EU, JURACI YANOMAMI, CANSEI
Até
quando nós, brasileiros, seremos irresponsáveis, atrozes
e desconsideraremos a fauna, a flora e os povos autóctones?
Até quando nós, brasileiros, seremos maria-vai-com-as-outras?
Até quando nós, brasileiros, seremos psitacídeos de
corsário?
Até quando nós, brasileiros, seremos bobocas e anticientíficos?
Até quando nós, brasileiros, seremos patetas e antivacinistas?
Na atualidade, só as vacinas imunizam; no futuro, será o SOM!
Entretanto, precisaremos merecer, para poder conhecer o SOM.
O inferno não
são os outros; ele está dentro de nós.
O céu não está em sei-lá-onde;
ele está dentro de nós.
Rodolfo Domenico Pizzinga
— Eu, Juraci Yanomami, cansei.
Viver? Pra quê? Por quê? Não sei!
Cansei de ver tanto desrespeito,
tanto malfeito e tanto preconceito.
Cansei de ver a floresta destruída.
Cansei de ver a minha gente submetida.
Cansei de ver os nossos rios poluídos.
Cansei de ver meus irmãos desnutridos.
Cansei de ver a minha horta destroçada.
Cansei de ver a minha oca arruinada.
Cansei de ver escassez de terra para plantar
e os invasores e os garimpeiros nos ameaçar.
Cansei de ver os nossos curuminzinhos
esfomeados, doentes, tristes, magrinhos.
Cansei de ver nossa saúde menosprezada
e nossa existência desvalorizada.
Cansei de ver minhas irmãs machucadas,
aviltadas, estupradas e ensangüentadas.
Cansei de ver nossa terra invadida,
e nossa ancestralidade descolorida.
Cansei de ver nossa cultura dizimada,
pelo consumo de bebida destilada.
Cansei de ver a perda de referência,
desestruturação, desvalor e indigência.
Cansei de ver, em uma muito antiga etnia,
a prática de suicídio por anomia.
— Cansei de ver a expansão capitalista
transgredir até onde alcança a vista.
Cansei de ver o comércio de madeira
transformar nossa fauna em calaveira.
Cansei de ver nosso presente inseguro,
e nosso futuro-sem-futuro cinza-escuro.
Cansei
de ver a
não dar a menor bola pro nosso ai.
Cansei de ver o Governo Federal
trocar sempre a realidade pelo fantasmal.
Cansei de ver essa política assistencialista
degenerada, desqualificadora e imperialista.
— Cansei de ver o Darcy Ribeiro
ser esquecido como rato de bueiro.
Cansei de ver o Marechal Rondon
ser desconhecido do Grupo Kapon.
Cansei de ver tantos maus-tratos
e um sem-fim de assassinatos.
Cansei de ver mil outros absurdos
e deliberações e decretos burdos.
Cansei de ver o Ñande Ru Tenondé desanimar,
e, lá nas nuvens, de tristeza, chorar.
Cansei de ver a Mãe-d'água se esconder,
para, lá no fundo da água, não ver.
Cansei de ver o Curupira os pés virar,
para poder correr e, da morte, se safar.
Cansei de ver o Boitatá soltar fogo pelas ventas,
ao ver tantas crueldades sangrentas.
Sim, eu Juraci Yanomami, cansei.
Viver? Pra quê? Por quê? Não sei!
—
Sim, eu Juraci
Yanomami, cansei.
Vou-me embora pra Pasárgada!
Lá, sou amigão do rei.
Lá, não levarei bordoada,
pois, sei que prevalece a lei.
—
Vou de já hoje pra Pasárgada!
Aqui, eu não sou feliz.
É maldade... É venta-furada...
E eu só estou vivo por um triz!
Quase tive a vida arrancada!
—
E, quando, de noite, me der
vontade de me suicidar,
rezarei para o Grande Ser
–
que
fez a Terra, os rios e o ar –
e volto a ser feliz por viver.
Música de fundo:
Saudade da Aldeia
Interpretação: Djuena TikunaFonte:
https://www.youtube.com/watch?v=SStkw4FyFwc&t=23s
Observação:
Djuena (que significa a onça que pula o rio) Tikuna, nascida na Aldeia Umariaçu II, Tabatinga, Amazonas, 1984, é uma cantora indígena brasileira do Estado do Amazonas e primeira jornalista indígena Tikuna formada no Estado. Fez história, em 2017, ao se tornar a primeira indígena brasileira a protagonizar um espetáculo musical no Teatro Amazonas (Manaus), nos 121 anos de existência do local, onde lançou o álbum Tchautchiüãne. Realizou também a primeira Mostra de Música Indígena - WIYAE do seu Estado. Todas as suas composições estão em tikuna, nome do povo e da língua dos ameríndios que habitam a zona fronteiriça entre o Brasil, a Colômbia e o Peru. Em 2018, foi a primeira artista oriunda da Amazônia Brasileira a ser nomeada para o Indigenous Music Awards, na categoria de Melhor Artista Indígena Internacional, pelo álbum Tchautchiüãne. O prêmio pretende distinguir artistas indígenas de todo o mundo e se realiza anualmente na Cidade de Winnipeg, no Canadá.
Djuena Tikuna
Índios Tikunas Retratados por Albert Frisch
Páginas da Internet consultadas:
https://www.saquarema.rj.gov.br/
https://br.pinterest.com/pin/574490496204644261/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ticunas
https://pt.wikipedia.org/wiki/Djuena_Tikuna
https://www.pensador.com/indios/
https://www.amazon.com.br/Suic%C3%ADdio
-DANIEL-NOBREGA-ebook/dp/B0965DVPF6https://www.mundovestibular.com.br/blog/
comunidades-indigenas-e-os-problemas-atuaishttps://www.istockphoto.com/br
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Sun_symbol_blue.svg
https://pt.coolclips.com/m/vetores/cart1404/%C3%8Dndios/
https://conexaoeduca.saosebastiao.sp.gov.br/indiozinhos-maternal/
https://m.facebook.com/Xamanismo360/
Direitos autorais:
As animações, as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las, se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei do ar imediatamente.