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Quando eu era garotinho, católico,
e me preparava para fazer a 1ª Comunhão
–
que quase me fez me tornar padre! –
entre outras coisas, me ensinaram:
Deus é um espírito
perfeitíssimo e eterno,
criador do céu e da Terra e nosso Pai.
Jesus Cristo é o Filho de Deus feito homem.
Jesus
Cristo foi enviado à Terra para nos salvar.
Para
nós, Jesus Cristo fundou a Igreja Católica.
A Igreja é a Casa de Deus, onde nos reunimos para rezar.
Ter fé é acreditar em Deus e em tudo o que Ele revelou.
Pecado é uma desobediência às Leis de Deus Pai.
Sinceramente,
eu nunca entendi nada disso.
Na verdade, tudo isto me trouxe uma aflição gigantesca.
Já naquela época, eu pensava ±
assim:
supondo que, de fato, exista um Deus,
como alguém tão limitado, como eu, poderá saber
o que, supostamente, Deus é e o que Deus não é?
O
que Deus sente e o que Deus não sente?
O
que Deus quer e o que Deus não quer?
O
que Deus gosta e o que Deus não gosta?
O
que Deus pensa e o que Deus não pensa?
O
que Deus faz e o que Deus não faz?
Ora, se foi Deus quem, do nada, criou tudo,
a responsabilidade toda de tudo só pode ser Dele.
Todo
bem e todo mal são responsabilidades
Dele.
Mais tarde, comecei a questionar:
será o Deus dos Astecas diferente
do Deus dos Toltecas?
Será
o Deus dos Tupinambás diferente
do Deus dos Tupiniquins?
Será
o Deus dos Cherokees diferente
do Deus dos Comanches?
Será
o Deus dos judeus diferente
do Deus dos muçulmanos?
Será
o Deus dos hinduístas diferente
do Deus dos budistas?
Será
o Deus dos católicos diferente
do Deus dos xintoístas?
Será
o Deus dos candomblecistas diferente
do Deus dos umbandistas?
Será
o Deus dos ETs diferente
do Deus dos ITs e dos UTs?
Será
o Deus dos tubarões-baleias diferente
do Deus dos micos-leões-dourados?
Será
o Deus dos chora-vinagres diferente
do Deus dos chorões-salgueiros?
Será
o Deus das rosas-almiscaradas diferente
do Deus dos lírios-amarelos-dos-pântanos?
Será
o Deus da cassiterita diferente
do Deus da pirolusita?
Será
o Deus do Streptococcus pneumoniæ
diferente
do Deus do Hæmophilus influenzæ?
Será
o Deus da Via Láctea diferente
do Deus da Galáxia do Girassol?

—
Por que inventamos tantos, tantos,
tantos Deuses?
Um
único Deus, mesmo que inautêntico,
não
teria sido mais do que suficiente?
E os milênios passaram... E continuei cheio de dúvidas.
E
mais milênios passaram... E, lá um belo dia,
eu
Compreendi e me Libertei
de todas essas invencionices escabrosas,
nec caput nec pedes,
nec
pedes nec
caput,
sem cabeça nem pé, sem
pé nem cabeça!
E
os
milênios
passaram mais um pouco, e eu decidi
transmitir a todos a minha limitada experiência,
para que todos pudessem se Libertar também.
Intuí que não existe salvação de nada,
pois,
não há paraíso nem inferno,
nem
recompensa nem punição,
e que cada ser-aí-existente-no-Universo
é um elo de uma
corrente ilimitada,
que
nunca teve começo nem jamais terá fim.
Não há elos preferidos nem elos escolhidos.
Não
há elos endemoniados nem elos
santificados.
Não
há elos malditos nem elos
benditos.
Não
há elos salvos nem elos
condenados.
Não
há elos mais isto nem elos
mais aquilo.
Não
há elos menos isto nem