Este
estudo se constitui da 2ª e última parte de um conjunto de fragmentos
garimpados na obra Liberte-se do Passado (título do original:
Freedom From The
Known), de autoria de Jiddu Krishnamurti.
Breve
Biografia

Jiddu
Krishnamurti
Jiddu
Krishnamurti (Madanapalle, 11 de maio de 1895 – Ojai, 17 de fevereiro
de 1986) foi um filósofo, escritor, orador e educador indiano. Proferiu
discursos que envolveram temas como revolução psicológica,
meditação, conhecimento, liberdade, relações
humanas, a natureza da mente, a origem do pensamento e a realização
de mudanças positivas na sociedade global. Constantemente, ressaltou
a necessidade de uma revolução na psique de cada ser humano,
e enfatizou que tal revolução não poderia ser levada
a cabo por nenhuma entidade externa seja religiosa, seja política,
seja social. Uma revolução que só poderia ocorrer através
do autoconhecimento, bem como da prática correta da meditação
do ser-humano-aí-no-mundo
liberto de toda e qualquer forma de autoridade psicológica.
O
cerne dos seus ensinamentos consiste na afirmação de que a
necessária e urgente mudança fundamental da sociedade só
poderá acontecer através da transformação da
consciência individual. A necessidade do autoconhecimento e da compreensão
das influências restritivas e separativas das religiões organizadas,
dos nacionalismos e de outros condicionamentos foram por ele constantemente
realçadas.
Fragmentos
Krishnamurtianos
Uma
das coisas mais terríveis que se pode dizer é: "Vou pensar
a respeito disso; vou considerar se é ou não é possível
me libertar da violência. Vou tentar ser livre". Ora, não
há tentar; não há se esforçar. Com relação
a tudo, ou agimos ou não agimos. Enfim, qual é a melhor ideologia
para extinguir o fogo? Quando a casa está em chamas, certamente,
discutir sobre a cor dos cabelos do ser-humano-aí-no-mundo que traz
a água não é a melhor ideologia.
De
maneira geral, as relações entre os seres-humanos-aí-no-mundo
se baseiam no mecanismo defensivo, formador de imagens. Em todas as relações,
cada um de nós forma uma imagem a respeito de outrem, e as duas imagens
ficam em relação e não os próprios entes humanos.
A esposa tem uma imagem do marido –
talvez, inconsciente, contudo, existente –
e o marido tem uma imagem da esposa. Temos uma imagem a respeito de
nosso país e a respeito de nós mesmos, e estamos constantemente
a fortalecer essas imagens, acrescentando-lhes sempre alguma coisa. A relação
existente é entre essas imagens. A verdadeira relação
entre dois ou vários seres humanos cessa completamente, quando há
a formação de imagens. Logo, a relação baseada
em tais imagens jamais produzirá a paz, porquanto as imagens são
fictícias, e não se pode viver abstratamente. Entretanto,
é isto o que todos nós fazemos: vivemos entre idéias,
teorias, símbolos, imagens que criamos a respeito de nós mesmos
e de outros, e que, em absoluto, não são realidades. Todas
as nossas relações, sejam com a propriedade, sejam com idéias
ou pessoas, se baseiam essencialmente nessa formação de imagens
e, por esta razão, existe sempre conflito.
O
tempo é sofrimento.
A morte é um problema imenso para a maioria das pessoas.
Conhecemos a morte, pois, nós a vemos todos os dias, andando ao nosso
lado. Será possível encararmos a morte de maneira tão
completa, que não façamos dela um problema? Para a encararmos
desta maneira, todas as crenças, todas as esperanças e todos
os temores a ela relativos devem acabar, senão estaremos encarando
essa coisa extraordinária com uma conclusão deliberada, uma
imagem cogitada e uma ansiedade premeditada e, por conseguinte, a estaremos
encarando com o tempo, e o tempo nada mais é do que o intervalo entre
o observador e a coisa observada. Mas, nós, os observadores, temos
medo de enfrentar essa coisa chamada morte. Não sabemos o que ela
significa, todavia, temos esperanças e teorias de toda espécie
a respeito dela. Cremos na reencarnação, na ressurreição
ou em uma certa coisa chamada [personalidade-]alma,
uma espécie de entidade espiritual eterna, à qual chamamos
por diferentes nomes. A questão é: já descobrimos,
por nós mesmos, se existe alguma [personalidade-]alma?
