A
quem o mal pode ser atribuído? Pois o cosmos está nas mãos
do Completo Bem, que é o Ser Total. No entanto, o existente possível
pode ser previsto como não-existente; na medida em que isto é
assim, o mal é atribuído a ele. Pois ele não possui,
em sua própria essência, a propriedade do Ser Necessário;
assim, o mal lhe sobrevém.
Deus
nos mostra seu favor através do Nome – o Todo Misericordioso
– nos trazendo, assim, para fora do mal, que é a não-existência,
para o bem, que é a existência. Assim, desde o princípio,
Ele nos confia ao Misericordioso.
Através
do Amor, Deus voltou Sua Vontade em direção às coisas
em seu estado de não-existência... E disse à elas: —
Sejam!
O
Homem Perfeito é o Macrocosmo; o homem individual é o Microcosmo.
Deus apenas criou o Cosmos fora do homem para lhe dar um exemplo, de tal
forma que o homem possa saber que tudo que está manifesto no Cosmos
está dentro dele mesmo, enquanto que ele é a meta... No homem,
todos os Nomes Divinos e seus efeitos são mostrados.
Através
da atividade de sua mente, todo ser humano é capaz de criar em sua
imaginação aquilo que não tem existência no mundo
externo; esta é a situação na qual todos nos encontramos.
Mas, através de sua concentração ('himmah') o Gnóstico
cria aquilo que possui existência fora do local de sua concentração
contanto que sua concentração continue a preservá-lo.1
Sempre
que os Gnósticos exercitam sua concentração no mundo,
é por causa de um Comando Divino; Eles o fazem porque são
compelidos a fazê-lo; não por vontade própria.
Os
Gnósticos possuem uma relação com a qualidade do conhecimento2
diferente de sua relação com a qualidade do poder. A propriedade
do conhecimento possuída pelos Gnósticos não tem inter-relação
com o objeto de poder ('al-maqdur'); os Gnósticos se relacionam apenas
com o objeto do conhecimento ('al-ma'lum').
Qualquer
direção que tomem os camelos do Amor, lá estarão
minha religião e minha fé.
Ninguém
O vê a não ser Ele mesmo – nem profeta, nem enviado,
nem santo perfeito, nem anjo algum podem conhecê-Lo. Seu Profeta é
Ele, e Seu Enviado é Ele, e Sua Palavra é Ele. Ele enviou
Ele próprio com Si mesmo para Si.
O
Sopro expirado pelo Compadecido equivale à concessão
da existência.
Conheço
a Alquimia pelo Caminho da Revelação intuitiva; não
pelo atalho de um conhecimento aprendido.
Para
percorrer a distância entre Andaluzia e Jerusalém, –
símbolo místico da LLuz e da Certeza – adotei o Islã
como montaria, a ascese como nutrição e a renúncia
como viático.
Deus – o Onipresente e o Onipotente
– não está encerrado em nenhum credo nem em nenhuma
religião; para onde quer que viremos nosso rosto, ali está
o rosto de Deus.
Não
te apegues exclusivamente a uma religião... pois não conseguirás
reconhecer a verdadeira Verdade.
Cada qual reza no que acredita; seu
Deus é imagem de si mesmo. Ao rezar, honra-se a si mesmo. Por isto,
anatematiza as crenças dos outros, o que não faria se fosse
justo, porque o desagrado para a religião alheia se apóia
na ignorância.
Achei
o Amor acima da idolatria e da religião. Achei o Amor além
da dúvida e da realidade.
Quando
adquirimos uma quantidade infinitesimal do Amor, nos esquecemos de ser muçulmanos,
magos, cristãos ou infiéis.
Exceto
o Amor – exceto o Amor intenso – não semeio outra semente.
Meu
Coração se tornou o receptáculo de todas as formas
religiosas: é pradaria das gazelas e claustro de monges cristãos;
templo de ídolos e Kaaba de peregrinos; Tábuas da Lei e Folhas
do Alcorão... Eu professo a Religião do Amor... O Amor é
o meu credo e a minha fé.
Deus
é unidade. A unidade do amor, do amante e do amado. Todo amor é
um desejo de união. Todo amor, consciente ou inconsciente, é
um amor a Deus. Testemunha esta presença de Deus dentro de ti, da
criação de Deus, que nunca cessa. O ato é uma manifestação
exterior de fé. O Islã reconhece todos os profetas e mensageiros
do mesmo Deus. Aprende a descobrir em cada homem a semente de um desejo
por Deus, mesmo que tua crença ainda seja fraca e, algumas vezes,
idólatra.
