Este
estudo se constitui da 1ª parte de um conjunto de fragmentos garimpados
na obra Liberte-se
do Passado (título do original: Freedom
From The Known), de autoria de Jiddu Krishnamurti.
Breve
Biografia

Jiddu
Krishnamurti
Jiddu
Krishnamurti (Madanapalle, 11 de maio de 1895 – Ojai, 17 de fevereiro
de 1986) foi um filósofo, escritor, orador e educador indiano. Proferiu
discursos que envolveram temas como revolução psicológica,
meditação, conhecimento, liberdade, relações
humanas, a natureza da mente, a origem do pensamento e a realização
de mudanças positivas na sociedade global. Constantemente, ressaltou
a necessidade de uma revolução na psique de cada ser humano,
e enfatizou que tal revolução não poderia ser levada
a cabo por nenhuma entidade externa seja religiosa, seja política,
seja social. Uma revolução que só poderia ocorrer através
do autoconhecimento, bem como da prática correta da meditação
do ser-humano-aí-no-mundo liberto de toda e qualquer forma
de autoridade psicológica.
O
cerne dos seus ensinamentos consiste na afirmação de que a
necessária e urgente mudança fundamental da sociedade só
poderá acontecer através da transformação da
consciência individual. A necessidade do autoconhecimento e da compreensão
das influências restritivas e separativas das religiões organizadas,
dos nacionalismos e de outros condicionamentos foram por ele constantemente
realçadas.
Fragmentos
Krishnamurtianos
Através
das idades, o ser-humano-aí-no-mundo vem buscando uma certa Coisa
além de si próprio, além do bem-estar material –
uma Coisa que se pode chamar Verdade, Deus ou Realidade, um estado atemporal
– algo
que não possa ser perturbado pelas circunstâncias, pelo pensamento
ou pela corrupção humana. Mas, não podendo encontrar
essa Coisa sem nome e de mil nomes que sempre buscou, o ser-humano-aí-no-mundo
cultivou a fé –
fé em um salvador ou em um ideal, fé que,
invariavelmente, sempre gerou a violência.
De
maneira geral, vivemos de palavras, e nossas vidas são superficiais
e vazias. Não somos originais. Temos vivido das coisas que nos têm
dito ou guiados por nossas inclinações, nossas tendências
ou, ainda, impelidos a aceitar os blablablás pelas circunstâncias
e pelo ambiente. Somos o resultado de toda espécie de influências,
e em nós, como regra, nada existe de novo, nada descoberto por nós
mesmos, nada original, inédito, claro. Consoante a história
teológica, nos garantem os guias religiosos que, se observarmos determinados
rituais, recitarmos certas preces e versos sagrados, obedecermos a alguns
padrões, refrearmos nossos desejos, controlarmos nossos pensamentos,
sublimarmos nossas paixões e se nos abstivermos dos prazeres sexuais,
então, após torturar suficientemente o corpo e o Espírito,
encontraremos uma certa Coisa além desta vida desprezível.
É isto o que têm feito, no decurso das idades, milhões
de indivíduos ditos religiosos, quer pelo isolamento, nos desertos,
nas montanhas ou em uma caverna, quer peregrinando de aldeia em aldeia a
esmolar, quer em grupos, ingressando em mosteiros e forçando a mente
a se ajustar a padrões preestabelecidos. Mas, a mente que foi torturada
e subjugada, a mente que deseja fugir a toda agitação, a mente
que renunciou ao mundo exterior e se tornou embotada pela disciplina e pelo
ajustamento, por mais longamente que busque, o que achar será e estará
em conformidade com sua própria deformação.