Ou se trata de uma idéia que nos foi dada ou imposta pela tradição?
Existe alguma coisa de permanente, de contínuo, além do pensamento?
Ora, se o pensamento pode pensar na [personalidade-]alma,
ela se acha no campo do pensamento e, por conseguinte, não pode ser
permanente, porque, no campo do pensamento, não existe nada permanente.
É de enorme importância descobrir que nada é permanente,
porque só então a mente estará livre, e só então
poderá olhar e se olhar. E nisto há uma imensa alegria.
Como
poderemos ter medo ter medo do desconhecido, se não sabemos o que
ele é?
Enquanto
existir a imagem, que dá origem ao pensamento, o pensamento haverá
sempre de criar o medo, a ansiedade e a autocompaixão.
Separamos
o viver do morrer, e o intervalo de tempo-espaço entre o viver e
o morrer cria o medo. Temos medo de morrer, que põe termo na aflição.
Preferimos nos aferrar ao conhecido –
nossa casa, nossos móveis, nossa família, nossos
amigos, nosso caráter, nosso trabalho, nossos conhecimentos, nossa
fama, nossa solidão, nossas ilusões, nossas miragens, nossa
fé, nossos deuses etc. –
a enfrentar o desconhecido. Ora, não podemos viver sem
morrer, e isto não é um paradoxo intelectual. Para vivermos
completamente, totalmente, de modo que cada dia seja uma nova beleza, teremos
de morrer para todas as coisas de ontem, pois, do contrário, viveremos
mecanicamente, e uma mente mecânica jamais saberá o que é
o Amor ou o que é a Liberdade.
Em
geral tememos a morte, porque não sabemos o que significa viver.
Não sabemos viver, e, por isto, não sabemos morrer. Enquanto
tivermos medo da vida, teremos medo da morte. O ser-humano-aí-no-mundo
que não teme a vida não teme a insegurança, porque
compreende que, interiormente, psicologicamente, não existe segurança
nenhuma. Quando não há segurança, há um movimento
ilimitado, e, então, a vida e a morte são uma só coisa.
O ser-humano-aí-no-mundo que vive sem conflito, que vive com a beleza
e o amor, não teme a morte, porque amar é morrer.
—
Sim amar
é morrer,
mas, mas do que isto,
Amar é Morrer,
porque Morrer
é Renascer
na LLuz e na Vida.
Então,
para descobrirmos o que realmente acontece quando se morre, teremos de morrer.
Isso não é pilhéria. Teremos de morrer, não
fisicamente, mas, psicologicamente, interiormente. Teremos de morrer para
as coisas que nos são caras e para as coisas que nos amarguram. Se
morrermos para cada um dos nossos prazeres, tanto os insignificantes como
os mais importantes, sem nenhuma compulsão ou discussão, então
saberemos o que significa morrer. Morrer é ter uma mente completamente
vazia de si mesma, vazia dos seus diários anseios, prazeres e agonias.
A morte é uma renovação, uma mutação,
em que o pensamento não funciona, porque o pensamento é coisa
velha. Quando há a morte, há uma coisa totalmente nova. Estar
livre do conhecimento é Morrer; e, então, estaremos Vivendo!
—
Eu queria;
já não quero.
Eu acumulava;
já não acumulo.
Eu amava;
já não amo.
Eu sonhava;
já não sonho.
Eu medrava;
já não medro.
Eu rogava;
já não rogo.
Eu ajoelhava;
já não ajoelho.
Eu odiava;
já não odeio.
Eu criticava;
já não critico.
Eu separava;
já não separo.
Eu 'deixavapralá';
já não deixo.
Eu vivia;
já não vivo.
Eu morria;
já não morro.
Eu era inseguro;
já não sou.
Eu era escravo;
hoje, sou livre.
Morri e Nasci.
Nasci e Renasci.
