Por
definição, o Código da Bíblia é um conjunto
codificado de palavras e de frases que supostamente teria um significado
especial e futurológico. Alguns crêem que, por inspiração
(ou intermediação) divina, o Código foi intencionalmente
colocado de forma codificada e oculta nos textos bíblicos. Este código
se tornou famoso através do livro The Bible Code, de Michael
Drosnin, que sugere que ele oferece avisos sobre o futuro. O matemático
israelense Eliyahu Rips (que aplicou a técnica daquilo que é
conhecido como Skip Code ou Equidistant Letter Sequence
– ELS) e o jornalista americano Michael Drosnin estão convictos
de que é possível decifrar o Código da Bíblia
por meio de operações matemáticas por computador. Segundo
os pesquisadores, no Código estariam previstos o Holocausto, a morte
de Yitzhak Rabin (1º de março de 1922 – 4 de novembro
de 1995) e a presidência de Bill Clinton, entre outros acontecimentos.
Neste meio tempo, porém, também se ouviram vozes discordantes
questionando ou rejeitando o Código. Vários especialistas
o classificaram simplesmente como uma espécie de acrobacia numerológica.
Eu tenho uma outra explicação para o presumido Código,
que apresentarei nas conclusões.
Neste
breve e despretensioso estudo sobre o
Código da Bíblia que estou divulgando nada é novo,
até porque não sou especialista neste assunto. Talvez, o que
seja novo sejam as conclusões especulativas que apresento no final.
Mas como elas estão embasadas em anotações que fiz
em trabalhos anteriores, é possível que não haja mesmo
nada de novo neste estudo. Todavia, não delete já este arquivo;
pelo menos, dê uma rápida espiada.
O
Código
Segundo
alguns especialistas, o denominado Código da Bíblia são
mensagens codificadas impressas na Torah1
e no restante do Antigo Testamento em forma de matrizes, sendo possível
encontrá-las e esquadrinhá-las (horizontal, vertical e diagonalmente)
com o auxílio de um software de computador, que foi produzido
especificamente para este tipo de investigação. Entretanto,
quem desejar se aventurar na decodificação deve estar consciente
de que não é fácil encontrar as tais mensagens codificadas,
pois, para começar, é necessário possuir conhecimento
do hebraico antigo. A técnica está primacialmente baseada
no uso das palavras corretas (em hebraico antigo) e na probabilidade de
elas aparecerem em uma matriz.
No final do século XVIII,
um sábio judeu, conhecido como Genius de Vilna, referindo-se à
Torah, afirmou: A
regra é que tudo o que foi, tudo o que é e tudo o que será,
até o fim dos tempos, está incluído na Torah, da primeira
à última palavra. E não só em um sentido geral,
mas nos pormenores
de cada espécie e de cada um individualmente, com pormenores dos
pormenores
de tudo o que lhe aconteceu desde o dia de seu nascimento até sua
morte. Mas como isto pode
ser possível, se o texto original do Antigo Testamento contém
apenas 304.805 letras? Segundo Eliyahu Rips, em
tese, não há limite algum para a quantidade de informações
que podem ser codificadas.
Se temos um conjunto finito, podemos procurar pelo conjunto de potências
e pelo conjunto de todos os seus subconjuntos. E cada elemento de cada conjunto
pode estar a intervalos diversos. Mas,
se
tudo o que foi, tudo o que é e tudo o que será, até
o fim dos tempos, está incluído na Torah,
o livre-arbítrio serve
para quê? Para fazer pastel de vento?
A
seguir, de milhares de fatos já pesquisados, reproduzo uma pequena
lista de alguns encontrados:
•
Os nomes de 32 importantes sábios judeus codificados com as suas
respectivas datas de nascimento e de morte no Livro do Gênesis.
Esta é considerada a maior prova de todas. A probabilidade desta
codificação é de 1 em 107!
•
Datas e nomes dos envolvidos nas duas primeiras guerras mundiais.
