DOS ARGUMENTOS SOFÍSTICOS

 

 

 

Aristóteles

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

O conteúdo do corpus aristotelicum apresenta uma distribuição sistemática: primeiro, os tratados de Lógica cujo conjunto recebeu a denominação de Organon — já que para Aristóteles a Lógica não seria parte integrante da Ciência e da Filosofia, mas apenas um instrumento (organon) que elas utilizam em sua construção. O Organon inclui: as Categorias, que estudam os elementos do discurso, os termos da linguagem; Da Interpretação, que trata do juízo e da proposição; os Analíticos (Primeiros e Segundos), que se ocupam do raciocínio formal (silogismo) e da demonstração científica; os Tópicos, que expõem um método de argumentação geral, aplicável em todos os setores, tanto nas discussões práticas quanto no campo científico; e Dos Argumentos Sofísticos (ou Das Refutações Sofísticas), que complementam os Tópicos e investigam os tipos principais de argumentos capciosos. Este estudo apresenta, em forma de fragmentos, um resumo Dos Argumentos Sofísticos.

 

 

 

 

 

 

Fragmentos Aristotélicos

 

 

 

Os argumentos sofísticos parecem ser argumentos ou refutações, mas, em realidade, não passam de ilogismos.

 

Alguns raciocínios são genuínos, enquanto outros apenas aparentam sê-lo, porém não o são. Isto acontece não só com os argumentos, mas também em outros campos, mercê de uma certa semelhança entre o genuíno e o falso.

 

Há pessoas que são naturalmente belas porque possuem realmente beleza, enquanto outras apenas parecem sê-lo porque se cobrem de pinturas e adornos.

 

 

 

 

Tanto o raciocínio como a refutação, às vezes, são genuínos; outras vezes são falsos, conquanto a inexperiência possa fazer com que pareçam autênticos, pois as pessoas bisonhas só avistam estas coisas à distância, por assim dizer.

 

Os raciocínios repousam sobre juízos, tais que implicam necessariamente a asserção de outra coisa que não as afirmadas inicialmente, e em conseqüência destas. E a refutação, por seu lado, é um raciocínio que conduz à contraditória da conclusão prévia. Ora, algumas delas não alcançam realmente este objetivo, embora pareçam fazê-lo por diversas razões, sendo a mais prolífica e usual destas o argumento que gira apenas em torno de nomes. É impossível introduzir em uma discussão as próprias coisas discutidas: em lugar delas usamos os seus nomes como símbolos e, por conseguinte, supomos que as conseqüências que decorrem dos nomes também decorram das próprias coisas, assim como aqueles que fazem cálculos supõem o mesmo em relação às pedrinhas que usam para este fim. Mas os dois casos (nomes e coisas) não são semelhantes, pois os nomes são finitos, como também o é a soma total das fórmulas, enquanto as coisas são infinitas em número. É inevitável, portanto, que a mesma fórmula e um nome só tenham diferentes significados. E assim, exatamente como ao contar aqueles que não têm suficiente habilidade em manusear as suas pedrinhas são logrados pelos espertos, também na argumentação os que não estão familiarizados com o poder significativo dos nomes são vítimas de falsos raciocínios, tanto quando discutem eles próprios como quando ouvem outros raciocinar. Por isto existem não só raciocínios como também refutações que parecem autênticos, porém não o são. Ora, para certa gente é mais proveitoso parecer que são sábios do que sê-lo realmente sem o parecer (pois a arte sofística é o simulacro da sabedoria sem a realidade, e o sofista é aquele que faz comércio de uma sabedoria aparente, mas irreal). Para os sofistas, pois, é evidentemente essencial desempenhar em aparência o papel de um homem sábio em lugar de sê-lo. Reduzindo a questão a um único ponto de contraste: ao homem que possui conhecimento de uma determinada matéria cabe evitar ele próprio os vícios de raciocínio nos assuntos que conhece, e ao mesmo tempo ser capaz de desmascarar aquele que lança mão de argumentos capciosos. E, destas capacidades, a primeira consiste em ser apto para dar uma razão do que se diz e a segunda em fazer com que o adversário apresente tal razão. Portanto, aos que desejam ser sofistas é indispensável o estudo da classe de argumentos a que nos referimos. Tal estudo bem merece o trabalho que tiverem com ele, pois uma faculdade desta espécie fará com que um homem pareça ser sábio, e este é o fim que os sofistas têm em vista.

