Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Fórmula da Compaixão

 

 

 

É que não foram tão poucas... as vezes que vi a piedade se enganar. Nós, que governamos os homens, aprendemos a sondar-lhes os Corações, para só ao objeto digno de estima dispensarmos a nossa solicitude. Mais não faço do que negar essa piedade às feridas de exibição que comovem o coração das mulheres. Assim como também a nego aos moribundos, e, além disso, aos mortos. E sei bem o porquê. Houve uma altura da minha mocidade em que senti piedade pelos mendigos e pelas suas úlceras. Até chegava a apalavrar curandeiros e a comprar bálsamos por causa deles. As caravanas traziam-me, de uma ilha longínqua, ungüentos derivados do ouro, que têm a virtude de voltar a compor a pele ao cimo da carne. Procedi assim até descobrir que eles tinham como artigo de luxo aquele insuportável fedor. Surpreendi-os a coçar e a regar com bosta aquelas pústulas, como quem estruma uma terra para dela extrair a flor cor de púrpura. Mostravam orgulhosamente uns aos outros a sua podridão e gabavam-se das esmolas recebidas. Aquele que mais ganhara comparava-se a si próprio ao sumo sacerdote que expõe o ídolo mais prendado. Se consentiam em consultar o meu médico, era na esperança de que o cancro deles o surpreendesse pela pestilência e pelas proporções. Chegavam a empregar os cotos para conquistar um lugar no mundo. Daí também o aceitarem os cuidados como uma homenagem e oferecerem os membros a abluções bajuladoras. Mas, apenas o mal os deixava, descobriam-se sem importância. Já nada alimentavam que fosse deles próprios; davam-se por inúteis. O único remédio era ressuscitar de novo essa úlcera que vivia à custa deles. E, uma vez envoltos de novo no seu mal, gloriosos e vãos, pegavam na escudela, e tornavam a empreender o caminho das caravanas. Voltavam a espoliar os viajantes em nome dos seus sórdidos deuses. (Antoine de Saint-Exupéry, in Cidadela).

 

 

Comentário:

 

 

Não nos cabe jamaisnunca julgar.

Não nos cabe colocar à parte.

Quem é quem para montar esta arte?

 

 

Arrebatavam-me os espetáculos teatrais, cheios de imagens das minhas misérias e de alimento próprio para o fogo das minhas paixões. Mas, por que quer o homem se condoer, quando presencia cenas dolorosas e trágicas, se de modo algum deseja suportá-las? Todavia, o espectador anseia por sentir esse sofrimento que, afinal, para ele constitui um prazer. Que é isto senão rematada loucura? Com efeito, tanto mais cada um se comove com tais cenas quanto menos curado se acha de tais afetos (deletérios). Mas ao sofrimento próprio chamamos ordinariamente desgraça, e à comparticipação das dores alheias, compaixão. Que compaixão é essa em assuntos fictícios e cênicos, se não induz o espectador a prestar auxílio, mas, somente, o convida à angústia e a comprazer o dramaturgo na proporção da dor que experimenta? E se aquelas tragédias humanas, antigas ou fingidas, se representam de modo a não excitarem a compaixão, e espectador retira-se enfastiado e criticando. Pelo contrário, se se comove, permanece atento e chora de satisfação. Amamos, portanto, as lágrimas e as dores. Mas todo o homem deseja o gozo. Ora, ainda que a ninguém apraz ser desgraçado, apraz-nos, contudo, a ser compadecidos. Não gostaremos nós dessas emoções dolorosas pelo único motivo de que a compaixão é companheira inseparável da dor? A amizade é a fonte destas simpatias. (Santo Agostinho, in Confissões).

 

 

Comentário:

 

 

Quem explora as patologias humanas,

quem se beneficia das fraquezas humanas,

é um desnaturado milmil vezes desgraçado,

que retribuirá milmil e uma vezes ao quadrado.

 

 

A piedade é um sentimento natural, que, moderando em cada indivíduo a atividade do amor de si próprio, concorre para a conservação mútua de toda a espécie. É ela que nos leva sem reflexão em socorro daqueles que vemos sofrer; é ela que, no estado de natureza, faz as vezes de lei, de costume e de virtude, com a vantagem de que ninguém é tentado a desobedecer à sua doce voz; é ela que impede todo o selvagem robusto de arrebatar a uma criança fraca ou a um velho enfermo a sua subsistência adquirida com sacrifício, se ele mesmo espera poder encontrar a sua alhures; é ela que, em vez desta máxima sublime de justiça raciocinada, faz a outrem o que queres que te façam, inspira a todos os homens esta outra máxima de bondade natural, bem menos perfeita, porém mais útil, talvez, do que a precedente: faz o teu bem com o menor mal possível a outrem. Em uma palavra, é nesse sentimento natural, mais do que em argumentos sutis, que é preciso buscar a causa da repugnância que todo o homem experimentaria em fazer mal, mesmo independentemente das máximas da educação. Embora possa competir a Sócrates e aos espíritos da sua têmpera adquirir a virtude pela razão, há muito tempo que o gênero humano não mais existiria se a sua conservação tivesse dependido exclusivamente dos raciocínios dos que o compõem. (Jean-Jacques Rousseau, in Discurso Sobre a Origem da Desigualdade).

