Nossos
pensamentos e nossas vidas são estreitos, áridos, vazios,
inúteis. Emocionalmente, estamos em estado de inanição.
Religiosa e economicamente nos submetemos à disciplina e ao
controle. Não somos entes felizes, não temos vitalidade
nem alegria. No lar, nos negócios, na igreja, na escola, nunca
experimentamos um “estado de ser” criador, nunca há
um desafogo profundo em nossos pensamentos e ações de
cada dia. Presos e tolhidos de todos os lados, o sexo, naturalmente,
se torna a única via de escape, uma experiência que temos
de buscar continuamente, porque nos oferece, por um instante, aquele
estado de felicidade que se manifesta na ausência do ego. Portanto,
o sexo não se constitui em um problema, mas, sim, o desejo
de recobrar o estado de felicidade, o desejo de alcançar e
de conservar o prazer sexual ou de outra espécie. [Ibidem.]
[Por tudo isto, há
muitos anos, escrevi um poeminha, que reproduzo abaixo:]
—
Sei que sou cosmicamente andrógino.
Sei que tudo e todos são andróginos.
Mas, esta saudosa Androginia
não pode se manifestar agora,
conforme aconteceu outrora.
Daí, essa casual agonia,
que sinto nos endógenos
– porque sou e não sou andrógino.

Splendor Solis
Um
dos empecilhos ao viver criador é o medo, e a respeitabilidade
constitui a manifestação deste medo. E, por isto, vivemos
encerrados dentro dos muros da nossa presumida virtude [uma
falsa virtude que construímos, um mundo de miragens e de ilusões,
uma espécie de moralidade
de vidraças coloridas, com
base em ideais e crenças religiosas, que nada têm em
comum com a Realidade], nada podendo enxergar
além destes muros. Tudo isto só gera em confusão,
sofrimento e conflito. [Ibidem.]
Viver
criativamente é viver em Liberdade, que significa ser sem medo
e liberto das garras do desejo e da satisfação do desejo.
Só quando não há Amor, a sensação
se torna um problema obsessivo. [Ibidem.]

Agora,
o mais contraditório de tudo é que, ao mesmo tempo que,
de todos os modos possíveis, se estimula a sensualidade, prega-se
o ideal de castidade. Forma-se, assim, uma contradição
dentro em nós, e, estranhamente, esta mesma contradição
é incentivante. [Ibidem.]
Esforçar-se
para ser casto não adianta lhufas nem bulhufas. A virtude só
virá com a Liberdade, ou seja, com a Compreensão do
que é, [do que
sempre foi e do que sempre será.] [Ibidem.]
É
curioso, mas, as religiões organizadas, uma vez que fazem parte
do ambiente que criamos, dependem, para sua própria existência,
dos nossos temores, das nossas esperanças, da nossa inveja
e do nosso separatismo. [Ibidem.]
—
Perdi o medo das coisas,
e todas as religiões
nada mais significam para mim.
Perdi a vontade de ir para o céu,
e todas as religiões
nada mais significam para mim.
Perdi o sentimento de inveja,
e todas as religiões
nada mais significam para mim.
Perdi o preconceito separatista,
e todas as religiões
nada mais significam para mim.
Quando
serve como meio de autoperpetuação e como defesa da
nossa importância pessoal, a própria a família
se torna um centro de separatismo e de atividades anti-sociais. [Ibidem.]
Nós
não somos máquinas para sermos compreendidos e ajustados
por especialistas [ou
por quem quer que seja]. Somos o resultado de uma longa
série de influências e de acidentes [Reencarnações],
e a cada um de nós compete descobrir e compreender,
por si mesmo, o imbróglio da sua própria natureza. [Ibidem.]
—
Caramba! Nós não
somos máquinas.
Nós não somos robôs de produção.
Nós não somos engates de reboque.
Nós não somos macacos hidráulicos.
Nós não somos pneus sobressalentes.
— Nós não
somos parafusos sem fim.
Nós não somos arruelas de pressão.
Nós não somos dedais de costureiras.
Nós não somos agulhas de tricô.
Nós não somos pregos nem martelos.
Nós não somos chaves de fenda nem de grifa.
Nós não somos motores de combustão interna.
Nós não somos roscas helicoidais.
Nós não somos rejuntes de azulejos.
Nós não somos calafetos de frinchas.
Nós não somos inocentes úteis.