•
Datas de terremotos já ocorridos, como o da China em 1976, e de outros
que ainda poderão ocorrer na China, no Japão e em Los Angeles.
•
Choque do cometa Shoemaker-Levy 9 com Júpiter, em 1994, e de outras
possíveis colisões de cometas com a Terra.
•
Data dos holocaustos nucleares no Japão, em 1945.
•
Data da Revolução Comunista na Rússia em 1917.
•
Data do assassinato do presidente egípcio Muhammad Anwar Al Sadat
(1918 – 1981) em um desfile militar e o nome do assassino (membro
da Jihad Islâmica Egípcia): Khaled Islambouli.
•
Data do primeiro ataque de Saddam Hussein (1937 – 2006) contra Israel
(Tel Aviv), em 18 de janeiro de 1991.
•
Data do assassinato do Primeiro-ministro Israelense Yitzhak Rabin (1922
– 1995) pelo estudante judeu ortodoxo Yigal Amir, em 4 de novembro
de 1995.
•
Possível epidemia de Varíola em 2005. Talvez seja a recente
descoberta da Gripe do Frango.
•
Blasfêmia no templo do Monte Moriá, em Jerusalém,
em 2008.
•
O Presidente da Síria, Bashar Al Assad, está codificado com
a Guerra do Armagedon: Armagedon, holocausto de Assad.
•
Síria codificada com Guerra Mundial e com Magogue.
•
O nome Ariel (Ariel Sharon?) codificado com Guerra Mundial.
•
Queda do Governo de Saddam Hussein, em 2003, com detalhes sobre a sua captura.
•
Enfim, somente no Antigo Testamento, o nome Arafat aparece 1015 vezes, Blair
758 vezes, Bush 1643 vezes, ebola 21 vezes, Hitler 2 vezes, bomba 1413 vezes
e besta 8 vezes.
A
Bíblia
Resumidamente,
a Bíblia (mais particularmente a Torah) pode ser examinada
de quatro formas distintas: 1ª) religiosa; 2ª) histórica;
3ª) simbólico-alegórica; e 4ª) arqueométrico-KaBaLística.
Hoje, com o advento dos computadores, talvez, se possa incluir uma quinta
modalidade, qual seja, a computacional. Para efeito deste estudo, vou recordar
três pontos bíblicos interessantes, mas exclusivamente circunscritos
ao âmbito KaBaLístico-arqueométrico.
1º)
A primeira frase do Gênesis é BeREShITh
BaRA ELOHIM. BeREShITh
– que, simbolicamente, significa começo manvantárico
– equivale às cifras 2–200–1–300–10-400.
Estas seis cifras simbolizam as Seis Forças Cósmicas que presidiram
a Obra, ainda inconclusa, dos seis dias. Este saber também se encontra
expresso no Hexagrama de Salomão. BaRA
– que significa Criar (no sentido de concepção mental
da criação) – possui as cifras 2-200-1. No começo
criou Elohim. Sobre a palavra Elohim (ALHIM)
duas observações devem ser feitas: sua terminação
IM
indica caráter plural (AL
e ALH)
e expressa precisamente Justiça Divina. Tanto BeREShITh
quanto BaRA começam
com a letra BET,
cujo valor aritmológico é 2 (dois), idêntico a duplicar.
Dois alcança sua diferenciação máxima em RESh
(200), para depois ser reintegrado novamente na Unidade (1) – ALeF.
Só para aquele que ainda vive no nível 2-200 essa possibilidade
não foi sentida. E assim, o Universo terá que volver à
consciência da Uni(ci)dade. Por outro lado, ao se dividir BeREShITh
em BeRE
e ShITh,
BeRE
contém as cifras 2-200-1, semelhante a BaRA
(ou seja, BRA),
que somadas dão 203. A adição teosófica produz
5, valor aritmológico da letra HE,
símbolo da Vida Absoluta – primeiro HE
de IEVE
– (há ainda uma correspondência direta entre a letra
HE e
o hieróglifo egípcio representado por um pequeno homem de
pé com os braços abertos em sinal de plena vida). Já
ShITh
contém as cifras 300-10-400, que somadas equivalem a 710, que significa
repouso. Movimento – repouso. BeRE—ShITh.
