibatários até hoje, e é sinônimo absoluto de Magia Negra. Na verdade, a Igreja Católica se tornou medonhamente expert em desrespeitar o Tantum Ergo Sacramentum. Bem, é claro que há exceções e são a maioria, e se eu tivesse que citar duas, eu lembraria Angelo Giuseppe Roncalli (Sotto Il Monte, 25 de novembro de 1881 – Vaticano, 3 de junho de 1963), o Papa João XXIII, e Jorge Mario Bergoglio (Buenos Aires, 17 de dezembro de 1936), o atual Papa Francisco, duas luzes na escuridão católica. Se você achar que eu exagerei, por favor, faça uma pesquisa sobre este assunto, e ficará mais horrorizado do que com o que apresentei acima. A Religião Católica, sem qualquer dúvida, foi a que mais matou em nome da Grande Loja Negra e da Oitava Esfera, pensando que estava matando em Nome de Deus. Ora, não há Porteiro Zé – Porteiro Zé que não compreenda estas coisas.

 

 

Cælibatus

 

 

Todavia, não é tomando como exemplo o celibato católico impingido, que, hoje, pretendo fazer uma reflexão sobre os descaminhos do Catolicismo (minha religião primeva), mas, sim, sobre um documento que vazou para a imprensa, intitulado A Igreja e os Abusos Sexuais, no qual o Papa Emérito Bento XVI oferece suas reflexões sobre a atual situação eclesial e apresenta suas propostas para enfrentar esta grave crise de sexualidade, que a    disponibilizou na Internet. O texto seria publicado na Semana Santa pelo Klerusblatt, um jornal mensal para o clero de algumas dioceses bávaras da Alemanha, no entanto, terminou sendo divulgado na última quarta-feira, 10 de abril de 2019, pelo jornal New York Post. A seguir, reproduzo o texto completo do Papa Emérito Bento XVI, e, no final, arrisco fazer algumas reflexões e comentários imparciais e sem qualquer intuito ofensivo. Se você achar conveniente, divulgue este rascunho.

 

 

A Igreja e os Abusos Sexuais

 

 

A Igreja e o Escândalo do Abuso Sexual

 

 

Papa Emérito Bento XVI

Papa Emérito Bento XVI

 

 

De 21 a 24 de fevereiro, a convite do Papa Francisco, os presidentes das conferências episcopais de todo o mundo se reuniram no Vaticano para discutir a crise da Fé e da Igreja, uma crise palpável em todo o mundo após as estarrecedoras revelações dos abusos perpetrados por clérigos contra menores. A extensão e a gravidade dos incidentes relatados têm afligido profundamente tanto sacerdotes quanto leigos, e levou a não poucas pessoas a questionarem a própria fé da Igreja. Era necessário enviar uma mensagem forte e procurar um novo começo, de tal sorte a tornar a Igreja novamente verdadeiramente credível como uma luz entre os povos e como uma força ativa contra os poderes da destruição.

Já que eu mesmo me encontrava servindo em uma posição de responsabilidade como pastor da Igreja no momento da eclosão pública da crise e durante seu desenvolvimento, eu tive que me perguntar ainda que como emérito já não seja mais diretamente responsável por essa situação o que eu podia fazer para contribuir com um novo começo em retrospecto. Assim, durante o período que vai do anúncio até a realização da reunião dos Presidentes das Conferências Episcopais, compilei algumas anotações com as quais creio poder oferecer uma ou duas observações e ajudar a Igreja nesta hora tão difícil. Tendo entrado em contato com o Secretário de Estado, Cardeal [Pietro] Parolin e o Santo Padre [Papa Francisco], pareceu-me apropriado publicar o texto resultante deste esforço no Klerusblatt.

 

Meu trabalho está dividido em três partes. Na primeira, pretendo apresentar brevemente o contexto societário mais amplo da questão, sem o qual o problema não pode ser entendido. Eu tento mostrar que na década de 60 ocorreu um evento excepcional, em uma escala sem precedentes na história. Pode-se dizer que, nos 20 anos decorridos entre 1960 e 1980, os padrões vinculantes relativos à sexualidade até então entraram em colapso por completo, gerando uma ausência de normativa que já foi objeto de tentativas laboriosas de compreensão.

 

Na segunda parte, pretendo destacar os efeitos dessa situação na formação dos sacerdotes e na vida dos sacerdotes.

 

Finalmente, na terceira parte, gostaria de desenvolver algumas perspectivas para uma resposta adequada por parte da Igreja.

I.

(1) O assunto começa com a introdução, prescrita e apoiada pelo Estado, de crianças e jovens no tema da natureza da sexualidade. Na Alemanha, a então ministra da Saúde, [Käte] Strobel, mandou fazer um filme mostrando tudo o que antes não podia ser exibido publicamente, incluindo relações sexuais, e que passou a ser exibido com o propósito de educar os jovens. O que inicialmente se destinava apenas à educação sexual destes, por conseguinte, foi amplamente aceito como uma opção viável para o resto da sociedade.

Efeitos semelhantes foram alcançados pelo "Sexkoffer" publicado pelo Governo Austríaco. Filmes sexuais e pornográficos se tornaram uma ocorrência comum, a ponto de serem exibidos nos cinemas [Bahnhofskinos]. Ainda me lembro de ter visto, andando pela cidade de Regensburg, um dia, verdadeiras multidões de pessoas se alinhando em frente a uma grande sala de cinema, algo que anteriormente só havíamos visto nos tempos da guerra, quando alguma alocação especial era esperada. Lembro-me também de ter chegado à cidade na Sexta-feira Santa, no ano de 1970, e de ver todos os outdoors preenchidos por um grande cartaz de duas pessoas completamente nuas num abraço apertado.

 

Entre as liberdades pelas quais a Revolução de 1968 lutou estava a total liberdade sexual, uma que não mais possuía normas. A vontade de usar a violência, que caracterizou esses anos, está fortemente relacionada a esse colapso mental. Na verdade, os filmes sexuais não eram mais permitidos nos aviões porque poderiam gerar violência na pequena comunidade de passageiros. E dado que os excessos no vestuário também provocavam agressão, os diretores das escolas fizeram várias tentativas de introduzir uma vestimenta escolar que facilitasse um clima de aprendizado.

 

Parte da fisionomia da Revolução de 1968 foi que a pedofilia também foi diagnosticada como um comportamento aceitável e apropriado.

