Rodolfo Domenico Pizzinga
Minha alma já procedeu muito mal.
Aceitou a humilhação – por fraqueza –
e atribuiu sua resignação à fortaleza.
Minh'alma, algumas vezes, foi abnormal.
Hipoteticamente, consolou-se com o fato
de que muitos transigem com a perversidade.
E, de iniqüidade em iniqüidade,
desonrou e pediu para ficar em anonimato.
Considerou virtudes louvar e celebrar,
agir dissimuladamente e mentir,
apoderar-se injustamente e ferir,
adulterar, desfigurar e, até, assassinar.
Menosprezou a fealdade de uma face
que não era, senão, uma de suas máscaras.
Hipoteticamente e nunca às claras,
foi ávida por vantagens espúrias e rapace.
Na presença de coxos, minha alma claudicava.
Em meio a corruptos, corrompia.
Ao reconhecer os bem-intencionados, iludia.
E sempre que podia, se locupletava.
Sempre optou pelo caminho mais fácil.
E pensava: por que não enricar e levar vantagem
se só estamos aqui meio que de passagem?
Preferiu ser rude e detestável a ser vera e grácil.
Mas, um dia, minha alma tremeu e relampejou!
Em meio
à Noite Negra, brilhou uma certa
Minha Rosa, então, enfloresceu em sua Cruz.
Hoje minha alma sabe e pode dizer: — Agora Sou.
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Observação:
1. Este poema foi inspirado em uma confissão de Gibran Khalil Gibran (6 de janeiro de 1883, Bicharre, Líbano - 10 de abril de 1931, Nova Iorque, EUA): Sete vezes desprezei minha alma: Quando a vi se disfarçar com a humildade para alcançar a grandeza; quando a vi coxear na presença dos coxos; quando lhe deram a escolher entre o fácil e o difícil, e escolheu o fácil; quando cometeu um mal e consolou-se com a idéia de que outros cometem o mal também; quando aceitou a humilhação por covardia e atribuiu sua paciência à fortaleza; quando desprezou a fealdade de uma face que não era, na realidade, senão uma de suas próprias máscaras; e quando considerou uma virtude elogiar e glorificar.
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