Texto
original em:
http://www.lloydianaspects.co.uk/
evolve/freewill.html
Tradução
em Ateus.net:
http://ateus.net/artigos/psicologia/
por_que_nao_tenho_livre_arbitrio.php

Ainda
que o livre-arbítrio tenha sido criticado por Baruch
de Spinoza (1632 – 1677) e por Karl Heinrich Marx (1818 – 1883),
eu tenho certeza
de que tenho livre-arbítrio, e isto é muito ótimo.
Aquele que compreendeu a Lei de Thelema fará coro comigo.1
Em um verbete da Wikipédia
(a enciclopédia livre) está exposto: A
existência do livre-arbítrio tem sido uma questão central
na História da Filosofia e na História da Ciência. O
conceito de livre-arbítrio tem implicações religiosas,
morais, psicológicas e científicas. Por exemplo, no domínio
religioso o livre-arbítrio pode implicar que uma divindade onipotente
não imponha seu poder sobre a vontade e as escolhas individuais.
Em Ética, o livre-arbítrio pode implicar que os indivíduos
possam ser considerados moralmente responsáveis pelas suas ações.
Em Psicologia, ele implica que a mente controla certas ações
do corpo. [E no campo da
Ciência e da Política, não foi nada mais nada menos
do que o livre-arbítrio que pariu o Little Boy e o Fat Man
que destruíram, respectivamente, Hiroshima e Nagazaki.]
Há várias visões sobre a existência da 'liberdade
metafísica', isto é, se as pessoas têm o poder de escolher
entre alternativas genuínas. Determinismo é a doutrina que
afirma serem todos os acontecimentos, inclusive vontades e escolhas humanas,
causados por acontecimentos anteriores, ou seja, o homem é fruto
direto do meio, logo, destituído de liberdade de decidir e de influir
nos fenômenos em que toma parte. O Determinismo rejeita a idéia
que os homens têm algum livre-arbítrio. Em oposição
ao Determinismo, encontramos o Libertarianismo [cujas
raízes remontam ao Jusnaturalismo racional, ao Liberalismo clássico
e aos founding fathers americanos], posição
que defende que os indivíduos têm livre-arbítrio pleno
e, por isto, rejeita o Determinismo. Indeterminismo é uma forma de
Libertarianismo que defende a visão que as pessoas têm livre-arbítrio,
e que ações apoiadas no livre-arbítrio são efeitos
sem causas. Mas há os que crêem e defendem
que, ao invés
de a volição ser um efeito sem causa, o livre-arbítrio
e a ação do agente sempre produzem o evento. Compatibilismo
é a visão que o livre-arbítrio emerge mesmo em um Universo
sem incerteza metafísica. Compatibilistas podem definir o livre-arbítrio
como emergindo de uma causa interior, por exemplo os pensamentos, as crenças
e os desejos. Seria, resumidamente, o livre-arbítrio que respeita
as ações ou pressões (internas e externas). A filosofia
que aceita tanto o Determinismo quanto a liberdade de escolhas é
chamada de 'Soft Determinism'
[ou Determinismo moderado
ou mitigado], expressão
cunhada por William James (1842 – 1910) para designar o que hoje chamamos
de livre-arbítrio compatibilista.
E Incompatibilismo é a visão que não há maneira
de reconciliar a crença em um Universo determinístico com
um livre-arbítrio verdadeiro.
Isto
dito, discutirei, agora, breve e suavemente, sem grandes complicações,
o texto de Nikolas Lloyd. Em primeiro lugar, repito: eu
tenho certeza de que tenho livre-arbítrio, e isto é ótimo.
Não me desespero com os reveses da vida, não faço sofrer,
nem vivo para sofrer.2
Em
segundo lugar, o erro crasso da argumentação inicial de Nikolas
Lloyd é: é
meu cérebro que controla meu comportamento. Tagarelar
e argumentar infundadamente são, ao mesmo tempo, coisas fáceis
e irresponsáveis; o busílis é elaborar correta e cocertadamente
um pensamento! Ora,
como entendem os Rosacruzes, o cérebro é apenas um órgão
físico para que a mente possa funcionar; nada mais, nada menos, do
que isto. No entanto, a mente
pode produzir um sem-fim de manifestações sem o uso
ou a participação do cérebro. Logo, há uma nítida
distinção entre cérebro e mente, ainda que, fora do
domínio Iniciático, não haja consenso sobre a natureza
da mente. Os dualistas defendem a tese da distinção entre
mente e corpo. Os monistas defendem a tese da identidade entre mente e corpo.