Quando
dizemos que amamos a Deus, o que significa isso? Significa que amamos uma
projeção de nossa própria imaginação,
uma projeção de nós mesmos, revestida de certas formas
de respeitabilidade, conforme o que pensamos ser nobre e sagrado. Então,
dizer amo a Deus
é puro contra-senso!
—
Amei uma deidade fora,
e nunca saí do deserto.
Descobri Deus-em-mim,
e tudo ficou mais perto.
—
Tornei-me universal,
e descobri Deus-em-tudo.
E foi vindo o desapego...
E meu egoísmo ficou mudo!
—
E foi o fim da solidão,
porque realizei a Unidade.
Illuminado, eu
descobri
que
só há unimultiplicidade.
Em
todo o mundo, certos homens chamados santos sempre sustentaram que olhar
para uma mulher é pecaminoso. Dizem que não poderemos nos
aproximar de Deus, se nos entregarmos ao sexo e, por conseguinte, o negam,
embora eles próprios se vejam devorados por ele. Mas, negando o sexo,
esses homens arrancam os próprios olhos, decepam a própria
língua, uma vez que estão negando toda a beleza da Terra.
Deixaram famintos os seus Corações e a sua mente; são
seres-humanos-aí-no-mundo desidratados; baniram a beleza, porque
a beleza está ligada à mulher.
—
Eu era celibatário,
porém, me masturbava.
Não mudava o abecedário;
só em sexo eu pensava.
—
Vivia como um ermitão,
enfiado em uma caverna.
Todavia, o meu Coração
era uma vazia cisterna.
—
Dias. Noites. Solidão.
A caverna sempre escura.
Contra-senso. Ilusão.
Mas, em mim, achei a cura.
—
Um dia, saboreei,
enfim,
o pão da minha fome.
— Liberdade, que
estais em mim,
Santificado seja o Vosso Nome.1
O
fato é que temos muitas idéias a respeito do amor, idéias
sobre o que ele deve ou não deve ser, um padrão, um código
criado pela cultura em que vivemos. Tente responder a estas perguntas: Pode
o amor ser dividido em sagrado e profano? Em humano e divino? Ou só
há amor? O amor é para um só e não para muitos?
Se digo, eu te amo,
isto exclui o amor a outro? O amor é pessoal ou impessoal? Moral
ou imoral? Familial ou não familial? Se amamos a Humanidade, poderemos
amar o indivíduo? O amor é sentimento? É emoção?
É prazer? É desejo?
Dividir
qualquer coisa em o que queremos que ela seja ou em o que pensamos que ela
deveria ser é a maneira mais ilusória de enfrentar a vida.

—
Dividi o indivisível;
separei o inseparável.
A beleza ficou horrível;
a coerência abominável.
—
Apego é ignorância;
ignorância é doença.
Há uma certa Instância
em que tudo é Presença.
Só
rejeitando tudo [tudo é
tudo] o que as religiões, a sociedade, nossos pais, nossos
amigos, todas as pessoas, a tradição e todos os livros disseram
a respeito do amor descobriremos, por nós mesmos, o que, de fato
o Amor é. Mas, para isso, deveremos nos libertar de todas as idéias,
de todas as inclinações, de todos os desejos e de todos os
preconceitos. E, quem sabe, um Dia, venhamos a descobrir o que o Amor é
através do que Ele não é.
—
O amor não bota rolha.
O Amor não faz escolha.
O Amor não seca ou molha.
O Amor não causa bolha.
—
O Amor não é amor.
O Amor não faz dolor.
O Amor não tem color.
O Amor é tão-só Amor!
No
antagonismo há separação, e na separação
não há Amor.

Quando
uma pessoa ama, deve haver liberdade. A pessoa deve estar livre, não
só da outra, mas, também, de si própria. No estado
de pertencer a outro, de ser psicologicamente nutrido por outro, de outro
depender — em tudo isto existe sempre, necessariamente, a ansiedade,
o medo, o ciúme, a culpa, e enquanto existe medo, não existe
amor. A mente que se acha nas garras do sofrimento jamais conhecerá
o amor; o sentimentalismo e a emotividade nada, absolutamente nada, têm
que ver com o amor. Por conseguinte, o amor nada tem em comum com o prazer
e o desejo.