A
causa primária da desordem em nós existente é estarmos
buscando a realidade prometida por outrem; mecanicamente seguimos todo aquele
[e tudo aquilo] que
nos promete e nos garante uma vida espiritual confortável.
A
pergunta sobre se há Deus, Verdade ou Realidade –
ou como se queira chamá-Lo –
jamais será respondida pelos livros, pelos sacerdotes, pelos
filósofos ou pelos salvadores. Ninguém e nada podem responder
a esta pergunta, porém, somente vós mesmos, e esta é
a razão por que deveis vos conhecer. Só há falta de
madureza na total ignorância de si mesmo. A compreensão de
si mesmo é o começo da Sabedoria.
Cada
um de nós é o depósito de todo o passado. O indivíduo
é o ente humano que representa toda a Humanidade. Toda a História
Humana está escrita em nós.
Desejo
de poder, posição, prestígio, nome, sucesso etc. sempre
suscitaram ódio, antagonismo, brutalidade e guerras intermináveis.

Todas
as formas exteriores de mudança, produzidas pelas guerras, pelas
revoluções, pelas reformas, pelas leis e pelas ideologias
falharam completamente, pois, não mudaram a natureza básica
do ser-humano-aí-no-mundo,
e, portanto, da sociedade.
Haveremos
de reconhecer o fato central de que, como indivíduos, como entes
humanos –
seja qual for a parte do Universo em que vivamos, não importando
a que cultura pertençamos –
somos inteiramente responsáveis por toda a situação
do mundo. Somos, cada um de nós, responsáveis por todas as
guerras, geradas pela agressividade de nossas vidas, pelo nosso nacionalismo,
pelo nosso egoísmo, pelos nossos deuses [inventados
por nós], pelos nossos preconceitos, pelos nossos ideais,
pois, tudo isso está a nos dividir e a nos separar. Assim, só
quando percebermos, não intelectualmente, porém realmente,
tão realmente como reconhecemos que estamos com fome ou que sentimos
dor, que somos os responsáveis por todo este caos, por todas as aflições
existentes no mundo inteiro, porque para isso contribuímos em nossa
vida diária e porque fazemos parte desta monstruosa sociedade, com
suas guerras, suas divisões, sua fealdade, sua brutalidade e sua
avidez, só então poderemos
[começar a] agir.
A
Verdade não tem caminho, e esta é a sua beleza; ela é
viva. A Verdade é algo que vive, que se move, que não tem
pouso, que não tem templo, mesquita ou igreja, e que a Ela nenhuma
religião, nenhum instrutor, nenhum filósofo poderá
nos levar. Para encontrá-La, não poderemos depender de ninguém.
Não há guia, não há instrutor, não há
autoridade que nos conduza à Verdade.
Normalmente,
gostamos de culpar os outros, o que é uma forma de autocompaixão.
Quando
consideramos o que está ocorrendo no mundo, começamos a compreender
que não há processo exterior nem processo interior; há
só um processo unitário, um movimento integral, total, sendo
que o movimento interior se expressa exteriormente, e o movimento exterior,
por sua vez, reage ao interior.
A
maioria das pessoas não deseja mudar, principalmente aquelas que
se acham em relativa segurança, social e economicamente, ou que conservam
crenças dogmáticas e se satisfazem em aceitar a si próprias
e às coisas tais como são ou em forma ligeiramente modificada.
Quando
pensamos isto é dificílimo,
está fora do meu alcance, fechamos o caminho, cessamos
de investigar e, temporariamente, será completamente inútil
prosseguir.
Se fôssemos tão sem juízo que vos déssemos
um sistema, e vós tão sem juízo que o seguísseis,
estaríeis meramente a copiar, a imitar, a vos ajustar e a aceitar,
e, fazendo tal coisa, teríeis estabelecido em vós mesmos a
autoridade de outrem, da qual resultaria conflito entre vós e essa
autoridade. Pensais que deveis fazer esta e aquela coisa porque alguém
mandou fazer e, no entanto, sois incapaz de fazê-la. Tendes vossas
peculiares inclinações, tendências e pressões,
que colidem com o sistema que julgais dever seguir e, por conseguinte, aí
existe uma contradição. Levareis, assim, uma vida dupla, entre
a ideologia do sistema e a realidade de vossa existência diária.
No esforço para vos ajustar à ideologia, recalcais a vós
mesmos e, no entanto, o que é realmente verdadeiro não é
a ideologia, porém, aquilo que sois. Se tentardes vos estudar de
acordo com outrem, permanecereis sempre um ente humano sem originalidade.
Poderá,
algum dia, a autoridade de algo ou de alguém (de um livro, de um
instrutor, da esposa ou do marido, dos pais, de um amigo ou da sociedade)
promover a ordem interior em nós? Não. A ordem imposta de
fora gera sempre, necessariamente, a desordem.
A
tradição sempre criou uma colossal indolência, uma escravizante
aceitação e uma retrogressiva obediência. Para mudarmos,
não poderemos contar com outrem, seja um instrutor, seja um deus,
seja uma crença, seja um sistema, seja uma pressão, seja uma
influência externa.

