Introdução
e Objetivo do Estudo
Como
quem coleciona borbonhocas, minholetas, selos, moedas, revólveres,
bonecas, melecas, caveiras, venenos, pecados e outros bagulhos,
a Igreja Católica vem sistematicamente colecionando incoerências,
absurdos, desarmonias, desconexões, discrepâncias, inconseqüências,
incongruências, impropriedades e desinteligências desde a fundação
paulina do Catolicismo, tudo isto sem levar em conta as centenas de milhares
de cadáveres empilhados ao longo dos séculos por conta de
abortos, de envenenamentos, de assassinatos, de conspirações,
de coligações, de apoios ilícitos (como, por exemplo,
foi o caso da dissolução da Ordem dos Pobres Cavaleiros de
Cristo e do Templo de Salomão pelo Papa Clemente V em apoio ao Rei
Filipe IV, da França), de conventículos, de tramas, de medo
de perder o poder temporal, de falsas acusações, de desvirtuamentos,
de variadas fobias (a principal sendo a homofobia), de julgamentos improcedentes
(como, por exemplo, foi o caso de Joana d'Arc e de Giordano Bruno), de mentiras
[como, por exemplo, foi o caso de Maria Madalena, identificada por São
Gregório Magno, como a
pecadora (Lucas: VIII: 2)], de concordatas, de opções
hipotéticas, de preconceitos, de obscurantismos, de visões
esquizofrênicas, de perseguições, de torturas, de manipulações,
de adulterações (como, por exemplo, foi o caso do limbo –
um lugar fora dos limites do céu, onde se vive de forma esquecida
e sem a visão plena da eternidade e privado da visão beatificada
de Deus), de mesquinharias, das cruzadas (tradicionalmente, são admitidas
nove Cruzadas, mas, na realidade, elas constituíram um movimento
quase permanente) e da inquisição (que começou no século
XII e persistiu até o início do século XIX). A lista
de absurdezas é imensa e o que apresentei acima está incompleto,
mas, se eu tivesse que escolher o pior de todos os absurdos, eu não
hesitaria em indigitar o celibato, porque, espuriamente criado, está
aí celibatarizando os celibatários até hoje, e é
sinônimo absoluto de Magia Negra. Na verdade, a Igreja Católica
se tornou medonhamente expert em desrespeitar o Tantum
Ergo Sacramentum. Bem, é
claro que há exceções e são a maioria, e se
eu tivesse que citar duas, eu lembraria Angelo Giuseppe Roncalli (Sotto
Il Monte, 25 de novembro de 1881 – Vaticano, 3 de junho de 1963),
o Papa João XXIII, e Jorge Mario Bergoglio (Buenos Aires, 17 de dezembro
de 1936), o atual Papa Francisco, duas luzes na escuridão católica.
Se você achar que eu exagerei, por favor, faça uma pesquisa
sobre este assunto, e ficará mais horrorizado do que com o que apresentei
acima. A Religião Católica, sem qualquer dúvida, foi
a que mais matou em nome da Grande Loja Negra e da Oitava Esfera, pensando
que estava matando em Nome de Deus. Ora, não há Porteiro Zé
– –
que não compreenda estas
coisas.
Cælibatus
Todavia,
não é tomando como exemplo o celibato católico impingido,
que, hoje, pretendo fazer uma reflexão sobre os descaminhos do Catolicismo
(minha religião primeva), mas, sim, sobre um documento que vazou
para a imprensa, intitulado A
Igreja e os Abusos Sexuais, no qual o Papa Emérito Bento
XVI oferece suas reflexões sobre a atual situação eclesial
e apresenta suas propostas para enfrentar esta grave crise de sexualidade,
que a
disponibilizou na Internet. O texto seria publicado na Semana Santa
pelo Klerusblatt, um jornal mensal para o clero de algumas dioceses
bávaras da Alemanha, no entanto, terminou sendo divulgado na última
quarta-feira, 10 de abril de 2019, pelo jornal New York Post. A seguir,
reproduzo o texto completo do Papa Emérito Bento XVI, e, no final,
arrisco fazer algumas reflexões e comentários imparciais e
sem qualquer intuito ofensivo. Se você achar conveniente, divulgue
este rascunho.
A
Igreja e os Abusos Sexuais
A
Igreja e o Escândalo do Abuso Sexual
Papa
Emérito Bento XVI
De
21 a 24 de fevereiro, a convite do Papa Francisco, os presidentes das conferências
episcopais de todo o mundo se reuniram no Vaticano para discutir a crise
da Fé e da Igreja, uma crise palpável em todo o mundo após
as estarrecedoras revelações dos abusos perpetrados por clérigos
contra menores. A extensão e a gravidade dos incidentes relatados
têm afligido profundamente tanto sacerdotes quanto leigos, e levou
a não poucas pessoas a questionarem a própria fé da
Igreja. Era necessário enviar uma mensagem forte e procurar um novo
começo, de tal sorte a tornar a Igreja novamente verdadeiramente
credível como uma luz entre os povos e como uma força ativa
contra os poderes da destruição.
Já
que eu mesmo me encontrava servindo em uma posição de responsabilidade
como pastor da Igreja no momento da eclosão pública da crise
e durante seu desenvolvimento, eu tive que me perguntar –
ainda que como emérito já não seja mais diretamente
responsável por essa situação –
o que eu podia fazer para contribuir com um novo começo
em retrospecto. Assim, durante o período que vai do anúncio
até a realização da reunião dos Presidentes
das Conferências Episcopais, compilei algumas anotações
com as quais creio poder oferecer uma ou duas observações
e ajudar a Igreja nesta hora tão difícil. Tendo entrado em
contato com o Secretário de Estado, Cardeal [Pietro] Parolin e o
Santo Padre [Papa Francisco],
pareceu-me apropriado publicar o texto resultante deste esforço
no Klerusblatt.
Meu
trabalho está dividido em três partes. Na primeira, pretendo
apresentar brevemente o contexto societário mais amplo da questão,
sem o qual o problema não pode ser entendido. Eu tento mostrar que
na década de 60 ocorreu um evento excepcional, em uma escala sem
precedentes na história. Pode-se dizer que, nos 20 anos decorridos
entre 1960 e 1980, os padrões vinculantes relativos
à sexualidade até então entraram em colapso por completo,
gerando uma ausência de normativa que já foi objeto de tentativas
laboriosas de compreensão.
Na
segunda parte, pretendo destacar os efeitos dessa situação
na formação dos sacerdotes e na vida dos sacerdotes.
Finalmente,
na terceira parte, gostaria de desenvolver algumas perspectivas para uma
resposta adequada por parte da Igreja.
I.
(1)
O assunto começa com a introdução, prescrita e apoiada
pelo Estado, de crianças e jovens no tema da natureza da sexualidade.