O
amor não é produto do pensamento, pois, o pensamento é
o passado.
Quando
se ama, não há respeito nem desrespeito.
Amar
é amar sem ódio, sem ciúme, sem raiva, sem impor, sem
procurar interferir no que o outro faz ou pensa, sem condenar, sem criticar,
sem comparar. Quando nos abandonamos completamente no Amor não existe
o outro. [Mesmo + Outro =
Um.]
1
+ 1 = 1
Quando
preparamos nossos filhos para se adaptarem à sociedade, para se tornarem
burgueses, [enfim, para sempre
seguirem as normas estabelecidas,] estamos perpetuando a guerra,
o conflito, a desavença, o preconceito, a intolerância, a separatividade
e a brutalidade. O fato é que, quando preparamos os nossos filhos
para se adaptarem à sociedade, os estamos preparando para serem mortos!
[Entenda esta expressão
serem
mortos como equivalente
a não reconhecer, e, portanto, não ver a LLuz.]
—
O bom menino não faz xixó
na cama.
O bom menino não faz bolinho de lama.
O bom menino não fica chupando chupeta.
O bom menino não é rabuja nem ranheta.
O bom menino é macho pra chuchu.
O bom menino dá rasteira em urubu.
O bom menino não tem chulé nem inhaca.
O bom menino não é cagão nem babaca.
O bom menino não fica fazendo careta.
O bom menino é cheiroso e é porreta.
O bom menino é bem-comportadinho.
O bom menino é bem-educadinho.
O bom menino fica sentadinho, quietinho.
O bom menino está sempre caladinho.
O bom menino não faz estrepolia.
O bom menino não apronta arrelia.
O bom menino não come meleca.
O bom menino faz cocô na cueca.
O bom menino é sempre patriota.
O bom menino não se mete em patota.
O bom menino sabe o hino nacional.
O bom menino só gosta do que é normal.
O bom menino é um bom nacionalista.
O bom menino será sempre um moralista.
O bom menino obedece a mamãezinha.
O bom menino não bate na irmãzinha.
O bom menino aprende sempre a lição.
O bom menino tem uma religião.
O bom menino vai à missa aos domingos.
O bom menino não é dado a choramingos.
O bom menino pede a benção à vovó.
O bom menino não se traja javevó.
O bom menino anda ereto, sem corcunda.
O bom menino não fica coçando a bunda.
O bom menino acredita no bom Deus.
O bom menino não é amigo dos ateus.
O bom menino vai sempre à escola.
O bom menino não cola nem dá cola.
O bom menino só tira nota dez.
O bom menino é cobrão no xadrez.
O bom menino não rabisca a parede.
O bom menino toma banho e não fede.
O bom menino nunca diz um palavrão.
O bom menino não dá bola pro dragão.
O bom menino não-isto e não-aquilo.
O bom menino não será um bicho-grilo.
O bom menino será sempre um bom burguês.
O bom menino jamais será um freguês.
O bom menino terá um belíssimo fado.
O bom menino será médico ou advogado.
O bom menino nunca se tornará um incréu.
O bom menino irá de mala e cuia para o céu.
O bom menino obedece sem por quê?
O bom menino eu sei lá mais o quê!
Se
chorarmos por autocompaixão, nossas lágrimas nada significarão,
porque estaremos chorando interessados apenas em nós mesmos. Saibamos
que a autocompaixão nos endurece, nos fecha e nos torna embotados
e estúpidos.
—
Morreu Malvadeza Durão,
e eu chorei por autocompaixão.
O malandro abotoou o paletó,
e eu, sinceramente, tive dó.
Mas, senti dó de mim, não dele.
Eu nunca soube qual era dele!
O
sofrimento é produto do ego. O sofrimento é criado pelo pensamento.
O sofrimento é produto do tempo. Minhas lágrimas, minha família,
minha nação, minha crença, minha religião —
todas essas fealdades estão em vós.