Os epifenomenalistas defendem a idéia de que as atividades mentais
são meros subprodutos dos processos neurais e não possuem
influência causal sobre o curso dos fenômenos físicos
ou mentais. E há os 'despreocupacionistas', como eu, que,
admitindo compreender como a coisa toda funciona, não dão
a menor bola para esses conceitos, pois adotaram um modo de pensar e de
proceder efetivamente categórico. A regrinha é simples: fazer
o bem não importa a quem. Como está registrado no final do
parágrafo anterior, como eu,
os 'despreocupacionistas'
não se desesperam com os reveses da vida, não fazem sofrer,
nem vivem para sofrer. Agora, acrescento: auxiliam, no que podem, mas sem
alterar as necessárias experiências educativo-retributivas,
a minimizar o padecimento dos outros.
Voltando
ao entendimento Rosacruz, insisto, o místico estabelece importante
distinção entre cérebro e mente. O cérebro,
como explica o Manual Rosacruz da AMORC,
é o órgão físico para uma parte do funcionamento
concertado da mente, do mesmo modo que os pulmões são órgãos
específicos de funcionamento da respiração. Assim,
óbvio, a mente não poderá, relativamente, funcionar
via pulmões, como a respiração não poderá
se dar no cérebro. E, que eu saiba, ninguém faz xixi pelo
dedão do pé esquerdo nem faz cocô pelo dedão
da mão direita, apesar de haver certas anomalias embriogenéticas
(também chamadas de defeitos de nascimento), como, por exemplo, o
coração estar localizado do lado direito do tórax.
Mas, há anomalias geneticamente mais graves relativas a defeitos
de nascimento,
como, por exemplo, lábios leporinos, anencefalia e septo ventricular,
todas derivadas do consumo de água clorada por gestantes, segundo
estudo realizado pela Universidade de Birmingham, na Grã-Bretanha.
Os mecanismos biológicos
que fazem os derivados do cloro causar defeitos nos bebês ainda são
desconhecidos, explicou Jouni Jaakkola, principal autor do estudo.
E acrescentou: No
entanto, nossas descobertas não apenas reforçam a teoria de
que a água clorada pode causar defeitos de nascimento, mas sugere
que a exposição aos derivados do cloro pode ser responsável
por defeitos comuns e específicos. A pesquisa sobre o
impacto da exposição ao cloro na gravidez está publicada
na edição de junho da revista científica Journal
of Environmental Health.
Pulmões
A
mente se manifesta através do cérebro, de maneira considerável,
porém, não exclusivamente através deste órgão.
É possível à mente funcionar de muitas maneiras, após
a remoção do cérebro. Isto já foi demonstrado
à saciedade em malditas vivissecções torturantes de
animais. Seja como for, a mente está dividida em dois campos básicos
de atividade: o campo
subconsciente e o campo
objetivo. O objetivo, por seu
turno, está associado com aspectos subjetivos, como, por exemplo,
a memória, a imaginação, a emoção, o
sentimento e o pensamento. Geralmente, a subjetividade é entendida
como sendo a realidade psíquica, emocional e cognitiva do ser humano,
passível de se manifestar simultaneamente nos âmbitos individual
e coletivo, e comprometida com a apropriação intelectual dos
objetos externos, ou seja, é o espaço íntimo do indivíduo
(mundo interno) com o qual ele se relaciona com o mundo social (mundo externo),
resultando tanto em marcas singulares na formação do indivíduo
quanto na construção de crenças e de valores compartilhados
na dimensão cultural, que vão, a pouco e pouco, constituir
a experiência histórica e coletiva dos grupos e das populações.
O
que isto teve, tem ou poderá ter a ver com um presumido livre-arbítrio
do telencéfalo do bucéfalo?
