JOSÉ GUILHERME MERQUIOR
(Pensamentos)

 

 

 

José Guilherme Merquior

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Hoje, vamos massagear um poucochinho nossos neurônios com o que pensou o diplomata, filósofo, sociólogo e escritor brasileiro José Guilherme Merquior (Rio de Janeiro, 22 de abril de 1941 – Rio de Janeiro, 7 de janeiro de 1991). Leia; reflita; concorde; discorde. Este estudo que estou divulgando apenas entreabre a janela. Vale a pena pesquisar e conhecer um pouco mais a linhagem do pensamento liberal-social deste brasileiro. Concordar ou dela discordar é um privilégio do qual não devemos abrir mão.

 

Eu, particularmente, não acredito que o(s) Liberalismo(s) seja(m) solução para nada – pois abomino o lucro em todas as suas formas (material, intelectual ou moral) – ainda que incluam como conceitos básicos o individualismo metodológico (unidade básica de compreensão, juízo e ação na realidade) e o jurídico (as relações de direitos e deveres têm como agente as pessoas humanas), a liberdade de pensamento (cada um poderá pensar o que quiser e se exprimir como desejar), a liberdade religiosa (cada um poderá ter a religião que quiser e prestar culto ao deus que bem entender), os direitos fundamentais [direitos do ser humano reconhecidos e positivados na esfera do Direito Constitucional Positivo de um determinado Estado (caráter nacional)], o Estado de Direito (aplicação política da igualdade perante a lei), o Governo limitado (conseqüência da redução do poder político), a ordem espontânea (conjunto de instituições que são criadas pela ação humana sem a premeditação humana), a propriedade privada (reconhecimento da exclusividade de uso de um bem material pelo seu possuidor) e o livre mercado (conjunto de interações humanas sobre os recursos escassos sem ser restrito pela imposição política de interesses particulares). Mas, enfim... Um dia, tudo isto mudará. Precisará mesmo mudar. Eu só vou dar um exemplo hodierno para justificar esta acreditabilidade (que me abichorna, abichornando abichornadamente): como é possível, na Terra, haver os Estados Unidos da América – riquíssimos, poderosíssimos e mandadoríssimos – de um lado, e a República da Somália – pobríssima, inoperantíssima e submissíssima – de outro? Ora, isto não pode ser considerado como uma exceção à regra (porque há dezenas, centenas, de casos semelhantes) nem justificativa para manter a inócua e restringente cartilha liberal. Mais do que triste e infamante para o gênero humano, isto é cruel e inconcebível. Por isto, escolhi como música de fundo deste estudo o lindo Soomaaliyeey Toosoo (Desperta, Somália), Hino Nacional da República da Somália, composto por Ali Mire Awale, em julho de 1947.

 

Mas, por enquanto, leia isto de Merquior: Meu trajeto ideológico foi passavelmente errático até desaguar, nos anos oitenta, na prosa quarentona de um liberal neo-iluminista. Se, desde cedo, mantive uma posição constante — a recusa dos métodos formalistas, então, em pleno fastígio — por outro lado, meu quadro de valores mudou muito, especialmente no que se refere à atitude frente às premissas estéticas e culturais do Modernismo europeu, berço da 'doxa' humanística de nosso tempo.

 

E também este outro fragmento merquioriano: Minha famigerada erudição, já cansei de insinuar, mal passa de uma ilusão de ótica. Na maioria das vezes em que é indigitada, ela parece refletir apenas a ignorância dos que a acusam. Será minha culpa se, em nosso meio intelectual, volta e meia, ainda se valoriza mais a sacação do que a fundamentação, o palpite mais do que o argumento, a alegre usurpação de idéias alheias mais do que o cuidado em identificar tradições de pesquisa e linhagens de pensamento?

 

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

José Guilherme Merquior (Rio de Janeiro, 22 de abril de 1941 – Rio de Janeiro, 7 de janeiro de 1991) foi um diplomata, filósofo, sociólogo e escritor brasileiro. Professor universitário, foi um pensador que se definia politicamente como um liberal social. É o maior pensador do Liberalismo no Brasil.