O
sofrimento e o Amor não podem coexistir, mas, no mundo cristão
idealizaram o sofrimento, crucificaram-no para o adorar, dando a entender
que ninguém pode escapar ao sofrimento, a não ser por aquela
única porta. Tal é a estrutura de uma sociedade religiosa,
mentirosa e exploradora.
A
humildade não é o oposto da vaidade. [Em
geral, os antônimos são sinônimos. O oposto da vaidade
é a Compreensão.]
Se
não transbordarmos de amor, o mundo irá ao desastre.

Não
poderá haver Amor se não houver Beleza. E sem Amor e sem Beleza
não poderá haver Virtude. Mas, quando há Amor e Beleza,
tudo o que se faz é correto, tudo o que se faz é ordem.
Paz
à Humanidade e ao Universo.
Harmonia à Humanidade e ao Universo.
Entendimento à Humanidade e ao Universo.
Fraternidade à Humanidade e ao Universo.
Tolerância à Humanidade e ao Universo.
Bem à Humanidade e ao Universo.
Beleza à Humanidade e ao Universo.
Amor à Humanidade e ao Universo.
Vida à Humanidade e ao Universo.
LLuz à Humanidade e ao Universo.
Está feito. Está selado. A.'.U.'.M.'.
O
Amor só poderá existir se e quando a pessoa se desprender
totalmente de si própria.
O
Amor é como uma flor cheia
de perfume e pronta a reparti-lo com todos nós, estejamos dela muito
perto, no jardim, quer dela muito longe.

Quando
não estamos buscando, nem desejando, nem perseguindo não existe
qualquer centro. Há, então, o Amor.
O
Amor não tem amanhã nem ontem. Não existindo centro
algum, então, haverá Amor.
Para
podermos ter liberdade para olhar, precisaremos estar livres de toda condenação,
de todo juízo, de toda aquiescência e de toda discordância.
Conta-se
uma história acerca de um instrutor religioso, que, todas as manhãs,
falava aos seus discípulos. Uma certa manhã, subiu ao palanque,
e, justamente quando ia começar a falar, um passarinho pousou no
peitoril de uma janela, e começou a cantar, a cantar, com toda a
alma. Depois, se calou, e se foi, a voar. Disse, então, o instrutor:
— Está
terminado o sermão desta manhã.
A
Beleza reside no total abandono do observador e da coisa observada, e só
pode haver auto-abandono quando há austeridade total, e esta austeridade
consiste em ser totalmente simples, que é a humildade completa. Não
há, então, realização, não há
escada para galgar, só há o primeiro degrau, e o primeiro
degrau é o degrau eterno.
—
Eu queria,
mas, não conquistava nada.
Deixei de querer,
e, então, conquistei tudo!
—
Eu pedia,
mas, não alcançava nada.
Deixei de pedir,
e, então, alcancei tudo!
No
Silêncio há uma diferente qualidade de beleza. Não existe
nem a Natureza nem o observador. O que existe é um estado em que
a mente está total e completamente só; só –
não isolada –
só em sua quietude, e esta quietude é Beleza.
Se
tenho uma imagem a respeito de vós, e vós tendes uma imagem
a respeito de mim, naturalmente, não nos vemos um ao outro como realmente
somos. Todavia, só quando virmos sem nenhum preconceito, nenhuma
imagem, é que seremos capazes de estar em direto contato com alguma
coisa na vida.
Enquanto
existir um centro a criar espaço em torno de si, não haverá
Amor nem Beleza. Não havendo nenhum centro e nenhuma circunferência,
então haverá Amor. E quando amamos, nós somos Beleza.
Havendo
espaço [espaço-tempo]
entre nós e o objeto que estamos observando, não poderá
haver Amor e, sem o Amor, por mais que nos esforcemos para reformar o mundo,
para criar uma nova ordem social e por mais que discursemos a respeito de
melhorias, só criaremos agonias e incertezas. Portanto, tudo depende
de nós. Não há líder, não há instrutor,
não há ninguém que possa nos ensinar o que deveremos
fazer. Estamos sozinhos neste mundo insano e brutal. [Tudo
depende de nós = A
mudança tem que ser interior.]