 

Dos argumentos que se usam em uma discussão, podemos distinguir quatro classes: didáticos, dialéticos, críticos e erísticos. São argumentos didáticos aqueles que raciocinam a partir dos princípios apropriados a cada assunto e não das opiniões sustentadas pelo que responde (pois quem aprende deve aceitar as coisas em confiança). São argumentos dialéticos os que raciocinam com base em premissas geralmente aceitas para chegar à contraditória de uma dada tese. São argumentos críticos os que partem de premissas aceitas pelo respondente e que não podem ser ignoradas por todo aquele que aspire ao conhecimento do assunto em discussão. São argumentos contenciosos ou erísticos os que raciocinam ou parecem raciocinar a partir de opiniões que parecem ser geralmente aceitas, mas em realidade não o são.

 

Os vários fins visados por aqueles que argumentam como competidores e rivais encarniçados são em número de cinco: a refutação, o vício de raciocínio, o paradoxo, o solecismo e, em quinto lugar, reduzir o adversário à impotência.

 

As maneiras de produzir uma falsa aparência de argumento são em número de seis: a ambigüidade, a anfibologia, a combinação, a divisão de palavras, a acentuação e a forma de expressão.

 

Argumento ambíguo: um mesmo homem está sentado e em pé, e também doente e com saúde, pois é o que se levantou que está em pé, e o que está se restabelecendo que goza saúde. Mas foi o homem sentado que se levantou, e o doente que se restabeleceu.

 

 

Ambigüidade Visual

 

 

Argumentos anfibológicos: a) desejo-vos capturar o inimigo; b) deve haver conhecimento daquilo que se conhece; c) deve haver visão daquilo que se vê; e d) do silencioso é possível falar.

 

Argumentos por combinação de palavras: a) um homem pode caminhar enquanto está sentado e escrever enquanto não está escrevendo; e b) se podes carregar uma só coisa, uma porção também podes carregar.

 

Argumento vicioso: se o que não existe é objeto de opinião, o que não existe é ou existe.

 

Se uma coisa é metade branca e metade preta, ela é branca ou preta?

 

 

 

 

Refutar é contradizer um só e o mesmo atributo — não somente o nome, mas a realidade, e não apenas um sinônimo, mas o próprio nome — e isto se baseando nas proposições concedidas, por uma inferência necessária, sem levar em conta o ponto inicial a ser provado, no mesmo aspecto, relação, modalidade e tempo em que se afirmou. Uma 'asserção falsa' a respeito de alguma coisa deve ser definida do mesmo modo.

 

Dois é o dobro de um, mas não é o dobro de três.

 

Os homens, geralmente, não têm o poder de conservar simultaneamente debaixo dos olhos o que é idêntico e o que é diferente.

 

Imagine o seguinte: quando A existe, B necessariamente também existe. Mas é um equívoco se pensar que, existindo B, A também deva necessariamente existir. Daí nascem também os enganos relacionados com as opiniões que se baseiam na percepção dos sentidos.

 

 

 

 

Um homem que tem febre sente calor; mas não se pode inferir que um homem que sinta calor esteja com febre.

 

A refutação que depende de tomar como causa o que não é uma causa ocorre sempre que se insere no argumento algo que não é uma causa, como se a refutação dependesse dele. Este tipo de ilogismo acontece nos argumentos que raciocinam pela redução ao impossível, pois nestes argumentos somos forçados a destruir uma das premissas.

