Através
das idades, o ser-humano-aí-no-mundo vem buscando uma certa Coisa
além de si próprio, além do bem-estar material –
uma Coisa que se pode chamar Verdade, Deus ou Realidade, um estado atemporal
– algo que
não possa ser perturbado pelas circunstâncias, pelo pensamento
ou pela corrupção humana. Mas, não podendo encontrar
essa Coisa sem nome e de mil nomes que sempre buscou, o ser-humano-aí-no-mundo
cultivou a fé –
fé em um salvador ou em um ideal, fé que, invariavelmente,
sempre gerou a violência. [In:
Liberte-se do Passado (título do original: Freedom
From The Known), de autoria de Jiddu Krishnamurti].
De
maneira geral, vivemos de palavras, e nossas vidas são superficiais
e vazias. Não somos originais. Temos vivido das coisas que nos têm
dito ou guiados por nossas inclinações, nossas tendências
ou, ainda, impelidos a aceitar os blablablás pelas circunstâncias
e pelo ambiente. Somos o resultado de toda espécie de influências,
e em nós, como regra, nada existe de novo, nada descoberto por nós
mesmos, nada original, inédito, claro. Consoante a história
teológica, nos garantem os guias religiosos que, se observarmos determinados
rituais, recitarmos certas preces e versos sagrados, obedecermos a alguns
padrões, refrearmos nossos desejos, controlarmos nossos pensamentos,
sublimarmos nossas paixões e se nos abstivermos dos prazeres sexuais,
então, após torturar suficientemente o corpo e o Espírito,
encontraremos uma certa Coisa além desta vida desprezível.
É isto o que têm feito, no decurso das idades, milhões
de indivíduos ditos religiosos, quer pelo isolamento, nos desertos,
nas montanhas ou em uma caverna, quer peregrinando de aldeia em aldeia a
esmolar, quer em grupos, ingressando em mosteiros e forçando a mente
a se ajustar a padrões preestabelecidos. Mas, a mente que foi torturada
e subjugada, a mente que deseja fugir a toda agitação, a mente
que renunciou ao mundo exterior e se tornou embotada pela disciplina e pelo
ajustamento, por mais longamente que busque, o que achar será e estará
em conformidade com sua própria deformação. [Ibidem.]
A
causa primária da desordem em nós existente é estarmos
buscando a realidade prometida por outrem; mecanicamente seguimos todo aquele
[e tudo aquilo] que
nos promete e nos garante uma vida espiritual confortável. [Ibidem.]
—
Disseram-me para me ajoelhar,
e eu me ajoelhei.
Disseram-me
para meus pecados confessar,
e eu meus pecados confessei.
Disseram-me
para de pé ficar,
e eu de pé fiquei.
Disseram-me
para não me sentar,
e eu não me sentei.
Disseram-me
para mesurar,
e eu mesurei.
Disseram-me
para a mão beijar,
e eu a mão beijei.
Disseram-me para, com H2O benta, me persignar,
e eu, com H2O benta, me persignei.
Disseram-me
para o perdão implorar,
e eu o perdão implorei.
Disseram-me
para o céu desejar,
e eu o céu desejei.
Disseram-me
para a Deus idolatrar,
e eu a Deus idolatrei.
Disseram-me
para minha fé incrementar,
e eu minha fé incrementei.
Disseram-me
para só a Bíblia estudar,
e eu só a Bíblia estudei.
Disseram-me
para só na Bíblia acreditar,
e eu só na Bíblia acreditei.
Disseram-me
para o Te Deum cantar,
e eu o Te Deum cantei.
Disseram-me
para São Longuinho invocar,
e eu São Longuinho invoquei.
Disseram-me
para a Santo António requestar,
e eu a Santo António requestei.
Disseram-me
para a Santa Bernadette venerar,
e eu a Santa Bernadette venerei.
Disseram-me
para, no 26 de setembro, festejar,
e eu, no 26 de setembro, festejei.
Disseram-me
para, no 8 de dezembro, comemorar,
e eu, no 8 de dezembro, comemorei.
Disseram-me
para o diabo adversar,
e eu o diabo adversei.
Disseram-me
para procissionar,
e eu procissionei.
Disseram-me
para o rosário rezar,
e eu o rosário rezei.
Disseram-me
para aos santos rogar,
e eu aos santos roguei.
Disseram-me
para ao Onipotente vindicar,
e eu ao Onipotente vindiquei.
Disseram-me
para Deus arrecear,
e eu Deus arreceei.
Disseram-me para jejuar,
e eu jejuei.
(E eu jejuei até virar faquir!)
Disseram-me para muito dizimar,
e eu muito dizimei.
(E eu dizimei até cair durinho!)
Disseram-me
para ofertar,
(E eu ofertei até ficar a neném!)
e eu ofertei.
Disseram-me
para renunciar,
e eu renunciei.
Disseram-me para não duvidar,
e eu não duvidei.
Disseram-me
para não questionar,
e eu não questionei.
Disseram-me
para acatar,
e eu acatei.
Disseram-me
para não me insubordinar,
e eu não me insubordinei.
Disseram-me para me sacrificar,
e eu me sacrifiquei.
(E eu me sacrifiquei até adoentar!)
Disseram-me para me autoflagelar,
e eu me autoflagelei.
(E eu me autoflagelei até sangrar!)
Disseram-me para não namorar,
e eu não namorei.
Disseram-me para não bailar,
e eu não bailei.
Disseram-me
para, no carnaval, não brincar,
e eu, no carnaval, não brinquei.
Disseram-me
para, na 6ª-feira santa, carne não papar,
e eu, na 6ª-feira santa, carne não papei.
Disseram-me para os gays homofobiar,
e eu os gays homofobiei.
Disseram-me
para das putas me distanciar,
e eu das putas me distanciei.
Disseram-me para os pecadores segregar,
e eu os pecadores segreguei.
Disseram-me para dos infiéis me apartar,
e eu dos infiéis me apartei.
Disseram-me
para outras religiões não freqüentar,
e eu outras religiões não freqüentei.
Disseram-me para celibatarizar,
e eu celibatarizei.
Disseram-me para eremitizar,
e eu eremitizei.
Disseram-me
para no deserto ir morar,
e eu no deserto morei.
Disseram-me
para uma montanha escalar,
e eu uma montanha escalei.
Disseram-me
para em uma caverna me enfiar,
e eu em uma caverna me enfiei.
Disseram-me mil blablebliblobludades,
e eu necas de pitibiribas encontrei.
O
tempo foi passando,
e,
como sempre estive, fiquei.
A
velhice foi chegando,
e
eu me desesperei.
Um
dia, já velho, em Silêncio,
finalmente, eu encontrei.
Então,
pude Compreender,
e,
aí, eu me Libertei.
Até
quando, meu irmão,
você
desfilará no bloco dos não-sei?
No
Coração de todos nós há um Deus;
Ele
é o nosso Verdadeiro Amigo-Rei!

No
Coração de todos nós há um Deus!
Música
de fundo:
The
Sound of Silence
Composição: Paul Simon & Art Garfunkel
Interpretação: Gregorian
Fonte:
https://ilont.org/song/1991768/Gregorian_-_
The_Sound_of_Silence_Simon_Garfunkel_cover/
Páginas
da Internet consultadas:
https://gifer.com/en/8vls
http://buddhavgorode.com/heart-practice/
https://www.123rf.com/
https://www.presentermedia.com/
https://krishnamurtibox.wordpress.com/downloads/livros/
http://diaconosonhador.blogspot.com/
Direitos
autorais:
As animações,
as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo)
neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar
o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright
são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a
quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las,
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