Quando
rejeitarmos toda autoridade, não teremos mais medo. Quando rejeitarmos
algo falso que, há gerações, trazemos conosco, aumentaremos
a nossa energia, e ficaremos com mais capacidade, com mais ímpeto,
com maior intensidade e com maior vitalidade. Se ainda não sentimos
isto, é porque ainda não largamos a carga, ainda não
nos livramos do peso morto da autoridade.

Quando já não contarmos mais com a ajuda de
nenhuma pessoa e/ou de nenhuma coisa, estaremos livres para fazer
descobertas. Quando há liberdade, há energia. Quando há
liberdade, não há medo, e a mente sem medo é capaz
de infinito amor. E o amor poderá fazer o que quiser.
A
compreensão de nós mesmos não requer nenhuma autoridade,
nem a do dia anterior nem a de há mil anos, porque somos entidades
vivas, sempre em movimento, sempre a fluir e jamais se detendo. Se olharmos
a nós mesmos com a autoridade morta de ontem, nunca compreenderemos
o movimento vivo, a beleza e natureza deste movimento.
Livrar-se
de toda autoridade, seja própria, seja de outrem, é morrer
para todas as coisas de ontem, para que a mente seja sempre fresca, sempre
juvenil, inocente, cheia de vigor e de paixão. Só neste estado
é que se aprende e que se observa.
Para
nos tornarmos livres, não poderemos transportar a carga de opiniões,
de preconceitos e de conclusões –
trastes imprestáveis que juntamos no decurso dos últimos dois
mil anos ou mais. Para nos tornarmos livres, deveremos iniciar a marcha
como se nada soubéssemos.
Deixemos
para trás todas as lembranças de ontem!
Não
há caminho para a realidade, como não o há para a verdade.
Toda autoridade, de qualquer espécie que seja, sobretudo no campo
do pensamento e da compreensão, é a coisa mais destrutiva
e danosa que existe. Os guias destroem os seguidores, e os seguidores acabam
destruindo os guias. Tendes de ser vosso próprio instrutor e vosso
próprio discípulo. E, neste processo, questionar tudo o que
foi aceito como valioso e necessário.

Devemos
estar cônscios de todo o campo de nosso próprio ser, que é
constituído das consciências individual e social. É
só quando a mente transcende as consciências individual e social
[é isto que eu denomino transrazão], que poderá
se tornar a Luz de si mesma, a Luz que nunca se apaga!
De
nada serve ficar sentado em um canto meditando sobre nós mesmos.
Não podemos existir sozinhos. Só existimos em relação
com as pessoas, com as coisas e com as idéias. Só estudando
a nossa relação com as pessoas e com coisas tanto exteriores
como interiores, começaremos a compreender a nós mesmos. Qualquer
outra forma de compreensão é mera abstração,
e ninguém pode se estudar abstratamente.