 

Afirmar a bondade do que não é bom ou a ruindade do que é bom é afirmar em falso.

 

É impossível que sempre que uma coisa pode ver enquanto outra não pode, sejam ambas capazes de ver ou sejam ambas cegas.

 

É possível reduzir todos os vícios de silogismo a violações da própria definição do que é uma refutação ou um argumento.

 

Dos argumentos falsos vinculados à linguagem, alguns dependem de um duplo sentido, isto é, da ambigüidade de palavras ou de frases, e da falácia de formas verbais semelhantes (pois habitualmente nos referimos a tudo como se fosse uma substância particular), enquanto os erros de combinação, divisão e acentuação se devem a que a frase ou o termo alterados não são os mesmos que se tinham em vista. Com efeito, tanto o nome como a coisa significada devem ser os mesmos para que se possa levar a termo uma prova ou uma refutação.

 

Os vícios de raciocínio vinculados ao acidente são casos evidentes de 'ignoratio elenchi'1 depois que se define a 'prova'.

 

Se a refutação é uma prova, um argumento que dependa de um acidente não pode ser uma refutação. É, contudo, justamente deste modo que os especialistas e os homens de ciência são geralmente refutados pelos que não são cientistas, pois estes últimos lhes fazem frente com argumentos baseados no acidental, e os cientistas, por lhes faltar o poder de fazer distinções, ou respondem sim a tais perguntas ou, então, supõe-se que tenham assentido, embora isto não seja verdade.

 

A negação de 'branco a certo respeito' é 'não-branco a certo respeito', e a negação de 'absolutamente branco' é 'absolutamente não-branco'. Se, pois, alguém trata a admissão de que alguma coisa é 'branca a certo respeito' como se o outro tivesse afirmado que ela é 'absolutamente branca' não efetua uma refutação, mas apenas parece fazê-lo devido à ignorância do que seja uma refutação.

 

A aparência de uma refutação se deve a uma falha na definição, e se dividirmos os falsos argumentos devemos imprimir a todos estes a marca de 'paralogismo'2 ou 'falha de definição'.

 

As coisas que são idênticas a uma só e mesma coisa também são idênticas entre si, e é nisto que se baseia uma refutação vinculada ao conseqüente.

 

 

 

 

Assim como uma refutação vinculada ao acidente consiste na ignorância do que seja uma refutação, é evidente que o mesmo acontece com a refutação vinculada ao conseqüente.

 

Todas as perversões de raciocínio se incluem na classe da ignorância do que seja uma refutação. Algumas delas porque a contradição, que é a marca distintiva de uma refutação, é apenas aparente, e as demais por não se conformarem à definição da prova.

 

É difícil distinguir que classes de coisas são significadas por uma mesma expressão e por diferentes espécies de expressão. Um homem capaz de fazer isto está praticamente no limiar da compreensão da verdade.

 

Um engano se dá mais facilmente quando investigamos um problema em companhia de outros do que quando o fazemos sozinhos (pois uma investigação feita com outra pessoa se efetua por meio da linguagem, enquanto a que fazemos por nós mesmos se realiza, pode-se dizer, por meio do próprio objeto). Entretanto, um homem pode se deixar enganar, mesmo quando investiga por si mesmo, quando toma a linguagem como base desta investigação solitária. Além disto, a falácia provém da semelhança entre duas coisas distintas, e a semelhança provém da linguagem.

 

 

 

 

Por sofisma ou silogismo sofístico e refutação sofística entendo não apenas um silogismo ou uma refutação que parece ser válido, mas não o é, como também aqueles que, embora sendo válidos, só em aparência são apropriados à coisa em questão. São esses os que não logram o intento de refutar e provam a ignorância do argumentador com respeito à natureza da coisa em questão, o que é tarefa própria da Arte do Exame. Ora, a Arte do Exame é um ramo da Dialética, e esta pode provar uma conclusão falsa valendo-se da ignorância do que responde. As refutações sofísticas, por outro lado, embora possam demonstrar a contraditória da sua tese, não atestam a sua ignorância, pois os sofistas conseguem enredar os próprios homens de ciência com tais argumentos.