Seguindo
e argumentando. Como adverte o Manual
Rosacruz, embora seja comum
falar do campo subconsciente e do campo
objetivo como duas mentes, isto não é correto em sentido amplo,
pois a nota fundamental que rege e regula o Cósmico, em tudo e para
tudo, é o Princípio de Unidade. Mas
o que efetivamente temos que compreender é que, em princípio,
a mente do homem é imortal porque é parte da personalidade-Alma
e, desde sempre, parte inseparável da Alma Universal. Já o
cérebro, como todos os outros órgãos físicos,
é 'degenerável', 'mortável'
e 'poeirável'. E assim, mente e cérebro confirmam
a Vulgata, Números, XXIV, 11: cada qual reverterá
ad locum suum. O cérebro reverterá
ao
pó; a mente reverterá
ao cósmico. Logo, a mente e a personalidade
continuarão a existir após a morte, e retêm, como parte
de seus atributos, o completo armazém da memória. O
cérebro virará
pó. O
que isto teve, tem ou poderá ter a ver com um presumido livre-arbítrio
do telencéfalo do bucéfalo?
Quem
sabe o significado do que é projeção sabe que em todo
trabalho psíquico o corpo psíquico utiliza o funcionamento
subconsciente da mente como sua consciência essencial, estando a mente
subconsciente, nesta circunstância, em grande atividade, enquanto
o cérebro continua 'telencefalando'
na dele. Mas, francamente, o
que isto teve, tem ou poderá
ter a ver com um presumido livre-arbítrio do telencéfalo do
bucéfalo?
Então, concedendo
e admitindo que o ente não tenha
livre-arbítrio, quem tem? Porventura será o cérebro,
como parece crer e querer que tenha Nikolas
Lloyd? Será
o cérebro que registra a hilaridade de uma piada e faz o ente rir?
Se a mente consciente não sabe qual decisão tomar, se compra
ou se não compra óculos
de sol, se vai passear em Nova Iorque ou no Iraque, se assoa o nariz ou
se tira a cagaita e come, quem determinará a decisão a ser
tomada? Serão as reações bioquímicas e biofísicas
do cérebro?
O
cérebro ou telencéfalo (que juntamente com o diencéfalo
constitui o prosencéfalo), em tudo o que acima foi exposto, fica
exatamente no mesmo lugar, bem quietinho e comportadinho, é absolutamente
limitado em poder, e, mais do que evidente, não tem qualquer livre-arbítrio
e não determina nada. Nós, sim, como extensões da Consciência
Cósmica, somos responsáveis por tudo, determinamos tudo, escolhemos
tudo, e retribuímos tudo na exatíssima medida de nossas opções.
Imagine só um cérebro com livre-arbítrio ou impedindo
que o livre-arbítrio humano se manifeste! Estaríamos todos
abrumados y mal pagados.
O
cérebro é exatamente o oposto do que pensam Nikolas Lloyd
e os deterministas, que insistem que tudo no Universo – até
mesmo a vontade humana –
está submetido a leis necessárias
e imutáveis, de tal forma que o comportamento humano está
totalmente predeterminado pela Natureza, e o sentimento de liberdade não
passa de uma ilusão subjetiva, ainda que, de maneira geral, tudo
no Universo, de acordo com cada Plano ou Dimensão, esteja
mesmo submetido a leis necessárias e imutáveis.
O
cérebro, em realidade, pode relativamente pouco; a mente pode relativamente
(quase) tudo. Como o próprio autor do texto que estou discutindo
reconhece, o cérebro é, como toda matéria, constituído
inteiramente de elementos químicos. Bolas! Eu não quero discutir
nem argumentar mais nada. Cansei; e acho que estou cansando o leitor! Mas,
caramba! Desde quando os elementos químicos têm livre-arbítrio?
Como químico, jamais vi uma reação química possível
se recusar a acontecer. Quem decide se ela irá ou não ocorrer
é o químico, e não os átomos, moléculas,
cationtes ou aniontes que dela eventualmente poderão participar.
Todavia, qualquer um que adicione, em um tubo de ensaio, por exemplo, uma
solução de cloreto de bário a uma solução
de sulfato, verá, imediatamente, acontecer a precipitação
do sulfato de bário.
Ba++
+ [SO4]=
—› BaSO4
Definitivamente, o homem não
é um joão-teimoso, não é um joão-redondo,
não é um joão-ninguém, não é um
joão-bucéfalo, não é um joão-bestalhão,
e, muito menos é um joão-sem-livre-arbítrio. É,
sim, um ser em peregrinação expectando se transmutar em um
deus. Homo est naturaliter
liber, et, in posse, est deus. O homem é livre por natureza,
e, em potência, é um deus.3
Enfim,
acho que o autor – ainda que em boa intenção, mas em
alguma proporção – escorregou e confundiu livre-arbítrio
com reflexo condicionado4,
pois não há exagero (determinista e condicionador) maior do
que afirmar que o
homem é fruto direto do meio, logo, destituído de liberdade
de decidir e de influir nos fenômenos em que toma parte.
