Os
poetas gnômicos [gnoma
significa pensamento expresso de forma concisa, lapidar e breve] e
moralistas e os chamados 'Sete Sábios' são os precursores
e preparadores da reflexão filosófica, e têm que ser
inseridos na cadeia de seu desenvolvimento histórico como elo anterior
e necessário, sem o qual o elo sucessivo permanece suspenso no vazio
e não se pode compreender em sua verdadeira realidade e em seu genuíno
significado histórico.
Toda
visão unitária da Natureza não é senão
uma projeção, no Universo, da visão da 'pólis'
[Cidade-Estado, na Grécia
Antiga].
Com
as sugestões dos moralistas, colaboram, no Naturalismo pré-socrático,
muitas outras, procedentes das técnicas dos artesãos e utilizadas
para a compreensão dos processos naturais.
A
prioridade da reflexão sobre o mundo humano em relação
à que se dirige ao mundo natural aparece confirmada ainda em outro
aspecto. As concepções dos processos cósmicos e as
explicações de sua geração propostas pelos naturalistas
pré-socráticos são tomadas... de sugestões oferecidas
pelas técnicas criadas pelos homens e utilizadas na época
daqueles naturalistas.
Ora,
para certas pessoas, é mais proveitoso parecer que são sábios
do que sê-lo realmente sem o parecer (pois a arte sofística
é o simulacro da sabedoria sem a realidade, e o sofista é
aquele que faz comércio de uma sabedoria
aparente, mas irreal).
Os
orientais estabeleceram certo programa para o futuro desenvolvimento do
pensamento grego. Vieram deles as seguintes idéias: 1ª) unidade
unimultiversal, baseada na idéia de unidade divina; 2ª) cosmogonia,
representando a passagem do uno unimultiversal para a distinção
dos seres; 3ª) o processo cosmogônico destinado a explicar a
origem e o desenvolvimento dos seres; 4ª) sentido de harmonia em a
Natureza responsável pela união de todos os seres; 5ª)
necessidade da lei capaz de governar todas as coisas; e 6ª) dualismo
corpo/alma.
Os
primeiros céticos, Pirro de Élis e Timon de Fliunte, colocam
três problemas capitais para o sábio: 1º) qual é
a natureza das coisas; 2º) que atitude devemos assumir face à
elas; e 3º) que resultará desta atitude. À primeira questão,
respondem (desenvolvendo reflexões do relativismo de Heráclito
e de Protágoras) que só conhecemos o que sentimos. Podemos
afirmar que o fenômeno é tal como nos aparece – por exemplo,
que o mel nos parece doce – mas não que tal seja o seu ser
em si. E por isto, a resposta à segunda questão é que
devemos reconhecer e seguir os fenômenos, suspendendo o juízo
sobre o que está oculto (a coisa em si). Desta maneira, temos no
fenômeno o critério necessário para a conduta prática,
sem possuirmos o inalcançável critério da verdade objetiva.
A
efetiva compreensão do curso histórico se dá pela indagação
de problemas e não de sistemas.
A
purificação é, ao mesmo tempo, intelectual e moral:
é uma libertação pela qual o Espírito se torna
puro e disposto para a verdadeira atividade que lhe compete... E eis aqui
onde aparece em Sócrates a semelhança com Pitágoras.
Sócrates aplica a purificação de maneira harmônica
com o ativismo da sua pedagogia, que não permite que aquele a quem
se refuta permaneça em uma atitude passiva, semelhante a um enfermo
ante aquele de quem recebe o purgante, mas, o obriga a cooperar ativamente
na refutação, etapa que o educador mais dirige do que efetua.
É assim que a refutação consegue a sua maior efetividade;
é assim que, ao engendrar, em relação ao conhecimento,
uma dúvida metódica, a transforma em preparação
necessária e estímulo para a investigação.


Ao
transformar o mundo, a práxis [ação
concreta]
se auto-subverte, transformando quem o transforma.
Para
compreender bem Marx é necessário ter compreendido corretamente
a Feuerbach.
Lassalle
herdou de Fichte o entusiasmo nacionalista, que atribuía a missão
unimultiversal de encarnar o conceito do império do direito e do
reino vindouro da liberdade perfeita.