Na Alemanha, a então ministra da Saúde, [Käte]
Strobel, mandou fazer um filme mostrando tudo o que antes não podia
ser exibido publicamente, incluindo relações sexuais, e que
passou a ser exibido com o propósito de educar os jovens. O que inicialmente
se destinava apenas à educação sexual destes, por conseguinte,
foi amplamente aceito como uma opção viável para o
resto da sociedade.
Efeitos
semelhantes foram alcançados pelo "Sexkoffer" publicado
pelo Governo Austríaco. Filmes sexuais e pornográficos se
tornaram uma ocorrência comum, a ponto de serem exibidos nos cinemas
[Bahnhofskinos].
Ainda me lembro de ter visto, andando pela cidade de Regensburg, um dia,
verdadeiras multidões de pessoas se alinhando em frente a uma grande
sala de cinema, algo que anteriormente só havíamos visto nos
tempos da guerra, quando alguma alocação especial era esperada.
Lembro-me também de ter chegado à cidade na Sexta-feira Santa,
no ano de 1970, e de ver todos os outdoors preenchidos por um grande cartaz
de duas pessoas completamente nuas num abraço apertado.
Entre
as liberdades pelas quais a Revolução de 1968 lutou estava
a total liberdade sexual, uma que não mais possuía normas.
A vontade de usar a violência, que caracterizou esses anos, está
fortemente relacionada a esse colapso mental. Na verdade, os filmes sexuais
não eram mais permitidos nos aviões porque poderiam gerar
violência na pequena comunidade de passageiros. E dado que os excessos
no vestuário também provocavam agressão, os diretores
das escolas fizeram várias tentativas de introduzir uma vestimenta
escolar que facilitasse um clima de aprendizado.
Parte
da fisionomia da Revolução de 1968 foi que a pedofilia também
foi diagnosticada como um comportamento aceitável e apropriado.
Para
os jovens da Igreja, mas, não apenas para eles, este foi um momento
muito difícil em muitos aspectos. Sempre me perguntei como os jovens
nessa situação poderiam se aproximar do sacerdócio
e aceitá-lo com todas as suas ramificações. O extenso
colapso das gerações seguintes de sacerdotes naqueles anos
e o grande número de secularizações foram uma conseqüência
de todos esses desenvolvimentos.
(2)
Ao mesmo tempo, independentemente destes desenvolvimentos,
a teologia moral católica sofreu um colapso que deixou a Igreja desamparada
diante dessas mudanças na sociedade. Vou tentar delinear brevemente
a trajetória que esse desenvolvimento percorreu.
Até
o Concílio Vaticano II, a teologia moral católica era em grande
parte baseada na lei natural, enquanto as Sagradas Escrituras eram citadas
apenas para obter contexto ou justificação. Na luta do Concílio
por uma nova compreensão do Apocalipse, a opção pela
lei natural foi amplamente abandonada, e uma teologia moral baseada inteiramente
na Bíblia foi exigida.
Ainda
me lembro como a faculdade jesuíta em Frankfurt treinou o jovem e
inteligente Padre (Schüller) com o propósito de desenvolver
uma moralidade baseada inteiramente nas Escrituras. A bela dissertação
do Padre
[Bruno] Schüller mostra um primeiro passo
para a construção de uma moralidade baseada nas Escrituras.
O sacerdote foi então enviado para os Estados Unidos, e voltou, percebendo
que somente com a Bíblia a moralidade não poderia ser expressa
sistematicamente. Então, ele tentou uma teologia moral mais pragmática,
sem poder dar uma resposta à crise da moralidade.
Conseqüentemente,
nada poderia ser considerado um bem absoluto, assim como, por outro lado,
coisa alguma poderia ser considerada fundamentalmente ruim; [poderia
haver] apenas juízos de valor relativos.
Não havia mais o bom em seu sentido mais absoluto, apenas o aquilo
que era relativamente melhor ou contingente para o momento e as circunstâncias
específicas.
A
crise da justificação e da forma de expor a moral católica
alcançou proporções dramáticas
no final dos anos 80 e 90. Em 5 de janeiro de 1989, foi publicada a "Declaração
de Colônia", assinada por 15 catedráticos católicos
de teologia. O documento se concentrou em vários pontos da crise
da relação entre o magistério dos bispos e a tarefa
da teologia. (As reações a) este texto, que em princípio
não passaram do usual nível de protestos, cresceu rapidamente
e se tornou um grito contra o magistério da Igreja, e reuniu, clara
e visivelmente, o potencial de um protesto global contra os esperados textos
doutrinais de João Paulo II.
O
Papa João Paulo II, que conhecia muito bem e acompanhava de perto
a situação em que a teologia moral se encontrava, encomendou
o trabalho de uma encíclica para tornar as coisas claras novamente.
E foi publicada sob o título de Veritatis Splendor no dia 6 de agosto
de 1993, e logo gerou reações veementes de vários teólogos
morais. Antes disso, o Catecismo da Igreja Católica [publicado
em 1992] já havia apresentado, de maneira
persuasiva e sistemática, a moralidade proclamada pela Igreja.
Nunca vou esquecer a forma como o
então líder teólogo moral alemão, Franz Böckle,
tendo retornado para a sua Suíça natal após a aposentadoria,
anunciou em relação à Veritatis Splendor que, se a
encíclica determinasse que existem ações que sempre
e em todas as circunstâncias deveriam ser classificados como más,
ele iria rebatê-la com todos os recursos à sua disposição.
Foi
Deus, o Misericordioso, que evitou que este propósito fosse executado,
pois Böckle morreu em 8 de julho de 1991. A encíclica foi publicada
em 06 de agosto de 1993 e efetivamente incluía a determinação
de que certas ações jamais podem ser consideradas boas.
O
Papa estava plenamente consciente da importância desta decisão
e, nessa parte do texto, consultou novamente os melhores especialistas que
não participaram da edição da encíclica. Ele
sabia que não deveria deixar dúvidas sobre o fato de que a
moralidade que busca o equilíbrio de bens deve ter sempre um limite
final. Alguns bens simplesmente não estão sujeitos a concessões.
Há
valores que jamais devem ser abandonados por um valor mais alto e até
mesmo superar a preservação da vida física. Há
martírio. Deus é mais. Ele vale mais que a própria
sobrevivência física. Uma vida comprada pela negação
de Deus, uma vida baseada em uma mentira, ao final, não é
vida.
O
martírio é a categoria básica da existência cristã.
O fato de que o mesmo já não seja moralmente necessário,
como afirma a teoria defendida por Böckle e muitos outros, demonstra
que a própria essência do Cristianismo está em jogo
aqui.
Na
teologia moral, no entanto, outra questão se tornou urgente: a hipótese
de que o Magistério da Igreja deveria ter competência final
("infalibilidade") apenas nas questões relativas
à fé e já não nas que se referem à moralidade,
havia ganhado ampla aceitação. Dizia-se que estas questões
não deveriam cair no âmbito de decisões infalíveis
do magistério da Igreja. Provavelmente, há algo de verdade
nesta hipótese e que merece mais discussão, mas, há
um conjunto mínimo de questões morais que estão intimamente
relacionadas com o princípio fundamental da fé, o qual deve
ser defendido, para que a fé não venha a ser reduzida a uma
teoria e que já não seja reconhecida em seu clamor pela vida
concreta.
