FOI VOAR... CAIU
DO NINHO!
Rodolfo Domenico
Pizzinga
Já
cavamos tantos alicerces. Já construímos tantos sonhos.
Já trilhamos tantos caminhos. Já colhemos tanto pão.
Já fomos luz. Já fomos sombra. Já fomos pedra,
estrela, chão, alimento.
Agora,
somos portas. Estamos sentados no degrau da vida à espera do
momento certo para sermos mais do que portas, para sermos casa, para
sermos gente com alma dentro. Estamos à espera. As portas esperam
sempre qualquer coisa: que a noite acabe mais cedo, que a chuva não
entre, que o vento não rebente as dobradiças que andam
presas nos gonzos, que a felicidade venha nas asas do vento que bebe
o mar, que alguém peça para entrar.
Somos portas paradas na berma
das ruas. Às vezes, abertas; outras, trancadas; a maioria das
vezes, no trinco. Assim, não corremos o risco de nos acusarem
do egoísmo de que sofre a gente que mora dentro de nós.
É que fechadas, fechadas, não estamos. Abertas também
não convém: temos medo das tempestades que levantam
os segredos que escondemos debaixo do tapete. Assim, encostadas, ficamos
mais ou menos ao abrigo do Sol que rasga as sombras que projetamos
nas paredes. Ficamos no mais ou menos, na tibieza que não compromete,
que é nada mas que não parece. O segredo é não
contar à rua que somos portas encostadas. Talvez, assim, nos
guardemos dentro da concha, com a consciência aliviada do –
era só empurrar! se alguém precisar de nós.
Somos
portas paradas na boca das casas. Entreabertas. À espera de
coragem para mostrar o por dentro da nossa vida. À espera de
mãos com coragem para bater. À espera da força
para deixar passar a Luz que vem dos lados do céu.
Somos
portas. Afinal, a nossa missão é permitir passagens.
Fonte:
http://soprodaspalavras.blogspot.com.br/
2010_10_01_archive.html
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Quem está fora do Caminho?
Negro,
solito carvãozinho,
nos oferta o seu foguinho!
Com nós todos na
Estrada,
vai devagarinho na andada.
O
alto Quercus roburzinho,
já foi igualmente
quinininho!
Hoje, forte como u'a rocha,
às vezes, serve
de escocha.
Pobre,
aflito passarinho!
Foi voar... Caiu do ninho!
Será que aprendeu
a lição
ou, quem sabe, ainda não?
Bobo,
triste homenzinho!
Tantas pedras no caminho!
Aqui, sem saber o porquê,
Sábio
e Esconso Ventinho,
ama a todos do seu jeitinho!
Venta, quando pode Ventar;
mas, é tão-só
para Empuxar.
Mais
além, num lugarzinho,
só há Sol
– tudo é carinho.
Lá, todos haverão
de chegar;
lá, nós
haveremos de festar.
Todos
nós, venturosinhos
– livres dos desconcertinhos
e repletos de zil
grasas –
voaremos sem ter asas!
E
as portas, fechadinhas,
já não terão
mais travinhas!
E os Deuses, tão
distantes,
conosco serão consoantes!
E os Deuses, tão
distantes...