Os
argumentos sofísticos parecem ser argumentos ou refutações,
mas, em realidade, não passam de ilogismos.
Alguns
raciocínios são genuínos, enquanto outros apenas aparentam
sê-lo, porém não o são. Isto acontece não
só com os argumentos, mas também em outros campos, mercê
de uma certa semelhança entre o genuíno e o falso.
Há
pessoas que são naturalmente belas porque possuem realmente beleza,
enquanto outras apenas parecem sê-lo porque se cobrem de pinturas
e adornos.
Tanto
o
raciocínio como a refutação,
às vezes, são genuínos; outras vezes são falsos,
conquanto a inexperiência possa fazer com que pareçam autênticos,
pois as pessoas bisonhas só avistam estas coisas à distância,
por assim dizer.
Os
raciocínios repousam sobre juízos, tais que implicam necessariamente
a asserção de outra coisa que não as afirmadas inicialmente,
e em conseqüência destas. E a refutação, por seu
lado, é um raciocínio que conduz à contraditória
da conclusão prévia. Ora, algumas delas não alcançam
realmente este objetivo, embora pareçam fazê-lo por diversas
razões, sendo a mais prolífica e usual destas o argumento
que gira apenas em torno de nomes. É impossível introduzir
em uma discussão as próprias coisas discutidas: em lugar delas
usamos os seus nomes como símbolos e, por conseguinte, supomos que
as conseqüências que decorrem dos nomes também decorram
das próprias coisas, assim como aqueles que fazem cálculos
supõem o mesmo em relação às pedrinhas que usam
para este fim. Mas os dois casos (nomes e coisas) não são
semelhantes, pois os nomes são finitos, como também o é
a soma total das fórmulas, enquanto as coisas são infinitas
em número. É inevitável, portanto, que a mesma fórmula
e um nome só tenham diferentes significados. E assim, exatamente
como ao contar aqueles que não têm suficiente habilidade em
manusear as suas pedrinhas são logrados pelos espertos, também
na argumentação os que não estão familiarizados
com o poder significativo dos nomes são vítimas de falsos
raciocínios, tanto quando discutem eles próprios como quando
ouvem outros raciocinar. Por isto existem não só raciocínios
como também refutações que parecem autênticos,
porém não o são. Ora, para certa gente é mais
proveitoso parecer que são sábios do que sê-lo realmente
sem o parecer (pois a arte sofística é o simulacro da sabedoria
sem a realidade, e o sofista é aquele que faz comércio de
uma sabedoria aparente, mas irreal). Para os sofistas, pois, é evidentemente
essencial desempenhar em aparência o papel de um homem sábio
em lugar de sê-lo. Reduzindo a questão a um único ponto
de contraste: ao homem que possui conhecimento de uma determinada matéria
cabe evitar ele próprio os vícios de raciocínio nos
assuntos que conhece, e ao mesmo tempo ser capaz de desmascarar aquele que
lança mão de argumentos capciosos. E, destas capacidades,
a primeira consiste em ser apto para dar uma razão do que se diz
e a segunda em fazer com que o adversário apresente tal razão.
Portanto, aos que desejam ser sofistas é indispensável o estudo
da classe de argumentos a que nos referimos. Tal estudo bem merece o trabalho
que tiverem com ele, pois uma faculdade desta espécie fará
com que um homem pareça ser sábio, e este é o fim que
os
sofistas têm em vista.
Dos
argumentos que se usam em uma discussão, podemos distinguir quatro
classes: didáticos, dialéticos, críticos e erísticos.
São argumentos didáticos aqueles que raciocinam a partir dos
princípios apropriados a cada assunto e não das opiniões
sustentadas pelo que responde (pois quem aprende deve aceitar as coisas
em confiança). São argumentos dialéticos os que raciocinam
com base em premissas geralmente aceitas para chegar à contraditória
de uma dada tese. São argumentos críticos os que partem de
premissas aceitas pelo respondente e que não podem ser ignoradas
por todo aquele que aspire ao conhecimento do assunto em discussão.
São argumentos contenciosos ou erísticos os que raciocinam
ou parecem raciocinar a partir de opiniões que parecem ser geralmente
aceitas, mas em realidade não o são.
Os
vários fins visados por aqueles que argumentam como competidores
e rivais encarniçados são em número de cinco: a refutação,
o vício de raciocínio, o paradoxo, o solecismo e, em quinto
lugar, reduzir o adversário à impotência.