 

 

 

É possível que as ciências sejam infinitas em número, de modo que as demonstrações, evidentemente, também seriam infinitas.

 

As refutações tanto podem ser verdadeiras como falsas, pois sempre que é possível demonstrar alguma coisa, também é possível refutar quem defende a tese contraditória. Todavia, a fim esgotar todas as refutações possíveis teremos de possuir o conhecimento científico de todas as coisas. Mas como isto é impossível, só precisamos dominar aqueles tópicos que estiverem vinculados à Dialética, pois estes são comuns à toda arte ou faculdade. Portanto, aos dialéticos cabe examinar a refutação que procede dos primeiros princípios comuns que não caem no campo de nenhum estudo especial. Enfim, compete ao dialético ser capaz de captar as várias maneiras pelas quais, com base nos primeiros princípios comuns, se constrói uma refutação real ou aparente, isto é, uma refutação dialética, ou aparentemente dialética, ou passível de exame.

 

É completamente absurdo discutir a refutação sem ter primeiro discutido a prova.

 

O argumento que não falha é uma verdadeira demonstração.

 

Às vezes, o inquiridor não vê a ambigüidade da sua própria pergunta, e, positivamente, não pode fazer uma distinção cuja existência ignora.

 

Quem usa a argumentação didática não deve fazer perguntas, mas esclarecer ele mesmo as questões, enquanto o argumentador dialético3 deve se limitar a fazer perguntas.

 

A arte da crítica é um ramo da Dialética e se dirige não ao homem que conhece, mas ao ignorante que presume conhecer. É, pois, um dialético aquele que considera os princípios comuns em sua aplicação ao assunto particular em debate, enquanto o que só faz isto em aparência é um sofista. Enfim, é dialético aquele que examina as questões com o auxílio de uma teoria do raciocínio.

 

 

Quadratura do Círculo: Impossibilidade

 

 

Assim como a deslealdade em uma corrida é uma forma definida de transgressão e uma espécie de luta desleal, também a arte do raciocínio sofístico é uma luta desleal na discussão, porquanto, no primeiro caso, os que estão decididos a ganhar a todo custo não recuam diante de expediente algum, e o mesmo fazem no segundo caso os raciocinadores erísticos.

 

A arte do sofista é uma espécie de arte de fazer dinheiro graças a uma sabedoria aparente, e assim os sofistas tendem para as demonstrações aparentes. A arte do sofista é uma certa aparência de sabedoria sem a realidade.

 

As pessoas tendem mais a cair em erro quando falam em termos gerais, e falam em termos gerais quando não têm diante de si nenhum tema definido.

 

 

— Será que o Senador Diabógenes irá renunciar?
— Claro que não. E ele é besta de perder aquela boca?

 

 

Uma regra elementar para induzir a um erro de raciocínio ou a um paradoxo é nunca apresentar diretamente uma questão controversa, mas fingir que se pergunta por desejo de aprender, pois o processo de investigação assim iniciado oferece campo a um ataque.

 

Um método especialmente apropriado de expor um erro de raciocínio é a regra sofística que consiste em induzir o oponente a fazer o tipo de afirmações contra o qual se está bem provido de argumentos: isto se pode fazer de maneira tanto própria como imprópria. Ou então, para provocar uma afirmação paradoxal, procure-se saber a que escola de filósofos pertence a pessoa com quem se está discutindo, para depois inquiri-la sobre algum ponto em que a doutrina de tal escola é paradoxal aos olhos da maioria, pois em toda escola há algum ponto desta espécie. Devemos, também, argumentar partindo dos desejos das pessoas e das opiniões que professam. Pois elas não desejam as mesmas coisas que afirmam desejar: dizem o que melhor soa, mas desejam o que parece promover os seus interesses.

