Em
uma época em que a política brasileira está sendo regida
e embalada pelo vale-tudo – sem limites, sem-pudor e sem-vergonha
– vale a pena e vale-tudo recordar alguns pensamentos e algumas reflexões
do jornalista, cronista, ensaísta, empresário, político,
boêmio e poeta alagoano Teotônio Brandão Vilela –
o Senador da Anistia, o Senador das Diretas (a idéia de criar um
movimento a favor de eleições diretas foi lançada,
em 1983, pelo então senador Teotônio Vilela no programa Canal
Livre da TV Bandeirantes), o Guerreiro da Paz, o Peregrino da Democracia,
o Menestrel das Alagoas, o Senhor Dignidade, enfim, o Filósofo e
Humanista que soube olhar com amor e coragem a sua Pátria e reformular
conceitos e renovar idéias, quando se fez necessário. Para
Teotônio Vilela, a
liberdade no Brasil deveria ser capaz, sobretudo, de garantir cidadania
a todos os brasileiros. Quem pode discordar disto?
Breve
Biografia
Teotônio
Brandão Vilela (Viçosa, 28 de maio de 1917 – Maceió,
27 de novembro de 1983) foi um político brasileiro. Um de seus nove
irmãos, Avelar Brandão Vilela, seguiu a carreira eclesiástica
e, a partir de 1971, se tomou Cardeal-arcebispo de Salvador e Primaz do
Brasil. Seu primo, Otávio Brandão, foi líder comunista
desde os primórdios da organização do movimento no
Brasil, em 1922.
Em
1948, filiou-se à União Democrática Nacional (UDN),
exercendo o mandato entre fevereiro do ano seguinte e janeiro de 1959. Em
1960, foi eleito vice-governador de Alagoas, na chapa do general udenista
Luís Cavalcante, para o período 1961-1966. Em 1966, candidatou-se
a senador pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA), partido situacionista,
assumindo a cadeira em fevereiro do ano seguinte. Foi reeleito no pleito
de novembro de 1974, um dos poucos arenistas eleitos para o Senado quando
o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) elegeu dezesseis senadores
e a ARENA apenas seis. No dia 25 de abril de 1979, deixou a ARENA e ingressou
no Partido oposicionista MDB e, posteriormente, se filiou ao Partido do
Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Poucos meses antes de morrer,
Teotônio declarou à imprensa que mantinha
com a morte um relacionamento sem asperezas. Morreu em 27 de
novembro de 1983, de câncer generalizado, deixando-nos o legado da
sua própria vida como exemplo cívico. Por ocasião de
sua morte, o jornal Folha de S. Paulo publicou editorial em que analisava
o legado deixado pelo Senador. Segundo a publicação, com disposição
e ubiqüidade, Teotônio lutou contra o arbítrio, contra
a prepotência e contra a injustiça. A
ausência de Teotônio Vilela põe termo a uma biografia
política que as circunstâncias transformaram em saga. É
nesta condição mitológica que sua vida pública,
agora encerrada, continuará repercutindo no panorama brasileiro.
Elevado à condição de unanimidade nacional, embalado
pelo carinho da opinião pública e pelo aplauso de incontáveis
admiradores, é provável que sua luta aberta contra o câncer
tenha sido percebida como metáfora evidente – reunindo o pessoal
e o coletivo –
do combate idêntico
que procurou travar, com disposição e ubiqüidade espantosas,
contra o arbítrio, a prepotência e a injustiça. Ao fazê-lo,
Teotônio Vilela expandiu seu mandato legislativo até a radicalidade
republicana do cidadão-senador, que no final já dispensava
qualquer mandato. Sua ação deslocou-se paulatinamente da realidade
das classes, dos partidos e dos interesses datados, para atingir outro terreno,
o dos sentimentos perenes. A política precisa de Teotônios
como os povos precisam de artistas. Parece-nos ser esta a pior das perdas
que sua ausência nos inflige, afirma o texto de 14 de
novembro de 1983.
Teotônio
foi casado com Helena Quintela Brandão Vilela, com quem teve sete
filhos. Um de seus filhos, Teotônio Vilela Filho, ingressou na vida
política em 1986. Em 19 de setembro de 1995, o Partido da Social
Democracia Brasileira (PSDB) fundou o Instituto Teotônio Vilela, órgão
de estudos e de formação política do Partido, nomeando-o
em sua homenagem.
Reflexões e Pensamentos Teotonianos
Há
coisas que enchem a vida de alegria: lavar um cavalo na água fria
do rio, sacudir um boi pelo rabo na carreira de uma vaquejada e falar com
os jovens sentindo a esperança.
Boêmio
inveterado, certa vez comentou: Gostava de acompanhar a cantoria
tocando em caixinha de fósforo.