710, em outra dimensão, equivale teosoficamente à letra HeT
(8), que pretende simbolizar a existência elementar e protoplástica,
estando associada ao sentido da visão e à mão direita
do corpo humano. Exprime, sob outra ótica, a idéia de equilíbrio
(trabalho e ação moral e legislativa). Ainda, por outro ângulo,
as cifras 300-10-400 contêm implicitamente as cifras 3 e 4 (homem
e mulher), cuja culminação acontecerá em 5 (ou 500).
Por isto, quando o tempo se houver cumprido, quinhentos haverá de
ser realizado, ou em outros termos, 1-2-1, ou, ainda, ABR.......A. A soma
teosófica das cifras de BeREShITh
conduz ao número 913, que, por adição, é igual
a 13, e, posteriormente, reduz-se a 4. 13 está associado a MeM,
décima terceira letra do alfabeto hebreu, e 4 é o Valor Externo
da letra DaLeT.
Ambas as letras têm um sentido complementar que envolve os conceitos
de maternidade, de fecundidade, de passividade, de abundância, de
nutrição e de divisão. Tanto MeM
quanto DaLeT
representam o segundo ponto do triângulo, ou, o segundo cateto do
Triângulo Retângulo do Teorema de Pitágoras (3, 4, 5).
E assim, a descontinuidade não se perde (ou perderá) em uma
progressiva e indefinida divisão, eis que, o limite da expansão
diastólica da Consciência sob a forma de Nous
são os elétrons (positivos e negativos). Tudo haverá
de retornar ao Um. Prâlâya.
Depois, novo Mânvântâra.
Indefinida e ilimitadamente. A KaBaLa,
portanto, primeiramente, ensina que o homem (microcosmo) é a representação
exata do Universo (Macrocosmo), e é composto por três elementos
essenciais, que se sintetizam na unidade do ser. O Três preside a
KaBaLa,
a KaBaLa
preside o Universo, e o Universo e o(s) ser(es) constituem uma única
célula. Tudo é UM.
2º)
AHIH ASheR AHIH
= Eu-sou o que Eu-sou. Esta sentença é equivalente a: Eu-sou
888, o Deus do meu Coração. Isto pode ser entendido assim:
AHIH
= (1 + 5 + 10 + 5)
ASheR
= (1 + 300 + 200)
AHIH
= (1 + 5 + 10 + 5)
AHIH
+ ASheR +
AHIH
= (1 + 5 + 10 + 5) + (1 + 300 + 200) + (1 + 5 + 10 + 5)
(21)
+ (501) + (21) = 543
O reverso
de 543 é a face de 345
Logo,
345 + 543 = 888.
2º)
Ainda que não corresponda ao Nome Iniciático de Jesus, em
grego, Jesus é IESOUS (
),
que tem valor numérico igual a 888.
10
+ 8 + 200 + 70 + 400 + 200 = 888
888
= 8 + 8 + 8 = 24
24 =
2 + 4 = 6
6 =
Valor Secreto de 3, ou seja:
3 =
1 + 2 + 3 = 6.
O
que se pode depreender destes três exemplos? Simplesmente que o texto
bíblico é, na origem, numérico. Cada letra arqueométrico-KaBaLística
gera uma palavra igualmente arqueométrico-KaBaLística.