As
maneiras de produzir uma falsa aparência de argumento são em
número de seis: a ambigüidade, a anfibologia, a combinação,
a divisão de palavras, a acentuação e a forma de expressão.
Argumento
ambíguo: um mesmo homem está sentado e em pé, e também
doente e com saúde, pois é o que se levantou que está
em pé, e o que está se restabelecendo que goza saúde.
Mas foi o homem sentado que se levantou, e o doente que se restabeleceu.
Ambigüidade
Visual
Argumentos
anfibológicos: a) desejo-vos capturar o inimigo; b) deve haver conhecimento
daquilo que se conhece; c) deve haver visão daquilo que se vê;
e d) do silencioso é possível falar.
Argumentos
por combinação de palavras: a) um homem pode caminhar enquanto
está sentado e escrever enquanto não está escrevendo;
e b) se podes carregar uma só coisa, uma porção também
podes carregar.
Argumento
vicioso: se o que não existe é objeto de opinião, o
que não existe é ou existe.
Se
uma coisa é metade branca e metade preta, ela é branca ou
preta?
Refutar
é contradizer um só e o mesmo atributo — não
somente o nome, mas a realidade, e não apenas um sinônimo,
mas o próprio nome — e isto se baseando nas proposições
concedidas, por uma inferência necessária, sem levar em conta
o ponto inicial a ser provado, no mesmo aspecto, relação,
modalidade e tempo em que se afirmou. Uma 'asserção falsa'
a respeito de alguma coisa deve ser definida do mesmo modo.
Dois
é o dobro de um, mas não é o dobro de três.
Os
homens, geralmente, não têm o poder de conservar simultaneamente
debaixo dos olhos o que é idêntico e o que é diferente.
Imagine
o seguinte: quando A existe, B necessariamente também existe. Mas
é um equívoco se pensar que, existindo B, A também
deva necessariamente existir. Daí nascem também os enganos
relacionados com as opiniões que se baseiam na percepção
dos sentidos.
Um
homem que tem febre sente calor; mas não se pode inferir que um homem
que sinta calor esteja com febre.
A
refutação que depende de tomar como causa o que não
é uma causa ocorre sempre que se insere no argumento algo que não
é uma causa, como se a refutação dependesse dele. Este
tipo de ilogismo acontece nos argumentos que raciocinam pela redução
ao impossível, pois nestes argumentos somos forçados a destruir
uma das premissas.
Afirmar
a bondade do que não é bom ou a ruindade do que é bom
é afirmar em falso.
É
impossível que sempre que uma coisa pode ver enquanto outra não
pode, sejam ambas capazes de ver ou sejam ambas cegas.
É
possível reduzir todos os vícios de silogismo a violações
da própria definição do que é uma refutação
ou um argumento.
Dos
argumentos falsos vinculados à linguagem, alguns dependem de um duplo
sentido, isto é, da ambigüidade de palavras ou de frases, e
da falácia de formas verbais semelhantes (pois habitualmente nos
referimos a tudo como se fosse uma substância particular), enquanto
os erros de combinação, divisão e acentuação
se devem a que a frase ou o termo alterados não são os mesmos
que se tinham em vista. Com efeito, tanto o nome como a coisa significada
devem ser os mesmos para que se possa levar a termo uma prova ou uma refutação.
Os
vícios de raciocínio vinculados ao acidente são casos
evidentes de 'ignoratio elenchi'1
depois que se define a 'prova'.
Se
a refutação é uma prova, um argumento que dependa de
um acidente não pode ser uma refutação. É, contudo,
justamente deste modo que os especialistas e os homens de ciência
são geralmente refutados pelos que não são cientistas,
pois estes últimos lhes fazem frente com argumentos baseados no acidental,
e os cientistas, por lhes faltar o poder de fazer distinções,
ou respondem sim a tais perguntas ou, então, supõe-se que
tenham assentido, embora isto não seja verdade.
A
negação de 'branco a certo respeito' é 'não-branco
a certo respeito', e a negação de 'absolutamente branco' é
'absolutamente não-branco'. Se, pois, alguém trata a admissão
de que alguma coisa é 'branca a certo respeito' como se o outro tivesse
afirmado que ela é 'absolutamente branca' não efetua uma refutação,
mas apenas parece fazê-lo devido à ignorância do que
seja uma refutação.
A
aparência de uma refutação se deve a uma falha na definição,
e se dividirmos os falsos argumentos devemos imprimir a todos estes a marca
de 'paralogismo'2
ou 'falha de definição'.