Os
Governos temem errar, e erram; muito mais porque não ousam acertar.
O
Sonho é próprio de todos nós. Não há
nenhuma realidade sem que antes se tenha sonhado com ela.
Depois de andar pelos quatros cantos
deste País, descobri que existe no Brasil uma Pátria. Estou
saindo desta casa esta semana. Isto não é uma despedida, mesmo
porque não é do meu hábito despedir-me de nada. A vida
política continua comigo; continuarei lutando lá fora, só
não terei o privilégio de usar esta ou aquela tribuna. Quanto
ao mais, prosseguirei na minha vida de velho menestrel, cantando aqui, cantando
ali, cantando acolá, as minhas pequeninas toadas políticas.
O
Brasil é um País potencialmente senhor do futuro, porque o
próprio futuro se encontra dentro dele.
Sou um Patriota. Isso eu digo com
arrogância. Seja em qualquer terreno. Por isto, eu luto.
Existem
duas coisas que são importantes na vida: Sensibilidade e ilusão.
Por isto, é preciso acreditar no amanhã.
A
Democracia não é coisa feita. Ela é sempre uma coisa
que se está fazendo. Daí porque ela é um processo em
ascensão. É a experiência de cada dia que dita o melhor
caminho para ela ir atendendo às necessidades coletivas. O que há
de belo nela é isto. É que ela tem condições
de crescer, segundo a boa prática que fizermos dela.
Este
País só será grande quando cada brasileiro se sentir
responsável e influente pela força do seu pensamento na formação
do todo nacional.
Lutar
pela liberdade já não é rara façanha do civismo
pela honra da nacionalidade; é, também e imperiosamente, a
condição do homem na conquista da própria identidade.
A
maior tragédia do Brasil não é a dívida externa,
nem a dívida interna: é a dívida social.
Ninguém erra por ser contemporâneo
da ansiedade social.
A água do São Francisco
não é só para uso doméstico, é também
para produzir riquezas.
...
Sofremos de carência generalizada:
vai do feijão à Constituição.
O
meu princípio é o princípio da defesa contra qualquer
tipo de mal.
Cada
um de nós faz parte da Natureza; nós temos que preservar a
Natureza.
A
minha palavra de fé e de confiança nesta Nação
continua.
Não
temos uma outra saída senão uma representação
política capaz de reorientar a vida neste País. É quase
que algo milagroso.
Se
alguém ainda hoje vai para uma urna votar, vai, sobretudo, tocado
por um sentimento messiânico.
Com
tantos casuísmos, com tanta corrupção, com tanta fraude,
pois ainda assim vamos sobreviver. Esta é a minha esperança!
Não
pense ninguém que com velhos esquadros e com velhas réguas
ou velhos princípios, ainda que clássicos, nós vamos
poder atravessar as coisas. E tampouco vamos atravessar com violência.
Temos que imaginar, temos que conceber primeiro a mudança em nossa
imaginação, para depois aplicá-la.
Vamos
redescobrir esta Nação!
Este
Brasil que, à esta altura, já deveria ser uma Nação
de calças compridas, continua, hoje, uma criança de calças
curtas.
A
Nação somos nós, não são eles... Nós
não podemos entregar este País aos grupos internacionais que
estão dominando o mundo... Nós não podemos entregar
esta Nação à miséria...
Todos
nós, se quisermos ajudar esta Nação, temos que nos
compenetrar de que é preciso, antes de tudo, ser sério.
Se
não enfrentarmos as quatro dívidas – a dívida
externa, a dívida interna, a dívida social e a dívida
institucional – o Brasil acabará entregue aos estrangeiros
ou à rebelião das ruas.
Se
faz política com as ruas, ou se faz política nas ruas.
Como
um cavaleiro andante da Democracia, Teotônio tirou dinheiro do próprio
bolso para visitar um por um os presos políticos que cumpriam pena.
Em uma delegacia, esbarrou na arrogância de um policial que exigia
mandado judicial. Agigantando-se, disse Teotônio: —
Dê licença, falo em nome da República!
Diante
das vítimas de tortura, Teotônio
rogou ajoelhado: —
Perdão
por não ter visto antes essa barbárie.
Abrir
uma clareira nesse nevoeiro e nela se situar independentemente das poderosas
influências locais, eis a luta do homem contra o meio dominante, em
busca do legítimo conceito de honra.
O
comportamento popular não é um mistério, é uma
indicação social.
A
educação religiosa já recebera de minha mãe.
Meu pai era um agnóstico. Era um homem revoltado por causa de muitas
injustiças e não compreendia certas coisas, porque ele achava
que Deus, se tinha todos os poderes, poderia criar um mundo melhor.