Só
falo daquilo que experimento.
O
homem, para o qual a Essência de Deus se oferece ao conhecimento,
não vê a Deus; ele apenas vê sua própria forma
no espelho de Deus. Não é possível que ele veja a Deus
mesmo, apesar de ele poder saber que só pode observar sua própria
forma n'Ele.
Deus
é o espelho no qual olhais a vós mesmos, e vós sois
o espelho de Deus, no qual Deus contempla Seus Nomes.
É
de Deus, portanto, escuta! E é para Deus, portanto, retorna! Quando
ouvires o que Ele te concedeu, atenta-te! E, então, com entendimento,
distingue os pormenores do discurso inteiro e une-os novamente. E, então,
entrega-o àquele que está à sua procura; não
o retenha. Esta é a compaixão que se estendeu sobre ti. Portanto,
estende-a!
Ele
se define pela soma de todas as definições possíveis.
Ora, as formas do mundo são indefinidas. Não se poderia compreendê-las
todas nem conhecer a definição lógica de cada uma,
salvo na medida em que elas cabem na definição de determinado
microcosmo. Por isto, ignora-se a forma lógica de Deus, visto que
esta somente poderia ser conhecida se conhecêssemos a definição
de todas as formas, o que é uma impossibilidade. Definir Deus, portanto,
não é possível.
Aquele
que une em seu conhecimento de Deus o ponto de vista da transcendência
com o da imanência, e que atribui a Deus os dois aspectos globalmente,
conhece-O verdadeiramente, ou seja, conhece-O globalmente, e não
distintamente, da mesma forma que o homem se conhece a si mesmo globalmente
e não distintamente.
Na
verdade, não existe união, não existe separação,
como não existem afastamento nem aproximação. Só
se pode falar de união entre dois fatores; não quando se trata
de uma única coisa.
Deus
não está numa coisa e coisa nenhuma está Nele. Ele
era, e com Ele não havia nem depois, nem antes, nem alto, nem baixo,
nem proximidade, nem afastamento, nem como, nem onde, nem quando, nem momento,
nem instante, nem tempo, nem ser manifesto, nem lugar. E Ele é agora
tal como era. Ele é o Único sem unicidade, o Singular sem
singularidade. Ele não é composto de um nome e de um nomeado,
pois Seu nome é Ele e Seu nomeado é Ele, e não existe
nome ou nomeado que não sejam Ele. Ele é o Primeiro sem anterioridade
e o Último sem posteridade. Ele é o Aparente sem aparição
e o Oculto sem ocultação.
É
preciso conhecer Deus, mas não é possível lográ-lo
nem pela ciência, nem pela inteligência, nem pela imaginação,
nem mediante a astúcia, nem pelos sentidos, nem pela visão
exterior, nem pela visão interior, nem pela compreensão, nem
pelo raciocínio.
Tu
és Deus e Deus és Tu, sem mediação alguma e
sem causa.
Praticamente,
todos os Iniciados afirmam que a Gnose ou o Conhecimento de Allah vem dado
pela extinção da existência e pela extinção
desta extinção. Mas esta opinião é falsa. A
Gnose não exige a extinção da existência e a
extinção desta extinção, porque as coisas não
têm nenhuma existência. O que não existe não pode
deixar de existir.
Derivar
o Conhecimento da extinção e da extinção da
extinção é uma crença própria de idólatras,
pois se admites isto, então, admites que algo distinto de Allah possa
gozar de existência. Mas admitir isto é o mesmo que O negar;
e, então, és manifestamente culpável de idolatria.
Allah
é a existência da eternidade sem começo e da eternidade
sem fim; Ele é a preexistência... Allah não tem companheiro,
nem semelhante nem igual.
Todas
as coisas, inclusive a alma, são em Allah; além do tempo,
além do espaço e além de todo atributo.
Alguém
que se conheça a si mesmo conhece sua alma; então, conhece
o Senhor.
Tudo
aquilo que tu crês que é distinto de Allah, em realidade, é
Allah, ainda que tu não o saibas. Tu O vês, mas não
sabes que O vês. Quando fores capaz de compreender que não
és distinto de Allah, quando este mistério te for revelado,
então compreenderás qual é teu fim, compreenderás
que tua extinção não é possível, compreenderás
que jamais deixaste de ser e que jamais deixarás de existir. Compreenderás,
então, que todos os atributos de Allah são teus atributos,
que teu exterior é o Seu, que teu interior é o Seu, que teu
começo é o Seu e que teu fim é o Seu. Não há
dúvida alguma nem possibilidade de erro nestas coisas: tuas qualidades
são as Suas e tua natureza é a Sua. Mas nem por isto Ele se
converte em ti ou tu te convertes Nele, pois todas estas coisas são
certas sem necessidade de transformação, sem necessidade de
diminuição e sem necessidade de aumento algum.