Inocente
Útil?
— Nós não
somos paus-mandados.
Nós não somos maria-vai-com-as-outras.
Nós não somos zés-dos-anzóis-carapuça.
Nós não somos joões-balões.
Nós não somos massas de manobra.
Nós não somos lacaios de barão.
Nós não somos valetes de arquiduque.
Nós não somos remadores do Barco do Caronte.
Nós não somos mordomos de vampiro.
Nós não somos almofadinhas de oração.
Não somos cotonetes de orelha.
Nós não somos paninhos de menstruação.
Nós não somos suspensórios de testículo.
Nós não somos esparadrapos de ferida.
Nós não somos papagaios de pirata.
— Nós não
somos iscas de anzol.
Nós não somos buchas de canhão.
Nós não somos balas de metralhadora.
Nós não somos contas de rosário.
Nós não somos ebós de orixá.
Nós não somos batinas de padre.
Nós não somos batinas de padre.
Nós não somos
de rabino.
Nós não somos guias de filha-de-santo.
Nós não somos zodíacos de astrólogo.
Nós não somos bolas de cristal de vidente.
Nós não somos águas bentas de vaso de barro.
Nós não somos baralhos da sorte de cartomante.
Nós não somos babás de lobisomem.
Nós não somos espantalhos de plantação.
Nós não somos vagões de comboio.
Nós não somos amordaçados de Nicolás.
Nós não somos apoiadores de Bashar.
Nós não somos desrespeitados de João de Deus.
Nós não somos fanáticos de Jim Jones.
Nós não somos sorrisonhos de Guantánamo.
Nós não somos águas de barrela.
Nós não somos abduzidos de ETs.
Nós não somos pulgas-de-galinha.
Nós não somos ácaros de travesseiro.
Nós não somos carrapatos-do-porco-espinho.
Nós não somos ratos de laboratório.
Nós não somos chulés de dragão-de-komodo.
Nós não somos arrotos de dromedário.
Nós não somos peidos de urubu.
Nós não somos embusteiros de trinta-e-um.
Nós não somos pererecas da vizinha.
Nós não somos pirogas do Boi Xavante.
Nós não somos tridentes de Netuno.
Nós não somos bostas de vaca.
Nós não somos cobras da Medusa.

Medusa
— Nós não
somos caldeirões de bruxa.
Nós não somos torquemadinhas do Torquemada.
Tomás
de Torquemada2
e os Torquemadinhas
(Dante Alighieri me confidenciou reservadamente que
estão todos no inferno!)
— Nós não
somos sabujos de tiranos.
Nós não somos babaquaras sem raciocínio.
Nós não somos repetidores de 'sieg heil'.
Nós não somos 'fantoccios' do 'Duce'.

Benito
Mussolini, o Duce italiano
(Pintura Il Duce, de Gerardo Dottori)
— Nós não
somos mentiras do Pantaleão.

Chico
Pantaleão
Anysio
— Nós
não somos zerolhfas sem propósito.
Nós não somos instrumentos de ideologias.
Nós não somos obsequiadores de corruptos.
Nós não somos bonequitos de engonço.
Nós não somos bonecos de ventríloquo.
Nós não somos mamulengos de sacanocratas.
Nós não somos marionetes de canalhocratas.
Nós não somos 'picciottos' de Don Corleone.

Picciotto
— Nós não
somos laranjas de rigolboche.
Nós não somos coroinhas de missa negra.
Nós não somos capatazes do demônio.
Nós não somos soldados da G.'. L.'. N.'.
Nós não somos donos de nada,
porém, na verdade, somos sócios em tudo.
Afinal, o que somos? Quem somos?
Nós somos Deuses 'in potentia'.
Se/quando tivermos vergonha na cara,
então, nós seremos Deuses 'in actu'.
Todavia, isto só depende de nós.
Precisamos lutar o Bom Combate.
Nós
não somos máquinas.
______
Notas:
1.
Uma das frases mais interessantes do escritor italiano Dino Segrè,
também conhecido pelo pseudônimo Pitigrilli (Turim, 9
de maio de 1893 – Turim, 8 de maio de 1975), é: Estatística:
a ciência que diz que se eu comi um frango e tu não comeste
nenhum, teremos comido, em média, meio frango cada um.
2.
Tomás de Torquemada (1420 – 1498) – o Grande Inquisidor
– foi, no século XV, o Inquisidor-geral dos Reinos de
Castela e Aragão e o confessor da Rainha Isabel, a Católica.
Durante os primeiros estágios da fedorenta Inquisição
Espanhola, Torquemada foi famosamente descrito pelo cronista espanhol
Sebastián de Olmedo como O
martelo dos hereges, a luz de Espanha, o salvador do seu país,
a honra da sua Ordem. Sinceramente? Eu acho isto uma honra
de merda elevada à enésima potência. Torquemada
é conhecido por sua campanha contra os judeus e os muçulmanos
convertidos da Espanha. O número de autos-de-fé (cerimônia
em que eram proclamadas e executadas as sentenças do Tribunal
de Inquisição) durante o mandato de Torquemada como
Inquisidor é muito controverso, mas, o número mais aceito
é normalmente 2.200. Será que foi só isso?

Honra da sua Ordem –
Honra de Merda Elevada à Enésima Potência
Música
de fundo:
Lé
com Lé, Cré com Cré (SDRUWS)
Composição e interpretação: Juca Chaves
Fonte:
https://www.youtube.com/watch?v=uXIyYQFtgvY
Páginas
da Internet consultadas:
https://www.123rf.com/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Duce
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tom%C3%A1s_de_Torquemada
https://www.bokus.com/bok/9780486122694/
malleus-maleficarum-of-heinrich-kramer-and-james-sprenger/
https://twitter.com/torquemada_tom
http://pederneirasdefato.blogspot.com/
http://www.pontocinco.com/
https://www.wtps.org/Page/7680
https://www.magazineluiza.com.br/
https://br.pinterest.com/pin/455004368582159234/
http://pelotasdeportasabertas.blogspot.com/2013
/01/pantaleao-chegara-em-pelotas-domingo.html
http://bear-art.dubon.eu/picciotto/
https://www.amazon.com/
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https://giphy.com/
https://www.pensador.com/frase/MTYwNDk0Mw/
https://www.skoob.com.br/autor/3464-pitigrilli
https://rubem.wordpress.com/2014/10/29/10-
cronistas-que-talvez-voce-nao-conheca/
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