Excelentíssimo
Senhor Comandante
do Quartel-general de Quixeramobim:
Saudações
quixeramobinenses.
Por esta missiva, eu, Fude Vu, ni-sei, casado, patriota e
cidadão quixeramobinense, venho solicitar a V. Ex.ª que
defira a minha dispensa do serviço militar. A razão
para isto é bastante complexa, mas, a seguir, tentarei explicar
em pormenores.
Meu
pai, o senhor Kaça Rolê, e eu moramos juntos e, entre
outros bens, possuímos um rabo-quente, um rádio e uma
televisão. Meu pai é viúvo e eu sou solteiro.
No andar de baixo, moravam uma viúva e sua filha – ambas
muito bonitas – mas sem rabo-quente, sem rádio e sem
televisão.
O rabo-quente, o rádio e a televisão fizeram com que
nossas famílias ficassem mais próximas. Eu me apaixonei
pela linda viúva e acabei me casando com ela. Meu pai se apaixonou
pela filha da viúva e também se casou com a bonitinha.
Um detalhe: casamos os quatro no mesmo dia, e quem celebrou a cerimônia
foi o seu primo, padre Cícero Anyzyo Robledo de Assumpssão.
Depressinha,
começou o fudevu
de caçarolê. A filha da minha esposa, a que
casou com o meu pai, é agora a minha madrasta. Ao mesmo tempo,
porque eu me casei com a mãe, a filha dela também é
minha enteada. Além disso, meu pai se tornou o genro da minha
esposa, que, por sua vez, é sua sogra. A minha esposa ganhou
recentemente um filho, que é irmão da minha madrasta.
Portanto, a minha madrasta também é a avó do
meu filho, além de ser seu irmão. A jovem esposa do
meu pai é minha irmã e madrasta, e o seu filho ficou
sendo o meu irmão. Meu filho é, então, o tio
do meu neto, porque o meu filho é irmão de minha enteada.
Eu sou, como marido de sua avó, seu avô. Portanto, sou
o avô de meu irmão. Mas como o avô do meu irmão
também é o meu avô, conclui-se que eu sou o avô
de mim mesmo!
Assim
sendo, Excelentíssimo Senhor Comandante, baseado no fudevu
de caçarolê que acabei de relatar (tudo por
causa de um rabo-quente, de um rádio e de uma televisão)
e também amparado no diploma legal do Município de Quixeramobim,
que preceitua que não é permitido que avô, pai
e filho sirvam à Pátria ao mesmo tempo, que é
exatamente o meu caso, solicito dispensa do serviço militar.
Se V. Ex.ª tiver qualquer dúvida, releia o texto várias
vezes (ou tente desenhar um diagrama) para constatar que o meu argumento
é realmente verdadeiro e correto. Também está
convidado, em qualquer dia que seja conveniente para V. Ex.ª,
a vir à nossa casa, pois moramos todos juntos, para constatar
in loco este baita fudevu
que acabei de relatar.
Enfim,
Excelentíssimo Senhor Comandante do Quartel-general de Quixeramobim,
afirmo formalmente – sob o olhar vigilante de Padim Ciço
e cônscio das penas da legislação vigente –
que as informações acima são verdadeiras e de
minha exclusiva responsabilidade. Mas meu pai, o senhor Kaça
Rolê, concorda comigo.
Nestes
termos,
peço deferimento.
Quixeramobim,
29 de fevereiro de 2012.

Filho do pai, pai do filho e avô de si mesmo