 

 

 

 

Escritor prolífico, foi o quarto ocupante da Cadeira 36 da Academia Brasileira de Letras, eleito em 11 de março de 1982. Publicou pela Editora Oxford e era reconhecido nos altos círculos acadêmicos europeus, travando contato e amizade com diversos intelectuais de renome. Ernest Gellner foi orientador da sua tese de doutorado em Sociologia pela London School of Economics (o terceiro doutoramento). Polímata humanista, escrevia com autoridade e enorme erudição sobre quase todos os temas das Ciências Humanas, tendo iniciado o ofício público de escritor como crítico literário. O alicerce da obra escrita é o que se chamaria de Culturologia ou, mais especificamente, História das Idéias, menos como tributária do Monismo de Arthur O. Lovejoy e mais da Geistgeschichte alemã.

 

Deixou publicados, entre outros, os seguintes livros: Razão do Poema, Arte e Sociedade em Marcuse, Adorno e Benjamin, A Astúcia de Mimese, Saudades do Carnaval, Formalismo e Tradição Moderna, Verso e Universo de Drummond, De Anchieta a Euclides, O Fantasma Romântico e Outros Ensaios, As Idéias e as Formas, A Natureza do Processo, O Argumento Liberal, O Elixir do Apocalipse e O Estruturalismo dos Pobres e Outras Questões.

 

Como diplomata, serviu em Berlim, Londres, Paris e Montevidéu. Foi Embaixador no México e Representante Permanente do Brasil junto à UNESCO.

 

Ao lado de Roberto Campos, trabalhou no governo Collor como um dos principais ideólogos. Colaborou na redação do discurso de posse do então Presidente, e escreveu as linhas gerais do que seria a doutrina do 'Social Liberalismo'. Teria sido convidado pelo então Presidente para ocupar, em 1990, o cargo de Secretário da Cultura, convite este que não foi aceito.

 

Em Boston, com Hilda, como relata José Mário Pereira, para nova consulta sobre a saúde, aproveitou para marcar uma visita à editora Twayne, que finalizava a edição de Liberalism – Old and New. No encontro com o médico, ouviu com resignação o diagnóstico de que tinha pouco tempo de vida. Hilda, sempre cuidadosa, sugeriu que fossem para o hotel, mas ele não quis. Dali mesmo, apoiando-se na companheira de toda a vida, rumou para a editora, onde o aguardavam. Comportou-se lá como se nada de errado estivesse acontecendo. Com a cordialidade habitual, verificou os detalhes sobre a publicação, fez sugestões quanto à capa do livro que tanta alegria lhe dera escrever – e, sabia agora, jamais veria impresso – e se despediu sem deixar a menor suspeita de que em breve partiria para uma outra esfera do tempo... Merquior morreu em 1991, vitimado por um câncer de intestino.

 

 

 

Disseram de Merquior

 

 

 

A mais fascinante máquina de pensar do Brasil pós-modernista – irreverente, agudo, sábio. (Eduardo Portella).

 

A morte de Merquior foi mais uma grande tragédia brasileira. (Roberto Campos).

 

Merquior achava que a Economia de mercado era necessária, mas sabia que o verdadeiro Liberalismo tinha um componente político, o respeito à Democracia e aos direitos humanos, e que seria uma falsificação do Liberalismo reduzi-lo à defesa da Economia de mercado, como aconteceu no Chile de Pinochet e no Brasil do tempo da ditadura militar. A visão do Liberalismo de Merquior era completamente diferente. Seu Liberalismo era inseparável de uma visão de igualdade e de justiça social. Ele achava que o Liberalismo não podia se reduzir à liberdade, mas deveria também incluir um componente igualitário. Esta é uma idéia que se encontra também em Celso Lafer, que diz: 'Se hoje a linguagem do Neoliberalismo é o Liberalismo da Economia de mercado, o Liberalismo a isso não se reduz.' Ele afirma isso comentando o livro de José Guilherme Merquior sobre o Liberalismo. (Sérgio Paulo Rouanet).

 

Merquior era um liberal moderno, um liberal social-democrata, como ele gostava de se autodenominar. Um liberal preocupado com a verdade e indignado com a injustiça. Um liberal que via para o Estado um papel fundamental na área social. (Luiz Carlos Bresser-Pereira).