Tudo
isso nos permite ver o quão fundamentalmente a autoridade da Igreja
é questionada quando se trata de questões de moralidade. Aqueles
que negam à Igreja uma competência no ensinamento definitivo
nesta área, forçam-na a permanecer em silêncio exatamente
ali, onde se encontra em jogo a fronteira entre a verdade e a mentira.
Independentemente
deste assunto, em muitos círculos da teologia moral foi
apresentada a tese de que a Igreja não tem
e não pode ter sua própria moralidade. O argumento era que
todas as hipóteses morais teriam seu paralelo em outras religiões
e, portanto, não haveria uma natureza cristã. Mas, a questão
da natureza da moralidade bíblica não é respondida
pelo fato de que para cada frase singular em algum lugar da Escritura podemos
encontrar um paralelo em outras religiões. Na verdade, trata-se do
conjunto da moralidade bíblica, que, como tal, é novo e distinto
de suas partes individuais.
A
doutrina moral das Sagradas Escrituras tem a sua forma única
de ser predicada em última instância na sua concreção
à imagem de Deus, na fé em um Deus que se manifestou a Si
mesmo em Jesus Cristo e viveu como ser humano. O Decálogo é
uma aplicação para a vida humana da fé bíblica
em Deus. A imagem de Deus e da moralidade se pertencem uma a outra, e é
por isto que resulta na mudança particular da atitude cristã
em relação ao mundo e à vida humana. Além disto,
o Cristianismo tem sido descrito desde o início com o termo Hodoš
(caminho, em grego, usado no Novo Testamento para discutir um caminho de
progresso).
A
fé é uma travessia e uma forma de vida. Na Igreja antiga,
o catecumenato foi criado como um habitat no qual os aspectos distintos
e frescos daquele modo de viver a vida cristã eram, ao mesmo tempo,
praticados e protegidos, contra uma cultura cada vez mais desmoralizada.
Acredito que mesmo hoje, algo como estas comunidades de catecumenato sejam
necessárias para que a vida cristã possa se afirmar da maneira
que lhe é própria.
As
Reações Eclesiais Iniciais
(1)
O processo há muito preparado e em andamento para a dissolução
do conceito cristão de moralidade foi marcado, como tentei demonstrar,
pelo radicalismo sem precedentes dos anos 1960. Esta dissolução
da autoridade moral do ensino da Igreja devia ter um efeito sobre os diferentes
membros da Igreja. No contexto da reunião dos presidentes das conferências
episcopais em todo o mundo com o Papa Francisco, a questão da vida
sacerdotal, assim como a dos seminários, é de particular interesse,
uma vez que está relacionado ao problema, o tema da preparação
para o ministério sacerdotal nos seminários, e, existe de
fato uma ampla decomposição no que diz respeito à anterior
forma de preparação dos candidatos.
Em
vários seminários foram estabelecidos grupos homossexuais
que agiram mais ou menos abertamente, o que mudou significativamente o clima
que se vivia ali. Em um seminário no sul da Alemanha, os candidatos
ao sacerdócio e ao ministério leigo de agentes de pastoral
(Pastoralreferent) viviam juntos. Nas refeições diárias,
os seminaristas e os especialistas em pastoral estavam juntos. Os casados,
às vezes, estavam com suas esposas e filhos, e, às vezes,
com suas namoradas. O clima neste seminário não oferecia o
apoio necessário para a preparação adequada para a
vocação sacerdotal. A Santa Sé sabia destes problemas,
mas, sem ser informada com precisão. Como primeiro passo, foi acordada
uma visita apostólica para os seminários nos Estados Unidos.
Como
os critérios para a seleção e nomeação
dos bispos também mudaram depois do Concílio Vaticano II,
a relação dos bispos com seus seminários também
se tornou muito diferente. Acima de tudo, a "conciliaridade" foi
estabelecida como um critério para a nomeação de novos
bispos, o que poderia ser entendido de várias maneiras.
De
fato, em muitos lugares se entendeu que as atitudes conciliares se relacionavam
a uma postura crítica ou negativa à tradição
que existia até então, e que precisava ser substituída
por uma relação nova e radicalmente aberta com o mundo. Um
bispo, que já havia sido reitor de um seminário, fez os seminaristas
assistirem a filmes pornográficos com a intenção de
torná-los resistentes a condutas contrárias à fé.
Havia
– e
não apenas nos Estados Unidos da América
– bispos
que individualmente rejeitavam totalmente a tradição católica
e buscavam uma nova e moderna "catolicidade" em suas dioceses.
Pode valer a pena mencionar que em muitos seminários, os estudantes
que os viram lendo meus livros eram considerados inadequados para o sacerdócio.
Meus livros estavam escondidos, como se fossem literatura ruim, e eram lidos
apenas debaixo da escrivaninha.
A
visita apostólica afinal não trouxe novas pistas, aparentemente
porque vários poderes juntaram forças para maquiar a verdadeira
situação. Uma segunda visita foi ordenada e permitiu novos
dados, mas, no final, tampouco obteve resultado algum. No entanto, desde
a década de 1970, a situação nos seminários
geralmente melhorou. E, no entanto, apenas casos isolados de um novo fortalecimento
das vocações sacerdotais surgiram, posto que a situação
em geral havia tomado outro rumo.
(2)
A questão da pedofilia, se não me falha a
memória, não era crítica até a segunda metade
da década de 1980. Entretanto, ele se tornou um assunto público
nos Estados Unidos, tanto assim que os bispos foram a Roma para procurar
ajuda, e que o Direito Canônico, conforme escrito no novo Código
(1983), não parecia suficiente para tomar as medidas necessárias.
Na primeira visita, Roma e os canonistas romanos tinham dificuldades com
estas preocupações porque, em sua opinião, a suspensão
temporária do ministério sacerdotal deveria ser suficiente
para gerar purificação e esclarecimento. Isto não podia
ser aceito pelos bispos americanos, porque assim os sacerdotes permaneciam
a serviço do bispo e, portanto, seguiam diretamente associados a
ele. Lentamente, foi tomando forma uma renovação e um aprofundamento
na lei criminal do novo Código, construída deliberadamente
e com ligeireza.
Além
disso e no entanto, havia um problema fundamental na percepção
do direito penal. Apenas o chamado “garantismo” (uma
espécie de protecionismo processual ao réu) era considerado
uma postura "conciliar". Isto significa que os direitos do acusado
devem ser garantidos, acima de tudo, até o ponto em que qualquer
tipo de condenação fosse impossibilitada. Como um contrapeso
para as opções de defesa disponíveis para os teólogos
acusados e muitas vezes inadequadas, o direito de defesa dos mesmos usando
o “garantismo” se estendeu a tal ponto que era quase impossível
uma condenação.