Prisão Espaço-temporal
O
gostar ou não gostar de alguma coisa, uma camisa vermelha, por exemplo,
é resultado da nossa cultura, da nossa educação, das
nossas relações, das nossas inclinações, das
nossas características adquiridas ou herdadas. É deste centro
que nós (com as nossas memórias, com as nossas experiências,
com os nossos acidentes, com as nossas influências, com as nossas
tradições e com as nossas múltiplas variedades de sofrimentos)
observamos e fazemos nossos julgamentos, e, assim, nós, como observadores,
estamos separados das coisas que observamos, e sempre traduzimos o que é
novo nos termos do que é velho, e, por conseguinte, nos vemos em
um conflito permanente.
O
próprio percebimento revela que o observador é a coisa observada.
O
pensamento é tão sutil, tão hábil, que deforma
todas as coisas para sua própria conveniência. O pensamento,
com sua exigência de prazer, carreia sua própria servidão.
[O
pensamento, com sua exigência de ódio, carreia sua própria
destruição.]

Deformação
O
pensamento é o passado; o pensamento é sempre
velho. Como todos os nossos desafios são enfrentados em termos do
passado –
desafios que são sempre novos –
nossa maneira de enfrentá-los será sempre totalmente inadequada,
e daí decorrem a contradição, o conflito, a aflição
e o sofrimento a que estamos sujeitos. Nosso insignificante cérebro
está sempre em conflito, não importa o que faça. Não
importa se aspira, se imita, se se sujeita, se reprime, se sublima, se toma
drogas para se expandir –
o que quer que faça –
nosso cérebro se acha permanentemente em estado de conflito,
e, inevitavelmente, produzirá sempre conflito.
Se
e quando houver o percebimento da origem do pensamento, nele já não
existirá mais nenhuma contradição.

Apenas
a mente que está só, livre de influências, de disciplinas,
do controle de uma infinita variedade de experiências, é capaz
de se encontrar com algo totalmente novo. E esta clareza só é
possível quando a mente se encontra em silêncio.
Um
dos piores tropeços na vida é essa luta constante para alcançar,
conseguir, adquirir.
Nada
existe que seja permanente.
A
repressão só produz mais conflito. A disciplina deve ser sem
controle, sem repressão, sem nenhuma forma de medo.
[Isto se denomina Compreensão. Mas, acima da Compreensão há
a Transcompreensão. Desta forma, só nos libertaremos do passado
(do espaço-tempo) através da Transcompreensão.
Mas, tudo começa pela Liberdade. Só se nos tornarmos livres
da condenação,
da justificação, da opinião, da aceitação
e da autoridade poderemos Transcompreender.]
A
exigência de sucessivas experiências só denota uma coisa:
pobreza interior do ser-humano-aí-no-mundo. Pensamos que por meio
de múltiplas experiências poderemos fugir de nós mesmos,
mas, todas elas são condicionadas pelo que somos. Se a mente é
mesquinha, ciumenta e ansiosa, a pessoa poderá tomar a mais moderna
droga, porém, só verá sua própria e insignificante
criação –
as projeções sem importância de seu próprio fundo
condicionado.

Tudo
o que é mensurável se encontra nos limites do pensamento,
e tem a propriedade de criar uma ilusão [ou
uma miragem].
Poderemos
até ter visões, em conformidade com o nosso condicionamento.
Poderemos ver o Cristo, o Buddha ou outro qualquer em quem cremos, e quanto
mais crentes formos, tanto mais intensas serão as nossas visões,
que nada mais são do que projeções das nossas exigências
e ânsias.
A
mente que está a buscar e a ansiar por experiências mais amplas
e profundas é uma mente muito superficial e embotada, porquanto está
sempre vivendo com suas memórias.
A
exigência de ser feliz gera a infelicidade. Toda exigência cria
o seu oposto.
Toda
agressão é horripilante, não importando se a agressão
é defensiva ou ofensiva.
Não
existe guerra justa
nem tiro na cabecinha.
Toda guerra é injusta,
a fraternidade é rainha.
Não
existe olho por olho,
tampouco dente por dente.
Só deve existir acolho
e respeito ao diferente.
Não
existe a tal vendetta
nem sangueira com lupara.
Isto é coisa de sotreta,
de cruento e de arara.