As
teses nucleares da reflexão filosófica, essencialmente historicista,
de Mondolfo aportam os seguintes filosofemas: 1º) a idéia
de uni[multiplici]dade
da Humanidade; 2º) a idéia de não-superioridade dos povos;
3º) a idéia de Humanidade não pode ser esgotada em um
único povo; 4º) a idéia de horizontalidade do processo
histórico, com avanços e retrocessos, descrevendo uma linha
irregular, mas, que, tomados em conjunto, significa progresso; 5º)
a idéia de continuidade do processo histórico; 6º) a
idéia do caráter dialético do desenvolvimento histórico;
7º) a idéia de que o homem é o centro do processo histórico;
8º) a idéia da importância das necessidades e dos valores
econômicos no processo histórico; 9º) a idéia de
união de necessidade e liberdade; e 10º) a idéia da unidade
do Espírito humano. [Ou
seja: tudo está interconectado, inter-relacionado, associado, coligado.]
Não
é verdade que o homem observava as coisas mais distantes (como o
céu) e se debruçava sobre os problemas da Natureza antes de
considerar as coisas humanas e de se ocupar com os problemas da vida. Precisamente
o oposto é verdadeiro, ou seja, os problemas humanos e os conceitos
a eles referentes deram o modelo e a orientação para as primeiras
reflexões sobre a Natureza.
O
incessante escrutínio de si mesmo para se conhecer intelectual e
moralmente, para reconhecer as próprias falhas espirituais e para
se melhorar mediante este contínuo exame de consciência constitui
uma perene e imprescindível exigência cognoscitiva e ética.
E, neste processo, há uma vinculação inalienável
entre o próprio aperfeiçoamento interior e o dos demais, isto
é, há uma obrigação moral de cooperar no aperfeiçoamento
espiritual do próximo.
A
elevação intelectual e a alteação moral constituem
o verdadeiro bem e a satisfação íntima de cada um e
de todos, lei de autonomia e fonte da verdadeira felicidade.
O
materialismo histórico demonstra a tenacidade com a qual mantém
uma tradição interpretativa.
A
existência, que tem por excelência o sentimento de si mesma
e da vida, é a consciência do pensamento [do
ato de pensar]. Portanto,
o conhecimento, que é sua atividade, provém da necessidade
de si mesmo, do sentimento de privação, da consciência
de uma lacuna a ser preenchida, de uma limitação por superar.
A relação entre o sujeito e o objeto é uma oposição
que origina um desenvolvimento dialético: o objeto, opondo-se ao
sujeito como sua negação, dá impulso à afirmação
do sujeito sobre o objeto. Nisto estão constituídos o conhecimento
e a práxis.
Ou
a nação é uma necessidade revolucionária da
cidadania ou é mera ideologia e invenção.
Os
primeiros passos da civilização grega foram dados exatamente
– fato significativo – nas colônias da Ásia Menor,
onde o contato direto e indireto com os povos mais adiantados do Oriente
estimulou as energias criadoras do gênio helênico, que logo
afirmaram o seu poder maravilhoso, superando rapidamente toda a criação
das culturas predecessoras.
Milagre Grego =
Ciência +
Filosofia. [Não vou
corrigir o meu ilustre xará, mas, acrescentar: Milagre
Grego
=
Ciência +
Filosofia + Iniciação.
Mas, se algum milagre existir (coisa que, no Unimultiverso, não
acredito que exista), sem a Iniciação
ele será um milagre capenga!]
O
intelecto humano compreende algumas proposições tão
perfeitamente e tem tão absoluta certeza, quanto pode ter a própria
Natureza; e isto ocorre nas ciências matemáticas puras das
que o intelecto divino sabe, não obstante, infinitas proposições
a mais, pois, as sabe todas. Mas, das poucas entendidas pelo intelecto humano,
creio que o seu conhecimento se iguala à certeza objetiva divina,
porque chega a compreender a necessidade, sobre a qual não parece
poder existir segurança maior. (Galileo
Galilei, apud Rodolfo Mondolfo).
Ao
privilégio atribuído pelos místicos aos poucos eleitos
que podem chegar ao arroubo do êxtase, substitui-se (...) uma possibilidade
aberta a todos os que submetem a sua mente aos processos e métodos
do pensamento científico.
A Verdade, filha do Tempo,1
é uma conquista gradual e progressiva, sempre imperfeita, que em
sua geração infinita nunca poderá ser plenamente compreendida
por ninguém.
Frente
às ondas de irracionalidade, o estabelecimento de um Socialismo Democrático
poderá ser um baluarte, um remédio, porém, nem total
nem definitivo.
Aplicado
à Filosofia e aos seus problemas, o princípio estabelecido
por Vico que dizia que a essência de qualquer realidade se encontra
e se revela no seu processo de formação, orienta-nos no reconhecimento
da vinculação constante da Filosofia com a sua história,
que constitui o processo de sua formação e do seu desenvolvimento.