Permitam-me
um breve excurso neste momento. À luz da escalada da conduta pedófila,
uma palavra de Jesus novamente nos interpela: Se
alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que creem em mim,
seria melhor que fosse lançado no mar com uma grande pedra amarrada
no pescoço. (Marcos, IX: 42).
A
palavra pequenino, na língua de Jesus, significava
aqueles crentes comuns que podem ver sua fé confundida pela arrogância
intelectual daqueles que acreditam ser inteligentes. Então, aqui
Jesus protege o depósito da fé com uma ameaça ou punição
enfática para aqueles que prejudicam estas pessoas.
O
uso moderno da frase não está em si mesmo errado, mas não
deve obscurecer o significado original. Fica claro, contra qualquer “garantismo”,
que não apenas o direito do acusado é importante e requer
uma garantia. Grandes bens como a fé são igualmente importantes.
Assim,
uma lei canônica equilibrada, que corresponda à totalidade
da mensagem de Jesus, não apenas deve fornecer uma garantia para
o acusado, para quem o respeito é um bem lícito, mas, também,
deve proteger a fé, que também é um importante e lícito
bem. Uma lei canônica adequadamente formada deve, então, conter
uma dupla garantia: a proteção legal do acusado e a proteção
legal da propriedade que está em jogo. Se hoje esta concepção
intrinsecamente clara é apresentada, ela, geralmente, cai em ouvidos
surdos, quando se trata da questão da proteção da fé
como um bem legal. Na consciência geral da lei, a fé não
parece mais ter o grau de um bem que requer proteção. Esta
é uma situação alarmante que os pastores da Igreja
devem considerar e levar a sério.
Agora
eu gostaria de acrescentar, às breves notas sobre a situação
da formação sacerdotal na época da crise, algumas observações
sobre o desenvolvimento do Direito Canônico nesta matéria.
Em
princípio, a Congregação para o Clero é responsável
por lidar com crimes cometidos por padres, mas dado que o “garantismo”
dominava amplamente a situação daquela época, eu concordei
com o Papa João Paulo II que era apropriado designar essas ofensas
à Congregação para a Doutrina da Fé, sob o título
de "Delicta Maiora Montra Fidem. [Delitos
Graves Contra a Fé].
Isto
possibilitou a imposição da pena máxima, ou seja, a
expulsão do estado clerical, que não poderia ter sido imposta
sob outras disposições legais. Este não foi um truque
para impor a pena máxima, mas, uma conseqüência da importância
do bem que é a fé para a Igreja. De fato, é importante
notar que uma tamanha má conduta deste tipo por parte de um clérigo,
acaba, em última instância, prejudicando a fé.
Onde
a fé não determina mais as ações do homem tais
ofensas se tornam possíveis.
A
severidade da pena, no entanto, também pressupõe uma prova
clara da ofensa: este aspecto da garantia continua em vigor.
Em
outras palavras, para impor a pena máxima legalmente, é necessário
um processo criminal genuíno, mas, ambas as dioceses e a Santa Sé
estão sobrecarregadas por esta exigência. Portanto, formulamos
um nível mínimo de procedimentos criminais e deixamos aberta
a possibilidade de que a própria Santa Sé assuma o julgamento,
quando a diocese ou a administração metropolitana não
possam fazê-lo. Em cada caso, o julgamento deve ser revisado pela
Congregação para a Doutrina da Fé para garantir os
direitos do acusado. Finalmente, na quarta feria [assembléia
ou reunião geral dos membros da Congregação para a
Doutrina da Fé da
Cúria em que são discutidos os diversos casos em andamento],
estabelecemos uma instância de recurso para
oferecer a possibilidade de o acusado apelar.
Já
que tudo isto ultrapassou as capacidades concretas da Congregação
para a Doutrina da Fé e não havia outra alternativa mais que
enfrentar os longos atrasos, devido à natureza peculiar do assunto,
o Papa Francisco decidiu então realizar mais reformas.
III.
(1)
O que deve ser feito? Talvez, devêssemos criar outra Igreja para que
as coisas funcionem? Bem, esta experiência já foi feita e já
falhou. Somente a obediência e o amor a nosso Senhor Jesus Cristo
podem nos mostrar o caminho, então, primeiramente, devemos tentar
entender de novo e de dentro (de nós mesmos) o que o Senhor quer
e quis de nós.
Em
primeiro lugar, gostaria de sugerir o seguinte: se realmente queremos resumir
muito brevemente o conteúdo da fé, tal como está na
Bíblia, teríamos que fazê-lo dizendo que o Senhor começou
uma narrativa de amor com as pessoas e quer abraçar toda a criação
nesta narrativa. A maneira de lutar contra o mal que nos ameaça e
ameaça o mundo todo, só pode residir no nosso ingresso neste
amor em última instância. Esta é a verdadeira força
contra o mal, já que o poder do mal surge da nossa recusa em amar
a Deus. Quem se entrega ao amor de Deus é redimido. Nossa realidade
de não-redimidos é conseqüência de nossa incapacidade
de amar a Deus. Aprender a amar a Deus é, portanto, o caminho da
redenção humana.
Vamos
tentar desenvolver um pouco mais este conteúdo essencial da revelação
de Deus. Podemos assim dizer que o primeiro dom fundamental que a fé
nos oferece é a certeza de que Deus existe. Um mundo sem Deus
só pode ser um mundo sem significado. Caso
contrário, de onde tudo viria? Em todo caso, não haveria um
propósito espiritual. De alguma forma, simplesmente está
lá e não tem propósito ou significado algum. Então,
não há padrões de bem ou mal, e somente o que é
mais forte do que qualquer outra coisa que se possa afirmar, e, assim, o
poder se torna o único princípio. A verdade não conta,
simplesmente não existe. Somente se as coisas tiverem uma razão
espiritual, elas terão uma intenção e serão
concebidas. Somente se existir um Deus Criador, que é bom e que quer
o bem, a vida do homem poderá, então, fazer sentido.
Existir
um Deus que seja o criador e a medida de todas as coisas é primeiro
e acima de tudo uma necessidade, mas um Deus que não se expressa
em nada aquilo que é, que não se dá a conhecer, permaneceria
como uma presunção e, em conseqüência, não
poderia determinar a forma [Gestalt]
do nosso viver. Para que Deus seja realmente Deus nesta criação
deliberada, temos que olhar para Ele, para que Ele se expresse de alguma
forma. Ele fez de muitas maneiras, mas, decisivamente, na vocação
de Abraão, e deu às pessoas que procuravam a Deus a orientação
que nos leva além de toda expectativa: o próprio Deus se torna
criatura, falando como um homem conosco, seres humanos.
Neste
sentido, a frase "Deus é" se torna, ao final, uma mensagem
verdadeiramente alegre, precisamente porque Ele é mais do que intelecto
porque cria –
e é –
o amor para que mais uma vez as pessoas tenham consciência
de que esta é a primeira e mais fundamental tarefa confiada a nós
pelo Senhor.