 

Para os jovens da Igreja, mas, não apenas para eles, este foi um momento muito difícil em muitos aspectos. Sempre me perguntei como os jovens nessa situação poderiam se aproximar do sacerdócio e aceitá-lo com todas as suas ramificações. O extenso colapso das gerações seguintes de sacerdotes naqueles anos e o grande número de secularizações foram uma conseqüência de todos esses desenvolvimentos.

 

(2) Ao mesmo tempo, independentemente destes desenvolvimentos, a teologia moral católica sofreu um colapso que deixou a Igreja desamparada diante dessas mudanças na sociedade. Vou tentar delinear brevemente a trajetória que esse desenvolvimento percorreu.

 

Até o Concílio Vaticano II, a teologia moral católica era em grande parte baseada na lei natural, enquanto as Sagradas Escrituras eram citadas apenas para obter contexto ou justificação. Na luta do Concílio por uma nova compreensão do Apocalipse, a opção pela lei natural foi amplamente abandonada, e uma teologia moral baseada inteiramente na Bíblia foi exigida.

 

Ainda me lembro como a faculdade jesuíta em Frankfurt treinou o jovem e inteligente Padre (Schüller) com o propósito de desenvolver uma moralidade baseada inteiramente nas Escrituras. A bela dissertação do Padre [Bruno] Schüller mostra um primeiro passo para a construção de uma moralidade baseada nas Escrituras. O sacerdote foi então enviado para os Estados Unidos, e voltou, percebendo que somente com a Bíblia a moralidade não poderia ser expressa sistematicamente. Então, ele tentou uma teologia moral mais pragmática, sem poder dar uma resposta à crise da moralidade.

 

Conseqüentemente, nada poderia ser considerado um bem absoluto, assim como, por outro lado, coisa alguma poderia ser considerada fundamentalmente ruim; [poderia haver] apenas juízos de valor relativos. Não havia mais o bom em seu sentido mais absoluto, apenas o aquilo que era relativamente melhor ou contingente para o momento e as circunstâncias específicas.

 

A crise da justificação e da forma de expor a moral católica alcançou proporções dramáticas no final dos anos 80 e 90. Em 5 de janeiro de 1989, foi publicada a "Declaração de Colônia", assinada por 15 catedráticos católicos de teologia. O documento se concentrou em vários pontos da crise da relação entre o magistério dos bispos e a tarefa da teologia. (As reações a) este texto, que em princípio não passaram do usual nível de protestos, cresceu rapidamente e se tornou um grito contra o magistério da Igreja, e reuniu, clara e visivelmente, o potencial de um protesto global contra os esperados textos doutrinais de João Paulo II.

 

O Papa João Paulo II, que conhecia muito bem e acompanhava de perto a situação em que a teologia moral se encontrava, encomendou o trabalho de uma encíclica para tornar as coisas claras novamente. E foi publicada sob o título de Veritatis Splendor no dia 6 de agosto de 1993, e logo gerou reações veementes de vários teólogos morais. Antes disso, o Catecismo da Igreja Católica [publicado em 1992] já havia apresentado, de maneira persuasiva e sistemática, a moralidade proclamada pela Igreja.

 

Nunca vou esquecer a forma como o então líder teólogo moral alemão, Franz Böckle, tendo retornado para a sua Suíça natal após a aposentadoria, anunciou em relação à Veritatis Splendor que, se a encíclica determinasse que existem ações que sempre e em todas as circunstâncias deveriam ser classificados como más, ele iria rebatê-la com todos os recursos à sua disposição.

 

Foi Deus, o Misericordioso, que evitou que este propósito fosse executado, pois Böckle morreu em 8 de julho de 1991. A encíclica foi publicada em 06 de agosto de 1993 e efetivamente incluía a determinação de que certas ações jamais podem ser consideradas boas.

 

O Papa estava plenamente consciente da importância desta decisão e, nessa parte do texto, consultou novamente os melhores especialistas que não participaram da edição da encíclica. Ele sabia que não deveria deixar dúvidas sobre o fato de que a moralidade que busca o equilíbrio de bens deve ter sempre um limite final. Alguns bens simplesmente não estão sujeitos a concessões.

 

Há valores que jamais devem ser abandonados por um valor mais alto e até mesmo superar a preservação da vida física. Há martírio. Deus é mais. Ele vale mais que a própria sobrevivência física. Uma vida comprada pela negação de Deus, uma vida baseada em uma mentira, ao final, não é vida.

 

O martírio é a categoria básica da existência cristã. O fato de que o mesmo já não seja moralmente necessário, como afirma a teoria defendida por Böckle e muitos outros, demonstra que a própria essência do Cristianismo está em jogo aqui.

 

Na teologia moral, no entanto, outra questão se tornou urgente: a hipótese de que o Magistério da Igreja deveria ter competência final ("infalibilidade") apenas nas questões relativas à fé e já não nas que se referem à moralidade, havia ganhado ampla aceitação. Dizia-se que estas questões não deveriam cair no âmbito de decisões infalíveis do magistério da Igreja. Provavelmente, há algo de verdade nesta hipótese e que merece mais discussão, mas, há um conjunto mínimo de questões morais que estão intimamente relacionadas com o princípio fundamental da fé, o qual deve ser defendido, para que a fé não venha a ser reduzida a uma teoria e que já não seja reconhecida em seu clamor pela vida concreta.

 

Tudo isso nos permite ver o quão fundamentalmente a autoridade da Igreja é questionada quando se trata de questões de moralidade. Aqueles que negam à Igreja uma competência no ensinamento definitivo nesta área, forçam-na a permanecer em silêncio exatamente ali, onde se encontra em jogo a fronteira entre a verdade e a mentira.

 

Independentemente deste assunto, em muitos círculos da teologia moral foi apresentada a tese de que a Igreja não tem e não pode ter sua própria moralidade. O argumento era que todas as hipóteses morais teriam seu paralelo em outras religiões e, portanto, não haveria uma natureza cristã. Mas, a questão da natureza da moralidade bíblica não é respondida pelo fato de que para cada frase singular em algum lugar da Escritura podemos encontrar um paralelo em outras religiões. Na verdade, trata-se do conjunto da moralidade bíblica, que, como tal, é novo e distinto de suas partes individuais.

 

A doutrina moral das Sagradas Escrituras tem a sua forma única de ser predicada em última instância na sua concreção à imagem de Deus, na fé em um Deus que se manifestou a Si mesmo em Jesus Cristo e viveu como ser humano. O Decálogo é uma aplicação para a vida humana da fé bíblica em Deus. A imagem de Deus e da moralidade se pertencem uma a outra, e é por isto que resulta na mudança particular da atitude cristã em relação ao mundo e à vida humana. Além disto, o Cristianismo tem sido descrito desde o início com o termo Hodoš (caminho, em grego, usado no Novo Testamento para discutir um caminho de progresso).