Para complicar, há operações cabalísticas que
envolvem a Temurah
(troca e analogia que podem ser feitas entre as palavras, cuja relação
ou afinidade está indicada por certas trocas na posição
das letras ou trocas mediante a substituição de uma letra
por outra, ou seja, combinação das letras de uma palavra com
outras, que alteram o seu valor e significado), a Gematria
(método hermenêutico de análise das palavras bíblicas
somente em hebraico, que atribui um valor numérico definido a cada
letra) e o Notarikon
(sistema cabalístico que considera cada palavra hebraica como um
acróstico, do qual se deriva uma nova palavra de cada uma de suas
letras; no primeiro tipo de Notarikon,
cada letra de uma palavra passa a ser a inicial de outra palavra; no segundo
tipo de Notarikon,
ocorre exatamente o oposto, ou seja, toma-se a primeira letra das palavras
de uma frase e formar uma palavra).
E há, ainda, outros sistemas
criptológicos como, por exemplo, o AThBaSh,
o ALBaM e o
ATBaH. O AThBaSh
é uma criptografia de simples substituição do alfabeto
hebraico. Ele consiste na substituição do ALeF
(a primeira letra) pela TaV
(a última), de BET
(a segunda) pela ShIN
(a penúltima), e assim por diante, invertendo o alfabeto usual. Já
o ALBaM
é uma substituição monoalfabética. Diferencia-se
do AThBaSh
somente pela forma como a tabela de substituição é
montada: cada letra é deslocada em 13 posições. A primeira
letra do alfabeto hebreu (ALeF)
é trocada por LaMeD
e BET
é trocada por MeM.
Daí a origem do nome da cifra: ALeF-LaMeD-BET-MeM,
ou seja: ALBaM.
No sistema ATBaH,
o deslocamento das letras
do alfabeto obedece um critério especial, no qual a primeira letra
do alfabeto hebreu (ALeF)
é trocada por TeT
e a segunda (BET)
é trocada por HeT.
Como conseqüência, ALeF-TeT-BET-HeT,
ou seja: ATBaH.
Logo,
longe está de ser fácil mergulhar nos meandros e nas sinuosidades
da Bíblia. Admitir que o que se lê é o que se lê
é uma infantilidade. Mas, daí a afirmar que nela está
embutido um certo Código inamovível e imodificável
inspirado por Deus é uma crueldade injustificável, meio que
uma espécie de esquizofrenia paranóide.
O
Tempo
Podemos
aceitar e consentir que há dois tipos de tempo. Para os diferençar,
digitarei tempo e Tempo. O primeiro – tempo – é aquele
que percebemos na objetividade do dia-a-dia; o segundo – Tempo –
é o Tempo Cósmico, que, em princípio, inexiste como
tempo.
Em
um sentido estrito, tempo é a quantidade do movimento de um corpo
ou de um sistema de corpos medido analogicamente pelo movimento de outro
corpo. Este é o conceito aplicado na Mecânica, por se aproximar
mais precisamente do conceito de tempo percebido pelos sentidos dos animais,
isto é, o sentimento do movimento de um corpo em relação
a outro. A concepção comum de tempo é indicada por
intervalos ou períodos de duração.
Por
influência da Teoria da Relatividade, idealizada pelo físico
Albert Einstein (1879 – 1955), o tempo vem sendo considerado como
uma quarta dimensão do Continuum
espaço-tempo do Universo, que possui três dimensões
espaciais e uma temporal. Em Física, espaço-tempo é
o sistema de coordenadas utilizado como base para o estudo da Relatividade
Especial e da Relatividade Geral. O tempo e o espaço tridimensional
são concebidos em conjunto como uma única variedade de quatro
dimensões, a que se dá o nome de espaço-tempo. Um ponto,
no espaço-tempo, pode ser designado como um acontecimento. Cada acontecimento
tem quatro coordenadas (x,
y, z,
t). Pontos no espaço-tempo
são chamados de eventos, e são definidos por quatro números
– x, y,
z, ct
– onde c é a velocidade da luz, e pode ser considerada como
a velocidade com a qual um observador se move no tempo. Isto é, eventos
separados no tempo de apenas 1 segundo estão a 300.000 km um do outro
no espaço-tempo.