Uma
sociedade sem Deus –
uma sociedade que não O conhece e O trata como inexistente
–
é uma sociedade que perde sua medida. Em nossos dias,
a frase da morte de Deus foi acunhada. Quando Deus morre em uma sociedade,
nos é dito, se torna livre. Na realidade, a morte de Deus em uma
sociedade também significa o fim da liberdade, porque o que morre
é o propósito que provê a orientação,
já que desaparece a bússola que nos indica a direção
certa e que nos ensina a distinguir o bem do mal. A sociedade ocidental
é uma sociedade na qual Deus está ausente na esfera pública
e não tem nada para oferecer a ela. E esta é a razão
pela qual a sociedade perde cada vez mais sua noção de humanidade.
Em pontos individuais, de repente parece que o que é ruim e destrói
o homem se tornou uma questão de rotina.
Este
é o caso da pedofilia. Admitiu-se há pouco tempo como algo
legítimo, mas, se espalhou mais e mais. E agora percebemos, com surpresa,
que as coisas que estão acontecendo com nossas crianças e
jovens ameaçam destruí-las. O fato de que isto também
pode ser estendido na Igreja e entre os sacerdotes é algo que deve
nos interpelar de maneira particular.
Por
que a pedofilia atingiu tais proporções? No final, a razão
é a ausência de Deus. Nós cristãos e sacerdotes
também preferimos não falar de Deus, porque este discurso
não parece ser prático. Após a convulsão da
Segunda Guerra Mundial, nós, na Alemanha, ainda tínhamos expressamente
em nossa Constituição que estávamos sob a responsabilidade
de Deus como um princípio orientador. Meio século depois,
já não era possível incluir a responsabilidade para
com Deus como um princípio orientador na Constituição
Européia. Deus é visto como a preocupação partidária
de um pequeno grupo, e não pode mais ser um princípio orientador
para a comunidade como um todo. Esta decisão é refletida na
situação no Ocidente, onde Deus se tornou um assunto particular,
destinado a uma pequena minoria.
Uma
tarefa primordial, que deve resultar das convulsões morais de nosso
tempo, é que novamente comecemos a viver para Deus e sob Ele. Acima
de tudo, temos que aprender mais uma vez a reconhecer Deus como a base de
nossa vida. Em vez de deixá-Lo de lado, como se fosse uma frase ineficaz.
Jamais esquecerei o aviso do grande teólogo Hans Urs von Balthasar
que uma vez me escreveu em um de seus cartões postais. Não
pressuponha o Deus trino: Pai, Filho e Espírito Santo. Apresente-O!
De
fato, na teologia, Deus é sempre tomado como uma questão de
rotina, mas, na vida concreta não, pois, a pessoa não se relaciona
com Ele. O tema de Deus parece tão irreal, tão alheio às
coisas que nos preocupam, e, entretanto, tudo se torna diferente quando
nós não pressupomos, mas, apresentamos Deus aos demais. Não
deixando para trás como uma moldura, mas, reconhecendo-O como o centro
de nossos pensamentos, de nossas palavras e de
nossas ações.
(2)
Deus se tornou homem para nós. O homem, como sua
criatura, está tão perto de Seu Coração, que
se uniu a si mesmo e, assim, entrou na história humana de maneira
muito prática. Ele fala conosco, vive conosco, sofre conosco e assumiu
a morte por nós. Falamos sobre isso em detalhes em teologia, com
palavras e pensamentos aprendidos, mas, é precisamente assim que
corremos o risco de nos tornarmos professores da fé, em vez de sermos
renovados e transformados em mestres pela fé.
Considere
isto com relação à questão central, a celebração
da Santa Eucaristia. Nossa forma de lidar com a Eucaristia só pode
gerar preocupação. O Concílio Vaticano II se concentrou
justamente em devolver este sacramento da presença do corpo e do
sangue de Cristo, da presença da Sua Pessoa, da Sua Paixão,
Morte e Ressurreição ao centro da vida cristã e à
própria existência da Igreja. Em parte, isto realmente aconteceu
e devemos ser gratos ao Senhor por isto.
E
ainda assim uma atitude muito diferente prevalece. O que predomina não
é uma nova reverência pela presença da morte e ressurreição
de Cristo, mas, uma maneira de lidar com Ele que destrói a grandeza
do Mistério. A queda na participação das celebrações
eucarísticas dominicais mostra quão pouco os católicos
de hoje sabem apreciar a grandeza do dom, que consiste em sua verdadeira
Presença. A Eucaristia se tornou um mero gesto cerimonial, quando
se toma por parâmetro que as boas maneiras exigem que esta seja oferecida
em celebrações familiares ou às vezes em casamentos
e funerais a todos os convidados, simplesmente por motivos familiares.
A
maneira pela qual as pessoas simplesmente recebem o Santíssimo Sacramento
na comunhão como algo rotineiro mostra que muitos O vêem como
um gesto puramente cerimonial. Portanto, quando você pensa sobre a
ação que é necessária em primeiro lugar, é
bastante óbvio que não precisamos de outra Igreja com um design
próprio. Em vez disso, se necessita, em primeiro lugar, alcançar
a renovação da fé na realidade de que Jesus Cristo
realmente nos é dado no Santíssimo Sacramento.
Em
conversas com vítimas de pedofilia, fiquei muito consciente deste
primeiro e fundamental requisito.
Uma
jovem, que havia sido acólita, me disse que o capelão, seu
superior no culto do altar, sempre a introduzia ao abuso sexual com estas
palavras: Este é
o meu corpo que será entregue por ti.
É
óbvio que esta mulher não pode mais ouvir as palavras da consagração
sem experimentar novamente a terrível angústia do abuso. Sim,
temos que implorar ao Senhor urgentemente pelo Seu perdão, mas, antes
de tudo, temos que jurar por Ele e pedir a Ele que nos ensine novamente
a entender a grandeza do Seu sofrimento e do Seu sacrifício. E nós
temos que fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para proteger o dom
da Santa Eucaristia do abuso.
(3)
E, finalmente, está o Mistério da Igreja. A frase com que
Romano Guardini, há quase 100 anos, expressou a esperança
alegre dele e de tantos outros, permanece inesquecível: Um
evento de importância incalculável começou, a Igreja
está despertando nas almas
[do povo].
Ele
quis dizer que a Igreja não foi experimentada ou vista simplesmente
como um sistema externo que entrou em nossas vidas, como uma espécie
de autoridade, mas, que havia começado a ser percebida como presente
nos corações das pessoas, não como algo meramente externo,
mas, que nos move internamente. Quase 50 anos depois, a repensar esse processo
e ver o que vem acontecendo, estou tentado a reverter a frase: "A Igreja
está morrendo nas almas [das
pessoas]."