 

A fé é uma travessia e uma forma de vida. Na Igreja antiga, o catecumenato foi criado como um habitat no qual os aspectos distintos e frescos daquele modo de viver a vida cristã eram, ao mesmo tempo, praticados e protegidos, contra uma cultura cada vez mais desmoralizada. Acredito que mesmo hoje, algo como estas comunidades de catecumenato sejam necessárias para que a vida cristã possa se afirmar da maneira que lhe é própria.

 

As Reações Eclesiais Iniciais

 

 

(1) O processo há muito preparado e em andamento para a dissolução do conceito cristão de moralidade foi marcado, como tentei demonstrar, pelo radicalismo sem precedentes dos anos 1960. Esta dissolução da autoridade moral do ensino da Igreja devia ter um efeito sobre os diferentes membros da Igreja. No contexto da reunião dos presidentes das conferências episcopais em todo o mundo com o Papa Francisco, a questão da vida sacerdotal, assim como a dos seminários, é de particular interesse, uma vez que está relacionado ao problema, o tema da preparação para o ministério sacerdotal nos seminários, e, existe de fato uma ampla decomposição no que diz respeito à anterior forma de preparação dos candidatos.

 

Em vários seminários foram estabelecidos grupos homossexuais que agiram mais ou menos abertamente, o que mudou significativamente o clima que se vivia ali. Em um seminário no sul da Alemanha, os candidatos ao sacerdócio e ao ministério leigo de agentes de pastoral (Pastoralreferent) viviam juntos. Nas refeições diárias, os seminaristas e os especialistas em pastoral estavam juntos. Os casados, às vezes, estavam com suas esposas e filhos, e, às vezes, com suas namoradas. O clima neste seminário não oferecia o apoio necessário para a preparação adequada para a vocação sacerdotal. A Santa Sé sabia destes problemas, mas, sem ser informada com precisão. Como primeiro passo, foi acordada uma visita apostólica para os seminários nos Estados Unidos.

 

Como os critérios para a seleção e nomeação dos bispos também mudaram depois do Concílio Vaticano II, a relação dos bispos com seus seminários também se tornou muito diferente. Acima de tudo, a "conciliaridade" foi estabelecida como um critério para a nomeação de novos bispos, o que poderia ser entendido de várias maneiras.

 

De fato, em muitos lugares se entendeu que as atitudes conciliares se relacionavam a uma postura crítica ou negativa à tradição que existia até então, e que precisava ser substituída por uma relação nova e radicalmente aberta com o mundo. Um bispo, que já havia sido reitor de um seminário, fez os seminaristas assistirem a filmes pornográficos com a intenção de torná-los resistentes a condutas contrárias à fé.

 

Havia e não apenas nos Estados Unidos da América bispos que individualmente rejeitavam totalmente a tradição católica e buscavam uma nova e moderna "catolicidade" em suas dioceses. Pode valer a pena mencionar que em muitos seminários, os estudantes que os viram lendo meus livros eram considerados inadequados para o sacerdócio. Meus livros estavam escondidos, como se fossem literatura ruim, e eram lidos apenas debaixo da escrivaninha.

 

A visita apostólica afinal não trouxe novas pistas, aparentemente porque vários poderes juntaram forças para maquiar a verdadeira situação. Uma segunda visita foi ordenada e permitiu novos dados, mas, no final, tampouco obteve resultado algum. No entanto, desde a década de 1970, a situação nos seminários geralmente melhorou. E, no entanto, apenas casos isolados de um novo fortalecimento das vocações sacerdotais surgiram, posto que a situação em geral havia tomado outro rumo.

 

(2) A questão da pedofilia, se não me falha a memória, não era crítica até a segunda metade da década de 1980. Entretanto, ele se tornou um assunto público nos Estados Unidos, tanto assim que os bispos foram a Roma para procurar ajuda, e que o Direito Canônico, conforme escrito no novo Código (1983), não parecia suficiente para tomar as medidas necessárias. Na primeira visita, Roma e os canonistas romanos tinham dificuldades com estas preocupações porque, em sua opinião, a suspensão temporária do ministério sacerdotal deveria ser suficiente para gerar purificação e esclarecimento. Isto não podia ser aceito pelos bispos americanos, porque assim os sacerdotes permaneciam a serviço do bispo e, portanto, seguiam diretamente associados a ele. Lentamente, foi tomando forma uma renovação e um aprofundamento na lei criminal do novo Código, construída deliberadamente e com ligeireza.

 

Além disso e no entanto, havia um problema fundamental na percepção do direito penal. Apenas o chamado “garantismo” (uma espécie de protecionismo processual ao réu) era considerado uma postura "conciliar". Isto significa que os direitos do acusado devem ser garantidos, acima de tudo, até o ponto em que qualquer tipo de condenação fosse impossibilitada. Como um contrapeso para as opções de defesa disponíveis para os teólogos acusados e muitas vezes inadequadas, o direito de defesa dos mesmos usando o “garantismo” se estendeu a tal ponto que era quase impossível uma condenação.

 

Permitam-me um breve excurso neste momento. À luz da escalada da conduta pedófila, uma palavra de Jesus novamente nos interpela: Se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que creem em mim, seria melhor que fosse lançado no mar com uma grande pedra amarrada no pescoço. (Marcos, IX: 42).

 

A palavra pequenino, na língua de Jesus, significava aqueles crentes comuns que podem ver sua fé confundida pela arrogância intelectual daqueles que acreditam ser inteligentes. Então, aqui Jesus protege o depósito da fé com uma ameaça ou punição enfática para aqueles que prejudicam estas pessoas.

 

O uso moderno da frase não está em si mesmo errado, mas não deve obscurecer o significado original. Fica claro, contra qualquer “garantismo”, que não apenas o direito do acusado é importante e requer uma garantia. Grandes bens como a fé são igualmente importantes.

 

Assim, uma lei canônica equilibrada, que corresponda à totalidade da mensagem de Jesus, não apenas deve fornecer uma garantia para o acusado, para quem o respeito é um bem lícito, mas, também, deve proteger a fé, que também é um importante e lícito bem. Uma lei canônica adequadamente formada deve, então, conter uma dupla garantia: a proteção legal do acusado e a proteção legal da propriedade que está em jogo. Se hoje esta concepção intrinsecamente clara é apresentada, ela, geralmente, cai em ouvidos surdos, quando se trata da questão da proteção da fé como um bem legal. Na consciência geral da lei, a fé não parece mais ter o grau de um bem que requer proteção. Esta é uma situação alarmante que os pastores da Igreja devem considerar e levar a sério.

