A
INVEJA É UMA MERDA
Rodolfo
Domenico Pizzinga
Um
mecânico estava desmontando o cabeçote de uma moto,
quando entrou na sua oficina um cirurgião cardiologista muito
conhecido. Reconhecendo o famoso cirurgião, o mecânico
parou, e perguntou:
— Ei,
doutor, posso lhe fazer uma pergunta?
O cirurgião, um tanto
surpreso, concordou, e foi até a moto, na qual o mecânico
estava trabalhando.
O mecânico se levantou
e argumentou:
—
Doutor,
olhe só este motor. Eu abro seu coração, tiro
as válvulas, conserto-as, ponho-as de volta e fecho novamente,
e, quando eu termino, ele volta a trabalhar como se fosse novo.
Como é, então, que eu ganho tão pouco e o senhor
tanto, quando nosso trabalho é praticamente o mesmo?
Então, o cirurgião
deu um sorriso, se inclinou e falou bem baixinho para o mecânico:
—
Você
já tentou fazer como eu faço, com o motor funcionando?
|
enho inveja do cirurgião,
que
fatura um cascalhão.
Tenho
inveja do meu vizinho,
que comprou
um carro zerinho.
Tenho
inveja do favelado,
que
sobrevive em um quadrado.
Tenho
inveja do sem-ventura,
que
vive a vida, apesar da usura.
Tenho
inveja do anão
porque
está mais perto chão.
Tenho
inveja do cornudo,
que não
dá bola por ser galhudo.
Tenho
inveja do perjuro
porque
seu Eu é cinza-escuro.
Tenho
inveja dos falsários,
que
passam a perna nos otários.
Tenho
inveja da dolor,
que faz
doer, mas não sente dor.
Tenho
inveja do Bashar,1
que despotiza
sem se tocar.
Tenho
inveja do pentelho,
que
não liga por não ser cabelho.
Tenho
inveja da putinha,
que trabalha
e sofre caladinha.
Tenho
inveja do cafifa,
que afifa,
bifa e não encafifa.
Tenho
inveja do puxa,
que
puxa-saco até de bruxa.
Tenho
inveja do poeta
porque,
da palavra, é um atleta.
Tenho
inveja do Pessoa,2
que
não escreveu nada à-toa.
Tenho
inveja do infante,
que,
resolutíssimo caminhante,
viu que
era ele, um dia,
a formosa
princesa que dormia.3
Tenho
inveja do porteiro
porque
fica sentado o dia inteiro.
Tenho
inveja do Obama
porque
tem muito poder e fama.
Tenho
inveja do Putin,
que jamais
fica out;
está sempre in.
Tenho
inveja do Sarkozy,
que foi
vencido, mas disse: — Oui!
Tenho
inveja da Rousseff,
que é
Presidente e tem um duplo f.
Tenho
inveja do Collor,
que,
qual fênix, reviveu sem rancor.
Tenho
inveja do senador,
que
ratazanou
sem o menor pudor.
Tenho
inveja do Sinatra
porque
nunca precisou de geriatra.
Tenho
inveja do motorneiro
porque
fica em pé o dia inteiro.
Tenho
inveja do lunauta
porque,
do sideral, é um nauta.
Tenho
inveja do religioso
porque
crê em um todo-poderoso.
Tenho
inveja do mawlá
porque
é muito querido de Allah.
Tenho
inveja de Jesus
por Sua
Benignidade e por Sua
LLuz.
Tenho
inveja do Universo
porque
não tem verso nem anverso.
Tenho
inveja da Helena,4
que, inspirada
por KH,5 mudou a cena.
Tenho
inveja de Morya6
porque
Ele não se importa com a glória.
Tenho
inveja do Sol,
que ilumina
de arrebol a arrebol.
Tenho
inveja da Lua,
que
não se molha com a garua.
Tenho
inveja da ventania,
que provoca
uma baita paralisia.
Tenho
inveja da chuva,
que é
a mãe do arco-da-chuva.
Tenho
inveja do trovão,
que faz
o cagarolas mijar na mão.
Tenho
inveja de tornado,
que faz
o enxuto ficar molhado.
Tenho
inveja do Peter Pan,
que
voa e é o maior bambambã.
Tenho
inveja da Sininho,
que ama
o Peter Pan imensinho.
Tenho
inveja do Possante,
que, nos
sacanas, batia bastante.
Tenho
inveja do Fantasma
porque
nunca soube o que é asma.
Tenho
inveja do pertinaz
porque,
de tudo, ele se torna capaz.
Tenho
inveja do gemebundo
porque
sua dor dói bem lá no fundo.
Tenho
inveja de tudo:
do bem-aventurado
ao rabudo.
Tenho
inveja até de Deus
porque
Ele acolhe maus e ateus.
Tenho
inveja porque tenho;
nem sequer
franzo o meu cenho.
Tenho
inveja e gosto paca;
dane-se
quem me tiver por babaca.
E
assim, com uma inveja sobeja
–
que não me adoideja nem peja –
vou invejolhando
de soslaio,
carregando
esta merda de balaio.
______
Notas:
1. Bashar
al-Assad (Damasco, 11 de setembro de 1965) é um político sírio,
e, desde 17 de julho de 2000, é o Presidente do seu País.
2. Fernando
António Nogueira Pessoa (1888 – 1935).
3.
E assim vedes, meu
Irmão, que as verdades que vos foram dadas no Grau de Neófito,
e aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto Menor, são, ainda
que opostas, a mesma verdade. (Do Ritual Do Grau De Mestre do
Átrio Na Ordem Templária de Portugal).
Conta
a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha
que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa
Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe
o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.
Mas cada
um cumpre o Destino –
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se
bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.
E, inda
tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
Eros
e Psique foi publicado pela primeira vez in Presença,
nos 41 a 42, Coimbra,
maio de 1934.
4. Helena Petrovna Blavatsky
(1831 – 1891).
5. Mestre Kut Hu Mi,
o Ilustre. Amado Hierofante da R+C, D... G... M... do Tibet (Bod-Yul) e
Grande Mestre-Adjunto da Grande Loja Branca.
6. O Mestre Morya (ou
Mestre M) é um membro da Grande Loja Branca. Helena Petrovna Blavatsky
foi discípula direta dos Mestres Kut Hu Mi e Morya.
Música
de fundo:
Jogo de Inveja
Composição e interpretação: Mestre Liminha
Fonte:
http://vozmimp3.com/?string=Mestre+Liminha
Páginas
da Internet consultadas:
http://catracalivre.folha.uol.com.br/
2012/03/balaio-amerindio/
http://www.fullyillustrated.com/
portfolio/illustration/stats-envy/
http://ebvpancora5a.blogspot.com.br/
2010_10_01_archive.html
http://animated-gifs.gifmania.co.il/Animations-Animated-Let
ters/Animated-Gifs-Alphabet/Images-Letters-T/index3.htm
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