Contudo, sem o reflexo condicionado não há uma verdadeira
adaptação ao meio, e, nós, humanos, também nos
comportamos, em grande medida, com base em reflexos condicionados.
Por último, penso que a vida
não seja nem uma montanha-russa nem um liqüidificador de alta
rotação; poderá até ser, se o indivíduo
tiver vocação para joão-cagalhão-boiador, como
esse inocente (in)útil aí embaixo, que sob e desce e vai para
direita e para a esquerda ao sabor do movimento das ondas. Cada
um de nós é uma estrela e gira em torno de si mesmo,
criando uma órbita particular, como
diz Johann Heyss no texto Thelema e a Verdadeira Vontade.
Assim, o desenvolvimento espiritual só pode se dar quando o indivíduo
descobre o seu próprio caminho, o qual será necessariamente
único e indivisível – o que revela a fragilidade dos
sistemas religiosos em geral, que procuram unificar os seres humanos através
de regras de conduta blasfemas e artificiais, que ferem a individualidade
e a divindade do Homem.
João-cagalhão-boiador
______
Notas:
1.
A Palavra da Lei é Thelema (
).
O estabelecimento da Lei de Thelema, segundo Aleister Crowley (1875 –
1947), é a única forma de preservar a liberdade individual
e de assegurar o futuro compreensivo da Humanidade.
Do what thou wilt shall be the whole of the Law. Faze o que
tu queres e será toda a Lei.
2.
Originalmente, este pensamento é de Lucius Annæus Seneca (4
a.C. – 65 d.C.), que, exatamente, é assim: Considero
covarde aquele que morre por medo de sofrer e idiota aquele que vive para
sofrer. Citei Seneca, mas,
em parte, não concordo com ele, pois aquele
que morre por medo de sofrer
não é tanto um covarde; talvez, sem fazer qualquer juízo
de valor, se possa pensar em incompetência para viver e para suportar
os padecimentos retributivos-educativos que a vida (e a Vida) oferece amorosamente
a todos nós. Agora, quem vive para sofrer e para se supliciar, infelizmente,
é mesmo, mais ou menos, um pobre idiota.
3.
Originalmente, este pensamento aparece na Summa
Theologiæ, de S. Tomás de Aquino: Homo
est naturaliter liber. O homem é livre por natureza.
Et, in posse, est
deus (e, em potência, é um deus) é por minha
conta.
4.
A idéia básica do condicionamento clássico consiste
em que algumas respostas comportamentais são reflexos incondicionados,
ou seja, são inatas em vez de aprendidas, enquanto que outras são
reflexos condicionados, aprendidos através do emparelhamento com
situações agradáveis ou aversivas, simultâneas
ou imediatamente posteriores. Através da repetição
consistente desses emparelhamentos é possível criar ou remover
respostas fisiológicas e psicológicas em seres humanos e animais.
Essa descoberta abriu caminho para o desenvolvimento da Psicologia Comportamental
e mostrou ter ampla aplicação prática, inclusive no
tratamento de fobias e nos anúncios publicitários. Tudo isto
se deve ao fisiólogo russo Ivan Petrovich Pavlov (1849 – 1936),
que a partir de suas descobertas sobre os processos digestivos de animais,
entraria para a história por sua pesquisa no papel do condicionamento
na Psicologia do Comportamento (reflexo condicionado).
Bibliografia:
LEWIS,
H. Spencer (supervisão). Manual rosacruz. 6ª edição.
Coordenação de Maria A. Moura. Biblioteca Rosacruz. Volume
especial. Rio de Janeiro: Editora Renes, s. d.
Páginas
da Internet consultadas:
http://www.rizoma.net/
interna.php?id=130&secao=ocultura
http://www.newstin.com.pt/pt/inicio
http://en.wikipedia.org/wiki/Enzyme
http://pt.wikipedia.org/wiki/Reflexo_condicionado
http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9rebro
http://pt.wikipedia.org/wiki/Subjetividade
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mente
http://pt.wikipedia.org/wiki/Livre-arb%C3%ADtrio
Fundo
musical:
You
Are My Destiny
Compositor e intérprete: Paul Anka