 

Agora eu gostaria de acrescentar, às breves notas sobre a situação da formação sacerdotal na época da crise, algumas observações sobre o desenvolvimento do Direito Canônico nesta matéria.

 

Em princípio, a Congregação para o Clero é responsável por lidar com crimes cometidos por padres, mas dado que o “garantismo” dominava amplamente a situação daquela época, eu concordei com o Papa João Paulo II que era apropriado designar essas ofensas à Congregação para a Doutrina da Fé, sob o título de "Delicta Maiora Montra Fidem. [Delitos Graves Contra a Fé].

 

Isto possibilitou a imposição da pena máxima, ou seja, a expulsão do estado clerical, que não poderia ter sido imposta sob outras disposições legais. Este não foi um truque para impor a pena máxima, mas, uma conseqüência da importância do bem que é a fé para a Igreja. De fato, é importante notar que uma tamanha má conduta deste tipo por parte de um clérigo, acaba, em última instância, prejudicando a fé.

 

Onde a fé não determina mais as ações do homem tais ofensas se tornam possíveis.

 

A severidade da pena, no entanto, também pressupõe uma prova clara da ofensa: este aspecto da garantia continua em vigor.

 

Em outras palavras, para impor a pena máxima legalmente, é necessário um processo criminal genuíno, mas, ambas as dioceses e a Santa Sé estão sobrecarregadas por esta exigência. Portanto, formulamos um nível mínimo de procedimentos criminais e deixamos aberta a possibilidade de que a própria Santa Sé assuma o julgamento, quando a diocese ou a administração metropolitana não possam fazê-lo. Em cada caso, o julgamento deve ser revisado pela Congregação para a Doutrina da Fé para garantir os direitos do acusado. Finalmente, na quarta feria [assembléia ou reunião geral dos membros da Congregação para a Doutrina da Fé da Cúria em que são discutidos os diversos casos em andamento], estabelecemos uma instância de recurso para oferecer a possibilidade de o acusado apelar.

 

Já que tudo isto ultrapassou as capacidades concretas da Congregação para a Doutrina da Fé e não havia outra alternativa mais que enfrentar os longos atrasos, devido à natureza peculiar do assunto, o Papa Francisco decidiu então realizar mais reformas.

III.

(1) O que deve ser feito? Talvez, devêssemos criar outra Igreja para que as coisas funcionem? Bem, esta experiência já foi feita e já falhou. Somente a obediência e o amor a nosso Senhor Jesus Cristo podem nos mostrar o caminho, então, primeiramente, devemos tentar entender de novo e de dentro (de nós mesmos) o que o Senhor quer e quis de nós.

 

Em primeiro lugar, gostaria de sugerir o seguinte: se realmente queremos resumir muito brevemente o conteúdo da fé, tal como está na Bíblia, teríamos que fazê-lo dizendo que o Senhor começou uma narrativa de amor com as pessoas e quer abraçar toda a criação nesta narrativa. A maneira de lutar contra o mal que nos ameaça e ameaça o mundo todo, só pode residir no nosso ingresso neste amor em última instância. Esta é a verdadeira força contra o mal, já que o poder do mal surge da nossa recusa em amar a Deus. Quem se entrega ao amor de Deus é redimido. Nossa realidade de não-redimidos é conseqüência de nossa incapacidade de amar a Deus. Aprender a amar a Deus é, portanto, o caminho da redenção humana.

 

Vamos tentar desenvolver um pouco mais este conteúdo essencial da revelação de Deus. Podemos assim dizer que o primeiro dom fundamental que a fé nos oferece é a certeza de que Deus existe. Um mundo sem Deus só pode ser um mundo sem significado. Caso contrário, de onde tudo viria? Em todo caso, não haveria um propósito espiritual. De alguma forma, simplesmente está lá e não tem propósito ou significado algum. Então, não há padrões de bem ou mal, e somente o que é mais forte do que qualquer outra coisa que se possa afirmar, e, assim, o poder se torna o único princípio. A verdade não conta, simplesmente não existe. Somente se as coisas tiverem uma razão espiritual, elas terão uma intenção e serão concebidas. Somente se existir um Deus Criador, que é bom e que quer o bem, a vida do homem poderá, então, fazer sentido.

 

Existir um Deus que seja o criador e a medida de todas as coisas é primeiro e acima de tudo uma necessidade, mas um Deus que não se expressa em nada aquilo que é, que não se dá a conhecer, permaneceria como uma presunção e, em conseqüência, não poderia determinar a forma [Gestalt] do nosso viver. Para que Deus seja realmente Deus nesta criação deliberada, temos que olhar para Ele, para que Ele se expresse de alguma forma. Ele fez de muitas maneiras, mas, decisivamente, na vocação de Abraão, e deu às pessoas que procuravam a Deus a orientação que nos leva além de toda expectativa: o próprio Deus se torna criatura, falando como um homem conosco, seres humanos.

 

Neste sentido, a frase "Deus é" se torna, ao final, uma mensagem verdadeiramente alegre, precisamente porque Ele é mais do que intelecto porque cria e é o amor para que mais uma vez as pessoas tenham consciência de que esta é a primeira e mais fundamental tarefa confiada a nós pelo Senhor.

 

Uma sociedade sem Deus uma sociedade que não O conhece e O trata como inexistente é uma sociedade que perde sua medida. Em nossos dias, a frase da morte de Deus foi acunhada. Quando Deus morre em uma sociedade, nos é dito, se torna livre. Na realidade, a morte de Deus em uma sociedade também significa o fim da liberdade, porque o que morre é o propósito que provê a orientação, já que desaparece a bússola que nos indica a direção certa e que nos ensina a distinguir o bem do mal. A sociedade ocidental é uma sociedade na qual Deus está ausente na esfera pública e não tem nada para oferecer a ela. E esta é a razão pela qual a sociedade perde cada vez mais sua noção de humanidade. Em pontos individuais, de repente parece que o que é ruim e destrói o homem se tornou uma questão de rotina.

 

Este é o caso da pedofilia. Admitiu-se há pouco tempo como algo legítimo, mas, se espalhou mais e mais. E agora percebemos, com surpresa, que as coisas que estão acontecendo com nossas crianças e jovens ameaçam destruí-las. O fato de que isto também pode ser estendido na Igreja e entre os sacerdotes é algo que deve nos interpelar de maneira particular.