 

 

Comentário:

 

 

Devemos fazer o que deve e precisa ser feito.

Fazer aquilo que queremos que nos façam?

Quem faz a outrem o que quer que lhe façam

está agindo de forma casuística e hipotética

– uma dupla nescidade: aMoral e anÉtica!

É preciso reconsiderar e corrigir este malfeito.

 

 

A compaixão é que nos torna verdadeiramente humanos e impede que nos transformemos em pedra, como os monstros de impiedade das lendas. (Anatole France).

 

 

Comentário:

 

 

Já fui microorganismo, árvore e rochedo;

já arqueei, já padeci e já tive medo.

Hoje, sou tão-só um falível ser humano.

Amanhã, sim, serei super-humano!

 

 

Todas as almas nobres têm como ponto comum a compaixão. (Friedrich Schiller).

 

 

Comentário:

 

 

Alma de nobre ou de sandeu,

alma de pobre ou de corifeu,

alma plebéica ou de soldão:

miseração, consternação, compaixão.

 

 

Nenhum ser humano poderá encontrar a felicidade enquanto a seu lado existir o sofrimento de outros seres. A felicidade só poderia realmente existir se todas as pessoas, todos os seres, pudessem participar dela. Se cada ser humano, cada animal, cada planta, cada mineral, são todos parte de uma única Essência Cósmica Universal, tudo o que acontece a uma dessas partes reflete no Todo. Assim, se somente alguns seres promovem o bem para si, esquecendo os demais, estão apenas acentuando o desequilíbrio da Grande Engrenagem do Universo. Para que fosse possível a ocorrência da felicidade, esta deveria abranger todos os seres, quando então não haveria qualquer tipo de desequilíbrio ou desarmonia. Por outro lado, sentir pena de algum ser ou do que quer que seja significa que estamos nos sentindo em uma condição superior a daquele ser, no sentido de que nos encontramos em uma situação melhor do que a dele, por não estarmos passando pelo mesmo sofrimento que ele vive naquele momento. E, neste caso, geralmente, nos permitimos algum tipo de julgamento quanto a este ser ou mesmo quanto à situação que originou este sofrimento. Assim, ter compaixão significa colocar-se incondicionalmente ao lado do outro, sem qualquer tipo de julgamento quanto à situação que ele está vivenciando, sem nenhum outro sentimento que não seja o de propiciar alívio à situação na qual aquele ser se encontra. Compassividade é, portanto, um abrir incondicional do próprio Coração, uma doação incondicional da própria energia, para que o outro ser consiga superar suas dificuldades, desde que ele aceite receber esta energia, ou seja, a pessoa precisa querer ser ajudada, precisa querer reagir, caminhar. A compaixão exige de nós uma atitude, uma ação. Exige que nos coloquemos na situação em questão, e que nos ofertemos, ou a algo de nós mesmos, para que esta situação se resolva. Exige que estejamos presentes, que sejamos atuantes, que nos posicionemos. (Fragmento editado de um texto sobre Psicologia Gnóstica).

 

 

Comentário:

 

 

A compaixão perguntou à compaixão

qual deve ser o tamanho da compaixão.

A compaixão respondeu à compaixão

que o tamanho da compaixão

 

 

Melhorar o mundo é melhorar os seres humanos. A compaixão é a compreensão da igualdade de todos os seres, é o que nos dá força interior. Se só pensarmos em nós mesmos, nossa mente fica restrita. A Medicina já constatou que quem é mais feliz tem menos problemas de saúde. Quando cultivamos a compaixão temos mais saúde. (Dalai Lama).

 

 

Comentário:

 

 

Os seres humanos longe estão de ser iguais;

na verdade, são inteiramente diferentes.

Todavia, não é por serem desiguais

que deverão continuar ad æternum indigentes!

(Sei que S. S., o Dalai Lama, sabe isto).

 

 

 

 

 

 

 

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.seedsofcompassion.org/
photos/default.asp

http://www.sfi.com.sg/
company/vision_mission.asp

http://www.gnosisonline.org/Psicologia
_Gnostica/O_Que_e_Compaixao.shtml

http://luzindigocristal.blogspot.com/
2008/06/frmula-da-compaixo-primeira-chave.html

http://www.citador.pt/citacoes.php?Compaixao=
Compaixao&cit=1&op=8&theme=533&firstrec=0

http://www.citador.pt/pensar.php?
op=10&refid=200502042355

http://www.citador.pt/pensar.php?
op=10&refid=200805221400

http://www.citador.pt/pensar.php?
op=10&refid=200707052300

 

Música de fundo:

Fascination
Compositores: Fidenco Dante Marchetti & Maurice De Feraudy
Intérprete: Nat King Cole

Fonte:

http://www.pcdon.com/NatKingCole.html

 

 

 

 

 

 

Dalai Lama e Desmond Mpilo Tutu