Unidade
unimultiversal: Nas principais religiões politeístas
antigas, os vários deuses estavam subordinados à figura de
um deus tutelar do qual tudo derivava e para o qual tudo convergia. Assim
era no Egito, na Mesopotâmia e na Índia.
Do
caos inicial à ordem: Nas religiões antigas, as
cosmogonias (explicações sobre a origem do Cosmos) eram concebidas
como um processo de passagem do caos inicial à ordem. O processo
cosmogônico era explicado de três modos essenciais: a) uma potência
intrínseca à matéria criou o Cosmos desde o caos inicial;
b) um espírito exterior à matéria atuou sobre ela,
conferindo-lhe a forma atual; e c) o Cosmos resultou de uma luta incessante
entre dois pólos opostos (caos/ordem, morte/vida
etc).
Conexão
unimultiversal: Nas religiões antigas, todos os seres
estão unidos por uma espécie de simpatia unimultiversal.
Lei
unimultiversal:
Nas religiões antigas, está difundida a idéia uma lei
unimultiversal sob a forma de um eterno retorno cíclico que se completa
no grande ano cósmico, quando todas as coisas retornam a ser aquilo
que haviam sido.
Dualismo:
Nas religiões antigas, o corpo era mortal, mas a [personalidade-]alma
não. Mas a imortalidade da [personalidade-]alma
estava condicionada pelo modo como fora vivida a última passagem
pela Terra. Tudo dependia da pureza que se havia sabido manter. Uma justiça
unimultiversal recompensava uns, mas castigava igualmente outros pela forma
como haviam vivido.
A
observação de vários casos não garante a unimultiversalidade
das conclusões, porque mil perante a infinidade é o mesmo
que zero. (Galileo
Galilei, apud Rodolfo Mondolfo).
A
Essência, o unimultiversal, quer dizer, o que há de comum nas
particularidades, representa a unidade da espécie: por isto, afirma-se
vigorosamente em Sócrates a exigência de unidade no conhecimento
verdadeiro. [Entretanto,
como já afirmei diversas vezes, o conhecimento
verdadeiro será
sempre relativo, pois, verdadeiro, no caso, é sinônimo de absoluto,
e conhecimento absoluto do que quer que seja é impossível,
porque é inalcançável.]
Na
aquisição de conhecimentos e na reflexão intelectual,
sempre acontece tropeçarmos com dificuldades que se baseiam no reconhecimento
de faltas e imperfeições em nossas noções, cuja
insatisfação, portanto, nos suscita problemas. E daí
surge a investigação, isto é, pela consciência
de um problema, cuja solução nos sentimos impelidos a procurar,
estando justamente a indagação voltada para a solução
do problema, que nos foi apresentado.
A
fecundidade do esforço investigador é proporcional à
clareza e à adequação da formulação do
problema; de maneira que a primeira exigência imposta ao investigador
é a de conseguir, da melhor maneira possível, uma consciência
clara e distinta do problema, que constitui o objeto de sua indagação.
Esta exigência é válida preliminarmente para qualquer
espécie de investigação, porém, o é,
sobretudo, na Filosofia, sendo a Filosofia, antes de mais nada – como
já Sócrates o ressaltava – consciência da própria
ignorância, isto é, da existência de problemas que exigem
o esforço da mente na procura de uma saída desta situação
de mal-estar e de insatisfação.
Toda
a investigação teórica que quiser encontrar seu caminho
com maior segurança supõe e exige, como condição
prévia, uma investigação histórica referente
ao problema, ao seu desenvolvimento e às soluções que
foram tentadas para resolvê-lo.
Com
efeito, podemos distinguir um duplo aspecto na Filosofia, conforme ela se
apresente como problema ou como sistema. Como sistema, é evidente
que o pensamento filosófico, apesar de sua pretensão, sempre
asseverada, de uma contemplação 'sub specie æterni'
[do ponto
de vista da eternidade],
não consegue, na realidade, afirmar-se a não ser 'sub specie
temporis' [do
ponto de vista do tempo],
isto é, necessariamente vinculado à fase de desenvolvimento
espiritual própria de sua época e de seu autor, e destinado
a ser superado por outras épocas e por outros autores sucessivos.
Ao contrário, quanto aos problemas que suscita, o pensamento filosófico,
ainda que esteja sempre subordinado ao tempo em sua geração
e desenvolvimento progressivo, apresenta-se, no entanto, como uma realização
gradual de um processo eterno. Com efeito, os sistemas passam e caem; porém,
os problemas formulados sempre permanecem como conquistas da consciência
filosófica, conquistas imperecíveis, apesar da variedade das
soluções tentadas e das formas pelas quais tais problemas
são propostos, pois esta variação representa um aprofundamento
progressivo da consciência filosófica. Desta maneira, a reconstrução
histórica do desenvolvimento da Filosofia aparece como um reconhecimento
do caminho percorrido pelo processo de formação progressiva
da consciência filosófica, o que vale dizer, como uma conquista
da autoconsciência.