As
coisas que são idênticas a uma só e mesma coisa também
são idênticas entre si, e é nisto que se baseia uma
refutação vinculada ao conseqüente.
Assim
como uma refutação vinculada ao acidente consiste na ignorância
do que seja uma refutação, é evidente que o mesmo acontece
com a refutação vinculada ao conseqüente.
Todas
as perversões de raciocínio se incluem na classe da ignorância
do que seja uma refutação. Algumas delas porque a contradição,
que é a marca distintiva de uma refutação, é
apenas aparente, e as demais por não se conformarem à definição
da prova.
É
difícil distinguir que classes de coisas são significadas
por uma mesma expressão e por diferentes espécies de expressão.
Um homem capaz de fazer isto está praticamente no limiar da compreensão
da verdade.
Um
engano se dá mais facilmente quando investigamos um problema em companhia
de outros do que quando o fazemos sozinhos (pois uma investigação
feita com outra pessoa se efetua por meio da linguagem, enquanto a que fazemos
por nós mesmos se realiza, pode-se dizer, por meio do próprio
objeto). Entretanto, um homem pode se deixar enganar, mesmo quando investiga
por si mesmo, quando toma a linguagem como base desta investigação
solitária. Além disto, a falácia provém da semelhança
entre duas coisas distintas, e a semelhança provém da linguagem.
Por
sofisma ou silogismo sofístico e refutação sofística
entendo não apenas um silogismo ou uma refutação que
parece ser válido, mas não o é, como também
aqueles que, embora sendo válidos, só em aparência são
apropriados à coisa em questão. São esses os que não
logram o intento de refutar e provam a ignorância do argumentador
com respeito à natureza da coisa em questão, o que é
tarefa própria da Arte do Exame. Ora, a Arte do Exame é um
ramo da Dialética, e esta pode provar uma conclusão falsa
valendo-se da ignorância do que responde. As refutações
sofísticas, por outro lado, embora possam demonstrar a contraditória
da sua tese, não atestam a sua ignorância, pois os sofistas
conseguem enredar os próprios homens de ciência com tais argumentos.
É possível que as
ciências sejam infinitas em número, de modo que as demonstrações,
evidentemente, também seriam infinitas.
As
refutações tanto podem ser verdadeiras como falsas, pois sempre
que é possível demonstrar alguma coisa, também é
possível refutar quem defende a tese contraditória. Todavia,
a fim esgotar todas as refutações possíveis teremos
de possuir o conhecimento científico de todas as coisas. Mas como
isto é impossível, só precisamos dominar aqueles tópicos
que estiverem vinculados à Dialética, pois estes são
comuns à toda arte ou faculdade. Portanto, aos dialéticos
cabe examinar a refutação que procede dos primeiros princípios
comuns que não caem no campo de nenhum estudo especial. Enfim, compete
ao dialético ser capaz de captar as várias maneiras pelas
quais, com base nos primeiros princípios comuns, se constrói
uma refutação real ou aparente, isto é, uma refutação
dialética, ou aparentemente dialética, ou passível
de exame.
É
completamente absurdo discutir a refutação sem ter primeiro
discutido a prova.
O
argumento que não falha é uma verdadeira demonstração.
Às vezes, o inquiridor não
vê a ambigüidade da sua própria pergunta, e, positivamente,
não pode fazer uma distinção cuja existência
ignora.
Quem
usa a argumentação didática não deve fazer perguntas,
mas esclarecer ele mesmo as questões, enquanto o argumentador dialético3
deve se limitar a fazer perguntas.
A
arte da crítica é um ramo da Dialética e se dirige
não ao homem que conhece, mas ao ignorante que presume conhecer.
É, pois, um dialético aquele que considera os princípios
comuns em sua aplicação ao assunto particular em debate, enquanto
o que só faz isto em aparência é um sofista. Enfim,
é dialético aquele que examina as questões com o auxílio
de uma teoria do raciocínio.
Quadratura
do Círculo: Impossibilidade
Assim
como a deslealdade em uma corrida é uma forma definida de transgressão
e uma espécie de luta desleal, também a arte do raciocínio
sofístico é uma luta desleal na discussão, porquanto,
no primeiro caso, os que estão decididos a ganhar a todo custo não
recuam diante de expediente algum, e o mesmo fazem no segundo caso os raciocinadores
erísticos.