 

Outro expediente é prolongar a argumentação, pois é difícil atender ao mesmo tempo a muitas coisas.

 

Outro recurso é o expediente contrário, isto é, a rapidez, pois quando as pessoas são deixadas para trás olham menos para frente.

 

Devemos obedecer ao homem sábio ou a nosso pai?

 

Devemos fazer o que é conveniente ou o que é justo?

 

É preferível sofrer ou cometer uma injustiça?

 

A lei representa a opinião da maioria, enquanto os Filósofos falam de acordo com os padrões da Natureza e da Verdade.

 

Os que perdem a calma são menos capazes de vigiar o que dizem.

 

Regras elementares para provocar a ira são simular o propósito de agir com deslealdade e mostrar uma total falta de vergonha. Há, além disto, a formulação alternada das perguntas, quer se tenha mais de um argumento conduzindo à mesma conclusão, quer se tenham argumentos para demonstrar tanto uma coisa como o seu contrário, pois o resultado disto é que o oponente deve se manter em guarda ao mesmo tempo contra mais de uma linha ou contra linhas contrárias de argumentação. De um modo geral, todos os métodos de encobrimento são também úteis para os fins da argumentação erística, pois os objetivos são sempre evitar a detecção e enganar.

 

As pessoas são menos refratárias quando não sabem bem o que o outro pretende assegurar.

 

A semelhança, muitas vezes, passa despercebida.

 

 

 

 

A justaposição dos contrários faz com que as coisas pareçam grandes aos olhos dos homens, tanto relativa como absolutamente, e também piores ou melhores.

 

O homem que é facilmente induzido por um outro a cometer um erro de raciocínio sem dar conta disto pode muito bem ser vítima de seus próprios paralogismos em muitas ocasiões.

 

Se aquele que toma parte em uma argumentação se volta contra ela sem poder indicar de maneira definida os seus pontos fracos, cria a suspeita de que o seu mau humor não se deve ao interesse pela verdade, e, sim, à inexperiência.

 

Não é a mesma coisa apanhar um argumento nas mãos, examiná-lo e depois apontar as suas falhas, e ser capaz de enfrentá-lo prontamente quando estamos sendo submetidos a uma inquirição, pois, muitas vezes, não reconhecemos aquilo que sabemos ao encontrá-lo em um contexto diferente.

 

Em todas as coisas, a rapidez é fruto do treinamento. O mesmo sucede na argumentação, de modo que, se não tivermos prática, mesmo que vejamos um ponto com clareza, muitas vezes chegamos atrasados com nossa resposta.

 

Devemos nos acautelar não de ser refutados, mas de parecer que o fomos, porque, naturalmente, as perguntas anfibológicas, as que giram em torno de uma ambigüidade e todos os outros ardis da mesma espécie podem mascarar até uma refutação genuína, e deixam na incerteza a questão de quem foi refutado e de quem não o foi.

 

Muitas vezes, sucede que, embora percebam a anfibologia, as pessoas hesitam em fazer distinções, devido ao grande número daqueles que propõem questões desta espécie, receando que os tomem por eternos obstrucionistas. E assim, embora nunca tenham imaginado que o objeto do argumento fosse esse, amiúde se encontram frente a frente com um paradoxo. Portanto, como se concede o direito de fazer distinções, não se deve hesitar.

 

Se ninguém jamais tivesse unido duas questões numa só, não existiria tampouco o sofisma vinculado à ambigüidade e à anfibologia, mas uma refutação genuína ou a ausência de refutação.4

 

Se não é correto exigir que se dê uma resposta única a duas perguntas, evidentemente não é adequado dar uma resposta simples a uma pergunta ambígua, ainda que o predicado seja verdadeiro de todos os sujeitos, caso em que alguns pretendem que se deveria dar uma resposta só.