A
História da Filosofia não pode, de maneira alguma, ser considerada
como uma sucessão de criações contraditórias,
que negam cada uma o que a outra afirmava, ou que constroem ao seu bel-prazer
um edifício destinado a ser derrubado, a fim de deixar seu lugar
para outra construção, que será igualmente demolida
como produto arbitrário de uma fantasia caprichosa.
Devemos reviver em nossa consciência
a experiência filosófica da Humanidade passada, tanto em seu
conjunto, quanto na individualidade de cada pensador. E para viver de novo
cada sistema, temos que realizar o máximo esforço, a fim de
nos colocarmos na situação espiritual em que se encontrava
o filósofo que o criou, isto é, temos que reproduzir em nossa
interioridade a consciência dos problemas que preocupavam a sua época,
assim como as exigências particulares de sua personalidade, compenetrando-nos
de seu processo de formação e de sua vida interior. E quando,
nos filósofos que são objeto de nosso estudo, esta vida interior
[tiver sido] muito
intensa e ativa, deparamo-nos, geralmente, com um movimento contínuo
de aprofundamento, de renovação e de evolução
espirituais, que reúne, por assim dizer, múltiplas personalidades
sucessivas em uma única pessoa, o que complica e dificulta a tarefa
do intérprete que procura a reconstrução histórica.
Naturalmente, não ficam anulados
ou destruídos os resultados das investigações e intuições
de Hegel ou de Zeller, ou de outros grandes historiadores, por serem superados
pelas indagações sucessivas, cuja realização
foi condicionada e estimulada por eles próprios. O processo de superação,
como pensava Hegel, sempre outorga uma verdade mais profunda ao que foi
superado, o qual permanece vital e ativamente nas raízes dos novos
resultados, cuja obtenção tornou possível, impulsionando-os
para a sua realização. Neste aspecto, devemos expressar nosso
respeito e reconhecimento para com os grandes historiadores do passado,
cujo estudo será sempre ponto de partida e fonte de fecundas sugestões
– positiva ou negativamente, por meio da aceitação ou
da oposição que provoca, das soluções que indica
ou dos problemas que formula – para os novos investigadores.
O humanismo renascentista emerge
para se contrapor a uma tendência que se tornara dominante no seio
do pensamento religioso e na atuação da Igreja Católica,
ainda que não exclusiva, responsável pelo aviltamento da pessoa
humana em expressões tais como a Inquisição.
Os
problemas permanecem enquanto os sistemas são superados.
O
filosofar nasce dos eternos problemas metafísicos que a Humanidade
sempre considerou.
Há
uma incompreensão por parte de alguns pesquisadores do sentido dado
à subjetividade do homem na Antigüidade. Esta se manifesta através
de três posições bem definidas, que podem ser chamadas:
objetivista [extremista],
espiritualista [extremista]
e intermédia [conciliadora,
pois, admite alguns tópicos de ambas as partes].
Para
Giordano Bruno, era profundamente injusto submeter-se, sujeitar-se ou crer
apenas por costume. É algo irracional conformar-se com uma opinião
pelo número de pessoas que a possuem. [Muito
pior do que se conformar com uma opinião pelo número de pessoas
que a possuem é, como maria-vai-com-as-outras, segui-las e fazer
o que elas fazem, como o que aconteceu no Brasil, em 8 de janeiro de 2023,
quando um montão de imitadores minions e irracionais, foram
à Festa da Selma.]
Os
limites da [personalidade-]alma,
por mais que te esforces, não os encontrarás, mesmo que recorras
a todos os caminhos, tão profundo está o seu logos.
Segundo Heráclito,
a Natureza geralmente está oculta.2
A
Verdade é Irmã do Tempo
Se
a Verdade é irmã do Tempo,
a verdade
de cada um é uma busca.
De contratempo
em contratempo,
o ser
vai deixando de ser matusca.
Mas,
é preciso empenho e fôlego
para
que se atinja um bom sucesso.
A depender
da canseira, o resfôlego

Portanto,
cada um vai encarnando,

para
comutar arestudo em redondo.
E
assim, o ser-aí vai caminhando:
caindo,
padecendo, se endireitando;
a subir,
se instruindo, se dispondo.

Comutando
Arestudo em Redondo
(a
subir, se instruindo, se dispondo)