Estamos
Todos Interconectados
Qualquer
mente que leve a carga do passado é uma mente lamentável.
Aprender
é um movimento ilimitado, sem o passado.
Para
sermos completamente sensíveis a tudo o que decorre das exigências
da vida, não deve haver separação entre o organismo
e a psique. Para compreendermos qualquer coisa, teremos de viver com ela,
observá-la, conhecer todo o seu conteúdo, toda a sua natureza,
toda a sua estrutura e todo o seu movimento.
Nossa
mente será imprestável, se estiver enredada em opiniões,
juízos e valores.
Quando
condenamos ou justificamos, não podemos ver com clareza, e também
não podemos fazê-lo quando nossa mente está a tagarelar
incessantemente. Não observamos, então, o que é; só
olhamos nossas próprias projeções. Cada um de nós
tem uma imagem do que pensa ser ou do que deveria ser, e esta imagem, este
retrato, nos impede inteiramente de ver a nós mesmos como realmente
somos.

Mona Monstra
Para
podermos nos compreender, necessitaremos ter muita humildade. Um ser-humano-aí-no-mundo
seguro de si [ancorado na
imutabilidade] é um ente morto.
Como
poderemos ser livres para olhar e aprender, quando nossa mente, da hora
do nascimento à hora da morte, é moldada, por uma determinada
cultura, no estreito padrão do ego? O fato é que, há
séculos, vimos sendo condicionados pela nacionalidade, pela casta,
pela classe, pela tradição, pela religião, pela língua,
pela educação, pela literatura, pela arte, pelo costume, pela
convenção, pela propaganda de todo gênero, pela pressão
econômica, pela alimentação que tomamos, pelo clima
em que vivemos, pela nossa família, pelos nossos amigos, pelas nossas
experiências — ou seja, por todas as influências possíveis
e imagináveis — e, por conseguinte, nossas reações
a cada problema são condicionadas.
Para
entrarmos em contato com uma árvore, teremos de tocá-la com
a mão, e a palavra não nos ajudará a tocá-la.

Reagiremos
a qualquer desafio segundo o nosso condicionamento, e como o nosso condicionamento
é inadequado, de maneira geral, costumamos reagir sempre inadequadamente.

Os
condicionamentos nos fazem viver sempre no passado, com os mortos. O fato
é que nos vemos perturbados a respeito da vida, da política,
da situação econômica, do horror, da brutalidade e do
sofrimento existentes tanto no mundo como em nós mesmos, e esta perturbação
nos revela quão estreitamente condicionados estamos. E vivemos culpando
sempre, por exemplo, os outros, o nosso ambiente e a situação
econômica.
De
maneira geral, o que acontece é que criamos uma verdadeira rede de
fugas, e estamos e vivemos dominados pelo hábito da fuga.

O
nacionalismo [ufanista] é
um perigo. O nacionalismo [ufanista]
leva à autodestruição. [Qualquer
semelhança desta citação com a Festa
da Selma recentíssima em Brasília (8
de janeiro de 2023) não é mera coincidência!
Festa da Selma
nunca mais!]

8
de janeiro de 2023
Festa da Selma: radicais bolsonaristas usaram este código
para organizar a tentativa frustra de golpe de Estado, em Brasília.