De
fato, hoje a Igreja é amplamente vista apenas como um tipo de aparato
político. Fala-se dela quase que exclusivamente em categorias políticas,
e isto se aplica até mesmo a bispos que formulam a sua concepção
da Igreja do amanhã quase exclusivamente em termos políticos.
A crise, causada por muitos casos de abuso de clérigos, nos faz olhar
para a Igreja como algo quase inaceitável, que nós temos que
tomar em nossas mãos e redesenhar. Mas, uma Igreja que se autoconstrói
não pode constituir esperança alguma.
O
próprio Jesus comparou a Igreja a uma rede de pesca na qual o próprio
Deus separa os bons peixes dos maus. Há também uma parábola
da Igreja como um campo onde o trigo cresce que o próprio Deus semeou
com a erva daninha que "um inimigo" secretamente lançou.
Na verdade, a erva daninha no campo de Deus, a Igreja, é agora demasiado
visível, e os maus peixes na rede também mostram sua força.
No entanto, o campo ainda é o campo de Deus e a rede é a rede
de Deus. E em todos os tempos não houve apenas má erva daninha
ou peixes ruins, mas, também, as colheitas de Deus e a boa pesca.
Proclamar ambos com ênfase e da mesma forma não só é
uma falsa apologética, mas, um serviço necessário à
Verdade.
Neste
contexto, é necessário se referir a um texto importante no
Apocalipse de João. O diabo é identificado como o acusador
que acusa nossos irmãos diante de Deus dia e noite. (Apocalipse,
XII: 10). O Apocalipse, em seguida, leva um pensamento que está no
centro da narrativa no Livro de Jó (Jó: I e II, X; XLII: 7
a 16). Ali se diz que o diabo procurou mostrar que a retidão de vida
de Jó perante Deus era meramente externa. E é exatamente isto
que o Apocalipse tem a dizer: o diabo quer provar que não há
pessoas corretas, que sua correção só se mostra externamente.
Se alguém pudesse se aproximar, a aparência da justiça
cairia rapidamente.
A
narrativa começa com uma disputa entre Deus e o diabo, na qual Deus
se referiu a Jó como um homem verdadeiramente justo. Agora ele será
usado como um exemplo para provar quem está certo. O diabo pede que
todas as suas posses sejam removidas para ver que nada resta de sua piedade.
Deus permite que ele faça isto, depois do qual Jó age positivamente.
Então, o demônio pressiona e diz: Pele
por pele! Sim, tudo que o homem tem dará por sua vida. Agora, porém,
estende a tua mão e toca o seu osso e a sua carne, e verás
se não te amaldiçoa na tua face. (Jó:
II, 4).
Então,
Deus dá ao demônio um segundo round. Ele também toca
a pele de Jó e só lhe é negado matá-lo. Para
os cristãos, é claro que este trabalho, que se coloca diante
de Deus como um exemplo para toda a Humanidade, é Jesus Cristo. No
Apocalipse, o drama da Humanidade nos é apresentado em toda a sua
amplitude.
O
Deus Criador é confrontado com o diabo, que fala a toda a Humanidade
e a toda a criação. Ele fala não só a Deus,
mas, acima de tudo, ao povo: Veja o que este Deus fez. Supostamente uma
boa criação. Na realidade, Ele é cheio de miséria
e desprazer. O desânimo da criação é, na realidade,
o desprezo de Deus. Ele quer provar que o próprio Deus não
é bom e nos afastar dEle.
A
oportunidade de que o Apocalipse nos está falando aqui é óbvia.
Hoje, a acusação contra Deus é, acima de tudo, desprezo
de Sua Igreja como algo maligno em sua totalidade e, portanto, nos desencoraja
dela. A idéia de uma Igreja melhor, feita por nós mesmos,
é na verdade uma proposta do diabo, com a qual ele quer nos afastar
do Deus vivo, usando uma lógica enganosa em que podemos facilmente
cair. Não, ainda hoje a Igreja não é feita apenas de
peixes ruins e ervas daninhas. A Igreja de Deus também existe hoje
e hoje é o mesmo instrumento pelo qual Deus nos salva.
É
muito importante opor, com toda a verdade, as mentiras e meias verdades
do diabo: sim, há pecado e mal na Igreja, mas, ainda hoje há
a Santa Igreja, que é indestrutível. Também
hoje há muitas pessoas que humildemente acreditam, sofrem e amam,
em quem o verdadeiro Deus, o Deus amoroso, se mostra a nós. Deus
também tem Suas testemunhas ("mártires") no mundo
hoje. Nós apenas precisamos estar atentos para conseguir vê-los
e ouvi-los.
A
palavra mártir é tirada da lei processual. No julgamento contra
o diabo, Jesus Cristo é o primeiro e verdadeiro testemunho de Deus,
o primeiro mártir, que desde então tem sido seguido por inúmeros
outros.
Hoje,
a Igreja é mais do que nunca uma Igreja dos mártires e, portanto,
um testemunho do Deus vivo. Se olharmos em volta e escutarmos com um coração
atento, poderemos, hoje,
encontrar testemunhas por toda parte, especialmente entre
as pessoas comuns, mas, também nas altas fileiras da Igreja, que
defendem a Deus com suas vidas e seus sofrimentos. É uma inércia
do coração que nos leva a não querer reconhecê-los.
Uma das grandes e essenciais tarefas de nossa evangelização
é, na medida do possível, estabelecer habitats de fé
e, acima de tudo, encontrá-los e reconhecê-los.
Eu
moro em uma casa, em uma pequena comunidade de pessoas que descobrem repetidamente
esses testemunhos do Deus vivo na vida cotidiana, e que alegremente me dizem
isso. Ver e encontrar a Igreja viva é uma tarefa maravilhosa que
nos fortalece e que, uma e outra vez, nos faz felizes na nossa fé.
Ao
final de minhas reflexões, gostaria de agradecer ao Papa Francisco
por tudo o que ele faz para nos mostrar sempre a Luz de Deus que, mesmo
nos dias de hoje, não desapareceu.
Obrigado
Santo Padre!
Bento
XVI
Reflexões
e Comentários
1º)
Nenhuma religião e nenhuma igreja foram, são ou serão
uma luz entre os povos e uma força ativa contra os poderes da destruição.
A LLuz
e a Força estão em nós, em nosso Coração,
e independem de catalisadores externos, religiosos ou não.
Se quisermos e quando quisermos mudaremos tudo; se não quisermos,
não mudaremos nada.
2º) Entre
1960 e 1980, os padrões vinculantes relativos à sexualidade
até então não entraram em colapso por completo, como
contrariamente afirma Bento XVI; o
que houve foi o início do fim da hipocrisia, em grande parte, ao
longo dos séculos, patrocinada pelos preconceitos e pelas intolerâncias
da Igreja Católica.