A
arte do sofista é uma espécie de arte de fazer dinheiro graças
a uma sabedoria aparente, e assim os sofistas tendem para as demonstrações
aparentes. A arte do sofista é uma certa aparência de sabedoria
sem a realidade.
As
pessoas tendem mais a cair em erro quando falam em termos gerais, e falam
em termos gerais quando não têm diante de si nenhum tema definido.
—
Será que o Senador Diabógenes irá renunciar?
— Claro que não. E ele é besta de perder aquela boca?
Uma
regra elementar para induzir a um erro de raciocínio ou a um paradoxo
é nunca apresentar diretamente uma questão controversa, mas
fingir que se pergunta por desejo de aprender, pois o processo de investigação
assim iniciado oferece campo a um ataque.
Um
método especialmente apropriado de expor um erro de raciocínio
é a regra sofística que consiste em induzir o oponente a fazer
o tipo de afirmações contra o qual se está bem provido
de argumentos: isto se pode fazer de maneira tanto própria como imprópria.
Ou então, para provocar uma afirmação paradoxal, procure-se
saber a que escola de filósofos pertence a pessoa com quem se está
discutindo, para depois inquiri-la sobre algum ponto em que a doutrina de
tal escola é paradoxal aos olhos da maioria, pois em toda escola
há algum ponto desta espécie. Devemos, também, argumentar
partindo dos desejos das pessoas e das opiniões que professam. Pois
elas não desejam as mesmas coisas que afirmam desejar: dizem o que
melhor soa, mas desejam o que parece promover os seus interesses.
Outro
expediente é prolongar a argumentação, pois é
difícil atender ao mesmo tempo a muitas coisas.
Outro recurso é o expediente
contrário, isto é, a rapidez, pois quando as pessoas são
deixadas para trás olham menos para frente.
Devemos obedecer ao homem sábio
ou a nosso pai?
Devemos
fazer o que é conveniente ou o que é justo?
É
preferível sofrer ou cometer uma injustiça?
A
lei representa a opinião da maioria, enquanto os Filósofos
falam de acordo com os padrões da Natureza e da Verdade.
Os
que perdem a calma são menos capazes de vigiar o que dizem.
Regras
elementares para provocar a ira são simular o propósito de
agir com deslealdade e mostrar uma total falta de vergonha. Há, além
disto, a formulação alternada das perguntas, quer se tenha
mais de um argumento conduzindo à mesma conclusão, quer se
tenham argumentos para demonstrar tanto uma coisa como o seu contrário,
pois o resultado disto é que o oponente deve se manter em guarda
ao mesmo tempo contra mais de uma linha ou contra linhas contrárias
de argumentação. De um modo geral, todos os métodos
de encobrimento são também úteis para os fins da argumentação
erística, pois os objetivos são sempre evitar a detecção
e enganar.
As
pessoas são menos refratárias quando não sabem bem
o que o outro pretende assegurar.
A semelhança, muitas vezes,
passa despercebida.
A
justaposição dos contrários faz com que as coisas pareçam
grandes aos olhos dos homens, tanto relativa como absolutamente, e também
piores ou melhores.
O
homem que é facilmente induzido por um outro a cometer um erro de
raciocínio sem dar conta disto pode muito bem ser vítima de
seus próprios paralogismos em muitas ocasiões.
Se
aquele que toma parte em uma argumentação se volta contra
ela sem poder indicar de maneira definida os seus pontos fracos, cria a
suspeita de que o seu mau humor não se deve ao interesse pela verdade,
e, sim, à inexperiência.
Não
é a mesma coisa apanhar um argumento nas mãos, examiná-lo
e depois apontar as suas falhas, e ser capaz de enfrentá-lo prontamente
quando estamos sendo submetidos a uma inquirição, pois, muitas
vezes, não reconhecemos aquilo que sabemos ao encontrá-lo
em um contexto diferente.
Em todas as coisas, a rapidez é
fruto do treinamento. O mesmo sucede na argumentação, de modo
que, se não tivermos prática, mesmo que vejamos um ponto com
clareza, muitas vezes chegamos atrasados com nossa resposta.
Devemos
nos acautelar não de ser refutados, mas de parecer que o fomos, porque,
naturalmente, as perguntas anfibológicas, as que giram em torno de
uma ambigüidade e todos os outros ardis da mesma espécie podem
mascarar até uma refutação genuína, e deixam
na incerteza a questão de quem foi refutado e de quem não
o foi.