Ou
ficar a Pátria livre
ou
morrer pelo Brasil.
Para
mim,
savoir-vivre
é
defender o meu Brasil.
Ou
ficar a Pátria livre
ou
morrer pelo Brasil.
Para
mim,
savoir-vivre
é
ver contente a Mãe Gentil.
Ou
ficar a Pátria livre
ou
morrer pelo Brasil.
Para
mim,
savoir-vivre
é
não ter temor
servil.
Ou
ficar a Pátria livre
ou
morrer pelo Brasil.
Para
mim,
savoir-vivre
é
manter o garbo juvenil.
Ou
ficar a Pátria livre
ou
morrer pelo Brasil.
Para
mim,
savoir-vivre
é
ser um patriota varonil.
Ou
ficar a Pátria livre
ou
morrer pelo Brasil.
Para
mim,
savoir-vivre
é
fechar o STF abominábil.
Ou
ficar a Pátria livre
ou
morrer pelo Brasil.
Para
mim,
savoir-vivre
é
expulsar ministro vil.
Ou
ficar a Pátria livre
ou
morrer pelo Brasil.
Para
mim,
savoir-vivre
é
açular o povão asnil.
Ou
ficar a Pátria livre
ou
morrer pelo Brasil.
Para
mim,
savoir-vivre
é
fazer Brasília virar brasil.
Ou
ficar a Pátria livre
ou
morrer pelo Brasil.
Para
mim,
savoir-vivre
é
rasgar a Carta desútil.
Ou
ficar a Pátria livre
ou
morrer pelo Brasil.
Para
mim,
savoir-vivre
é
chumbo, canhão e fuzil.
Ou
ficar a Pátria livre
ou
morrer pelo Brasil.
Para
mim,
savoir-vivre
é
Festa
da Selma
febril.
A
maioria de nós percorre a vida desatentamente, reagindo sem pensar,
de acordo com o ambiente em que fomos criados, e tais reações
só acarretam mais servidão, mais condicionamento. Mas, no
momento em que aplicamos toda a atenção aos nossos condicionamentos,
ver-nos-emos inteiramente livres do passado, e, naturalmente, ele se desprenderá
de nós.
Se pudermos nos tornar cônscios da totalidade, agiremos
sempre com nossa atenção total, e não com uma atenção
parcial [limitada e, geralmente,
preconceituosa]. Importa compreender isto, porque, quando se
está cônscio de todo o campo da consciência, não
há atrito [nem preconceitos].
Quando se divide a consciência –
toda ela constituída de pensamento, de sentimento e de ação
– em diferentes
níveis, então, há atrito. A única maneira de,
efetivamente, nos olharmos a nós mesmos é fazê-lo totalmente,
imediatamente, fora do tempo. Todavia, só poderemos ver a totalidade
de nós mesmos quando nossa mente não estiver mais fragmentada.
Então, veremos a Verdade [ainda
que relativa].