 

Por que a pedofilia atingiu tais proporções? No final, a razão é a ausência de Deus. Nós cristãos e sacerdotes também preferimos não falar de Deus, porque este discurso não parece ser prático. Após a convulsão da Segunda Guerra Mundial, nós, na Alemanha, ainda tínhamos expressamente em nossa Constituição que estávamos sob a responsabilidade de Deus como um princípio orientador. Meio século depois, já não era possível incluir a responsabilidade para com Deus como um princípio orientador na Constituição Européia. Deus é visto como a preocupação partidária de um pequeno grupo, e não pode mais ser um princípio orientador para a comunidade como um todo. Esta decisão é refletida na situação no Ocidente, onde Deus se tornou um assunto particular, destinado a uma pequena minoria.

 

Uma tarefa primordial, que deve resultar das convulsões morais de nosso tempo, é que novamente comecemos a viver para Deus e sob Ele. Acima de tudo, temos que aprender mais uma vez a reconhecer Deus como a base de nossa vida. Em vez de deixá-Lo de lado, como se fosse uma frase ineficaz. Jamais esquecerei o aviso do grande teólogo Hans Urs von Balthasar que uma vez me escreveu em um de seus cartões postais. Não pressuponha o Deus trino: Pai, Filho e Espírito Santo. Apresente-O!

 

De fato, na teologia, Deus é sempre tomado como uma questão de rotina, mas, na vida concreta não, pois, a pessoa não se relaciona com Ele. O tema de Deus parece tão irreal, tão alheio às coisas que nos preocupam, e, entretanto, tudo se torna diferente quando nós não pressupomos, mas, apresentamos Deus aos demais. Não deixando para trás como uma moldura, mas, reconhecendo-O como o centro de nossos pensamentos, de nossas palavras e de nossas ações.

 

(2) Deus se tornou homem para nós. O homem, como sua criatura, está tão perto de Seu Coração, que se uniu a si mesmo e, assim, entrou na história humana de maneira muito prática. Ele fala conosco, vive conosco, sofre conosco e assumiu a morte por nós. Falamos sobre isso em detalhes em teologia, com palavras e pensamentos aprendidos, mas, é precisamente assim que corremos o risco de nos tornarmos professores da fé, em vez de sermos renovados e transformados em mestres pela fé.

 

Considere isto com relação à questão central, a celebração da Santa Eucaristia. Nossa forma de lidar com a Eucaristia só pode gerar preocupação. O Concílio Vaticano II se concentrou justamente em devolver este sacramento da presença do corpo e do sangue de Cristo, da presença da Sua Pessoa, da Sua Paixão, Morte e Ressurreição ao centro da vida cristã e à própria existência da Igreja. Em parte, isto realmente aconteceu e devemos ser gratos ao Senhor por isto.

 

E ainda assim uma atitude muito diferente prevalece. O que predomina não é uma nova reverência pela presença da morte e ressurreição de Cristo, mas, uma maneira de lidar com Ele que destrói a grandeza do Mistério. A queda na participação das celebrações eucarísticas dominicais mostra quão pouco os católicos de hoje sabem apreciar a grandeza do dom, que consiste em sua verdadeira Presença. A Eucaristia se tornou um mero gesto cerimonial, quando se toma por parâmetro que as boas maneiras exigem que esta seja oferecida em celebrações familiares ou às vezes em casamentos e funerais a todos os convidados, simplesmente por motivos familiares.

 

A maneira pela qual as pessoas simplesmente recebem o Santíssimo Sacramento na comunhão como algo rotineiro mostra que muitos O vêem como um gesto puramente cerimonial. Portanto, quando você pensa sobre a ação que é necessária em primeiro lugar, é bastante óbvio que não precisamos de outra Igreja com um design próprio. Em vez disso, se necessita, em primeiro lugar, alcançar a renovação da fé na realidade de que Jesus Cristo realmente nos é dado no Santíssimo Sacramento.

 

Em conversas com vítimas de pedofilia, fiquei muito consciente deste primeiro e fundamental requisito.

 

Uma jovem, que havia sido acólita, me disse que o capelão, seu superior no culto do altar, sempre a introduzia ao abuso sexual com estas palavras: Este é o meu corpo que será entregue por ti.

 

É óbvio que esta mulher não pode mais ouvir as palavras da consagração sem experimentar novamente a terrível angústia do abuso. Sim, temos que implorar ao Senhor urgentemente pelo Seu perdão, mas, antes de tudo, temos que jurar por Ele e pedir a Ele que nos ensine novamente a entender a grandeza do Seu sofrimento e do Seu sacrifício. E nós temos que fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para proteger o dom da Santa Eucaristia do abuso.

 

(3) E, finalmente, está o Mistério da Igreja. A frase com que Romano Guardini, há quase 100 anos, expressou a esperança alegre dele e de tantos outros, permanece inesquecível: Um evento de importância incalculável começou, a Igreja está despertando nas almas [do povo].

 

Ele quis dizer que a Igreja não foi experimentada ou vista simplesmente como um sistema externo que entrou em nossas vidas, como uma espécie de autoridade, mas, que havia começado a ser percebida como presente nos corações das pessoas, não como algo meramente externo, mas, que nos move internamente. Quase 50 anos depois, a repensar esse processo e ver o que vem acontecendo, estou tentado a reverter a frase: "A Igreja está morrendo nas almas [das pessoas]."

 

De fato, hoje a Igreja é amplamente vista apenas como um tipo de aparato político. Fala-se dela quase que exclusivamente em categorias políticas, e isto se aplica até mesmo a bispos que formulam a sua concepção da Igreja do amanhã quase exclusivamente em termos políticos. A crise, causada por muitos casos de abuso de clérigos, nos faz olhar para a Igreja como algo quase inaceitável, que nós temos que tomar em nossas mãos e redesenhar. Mas, uma Igreja que se autoconstrói não pode constituir esperança alguma.

 

O próprio Jesus comparou a Igreja a uma rede de pesca na qual o próprio Deus separa os bons peixes dos maus. Há também uma parábola da Igreja como um campo onde o trigo cresce que o próprio Deus semeou com a erva daninha que "um inimigo" secretamente lançou. Na verdade, a erva daninha no campo de Deus, a Igreja, é agora demasiado visível, e os maus peixes na rede também mostram sua força. No entanto, o campo ainda é o campo de Deus e a rede é a rede de Deus. E em todos os tempos não houve apenas má erva daninha ou peixes ruins, mas, também, as colheitas de Deus e a boa pesca. Proclamar ambos com ênfase e da mesma forma não só é uma falsa apologética, mas, um serviço necessário à Verdade.