Ora,
isto é uma tentativa de explicação – excelente
e inspiradíssima, por sinal! – para as relações
e para os fenômenos objetivos, para as coisas do Universo, que são,
que se manifestam e que, objetivamente, tão-somente podem ser no
tempo. O Tempo Universal, Cósmico, não está vinculado
a nada, simplesmente porque ele não existe como tempo objetivo, ou,
entendido de outra forma: o Tempo Universal, Cósmico, é um
Tempo sempre-existente, incriado e independente do que quer que seja.
Mas,
se, absurdamente, o Tempo Universal, Cósmico, existisse ou tivesse
existido como simples tempo, teria havido um começo; e para que houvesse
um começo, o que quer que fosse gerado neste começo teria
que vir do nada, fosse por criação, fosse por abiogênese
(geração espontânea). Todos os místicos de todas
as fraternidades sabem que, para
o Ser, nunca houve um começo, porque o nada não pode dar origem
a coisa alguma. E assim, nihil
novi sub Luna (não há nada de novo sob a Lua),
nihil novum sub
Sole (não há nada de novo sob o Sol) e nihil
novum super Terram (não há nada de novo sobre
a Terra). Portanto, só podemos concluir: Nihil
est ignorantia funesta; ignorantia scientiæ inimica. Nada
é mais funesto do que a ignorância; a ignorância é
inimiga do saber.
Penso
que não possa haver, portanto, de um lado, um Deus
Sive Natura (Deus identificado
com a Natureza), uma Natura
Naturans (Natureza Atuante,
Causa Primeira ou Aquilo que é em Si e por Si é concebido),
e, de outro, uma natura
naturata (natureza
atuada, substância emanada ou tudo aquilo que existe em Deus e não
pode existir nem ser concebido sem Deus).
Conseqüentemente, não é razoavelmente compreensível
nem racionalmente admissível que uma Natura
Naturans, se existir (ou existisse) como tal, do nada tenha
fabricado qualquer natura
naturata, sabendo ou determinando a
priori que ela fracassaria em seus esforços para existir.
Isto seria uma crueldade sesquipedal! Logo, sob este aspecto, o Código
Bíblico é um tremendo papo-furado!
Mas,
se pudermos transcender o tempo objetivo, no sentido compreensivo de nos
elevarmos sobre, de irmos além dos limites de, de nos situarmos para
além de... É com este tema que elaborarei as conclusões
deste ensaio.
Especulações
Conclusivas
O cientista e físico teórico
alemão Albert Einstein (1879 – 1955) admitiu que a
distinção entre passado, presente e futuro é apenas
uma ilusão, embora persistente. É exatamente esta
persistência que nos ilude e nos obriga a certas dependências
e a muitas crenças e conclusões inexatas. Mas, se nos livrarmos
da dependência do tempo objetivo, como sói acontecer quando
dormimos ou em certos estados psíquicos, poderemos, dentro de limites,
experimentar uma certa ubiqüidade relativa e reveladora.
Se
é fato, conforme afirmei um pouco acima, que o Tempo Universal, Cósmico,
sem começo nem fim, não está vinculado a nada, é
possível que no estado de projeção também não
fiquemos limitados àquilo que entendemos como passado e como futuro.
Então, talvez seja exeqüível e realizável que
possamos ver tanto o que já passou como o que ainda não aconteceu!
Mas, esta pressuposição é, na origem, contraditória
e incoerente, pois, se o Tempo Cósmico é o que sempre foi
e é o que sempre será, ou seja, é o que é, na
realidade, o que é (ou pode ser) perceptível em projeção
é algo que está acontecendo no presente, só que, para
nós, equivocadamente, é decodificado com características
de passado e de futuro. Isto, de um lado poderá parecer uma loucura
esquizofrênica, e, de outro, agasalhar um predeterminismo perverso
para tudo e para todos. Ora, não é assim; est
modus in rebus, sunt certi denique fines. Há uma justa
medida em todas as coisas.