O
mundo está se tornando cada vez mais efetivo [eficiente
+ eficaz] e, por conseguinte, cada vez mais cruel. [Precisamos
tomar muito cuidado, pois, eficiência + eficácia produzem insensibilidade.]
Como
poderemos influir no mundo? Poderemos influir no mundo de uma maneira admirável
se, em nós mesmos, não formos violentos, se vivermos, realmente,
em cada dia, uma vida pacífica, uma vida sem competição,
sem ambição, sem inveja, uma vida não causadora de
inimizade. [Um exercício
elementar é, uma vez por dia, pelo menos, pensar e dizer: Paz
ao Mundo. Esta invocação tem um efeito
que está além da nossa compreensão usual.]
O
atrito é que impõe limites à energia. Quando não
há atrito, não há limites à energia. Se houver
qualquer atrito, interior ou exterior, em qualquer forma, por mais sutil
que seja, haverá desperdício de energia.

Quando
a mente se renova, é capaz de enfrentar e resolver qualquer problema.
Precisamos
olhar de frente a nossa própria vida. E só ela é o
que importa: nossa vida, nós mesmos, nossa mediocridade, nossa superficialidade,
nossa brutalidade, nossa violência, nossa avidez, nossa ambição,
nossos embustes, nossas hipocrisias, nossa busca, nosso fideísmo,
nossa diária agonia e nosso permanente sofrer. E isto o que temos
de compreender, e ninguém, nem na Terra, nem no céu, poderá
nos salvar, senão nós mesmos. [Leia
salvar
como fazer o dever de casa por
nós.]
É
uma coisa brutal ter ideais. Se temos ideais, crenças ou princípios
de qualquer espécie, não podemos de modo nenhum nos olhar
diretamente.
Não
podemos convidar o vento a entrar, mas, para que ele entre, teremos que
deixar a janela aberta.
A
grande pergunta que precisa de uma resposta: por que está vazio o
nosso Coração?
Quer
sejamos velhos, quer jovens, é agora que o integral processo da vida
pode ser levado a uma dimensão diferente.
—
Eu já decidi:
nem gagá eu pararei.
Igualzinho ao Nº
,
até morrer mudarei.
= 3,14159 26535 89793
23846 26433 83279 50288 41971 693 37510...
_____
Nota:
1. Liberdade,
in: Diário XII,
Miguel Torga.
Música
de fundo:
Symphony
Nº 6 (Pastorale), em Fá Maior, opus 68
Compositor: Ludwig van Beethoven
Fonte:
http://www.kunstderfuge.com/beethoven/variae.htm#Symphonies
Observação:
A Sinfonia
nº 6 em Fá Maior, opus 68, de Ludwig van Beethoven, também
chamada Sinfonia Pastoral, é uma obra musical precursora da música
programática. Esta Sinfonia foi completada em 1808, e teve a sua
primeira apresentação no Theater an der Wien, em
22 de dezembro de 18081. Dividida em cinco andamentos, tem por propósito
descrever a sensação experimentada nos ambientes rurais. Beethoven
insistia que essas obras não deveriam ser interpretadas como um quadro
sonoro, mas, como uma expressão de sentimentos. É
uma das mais conhecidas obras da fase romântica de Beethoven.
Páginas
da Internet consultadas:
https://gfycat.com/
https://giphy.com/stickers/gymnastics-FNGFKFgEfWDIs
https://freedesignfile.com/
https://www.vectorstock.com/
http://segunda-guerra-mundial-3d.blogspot.com/
https://sites.google.com/site/treball
grupal2agm/el-genocidi-jueu-o-xoa
https://brasil.elpais.com/tag/adolf_hitler
https://gfycat.com/gifs/search/natural+disasters
https://dribbble.com/
https://pelaliberdade.org/2018/07/05/liberdade-miguel-torga/
http://jiddukrishnamurti.net/
https://krishnamurtibox.wordpress.com/downloads/livros/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jiddu_Krishnamurti
Direitos
autorais:
As animações,
as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo)
neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar
o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright
são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a
quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las,
se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar
que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei
do ar imediatamente.