 

Neste contexto, é necessário se referir a um texto importante no Apocalipse de João. O diabo é identificado como o acusador que acusa nossos irmãos diante de Deus dia e noite. (Apocalipse, XII: 10). O Apocalipse, em seguida, leva um pensamento que está no centro da narrativa no Livro de Jó (Jó: I e II, X; XLII: 7 a 16). Ali se diz que o diabo procurou mostrar que a retidão de vida de Jó perante Deus era meramente externa. E é exatamente isto que o Apocalipse tem a dizer: o diabo quer provar que não há pessoas corretas, que sua correção só se mostra externamente. Se alguém pudesse se aproximar, a aparência da justiça cairia rapidamente.

 

A narrativa começa com uma disputa entre Deus e o diabo, na qual Deus se referiu a Jó como um homem verdadeiramente justo. Agora ele será usado como um exemplo para provar quem está certo. O diabo pede que todas as suas posses sejam removidas para ver que nada resta de sua piedade. Deus permite que ele faça isto, depois do qual Jó age positivamente. Então, o demônio pressiona e diz: Pele por pele! Sim, tudo que o homem tem dará por sua vida. Agora, porém, estende a tua mão e toca o seu osso e a sua carne, e verás se não te amaldiçoa na tua face. (Jó: II, 4).

 

Então, Deus dá ao demônio um segundo round. Ele também toca a pele de Jó e só lhe é negado matá-lo. Para os cristãos, é claro que este trabalho, que se coloca diante de Deus como um exemplo para toda a Humanidade, é Jesus Cristo. No Apocalipse, o drama da Humanidade nos é apresentado em toda a sua amplitude.

 

O Deus Criador é confrontado com o diabo, que fala a toda a Humanidade e a toda a criação. Ele fala não só a Deus, mas, acima de tudo, ao povo: Veja o que este Deus fez. Supostamente uma boa criação. Na realidade, Ele é cheio de miséria e desprazer. O desânimo da criação é, na realidade, o desprezo de Deus. Ele quer provar que o próprio Deus não é bom e nos afastar dEle.

 

A oportunidade de que o Apocalipse nos está falando aqui é óbvia. Hoje, a acusação contra Deus é, acima de tudo, desprezo de Sua Igreja como algo maligno em sua totalidade e, portanto, nos desencoraja dela. A idéia de uma Igreja melhor, feita por nós mesmos, é na verdade uma proposta do diabo, com a qual ele quer nos afastar do Deus vivo, usando uma lógica enganosa em que podemos facilmente cair. Não, ainda hoje a Igreja não é feita apenas de peixes ruins e ervas daninhas. A Igreja de Deus também existe hoje e hoje é o mesmo instrumento pelo qual Deus nos salva.

 

É muito importante opor, com toda a verdade, as mentiras e meias verdades do diabo: sim, há pecado e mal na Igreja, mas, ainda hoje há a Santa Igreja, que é indestrutível. Também hoje há muitas pessoas que humildemente acreditam, sofrem e amam, em quem o verdadeiro Deus, o Deus amoroso, se mostra a nós. Deus também tem Suas testemunhas ("mártires") no mundo hoje. Nós apenas precisamos estar atentos para conseguir vê-los e ouvi-los.

 

A palavra mártir é tirada da lei processual. No julgamento contra o diabo, Jesus Cristo é o primeiro e verdadeiro testemunho de Deus, o primeiro mártir, que desde então tem sido seguido por inúmeros outros.

 

Hoje, a Igreja é mais do que nunca uma Igreja dos mártires e, portanto, um testemunho do Deus vivo. Se olharmos em volta e escutarmos com um coração atento, poderemos, hoje, encontrar testemunhas por toda parte, especialmente entre as pessoas comuns, mas, também nas altas fileiras da Igreja, que defendem a Deus com suas vidas e seus sofrimentos. É uma inércia do coração que nos leva a não querer reconhecê-los. Uma das grandes e essenciais tarefas de nossa evangelização é, na medida do possível, estabelecer habitats de fé e, acima de tudo, encontrá-los e reconhecê-los.

 

Eu moro em uma casa, em uma pequena comunidade de pessoas que descobrem repetidamente esses testemunhos do Deus vivo na vida cotidiana, e que alegremente me dizem isso. Ver e encontrar a Igreja viva é uma tarefa maravilhosa que nos fortalece e que, uma e outra vez, nos faz felizes na nossa fé.

 

Ao final de minhas reflexões, gostaria de agradecer ao Papa Francisco por tudo o que ele faz para nos mostrar sempre a Luz de Deus que, mesmo nos dias de hoje, não desapareceu.

Obrigado Santo Padre!

Bento XVI

 

 

 

Reflexões e Comentários

 

 

 

1º) Nenhuma religião e nenhuma igreja foram, são ou serão uma luz entre os povos e uma força ativa contra os poderes da destruição. A LLuz e a Força estão em nós, em nosso Coração, e independem de catalisadores externos, religiosos ou não. Se quisermos e quando quisermos mudaremos tudo; se não quisermos, não mudaremos nada.

2º) Entre 1960 e 1980, os padrões vinculantes relativos à sexualidade até então não entraram em colapso por completo, como contrariamente afirma Bento XVI; o que houve foi o início do fim da hipocrisia, em grande parte, ao longo dos séculos, patrocinada pelos preconceitos e pelas intolerâncias da Igreja Católica.

3º) Afirmar que parte da fisionomia da Revolução de 1968 foi que a pedofilia também foi diagnosticada como um comportamento aceitável e apropriado é a maior absurdência (mistura de absurdo com incoerência) que um Papa, no batente ou emérito, já falou na história do papado. Pedofilia é uma doença (perversão que leva um indivíduo adulto a se sentir sexualmente atraído por crianças), mas, também é um crime, e os próprios seres-aí que a praticam sabem muito bem que são doentes, desequilibrados, pervertidos e criminosos, tudo ao mesmo tempo. Reconheço que a Humanidade anda meio tantã, mas, pensar, aceitar e achar que alguns admitiram ou admitem que a pedofilia é uma coisa apropriada ou conveniente não está acontecendo nem jamais acontecerá, pois, não retrogradaremos aos tempos lemurianos. Aquele patamar vibratório já era e não voltará. Nesta matéria, penso que o Santo Padre emérito delirou um tantão, mas, também, pudera: ele está muito velhinho e perto de fazer 92 anos. É compreensível e perdoável.