Quando
Avelar, hoje Cardeal, comunicou ao meu pai que queria ser padre, foi um
deus-nos-acuda. O velho rebelou-se violentamente. Não se conformava.
E repetia: — 'Eu não entendo que função tem padre.'
Meu pai tinha horror – mas horror profundo – a padre e militar...
Ele não acreditava em nada. Acreditava no trabalho, na honestidade
e na terra.
Ao
se referir às punições sofridas pelo ex-presidente
Juscelino Kubitschek de Oliveira:
Juscelino teria sido ainda maior no ostracismo, ao provar com sua obstinada
crença no Brasil que a liberdade durante o seu Governo não
fora um ato de tolerância demagógica e nem um perigo para as
instituições, mas um ato de amor à Democracia.
Ainda
sobre Juscelino:
O que Juscelino mais conseguiu foi canalizar, burilar e comandar amor e
alegria, argúcia e pertinácia, parcelas vivas dos anseios
nacionais, dentro de um estilo de Governo que podia ser discutível,
mas respaldado por uma maioria popular indiscutível.
Ao
deixar a Arena e ingressar no MDB:
Estou chegando onde sempre estive.
O sentimento de Pátria deve
ser restaurado.
A
Ulysses Guimarães sobre seu périplo pelo Brasil em favor das
Diretas Já:
Sou um louco que perdeu o caminho do hospício.
Ao
sair do presídio do Barro Branco, em São Paulo, Teotônio
foi abordado por uma jornalista da Rede Globo, que perguntou sobre os terroristas.
Teotônio foi direto:
— Não
encontrei nenhum terrorista. Encontrei jovens idealistas que entregaram
a vida pela liberdade no Brasil. Convidaria todos para se hospedar em minha
casa, convite que não faço a muitos ministros do atual Governo.
No
lançamento do Projeto Emergência (que viria a ser o conteúdo
programático das Diretas Já):
O Projeto é a minha derradeira contribuição à
Nação.
Uma
das prerrogativas ainda válidas do parlamentar é interligar
o Estado com a Nação.
Comentário
para Fafá de Belém depois de ouvir a música Menestrel
das Alagoas, composta por Milton Nascimento e Fernando Brant em sua
homenagem: — As nossas gargalhadas juntas podem fazer o
chão deste País tremer. Se não vier alegria, a gente
não consegue a Democracia.
Temos
todos nós, por ação ou omissão, estímulo
ou incompreensão, responsabilidade dos fatos da história.
O problema do menor abandonado é
o maior abandonado, e o problema do maior abandonado é o desemprego,
é a falta de cidadania.
Seu
último desejo:
Quero morrer em minha terra.
Páginas
da Internet consultadas:
http://comunismobrasileiro.
vilabol.uol.com.br/anistia.htm
http://www.maltanet.com.br/
noticias/noticia.php?id=1604
http://senadorpedrosimon.blogspot.com/2009/
04/campanha-pelas-eleicoes-diretas-comecou.html
http://www.senado.gov.br/comunica/
180anos/grandes_nomes_teotonio.asp
http://www.sertao24horas.com.br/
http://www.alagoas24horas.com.br/
conteudo/imprimir/?vCod=23650
http://www.itv.org.br/site/biblioteca/
conteudo.asp?id=910
http://www.senado.gov.br/
comunica/museu/pron4.htm
http://www.vicosanet.com/vicosenses.php
http://carlosferreirajf.blogspot.com/
2009/03/teotonio-brandao-vilela.html
http://www.politicaparapoliticos.com.br/
resenha_detalhe.php?t=754893&p=l3
http://www.youtube.com/
watch?v=scuw1o5d2so
http://www.pensador.info/
autor/Teotonio_Vilela/
http://www.terra.com.br/istoe/biblioteca
/brasileiro/lideres/est15.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/
Teot%C3%B4nio_Vilela
Fundo
musical:
Menestrel Das Alagoas
Compositores: Milton Nascimento e Fernando Brant
Interpretação: Fafá de Belém
Fonte:
http://www.letrasazuis.com/letras/nacionais(def).htm
Quem
é esse viajante
Quem é esse menestrel
Que espalha a esperança
E transforma sal em mel?
Quem é esse saltimbanco
Falando em rebelião
Como quem fala de amores
Para a moça do portão?
Quem é esse que penetra
No fundo do pantanal
Como quem vai manhãzinha
Buscar fruta no quintal?
Quem é esse que conhece
Alagoas e Gerais
E fala a língua do povo
Como ninguém fala mais?
Quem é esse?
De quem essa ira santa
Essa saúde civil
Que tocando na ferida
Redescobre o Brasil?
Quem é esse peregrino
Que caminha sem parar?
Quem é esse meu poeta
Que ninguém pode calar?
Quem é esse?