Não
é loucura nem há predeterminismo na ponderação
acima, porque o que já está feito já está feito;
o que não está feito, eventualmente, poderá (ou não)
ser feito. Profecia não é nada mais nada menos do que isto.
Mas, na profecia, como muitos (ou todos) pensam, não há predição
do futuro; há, sim, efetivamente, percepção do que
já aconteceu. Raciocine comigo: quando lemos um livro ou quando vemos
um filme, os desfechos, nestes casos, estão determinados de antemão,
pois o livro já está escrito e o filme já
foi feito. Em outras palavras: não podemos mudar a trama do livro
nem o enredo do filme; eles estão prontos e acabados. Mas,
se tudo já estivesse predeterminado, como querem os defensores da
existência de um Código Bíblico, de que adiantaria viver,
de que adiantaria viver e se esforçar para melhorar, de que adiantaria
viver, se esforçar para melhorar, pensar que conseguiu, para, um
dia, por determinação preestabelecida, tudo acabar em pizza
ou dar em água de barrela? Se assim fosse, qualquer esforço
viraria uma espécie de bulhufas. Logo, não posso concordar
com o que está proposto no livro The Bible Code, de Michael
Drosnin, que sugere que o Código Bíblico oferece avisos sobre
o futuro – futuro este irremediavelmente já desenhado e, geralmente,
comprometido e catastrófico.
Então,
se houver efetivamente um Código Bíblico – coisa que
não nego nem afirmo que seja fato ou ficção, porque
o tema não me atrai nem me mobiliza – é possível
que ele tenha sido obra de alguém (ou de um Colégio), que,
de uma forma ou de outra, penetrou nos Arquivos Akáshicos, e viu,
por assim dizer, o eterno presente do Tempo – que existe como Tempo,
mas que não existe como tempo – e o codificou na Bíblia,
como poderia tê-lo cifrado em um outro clássico qualquer, como,
por exemplo, no Mahabharata, no Livro de Urântia
ou em Os Lusíadas.
Por
quê e por quem foi estabelecido o Código Bíblico? Com
qual finalidade? Como? Existe mesmo um Código Bíblico? Não
sei responder a nenhuma destas perguntas; só posso especular e dialetizar.
O que respeitosamente não aceito, sob nenhuma das alegações
apresentadas, são as explicações correntes e catastrofistas
oferecidas para esta matéria. E isto é muito simples de ser
entendido: se eu ou você, amanhã, no nosso tempo objetivo,
iremos a pé, de táxi, de ônibus ou de carona, isto não
pode estar escondido e predeterminado em nenhum código nem nos Arquivos
Akáshicos; nenhum de nós é uma marionete movida por
meio de cordéis manipulados por um Deus
Sive Natura ou por
uma Natura
Naturans, que, por tédio, por desgosto, por inveja ou
por sei lá o quê, um dia, resolveu inevitável e predeterministicamente
sacanear o Universo e os seres do Universo.
Ora,
nós poderemos, inclusive, nem ir a lugar algum! Agora, se nós
já tivermos ido, isto são outros quinhentos. Seja como for,
o que atrapalha sobremodo nestas especulações são os
tempos verbais; mas, elucubração, especulação
e dialética não fazem mal a ninguém. Somos livres para
tudo, e é elucubrando, especulando e dialetizando que, paulatinamente,
vamos nos tornando cada vez mais livres.
O
fato inquestionável e definitivo é que é exatamente
o livre-arbítrio (e não o conjecturado e aclamado Código
da Bíblia) que escreve a História. Claro, a História
do que, de fato, ainda não aconteceu! Zero para idéias prisionais
predeterminísticas; dez para o livre-arbítrio. Se queremos,
então, podemos. Quem pode dizer não? Metamos isto na cachola,
e o resto... Bem, o resto é o resto, que só pode interferir
em que autoriza que ele interfira.
Não
esqueçamos jamais do Axioma Zoroastriano: SABER, QUERER, OUSAR, CALAR.