4º) Dissimuladamente, inculpar o Concílio Vaticano II (convocado no dia 25 de dezembro de 1961, através da bula papal Humanæ Salutis, pelo Papa Iniciado João XXIII, e concluído em 8 de dezembro de 1965, já sob o papado de Paulo VI) pelos descaminhos eclesiais é inaceitável e incongruente. O que a Igreja está precisando urgentemente, sob pena de se desagregar mais rápido do que se desagregará, é de um Concílio Vaticano III. O que é certo é que, ao longo desta nova Era de Aquarius (que teve início em 1962), nascerá na Terra uma espécie de Nova Religião Mundial – o Teocientificismo.

5º) Ora, tenha a santa paciência! Não foi Deus, o Misericordioso, que matou Franz Böck em 8 de julho de 1991, para evitar que ele rebatesse, com todos os recursos à sua disposição, a Encíclica Veritatis Splendor. Deus nunca matou, não mata, nem jamais matará ninguém. Quem mata tudo e todo mundo somos nós.

6º) Ora, tenha a santa paciência novamente! O martírio (suplício, autoflagelação, autocrucificação etc.) não é a categoria básica da existência de xongas nem de ninguém. O martírio é uma esquizofrenia (tal qual o celibato) que só serve para enlouquecer e obnubilar o Caminho. A Compreensão, a Lux Æterna e o Verbum Dimissum não poderão ser conhecidos pelo martírio. O martírio só acaba gerando confusão mental, decadência e Magia Negra.

 

 

Paul Silas Bettany

Paul Silas Bettany
(O Código Da Vinci)

 

 

7º) Infalibilidade (papal ou qualquer outra) é sinônimo de autoritarismo, arbitrariedade, autocracia, cesarismo, despotismo, ditadura, opressão, constrangimento, prepotência, tirania etc. Ora, se no Universo não há um único ser que possa ter acesso à Verdade Absoluta, como poderá existir infalibilidade?

 

Infalibilidade Papal Dominação Temporal

Dominação Temporal Escravização Mental

Escravização Mental Retrocesso Espiritual

 

 

Retrocedendo

 

 

8º) A fronteira entre a verdade (sempre relativa) e a mentira (sempre escorchadora) não é a autoridade da Igreja nem é a soberania de qualquer religião, mas, sim a Liberdade, ou seja, a Independência Legítima.

9º) Não há moralidade católica, moralidade budista, moralidade xintoísta, moralidade lamaísta, moralidade espírita, moralidade judaica, moralidade muçulmana, moralidade et cetera. Há Moralidade.

10º) Uma das maiores incoerências da Igreja católica é admitir e difundir que Deus se manifestou a Si mesmo em Jesus Cristo e viveu como ser humano. Ora, Jesus era um Iniciado Solar e Discípulo do Cristo. Logo, não existe a figura de Jesus Cristo; há Jesus e há Cristo. Por outro lado, como é possível se pensar que Deus viveu como ser humano? Agora, se considerarmos a Mitologia Grega, qual dos Doze Deuses do Olimpo do panteão grego pintou aqui? Em um outro sentido, isto é um desrespeito com as outras religiões estabelecidas, que não foram abençoadas com este privilégio. Realmente, só a Religião Católiga propaga este absurdo.

11º) A fé [não] é uma travessia e uma forma de vida, como quer o Papa Emérito Bento XVI. A fé é uma estagnação espaço-temporal e uma forma de morte antecipada.

 

 

Rezando

 

 

12º) Escreve o Papa Emérito Bento XVI: A questão da pedofilia, se não me falha a memória, não era crítica até a segunda metade da década de 1980. Ora, Santidade, faça-me um papal favor. Não pode haver um estado de pedofilia não-crítica e de pedofilia crítica na Igreja nem em lugar nenhum. Admitir uma pedofiliazinha aqui e outra ali, de vez em quando ou de quando em vez, é uma tolerância injustificável, perversa e malsã, seja no âmbito da Igreja, seja no raio que o parta, seja onde o raio parta. A pedofilia é inaceitável até no inferno!

13º) A palavra pequenino, na língua de Jesus, significava aqueles crentes comuns que podem ver sua fé confundida pela arrogância intelectual daqueles que acreditam ser inteligentes, pensa o Papa Emérito. Este entendimento, como muitos e muitos outros, é uma deturpação eclesial e uma incoerência teológica que incapacita e impossibilita a Igreja Católica de auxiliar seus confrades a Compreender para poderem se Libertar. Já expliquei diversas vezes e repetirei: Pequenino Discípulo ou Iniciado. O Papa Bom ou o Papa da Bondade João XXIII era um Pequenino; o Papa Emérito Bento XVI (ainda) não é.

14º) A questão toda não é de fé de +, de fé de ± ou de fé de –, mas, de compreensão ou de incompreensão. A fé não liberta. Só a Compreensão é Libertadora. Na realidade, a fé é aprisionadora e rebaixadora. De maneira geral, é assim:

 

Fi-lo porque qui-lo.
Creio porque creio.
Gosto disto, não daquilo.
Da razão sou alheio.

 

15º) O Senhor nunca quis, não quer e nunca quererá nada de nós. Quem deve querer (se deve querer ou se puder querer) somos nós, tanto individual quanto coletivamente. Mas, é preciso saber querer e como querer.

16º) O poder do mal (criado por nós na 4ª Raça-raiz) não surge da nossa recusa de amar a Deus, mas, sim, da nossa temporária incapacidade de amar o outro. Precisamos, portanto, transmutar esta temporária incapacidade de amar o outro em permanente capacidade de amar o outro. Mas, isto só será possível quando compreendermos que

 

1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + ... + n ... + ... = 1

 

 

17º) Como a fé pode ou poderá garantir que Deus existe? Como seja lá o que for pode ou poderá garantir que Deus existe? Como uma coisa pode ou poderá garantir outra?

18º) Tudo não veio de lugar nenhum. Tudo é porque sempre foi, continua sendo e sempre será. Essa coisa de Big Bang (ou Grande Expansão) só poderia mesmo ter sido inventada por um padre – Georges-Henri Édouard Lemaître (Charleroi, 17 de julho de 1894 – Louvain, 20 de junho de 1966) – que propôs a Hipótese do Átomo Primordial, também conhecida como Ovo Cósmico, posteriormente desenvolvida por George Gamow, para justificar um tresloucado criacionismo divino. O que me abala é que os cientistas, primeiro, tenham engolido esta falácia, e, segundo, que repletos de contumácia, continuem a aceitar esta ineficácia.