Geralmente,
não mudamos porque culpamos os outros, nos satisfazemos com explicações
ou temos medo de olhar. Mas, se e quando nos olharmos totalmente, aplicando
toda a nossa atenção [e
a nossa vontade], todo o nosso ser, tudo o que temos, nossos
olhos, nossos ouvidos e nossos nervos, estaremos atentos em meio ao mais
completo auto-abandono, e não haverá, então, mais lugar
para o medo, para a contradição e, por conseguinte, não
haverá mais conflito. Atenção não é a
mesma coisa que concentração. A concentração
é exclusão; a atenção é percebimento
total, que nada exclui. Enfim, a mudança requer percebimento total.
Se
estivermos sempre a nos medir pelos outros, a nos esforçarmos para
ser igual aos outros, então, estaremos negando a nós mesmos.
Por conseguinte, estaremos criando uma ilusão. Ao compreendermos
que a comparação, em qualquer forma, só leva a uma
ilusão e a um sofrimento maiores ainda (tal como acontece quando
analisamos a nós mesmos, aumentando o nosso conhecimento pouco a
pouco ou nos identificando com algo fora de nós mesmos, como, por
exemplo o Estado, um salvador ou uma ideologia) ao compreender,
enfim, que todos esses processos só levam a mais ajustamento e a
mais conflito, abandonaremos definitivamente qualquer que seja a comparação.
E assim, a mente que já não tem ilusão nenhuma poderá,
então, se mover em uma dimensão totalmente diferente [mais
elevada],
na qual não existem conflitos e nenhuma idéia de diferença.
Nem
palavras nem explicações poderão abrir a Porta.
[Ninguém abrirá
a Porta por nós ou para nós.] O que abrirá
a Porta é o percebimento e a atenção diários
– percebimento
da maneira como falamos, do que dizemos, da nossa maneira de andar, do que
pensamos [e de como agimos].
Isto é como limpar e manter em ordem um aposento. Manter
o aposento em ordem é importante a um respeito e totalmente sem importância
a outro respeito. Deve haver ordem no aposento, mas, a ordem per se não
abrirá a Porta ou a Janela. O que abrirá a Porta não
serão a nossa volição ou o nosso desejo.
Manter o aposento em ordem significa ser categoricamente virtuoso,
por amor à virtude, e não pelo que isto nos trará,
ou seja, ser equilibrado, racional, ordenado. Então, talvez, se tivermos
sorte [se merecermos], a
Janela se abrirá e a Brisa entrará. Ou pode ser que não.
Tudo dependerá do estado da nossa mente [isto
é, das mudanças efetivas que tivermos implementado]. E
este estado da mente só pode ser compreendido por nós mesmos,
ao observá-lo sem tentar moldá-lo, sem ser parcial, sem contrariá-lo
e sem jamais concordar, justificar, condenar ou julgar; quer dizer, estar
vigilante sem fazer nenhuma escolha. E, em razão deste percebimento
sem escolha, a Porta, talvez, se abrirá, e conheceremos aquela Dimensão
em que não existem nem o conflito nem o tempo.
A
vida não deve ser guiada pelo prazer, pois, o prazer sempre
traz, necessariamente, a dor, a frustração, o sofrimento,
o medo, e, como resultado do medo, a violência. A mente que está
sempre a buscar o prazer encontrará inevitavelmente a sua sombra
– a dor
– embora
busquemos o prazer e procuremos evitar a dor.
A
mente que não está tolhida pela memória tem a verdadeira
liberdade. Tudo o que é resultado da memória é velho
e, por conseguinte, nunca é livre.
Se
pudermos olhar todas as coisas sem permitir a intrusão do prazer
– olhar
uma rosa, uma ave, a cor de um sari [traje
nacional das mulheres indianas, constituído de uma longa peça
de pano que envolve e cobre todo o corpo], a beleza de uma extensão
de água rutilando ao Sol ou qualquer coisa deleitável –
se pudermos olhar assim, sem desejarmos que a experiência
se repita, então, não haverá dor, nem medo e, por conseguinte,
haverá uma alegria infinita. É a luta para repetir e perpetuar
o prazer que o converte em dor. A própria exigência da repetição
do prazer produz dor, porque ele nunca é a mesma coisa de ontem.
Ao
buscarmos o prazer, inevitavelmente, haverá dor. Se, entretanto,
desejarmos pôr fim ao prazer, o que significa pôr fim à
dor, deveremos estar completamente atentos à estrutura total do prazer.
Mas, não deveremos repeli-lo, como o fazem os monges e os sannyasins,
que, por exemplo, não olham para uma mulher porque é pecado
e, desta maneira, destroem a vitalidade da própria compreensão.
Cumpre, sim, ver todo o significado e toda a importância do prazer.
Encontraremos, então, infinita alegria na vida, ainda que não
se possa pensar na alegria. A alegria é uma coisa imediata, e, se
nela pensarmos, a converteremos em prazer. Viver no presente é a
percepção imediata da beleza e o grande deleite que nela se
encontra, sem dela procurar extrair prazer.
A
vontade de domínio é uma forma de agressão. O santo
que busca posição em sua santidade é tão agressivo
como as aves que se bicam em um aviário. E, qual é a causa
desta agressividade? O medo, não? O medo é um dos mais formidáveis