3º)
Afirmar que parte
da fisionomia da Revolução de 1968 foi que a pedofilia também
foi diagnosticada como um comportamento aceitável e apropriado
é a maior absurdência (mistura de absurdo com incoerência)
que um Papa, no batente ou emérito, já falou na história
do papado. Pedofilia é uma doença (perversão que leva
um indivíduo adulto a se sentir sexualmente atraído por crianças),
mas, também é um crime, e os próprios seres-aí
que a praticam sabem muito bem que são doentes, desequilibrados,
pervertidos e criminosos, tudo ao mesmo tempo. Reconheço que a Humanidade
anda meio tantã, mas, pensar, aceitar e achar que alguns admitiram
ou admitem que a pedofilia é uma coisa apropriada ou conveniente
não está acontecendo nem jamais acontecerá, pois, não
retrogradaremos aos tempos lemurianos. Aquele patamar vibratório
já era e não voltará. Nesta matéria, penso que
o Santo Padre emérito delirou um tantão, mas, também,
pudera: ele está muito velhinho e perto de fazer 92 anos. É
compreensível e perdoável.
4º) Dissimuladamente,
inculpar o Concílio Vaticano II (convocado no dia 25 de dezembro
de 1961, através da bula papal Humanæ
Salutis, pelo Papa Iniciado João XXIII, e concluído
em 8 de dezembro de 1965, já sob o papado de Paulo VI) pelos descaminhos
eclesiais é inaceitável e incongruente. O que a Igreja está
precisando urgentemente, sob pena de se desagregar mais rápido do
que se desagregará, é de um Concílio Vaticano III.
O que é certo é que, ao longo desta nova Era de Aquarius (que
teve início em 1962), nascerá na Terra uma espécie
de Nova Religião Mundial – o Teocientificismo.
5º) Ora, tenha
a santa paciência! Não foi Deus,
o Misericordioso, que matou Franz Böck em 8 de julho de
1991, para evitar que ele rebatesse, com todos os recursos à sua
disposição, a Encíclica
Veritatis Splendor. Deus
nunca matou, não mata, nem jamais matará ninguém. Quem
mata tudo e todo mundo somos nós.
6º) Ora, tenha
a santa paciência novamente! O martírio (suplício, autoflagelação,
autocrucificação etc.) não é a categoria
básica da existência de xongas nem de ninguém.
O martírio é uma esquizofrenia (tal qual o celibato) que só
serve para enlouquecer e obnubilar o Caminho. A Compreensão, a Lux
Æterna e o Verbum
Dimissum não poderão ser conhecidos pelo martírio.
O martírio só acaba gerando confusão mental, decadência
e Magia Negra.
Paul
Silas
Bettany
(O Código Da Vinci)
7º) Infalibilidade
(papal ou qualquer outra) é sinônimo de autoritarismo, arbitrariedade,
autocracia, cesarismo, despotismo, ditadura, opressão, constrangimento,
prepotência, tirania etc. Ora, se no Universo não há
um único ser que possa ter acesso à Verdade Absoluta, como
poderá existir infalibilidade?
Infalibilidade
Papal Dominação
Temporal
Dominação
Temporal Escravização
Mental
Escravização
Mental
Retrocesso
Espiritual
Retrocedendo
8º) A fronteira
entre a verdade (sempre relativa) e a mentira (sempre escorchadora) não
é a autoridade
da Igreja nem é a soberania de qualquer religião,
mas, sim a Liberdade, ou seja, a Independência Legítima.
9º) Não
há moralidade católica, moralidade budista, moralidade xintoísta,
moralidade lamaísta, moralidade espírita, moralidade judaica,
moralidade muçulmana, moralidade et cetera. Há Moralidade.
10º) Uma das maiores
incoerências da Igreja católica é admitir e difundir
que Deus
se manifestou a Si mesmo em Jesus Cristo e viveu como ser humano.
Ora, Jesus era um Iniciado Solar e Discípulo do Cristo. Logo, não
existe a figura de Jesus
Cristo;
há Jesus e há Cristo. Por outro lado, como é possível
se pensar que Deus
viveu como ser humano? Agora,
se considerarmos a Mitologia Grega, qual dos Doze Deuses do Olimpo do panteão
grego pintou aqui? Em um outro sentido, isto é um desrespeito com
as outras religiões estabelecidas, que não foram abençoadas
com este privilégio. Realmente, só a Religião Católiga
propaga este absurdo.
11º) A
fé
[não] é uma travessia e uma
forma de vida, como
quer o Papa Emérito Bento XVI. A fé é uma estagnação
espaço-temporal e uma forma de morte antecipada.
12º) Escreve o
Papa Emérito Bento XVI: A
questão da pedofilia, se não me falha a memória, não
era crítica até a segunda metade da década de 1980.
Ora,
Santidade, faça-me um papal favor. Não pode haver um estado
de pedofilia não-crítica e de pedofilia crítica na
Igreja nem em lugar nenhum. Admitir uma pedofiliazinha aqui e outra ali,
de vez em quando ou de quando em vez, é uma tolerância injustificável,
perversa e malsã, seja no âmbito da Igreja, seja no raio que
o parta, seja onde o raio parta. A pedofilia é inaceitável
até no inferno!
13º) A
palavra pequenino, na língua de Jesus, significava aqueles crentes
comuns que podem ver sua fé confundida pela arrogância intelectual
daqueles que acreditam ser inteligentes,
pensa o Papa Emérito. Este entendimento, como muitos e muitos outros,
é uma deturpação eclesial e uma incoerência teológica
que incapacita e impossibilita a Igreja Católica de auxiliar seus
confrades a Compreender para poderem se Libertar. Já expliquei diversas
vezes e repetirei: Pequenino
Discípulo ou Iniciado. O Papa Bom ou o Papa da Bondade
João XXIII era um Pequenino; o Papa Emérito Bento XVI (ainda)
não é.
14º) A questão
toda não é de fé de +, de fé de ± ou
de fé de –, mas, de compreensão ou de incompreensão.
A fé não liberta. Só a Compreensão é
Libertadora. Na realidade, a fé é aprisionadora e rebaixadora.
De maneira geral, é assim:
—
Fi-lo
porque qui-lo.
Creio porque creio.
Gosto disto, não daquilo.
Da razão sou alheio.
15º) O Senhor nunca
quis, não quer e nunca quererá nada de nós. Quem deve
querer (se deve querer ou se puder querer) somos nós, tanto individual
quanto coletivamente. Mas, é preciso saber querer e como querer.
16º) O poder do
mal (criado por nós na 4ª Raça-raiz) não surge
da nossa recusa de amar a Deus, mas, sim, da nossa temporária incapacidade
de amar o outro. Precisamos, portanto, transmutar esta temporária
incapacidade de amar o outro em permanente capacidade de amar o outro. Mas,
isto só será possível quando compreendermos que
1
+ 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + ... + n ... + ... = 1
17º) Como a fé
pode ou poderá garantir que Deus existe? Como seja lá o que
for pode ou poderá garantir que Deus existe? Como uma coisa pode
ou poderá garantir outra?