19º) Não existe um Deus Criador, como admite a Teologia Católica, porque não existe criação. Para o Ser, nunca houve começo, pois, o nada não pode dar origem à alguma coisa. Para qualquer começo pensado sempre haverá um começo anterior, e para qualquer fim imaginado haverá um fim posterior.

 

‹--- Começo ‹— Começo ‹— Começo ‹— Começo ‹---

---› Fim —› Fim —› Fim —› Fim ---›

---› Começo —› Fim —› Começo —› Fim —› Começo ---›

---› Construção —› Destruição —› Reconstrução ---›

 

20º) Deus não é a base de nossa vida. A base da vida é a Santa Vida Eterna, sem princípio nem fim.

21º) Não há perdão nem punição e o Senhor não pode perdoar nem punir ninguém. Há, sim, Lei da Causa e do Efeito, Lei do Renascimento e aprendizado permanente por educativa compensação.

 

Dor —› Amor —› Compreensão ---› Libertação

 

22º) Não há bons peixes nem maus peixes. Há peixes e uma e somente uma rede. Baleia-assassina não é pior nem melhor do que sardinha, e sardinha não é melhor nem pior do que tubarão-baleia.

23º) O Apocalipse é um livro simbólico, totalmente incompreendido pelos teólogos. Por exemplo: 666 é 666 e não é 666.

24º) Deus não salva ninguém de bulhufas. Ora, se salvação houver, como as pessoas gostam de crer que haja, portanto, supondo que haja uma salvação, cabe a cada um de nós buscá-la, mas, sempre tendo em mente que não há salvação para um ou para meia dúzia de supostos ou autodenominados preferidos ou escolhidos; enquanto todos, em todo o Universo – VITORIOSOS – não tiverem regressado ao Lar, todos nós, em qualquer parte do Universo, seremos sem-teto e estaremos desabrigados. Mas, já que falei nisto, o que seria esta salvação? Eu só posso compreender Salvação como Compreensão que gera a Libertação. Portanto, se Deus existe, Ele não pode Compreender por nós o que exclusivamente a nós cabe Compreender. Nós é que temos de nos salvar de nós mesmos.

25º) Confundir e colocar no mesmo saco a homossexualidade e a pedofilia é como confundir batina de padre com cantina da comadre, solidéu de cabeça com galindréu de barcaça, papa-hóstia ajoelhada com acropóstia circundada e Bento de Núrsia com bicho de pelúcia. Enfim, o que me deixa abismado é que os assessores do Santo Padre emérito, que certamente leram este documento, tenham concordado com todas estas inadequações. Isto é mesmo escabroso.

26º) Enfim, a Lei Universal – o Svmmvm Bonvm – é imutável, desde sempre e para sempre a mesma. As incoerências sistemáticas, crescentes e cada vez mais sofisticadas amparadas e favorecidas pelo Catolicismo exotérico e popular só têm uma causa: a Igreja Católica sempre atuou a zilhões de quilômetros de distância do Svmmvm Bonvm e nunca soube o que Ele de fato é. Por isto, por exemplo, admite que os LGBTQIAP+ e os pedófilos são farinhas do mesmo saco. Não são! Para concluir este rascunho, citarei um fragmento da obra O Sexo, tema transmitido telepaticamente pelo Mestre Ascensionado Tibetano Djwhal Khul – um Iniciado da Sabedoria Eterna e um transmissor de LLuz, custe o que custar, como Ele próprio declarou – à Alice Ann Bailey, que o publicou: A Teologia Católica tem travado uma guerra cruel e, muitas vezes, ilógica contra o sexo e as suas implicações. Ela vem acentuando o celibato militante, e considera o sexo como um dos maiores males do mundo. De maneira geral, se pode dizer que todas as tergiversações católicas são devidas a São Paulo que havia nascido em Escorpião e que estava sob a poderosa influência de Marte quem estabeleceu e promulgou as bases do Catolicismo, antes de receber a Terceira Iniciação. Tal é, muitas vezes, o efeito indesejável das atividades de muitos Discípulos bem-intencionados sobre o trabalho que desempenham, depois de desaparecer Aqueles que deram início a uma tarefa específica para a Hierarquia, e que tiveram que abandonar suas empreitadas para assumir outros deveres. [Sublinhado meu.] Bem, esta indesejabilidade continua até os dias de hoje, pois, basta ver o que acontece mundo afora, seja no campo religioso, seja no campo laico: uma procissão de pitosgas que veneram e que seguem pitosgas. Raciocínio tendente a zero. Questionamento tendente a zero. Dialética tendente a zero. Compreensão tendente a zero. A solução é ter muita paciência e aguardar um tempo posterior a 2034. O fudelhufas de cagahouse ainda não alcançou o ápice. Há muita transmutação educativa pela frente. Precisamos cruzar a alcântara.

 

 

 

Procissão de Pitosgas

 

 

 

Pomba

 

 

 

Música de fundo:

Tantum Ergo
Composição: Santo Tomás de Aquino
Interpretação: Schola Cantorum do Pontifício Col. Intern. dos Beneditinos de S. Anselmo em Roma

Observação:

Tantum Ergo Sacramentum (Ó Sacramento Tão Sublime) são as palavras iniciais das duas últimas estrofes do Pange Lingua Gloriosi Corporis Mysterium, um hino latino escrito por Santo Tomás de Aquino (Roccasecca, 1225 – Fossanova, 7 de março de 1274) para a solenidade de Corpus Christi.

 

Páginas da Internet consultadas:

https://gifer.com/en/1Aqs

https://www.linkshideaway.com/

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https://laicismo.org/

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http://www.blindbobs.com/

https://dellacellasouzaadvogados.jusbrasil.com.br/

http://darrowmillerandfriends.com/

https://es.slideshare.net/

https://www.sociedademilitar.com.br/wp/

https://www.raciociniocristao.com.br/

https://commons.wikimedia.org/wiki/
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https://santanadecampinas.org.br/l

https://ionline.sapo.pt/602419

https://www.acidigital.com/noticias/o-diagnostico-de-bento-xvi-
sobre-a-crise-da-igreja-e-dos-abusos-sexuais-do-clero-28270

 

Direitos autorais:

As animações, as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las, se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei do ar imediatamente.