 

Não devemos dizer simplesmente 'sim' ou 'não' quando a questão envolver termos ambíguos, porque, neste caso, o que fala não terá dado uma resposta, mas apenas enunciado um juízo, se bem que entre os disputantes tais juízos sejam incorretamente considerados como respostas, porque não vêem qual será a conseqüência.

 

Certas refutações são geralmente consideradas como tais, embora não o sejam em realidade, do mesmo modo certas soluções poderão ser consideradas como tais, sem que o sejam realmente.

 

Dizemos que o homem pertence ao reino animal pelo fato de ser um animal, da mesma forma que dizemos que Lisandro pertence aos espartanos, por ser espartano.5

 

Quando a premissa proposta não é clara, simplesmente não se deve concedê-la.

 

Quanto mais numerosas forem as premissas, mais difícil será delas deduzir uma conclusão.

 

A maioria não tem opinião clara sobre se a alma dos animais é perecível ou imortal.6

 

Sempre que se prevê uma pergunta, deve-se fazer primeiro a sua objeção e falar antes do outro, pois esta é a melhor maneira de embaraçar o que pergunta.

 

Aos argumentos corretamente raciocinados, se dá solução demolindo-os; aos que são apenas aparentes, deve-se fazer distinções.

 

Os que desejam solucionar um argumento devem, em primeiro lugar, examinar se ele foi corretamente raciocinado ou não; depois, se a conclusão é verdadeira ou falsa, a fim de que possam dar a solução, quer estabelecendo uma distinção, quer lançando por terra uma das premissas.

 

Quando se está só e se raciocina calmamente é mais fácil notar e prever ciladas.

 

Ambigüidade = algo que é e algo que não é; termo ou de frase que em um sentido é assim e em outro não é.7

 

O conhecimento do mal é bom; logo, o mal é uma coisa boa de se conhecer. Mas acontece que o mal é ao mesmo tempo o mal e um objeto de conhecimento, de modo que o mal é um mau objeto de conhecimento, embora o conhecimento dos males seja bom.8

 

É possível que o que não-é seja?

 

É possível que, ao mesmo tempo, o mesmo homem cumpra e rompa o seu juramento?

 

O mesmo homem, ao mesmo tempo, pode dizer o que é verdadeiro e o que é falso?

 

É um mal aquilo que o homem prudente não desejaria?

 

É o justo preferível ao injusto, e o que acontece justamente ao que sucede injustamente?

 

É justo que cada um tenha o que lhe pertence?

 

Deve-se julgar em favor de quem diz o que é justo ou de quem diz o que é injusto?

 

Falar de certas coisas não é necessário que as próprias coisas sejam justas, assim como do fato de ser útil falar de certas coisas não se segue que as próprias coisas sejam úteis.

 

Um homem que sabe que A é A conhece a coisa chamada A? E, do mesmo modo, quem ignora que A seja A ignora a coisa chamada A?9

 

Se A é sempre acompanhada de B, B também é sempre acompanhada de A?

 

 

 

 

 

Matutando

 

 

 

Poderá haver treco mais sacana

do que os sacanas que prometem

salvação e céu a troco de grana?

 

Poderá haver treco mais insolente

do que os ludibriantes que intimidam

com dores, fogo eterno e serpente?

 

Poderá haver treco mais ardiloso

do que os trafulhas que se dizem

intermediários do Todo-poderoso?

 

Poderá haver treco mais triste

do que os finórios que fazem crer

em um jardim futuro que inexiste?

 

Poderá haver treco mais afligente

do que os tunos que compensarão

o tutu mal ganho de toda a gente?

 

 

 

 

 

 

______

Notas:

1. Ignoratio elenchi é o erro que consiste em supor que o ponto na questão foi provado ou refutado, quando o que se provou ou refutou é outra coisa.