problemas da vida. A mente que está nas garras do medo vive na confusão,
no conflito, e, portanto, tem de ser violenta, tortuosa e agressiva. Não
ousa se afastar dos seus próprios padrões de pensamento, e
isto gera a hipocrisia. Enquanto não nos livrarmos do medo, ainda
que galguemos o mais alto cume, ainda que inventemos toda espécie
de deuses, ficaremos sempre na escuridão. O medo é uma coisa
terrível, que torce, deforma e ensombra os nossos dias. O medo nada
mais é do que o movimento do certo para o incerto.
Quando
percebermos que somos uma parte do medo, que não estamos separados
do medo, que o medo está em nós e que nós somos o próprio
medo, que nada poderemos fazer a seu respeito, então, o medo terminará
totalmente. O observador é o medo e, uma vez isto percebido, não
há mais dissipação de energia no esforço para
se livrar do medo, e o intervalo de tempo-espaço, entre o observador
e a coisa observada, desaparece.
Aquele
que pensa e diz que a violência nunca terá fim, que jamais
acabará, está [mentalmente]
emparedado.
Viver
completamente em paz não significa desejar morrer. Viver completamente
em paz significa desejar viver nesta Terra maravilhosa, tão cheia
de vida, de riqueza e de beleza! É desejar olhar as árvores,
as flores, os rios, os prados, as mulheres, as crianças, e, ao mesmo
tempo, viver completamente em paz consigo e com o mundo.
Não
importa se os outros levam ou não a sério a questão
da violência; se nós a levarmos a sério, isto basta.
Não
podemos nos deter em nenhum ponto; precisamos sempre ir mais adiante.
A
guerra é apenas um fragmento da violência. A agressividade
sempre existiu e existe nos seres-humanos-aí-no-mundo tanto quanto
existe nos animais, dos quais todos nós fazemos parte. A violência
não é meramente assassinar. Há violência no uso
de uma palavra áspera, num gesto de desprezo, na obediência
motivada pelo medo. A violência, portanto, não é apenas
a carnificina organizada em nome de Deus, da sociedade e da pátria.
A violência é muito mais sutil e profunda. Por exemplo: quando
nos denominamos indiano, maometano, cristão, europeu ou o que quer
que seja, estamos sendo violentos. Sabeis por quê? Porque vos estais
vos separando do resto da Humanidade. Quando vos separais por uma crença,
por um dogma, por uma idéia, por um princípio, por uma cor,
por uma preferência, por um insulto, por uma nacionalidade, por uma
bandeira, por um hino, por uma tradição, por um partido político
ou por um sistema partidário etc. gerais a violência. Ora,
não existe cólera justa! Todos nós precisamos compreender
a violência e transcendê-la.
Condenamos
e/ou justificamos as coisas porque isto faz parte da estrutura
social em que vivemos –
faz parte do nosso condicionamento como alemão, indiano,
negro, branco, brasileiro, americano –
ou o que acaso somos por nascimento, com todo o embotamento mental
resultante deste condicionamento. A mente se embota e se torna estúpida
por causa do permanente justificar e do persistente condenar. O fato é
que, por exemplo, duas guerras medonhas nada nos ensinaram, a não
ser a levantar mais e mais barreiras entre os seres humanos, pois, a maioria
aceita a violência como maneira de vida.
Alma
Viver com plenitude no momento presente é viver com o que é,
com o real, sem idéia de condenação ou de justificação.
Quando se vê claramente um problema, ele está resolvido.
Continua...
Música
de fundo:
Symphony
Nº 6 (Pastorale), em Fá Maior, opus 68
Compositor: Ludwig van Beethoven
Fonte:
http://www.kunstderfuge.com/beethoven/variae.htm#Symphonies
Observação:
A Sinfonia
nº 6 em Fá Maior, opus 68, de Ludwig van Beethoven, também
chamada Sinfonia Pastoral, é uma obra musical precursora da música
programática. Esta Sinfonia foi completada em 1808, e teve a sua
primeira apresentação no Theater an der Wien, em
22 de dezembro de 18081. Dividida em cinco andamentos, tem por propósito
descrever a sensação experimentada nos ambientes rurais. Beethoven
insistia que essas obras não deveriam ser interpretadas como um quadro
sonoro, mas, como uma expressão de sentimentos. É
uma das mais conhecidas obras da fase romântica de Beethoven.
Páginas
da Internet consultadas:
https://www.correio24horas.com.br/
http://bestanimations.com/
https://es.123rf.com/
https://tenor.com/
https://www.vectorstock.com/
http://joshhealey.org/the-tree-hugger/
https://br.pinterest.com/pin/574912708663335691/
https://dribbble.com/
http://www.netanimations.net/
https://www.colourbox.com/
https://www.behance.net/
https://www.linkshideaway.com/
https://giphy.com/
http://www.metalinjection.net/
https://mbtskoudsalg.com/
http://diaconosonhador.blogspot.com/
http://jiddukrishnamurti.net/
https://krishnamurtibox.wordpress.com/downloads/livros/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jiddu_Krishnamurti
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