Segunda-feira,
terça-feira, quarta-feira, quinta-feira e sexta-feira.
Dez
para as sete
da manhã: o despertador toca.
O bem-comportado
se espreguiça.
O bem-comportado
boceja.
O bem-comportado
se levanta.
Dá
aquela mijadinha de lei.
Toma
um cafezinho.
Dá
aquela cagadinha reconfortante; aproveita para tirar uma melequinha.
Toma
banho.
Toma
o café-da-manhã.
Vai
trabalhar.
Meio-dia:
vai almoçar.
No caminho,
o bem-comportado dá uma esmola para um pobre.
6 horas
da tarde: volta para casa.
7 horas
da noite: chega à casa.
Senta
no sofá; vê um pouco televisão.
8 horas
da noite: janta comedidamente.
Depois,
vê mais um pouco de televisão.
Dá
alguns peidinhos no sofá.
10 horas
da noite: escova os dentes e vai dormir.
Enquanto
dorme, o bem-comportado ronca e peida, mas não percebe.

Sábado.
9
horas da manhã: o despertador não toca.
O bem-comportado
se levanta.
Praia...
Alguns chopinhos... Conversas-fiadas... Mambo Italiano...
Macarronada
com carne-assada... Descansinho... Cineminha... Papos-furados... Mais chopinhos...
Transinha (às vezes)... Bocejinho... Soninho...

Domingo.
9
horas da manhã: o despertador não toca.
O bem-comportado
se levanta.
Culto
religioso e algumas orações.
Depois,
faz o que lhe dá na telha.
10 horas
da noite: escova os dentes e vai dormir.

Segunda-feira,
terça-feira, quarta-feira, quinta-feira e sexta-feira.
Dez
para as sete
da manhã:
o despertador toca.
O bem-comportado
se levanta.
E tudo
recomeça...
Dias...
Meses...
Anos...

Um
dia qualquer.
O despertador
toca.
O bem-comportado
não escuta.
Está
mortinho da silva.

Depois
de morto, o bem-comportado lamenta: — Oh!,
como eu pude ser tão bem-comportado
e viver
tão satisfeito comigo mesmo!