2. Paralogismo é um raciocínio falso que se estabelece involuntariamente.

3. A Dialética é um método de diálogo cujo foco é a contraposição e contradição de idéias, que leva a outras idéias, e que tem sido um tema central na Filosofia Ocidental e Oriental desde os tempos antigos. A tradução literal de dialética é: caminho entre as idéias. Aristóteles considerava Zenão de Eléia (aproximadamente 490 – 430 a.C.) o fundador da dialética. Outros consideraram Sócrates (469 – 399 a.C.). O conceito de Dialética, porém, é utilizado por diferentes doutrinas filosóficas e, de acordo com cada uma, assume um significado distinto.

 

 

Dialética

 

 

4. Geralmente, quando duas questões são unidas em uma só é criado um imperativo hipotético, que, ao contrário do imperativo categórico (sempre apodíctico, nos advertindo para agir como se a máxima da nossa ação devesse se tornar, pela nossa vontade, uma Lei Universal da Natureza), não é uma obrigação, mas, sim, uma condição para chegar a um determinado fim, seja ele probo ou torpe, justo ou injustificado, verdadeiro ou falso. O imperativo hipotético não se relaciona com ações necessárias por si só, podendo depender de outras finalidades maiores para serem realizadas. Exemplos de imperativos hipotéticos: 1º) comungarei em nove primeiras sextas-feiras seguidas de cada mês para obter a graça da penitência final; 2º) dando aos pobres estou emprestando a Deus, e, assim, receberei de volta tudo que emprestei com juros compostos e correção monetária; e 3º) não farei isto e não farei aquilo porque são pecados mortais, e eu não quero torrar para sempre no inferno quando morrer. Enfim, como ensinou Immanuel Kant (Königsberg, 22 de abril de 1724 – Königsberg, 12 de fevereiro de 1804), um imperativo categórico (incondicional) é aquele que representa uma ação como objetivamente necessária e a torna necessária não indiretamente através da representação de algum fim que pode ser atingido pela ação, mas da mera representação desta própria ação (sua forma) e, por conseguinte, diretamente.

5. Aqui, devo discordar de Aristóteles, pois o homem, se, um dia, foi semelhante aos animais (Período Lunar), hoje (Período Terrestre), além de já não mais ser semelhante a um animal, forma um reino à parte – o reino dos seres humanos, que, entre outras características que o diferenciam dos animais, possui autoconsciência.

 

 

 

 

6. A bem da verdade, a maioria das pessoas nem sequer tem uma idéia coerente sobre este assunto. Uma possibilidade a ser examinada é o que propõe a Fraternidade Rosacruz de Max Heindel, que ensina que todos os animais são dominados por um Espírito-grupo, que é seu guardião e que os protege com o objetivo de guiá-los no caminho da evolução que for mais conveniente para o seu desenvolvimento. Não importa qual a posição geográfica desses animais; o leão nas selvas da África é dominado pelo mesmo Espírito-grupo do leão que está na jaula de um zoológico em países do hemisfério norte. Portanto, esses animais são semelhantes em todas as suas principais características: têm os mesmos gostos e aversões com respeito à alimentação, e agem de maneira quase idêntica sob circunstâncias similares. Se alguém deseja estudar a classe dos leões ou dos tigres, basta estudar um deles, pois este não tem o poder de escolha ou prerrogativa, mas age inteiramente de acordo com o que dita o Espírito-grupo. O mineral não pode escolher se vai se cristalizar ou não; a rosa é impelida a desabrochar, o leão é obrigado a caçar e, em cada caso, a atividade é ditada completamente pelo Espírito-grupo. Enfim, da mesma forma que para guiar as Raças, os Espíritos de Raça agem sobre o sangue, o Espírito-Grupo dirige os animais de cada espécie por meio do sangue. É por isto que, por exemplo, quando um cavalo e uma jumenta produzem uma mula, a mescla de sangue estranho destrói a faculdade propagadora, de modo que o híbrido não pode se perpetuar. É uma abominação do ponto de vista do Espírito-grupo, pois a mula não está definitivamente sob o domínio do Espírito-grupo dos cavalos nem do Espírito-grupo dos jumentos, se bem que não esteja tão afastada de ambos que possa evitar sua influência. Portanto, a infusão de sangue estranho debilita a influência do Espírito-grupo, e este, em conseqüência, destrói a forma ou a faculdade procriadora que está sob seu domínio.