18º) Tudo não
veio de lugar nenhum. Tudo é porque sempre foi, continua sendo e
sempre será. Essa coisa de Big Bang (ou Grande Expansão)
só poderia mesmo ter sido inventada por um padre – Georges-Henri
Édouard Lemaître (Charleroi, 17 de julho de 1894 – Louvain,
20 de junho de 1966) – que propôs a Hipótese do Átomo
Primordial, também conhecida como Ovo Cósmico,
posteriormente desenvolvida por George Gamow, para justificar um tresloucado
criacionismo divino. O que me abala é que os cientistas, primeiro,
tenham engolido esta falácia, e, segundo, que repletos de contumácia,
continuem a aceitar esta ineficácia.
19º) Não
existe um Deus
Criador, como
admite a Teologia Católica, porque não existe criação.
Para o Ser, nunca
houve começo, pois, o nada não pode dar origem à alguma
coisa. Para qualquer começo pensado sempre haverá
um começo anterior, e para qualquer fim imaginado haverá um
fim posterior.
‹--- Começo ‹— Começo ‹—
Começo ‹— Começo ‹---
---›
Fim —› Fim —› Fim —› Fim ---›
---›
Começo —› Fim
—› Começo —› Fim —›
Começo ---›
---›
Construção —› Destruição
—› Reconstrução ---›
20º) Deus não
é a base de nossa vida. A
base da vida é a Santa Vida Eterna, sem princípio nem fim.
21º) Não
há perdão nem punição e o Senhor não
pode perdoar nem punir ninguém. Há, sim, Lei da Causa e do
Efeito, Lei do Renascimento e aprendizado permanente por educativa compensação.
Dor
—› Amor —› Compreensão ---› Libertação
22º) Não
há bons
peixes nem maus peixes. Há
peixes e uma e somente uma rede. Baleia-assassina
não é pior nem melhor do que sardinha, e sardinha não
é melhor nem pior do que tubarão-baleia.
23º) O Apocalipse
é um livro simbólico, totalmente incompreendido pelos teólogos.
Por exemplo: 666
é 666 e não é 666.
24º) Deus não
salva ninguém de bulhufas. Ora, se salvação houver,
como as pessoas gostam de crer que haja, portanto, supondo que haja uma
salvação, cabe a cada um de nós buscá-la, mas,
sempre tendo em mente que não há salvação para
um ou para meia dúzia de supostos ou autodenominados preferidos ou
escolhidos; enquanto todos, em todo o Universo – VITORIOSOS
– não tiverem regressado ao Lar, todos nós, em qualquer
parte do Universo, seremos sem-teto e estaremos desabrigados. Mas, já
que falei nisto, o que seria esta salvação? Eu só posso
compreender Salvação como Compreensão que gera a Libertação.
Portanto, se Deus existe, Ele não pode Compreender por nós
o que exclusivamente a nós cabe Compreender. Nós é
que temos de nos salvar de nós mesmos.
25º) Confundir
e colocar no mesmo saco a homossexualidade e a pedofilia é como confundir
batina de padre com cantina da comadre, solidéu de cabeça
com galindréu de barcaça, papa-hóstia ajoelhada com
acropóstia circundada e Bento de Núrsia com bicho de pelúcia.
Enfim, o que me deixa abismado é que os assessores do Santo Padre
emérito, que certamente leram este documento, tenham concordado com
todas estas inadequações. Isto é mesmo escabroso.
26º) Enfim, a Lei
Universal – o Svmmvm
Bonvm – é imutável, desde sempre e para
sempre a mesma. As incoerências sistemáticas, crescentes e
cada vez mais sofisticadas amparadas e favorecidas pelo Catolicismo exotérico
e popular só têm uma causa: a Igreja Católica sempre
atuou a zilhões de quilômetros de distância do Svmmvm
Bonvm e nunca soube o que Ele de fato é. Por isto, por
exemplo, admite que os LGBTQIAP+ e os pedófilos são farinhas
do mesmo saco. Não são! Para concluir este rascunho, citarei
um fragmento da obra O
Sexo, tema transmitido telepaticamente pelo Mestre Ascensionado
Tibetano Djwhal Khul – um Iniciado da Sabedoria Eterna e um transmissor
de LLuz,
custe o que custar, como Ele próprio declarou – à Alice
Ann Bailey, que o publicou: A
Teologia Católica tem travado uma guerra cruel e, muitas vezes, ilógica
contra o sexo e as suas implicações. Ela vem acentuando o
celibato militante, e considera o sexo como um dos maiores males do mundo.
De maneira geral, se pode dizer que todas as tergiversações
católicas são devidas a São Paulo –
que havia nascido em Escorpião e que estava sob a poderosa influência
de Marte –
quem estabeleceu
e promulgou as bases do Catolicismo, antes de receber a Terceira Iniciação.
Tal é, muitas vezes, o efeito indesejável das atividades de
muitos Discípulos bem-intencionados sobre o trabalho que desempenham,
depois de desaparecer Aqueles que deram início a uma tarefa específica
para a Hierarquia, e que tiveram que abandonar suas empreitadas para assumir
outros deveres. [Sublinhado
meu.] Bem, esta indesejabilidade continua até os dias de hoje, pois,
basta ver o que acontece mundo afora, seja no campo religioso, seja no campo
laico: uma procissão de pitosgas que veneram e que seguem pitosgas.
Raciocínio tendente a zero. Questionamento tendente a zero. Dialética
tendente a zero. Compreensão
tendente a zero. A solução é ter muita paciência
e aguardar um tempo posterior a 2034. O fudelhufas de cagahouse
ainda não alcançou o ápice. Há muita transmutação
educativa pela frente. Precisamos cruzar a alcântara.
Procissão
de Pitosgas
Música
de fundo:
Tantum
Ergo
Composição: Santo Tomás de Aquino
Interpretação: Schola Cantorum do Pontifício Col. Intern.
dos Beneditinos de S. Anselmo em Roma
Observação:
Tantum
Ergo Sacramentum (Ó Sacramento Tão Sublime) são
as palavras iniciais das duas últimas estrofes do Pange
Lingua Gloriosi Corporis Mysterium,
um hino latino escrito por Santo Tomás de Aquino (Roccasecca,
1225 – Fossanova, 7 de março de 1274) para
a solenidade de Corpus Christi.
Páginas
da Internet consultadas:
https://gifer.com/en/1Aqs
https://www.linkshideaway.com/
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https://laicismo.org/
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http://darrowmillerandfriends.com/
https://es.slideshare.net/
https://www.sociedademilitar.com.br/wp/
https://www.raciociniocristao.com.br/
https://commons.wikimedia.org/wiki/
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https://santanadecampinas.org.br/l
https://ionline.sapo.pt/602419
https://www.acidigital.com/noticias/o-diagnostico-de-bento-xvi-
sobre-a-crise-da-igreja-e-dos-abusos-sexuais-do-clero-28270
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as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo)
neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar
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