Muitas
vezes, sucede que, embora percebam a anfibologia, as pessoas hesitam em
fazer distinções, devido ao grande número daqueles
que propõem questões desta espécie, receando que os
tomem por eternos obstrucionistas. E assim, embora nunca tenham imaginado
que o objeto do argumento fosse esse, amiúde se encontram frente
a frente com um paradoxo. Portanto, como se concede o direito de fazer distinções,
não se deve hesitar.
Se ninguém jamais tivesse
unido duas questões numa só, não existiria tampouco
o sofisma vinculado à ambigüidade e à anfibologia, mas
uma refutação genuína ou a ausência de refutação.4
Se
não é correto exigir que se dê uma resposta única
a duas perguntas, evidentemente não é adequado dar uma resposta
simples a uma pergunta ambígua, ainda que o predicado seja verdadeiro
de todos os sujeitos, caso em que alguns pretendem que se deveria dar uma
resposta só.
Não
devemos dizer simplesmente 'sim' ou 'não' quando a questão
envolver termos ambíguos, porque, neste caso, o que fala não
terá dado uma resposta, mas apenas enunciado um juízo, se
bem que entre os disputantes tais juízos sejam incorretamente considerados
como respostas, porque não vêem qual será a conseqüência.
Certas
refutações são geralmente consideradas como tais, embora
não o sejam em realidade, do mesmo modo certas soluções
poderão ser consideradas como tais, sem que o sejam realmente.
Dizemos
que o homem pertence ao reino animal pelo fato de ser um animal, da mesma
forma que dizemos que Lisandro pertence aos espartanos, por ser espartano.5
Quando
a premissa proposta não é clara, simplesmente não se
deve concedê-la.
Quanto
mais numerosas forem as premissas, mais difícil será delas
deduzir uma conclusão.
A
maioria não tem opinião clara sobre se a alma dos animais
é perecível ou imortal.6
Sempre
que se prevê uma pergunta, deve-se fazer primeiro a sua objeção
e falar antes do outro, pois esta é a melhor maneira de embaraçar
o que pergunta.
Aos
argumentos corretamente raciocinados, se dá solução
demolindo-os; aos que são apenas aparentes, deve-se fazer distinções.
Os
que desejam solucionar um argumento devem, em primeiro lugar, examinar se
ele foi corretamente raciocinado ou não; depois, se a conclusão
é verdadeira ou falsa, a fim de que possam dar a solução,
quer estabelecendo uma distinção, quer lançando por
terra uma das premissas.
Quando
se está só e se raciocina calmamente é mais fácil
notar e prever ciladas.
Ambigüidade = algo que é
e algo que não é; termo ou de frase que em um sentido é
assim e em outro não é.7
O
conhecimento do mal é bom; logo, o mal é uma coisa boa de
se conhecer. Mas acontece que o mal é ao mesmo tempo o mal e um objeto
de conhecimento, de modo que o mal é um mau objeto de conhecimento,
embora o conhecimento dos males seja bom.8
É
possível que o que não-é seja?
É
possível que, ao mesmo tempo, o mesmo homem cumpra e rompa o seu
juramento?
O
mesmo homem, ao mesmo tempo, pode dizer o que é verdadeiro e o que
é falso?
É
um mal aquilo que o homem prudente não desejaria?
É
o justo preferível ao injusto, e o que acontece justamente ao que
sucede injustamente?
É
justo que cada um tenha o que lhe pertence?
Deve-se
julgar em favor de quem diz o que é justo ou de quem diz o que é
injusto?
Falar de certas coisas não
é necessário que as próprias coisas sejam justas, assim
como do fato de ser útil falar de certas coisas não se segue
que as próprias coisas sejam úteis.
Um homem que sabe que A é
A conhece a coisa chamada A? E, do mesmo modo, quem ignora que A seja A
ignora a coisa chamada A?9
Se
A é sempre acompanhada de B, B também é sempre acompanhada
de A?
Matutando
Poderá
haver treco mais sacana
do
que os sacanas que prometem
salvação e céu a troco de grana?
Poderá
haver treco mais insolente
do
que os ludibriantes que intimidam
com dores, fogo eterno e serpente?
Poderá
haver treco mais ardiloso
do
que os trafulhas que se dizem
intermediários do Todo-poderoso?
Poderá
haver treco mais triste
do
que os finórios que fazem crer
em um jardim futuro que inexiste?
Poderá
haver treco mais afligente
do
que os tunos que compensarão
o tutu mal ganho de toda a gente?