7. De Epicuro de Samos (341 a.C., Samos – 271 ou 270 a.C., Atenas): Ou Deus quer impedir os males e não pode, ou Deus pode e não quer, ou Deus não quer nem pode, ou Deus quer e pode. Se Deus quer e não pode, é impotente: o que é impossível em Deus. Se Deus pode e não quer, é invejoso: o que, do mesmo modo, é contrário a Deus. Se Deus nem quer nem pode, é invejoso e impotente: portanto, nem sequer é Deus. Se Deus pode e quer, que são as únicas coisas compatíveis com Deus, de onde provém, então, existência dos males? Por que razão Deus não os impede?

8. Ainda que nem sempre um mal seja um mal e um bem seja um bem. Algumas vezes, um (aparente) mal é um bem, e vice-versa. Quantas vezes, em nossa vida, padecemos por um mal, que, um pouco mais adiante, reconhecemos que aquele (aparente) mal foi, na realidade, um grande bem? Outras vezes, este reconhecimento é quase imediato, como, por exemplo, no caso de alguém que se atrasou para pegar um avião, e não conseguiu fazer o check-in e embarcar. O resto, conclua você.

9. Aqui cabe o seguinte comentário. Alguém lhe pergunta: — Você conhece house? Se você responder que sim, pensando em se tratar de casa, moradia, residência, habitação, domicílio ou lar, poderá estar dando uma resposta errada, se o indagador estiver a se referir ao Dr. Gregory House (interpretado por Hugh Laurie), e você não o conhecer. E assim, na imensa maioria das vezes, dialogamos em função do que pensamos saber ou conhecer, mas não em relação a... o que, geralmente, transforma a conversa em um diálogo de surdos-mudos.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://casadonoca.blogspot.com.br/
2009/01/sofisma-ou-lgica.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Corpus_aristotelicum

http://artie.com/credits.htm

http://pensador.uol.com.br/frase/NTUzMzg/

http://www.fraternidaderosacruz.com.br/
livrosonline/crcosmos/crc23.htm

http://www.fraternidaderosacruz.com.br/
livrosonline/coletanias/cap14.htm

http://ideas.wikia.com/wiki/File:Animal.gif

http://www.newgrounds.com/bbs/topic/1216035/7

http://rosariopermanente.leiame.net/devocoes/
sagradocoracao/as9sextasfeiras.html

http://jus.com.br/revista/texto/5175/
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http://descobrir-a-filosofia.blogspot.com.br/2010
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http://pt.wikipedia.org/wiki/
Imperativo_hipot%C3%A9tico

http://catdognickelodeon.wikia.com/
wiki/File:CatDog_Talking.gif

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Quadratura_do_c%C3%ADrculo

http://pt.wikipedia.org/wiki/Dial%C3%A9tica

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wp-content/uploads/2012/02/erros.pdf

http://en.wikipedia.org/wiki/
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http://www.threadbombing.com/
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12/create-animated-gifs-in-imageready/

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arch2009-05-03_2009-05-09.html

http://filosofiaocupada.blogspot.com.br/2011/05/
download-e-book-colecao-os-pensadores_28.html

http://www.4shared.com/

 

Música de fundo:

Música Grega

Fonte:

http://www.bairrovilaolimpia.com.br/HTMSomMid
Digital/SomMidi/MidisGregasBVO/Gregas.htm

 

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