O
efeito da contemplação da Majestade de Allah, no
Coração, também pode provir da Beleza,
que é a Beleza da Majestade. O efeito da contemplação
da Beleza da Presença Divina é a Majestade da Beleza no
Coração. (Grifos
meus).
Não
há nada na existência que não contenha seu oposto compensatório.
O
Nome é o mesmo que o 'objeto nomeado', quando se olha a Essência;
mas o Nome não é o mesmo que o 'objeto nomeado' quando se
olha seu significado particular.3
Quando
se descobre o enigma de uma só partícula, se descobre o mistério
de toda a criação, tanto interior como exterior.
Quem
Me perde Me encontra e quem Me encontrou não Me perde.
Se
chegasses a descobrir o Arrebatamento ('Ajd'), conhecerias, então,
a existência real.
O
Homem Perfeito – O Perfeito Conhecedor – poderá,
se ele quiser, afetar qualquer objeto, concentrando toda a sua energia espiritual
na coisa focada. Ele poderá, até mesmo, trazer à existência
uma coisa que efetivamente [ainda]
não exista. Este extraordinário poder é conhecido como
'himmah', e significa energia espiritual concentrada, ou seja, força
criativa do Gnóstico. Um objeto criado por 'himmah' continua a existir
apenas enquanto o 'himmah' o mantém existindo. Todavia, o Verdadeiro
Conhecimento não permite que o 'himmah' seja exercido livremente,
arbitrariamente, irresponsavelmente. E quanto maior o Conhecimento do Conhecedor,
menos possibilidade há do livre exercício do 'himmah'.
'Himmah'
Irresponsável
'Tajalli'
= O que é revelado ao Coração a partir da LLuz Divina.4
Toda
realidade do mundo é um sinal que nos orienta a uma Realidade Divina,
a qual é o ponto de apoio de sua existência e o lugar de seu
regresso quando ela chega a seu termo.
Deus
fez as criaturas como véus. Quem as conhece como tais é conduzido
a Ele; quem as toma como reais não alcança Sua Presença...
As coisas são, com relação a Deus, como véus;
quando desaparecem, fica a descoberto o que existe detrás.
Poder
sem objeto, generosidade sem alguém que a receba, providente sem
alguém a ser provido, ajudante sem alguém para ajudar e compassivo
sem ter um objeto de compaixão são realidades de efeitos nulos.
O
mais básico e primário movimento foi o movimento do mundo,
que passou do estado de não-existência, no qual ele estava
em repouso, para o estado de existência...5
E o movimento que gera a existência do mundo é um movimento
de amor. Isto é claramente indicado pelo Apóstolo quando ele
disse: 'Eu era um tesouro escondido e Eu amava ser conhecido.' E o mundo,
por sua parte, ama testemunhar a si mesmo na existência como costumava
testemunhar este amor no estado arquetípico de repouso. Assim, do
ângulo que se considerar, o movimento do mundo de um estado arquetípico
de não-existência para uma concreta existência foi um
movimento de amor de ambas as partes: do Absoluto e do mundo em si mesmo.
O
Absoluto – pura Unidade –
é a Unidade da Essência Divina.
Processo
criativo
Suspiro do Compassivo
Hálito do Misericordioso.6
Não
misture as coisas. Coloque cada coisa onde a realidade a pôs. Não
diga 'não existe nada além de Deus', mesmo que seja o caso.
Os níveis inteligíveis não distinguem entre 'Ele é
como isto' e entre 'Ele é como aquilo'. A entidade é uma,
como se diz, mas, em respeito a uma coisa, Ele é isto, e, em respeito
a outra coisa, 'Ele é algo diferente.7
Quando
tu te conheceres, o teu ego ilusório desaparecerá, e tu não
serás outro senão Deus.
Todas
as minhas idas e vindas são em direção ao Todo-Compassivo,
para alcançar as presenças da Majestade e da Beleza. Deus
mostrou pura misericórdia e absoluta benevolência no dia em
que nos chamou dizendo: — Desçam!
Diálogo
Final
—
Abre esta Porta pra mim?
—
Não; toma a Chave.
—
Mas eu não sei abrir!
—
Enquanto não tentares, ficarás
no escuro.