 

Fico muito triste porque perdemos um intelectual importante, bem diferente do homem acadêmico, mas que teve a virtude de multiplicar as maneiras de fazer cultura neste País. (José Arthur Giannotti).

 

Seria fácil dizer que ele era o acadêmico que se distingue entre diplomatas e o diplomata que se distingue entre os acadêmicos. Mas havia nele muito mais do que isso. A sua erudição era de fato extraordinária: a sua grande paixão era a história das idéias e o desenvolvimento do pensamento acerca do homem e da sociedade, e, nestes campos, ele fez questão de se assegurar que tinha lido e compreendido tudo. É de duvidar que algo lhe tenha escapado. (Ernest André Gellner).

 

Foi, sem dúvida, um dos maiores críticos que o Brasil teve, e isto já se prenunciava nos primeiros escritos. Lembro como sinal precursor o ensaio que escreveu bem moço sobre A canção do exílio, de Gonçalves Dias, fazendo uma descoberta que dava a medida de sua imaginação crítica, — entendendo-se por imaginação crítica a capacidade pouco freqüente de elaborar conceitos que têm o teor das expressões metafóricas ou o vôo das criações ficcionais. (Antonio Candido).

 

Empregadinho da ditadura militar, servil servidor de um providencial cabide de empregos para intelectuais orgânicos. (Carlos Henrique Escobar). Merquior reagiu, qualificando o adversário de intelectual pigmeu e leviano.

 

Merquior foi um dos espíritos mais vivos e mais bem informados de nosso tempo. (Claude Lévi-Strauss).

 

Até o dia de sua morte, permaneceu lúcido, com a vivacidade e o humor que fizeram dele não só o amigo ideal, mas o ensaísta elegante, o inexcedível crítico de poesia e o polemista implacável, sempre disposto, porém, a aplaudir o adversário inteligente. Até o fim, acalentou projetos, entre os quais o de um longo ensaio sobre o Modernismo. (José Mário Pereira).

 

Perto do fim, Merquior mobilizou as forças restantes para o que seria sua última palavra: a palestra de abertura do ciclo 'O Brasil no Limiar do Século 21', organizado por Ignacy Sachs. Foi em 17 de dezembro de 1990. Tomei o trem para ir escutá-lo em Paris e voltei a Genebra na mesma noite. Minha impressão ficou registrada nesse escrito da época: '...tive quase um choque físico ao revê-lo. Estava devastado pela doença; sua cor, seu olhar, seus traços faciais, sua extrema fragilidade e magreza pareciam de alguém que tivesse retornado da casa dos mortos. No entanto, quando começou a falar, sem texto escrito, sem notas, num francês límpido como água da fonte, o auditório se desligou do drama a que assistia. Durante quase uma hora, acompanhamos como a história do Brasil se renovava sob os nossos olhos por meio da sucessão e do entrechoque dos diversos projetos que os brasileiros sonharam para o País desde a independência. Terminada a palestra, foi a vez de Hélio Jaguaribe falar. Exausto com o esforço descomunal, José Guilherme cruzou os braços sobre a mesa e neles repousou a cabeça, no gesto de um menino debruçado sobre a carteira da sala de aula'. (Rubens Ricupero).

 

 

 

 

Pensamentos de Merquior

 

 

 

O mercado se rege por critérios de eficiência e rentabilidade, não de justiça ou de eqüidade. Ele é um soberbo órgão de criação de riqueza, mas não um mecanismo competente de distribuição de renda.

 

 

 

 

Pessoalmente, há muitos anos, eu me espanto com a irresponsabilidade de alguns intelectuais, que tendem a minimizar, em nome de uma vesga modernice, o problema do ensino básico, da alfabetização, de dotar as pessoas com instrumental mínimo do pensamento articulado, que é a capacidade de falar e de escrever corretamente. Fala-se mal, escreve-se mal, pensa-se mal no Brasil.

 

O rigor intelectual não é inimigo do bom humor.

 

Se você quer estudar letras, prepare-se: que idéia faz você, já não digo da metalinguagem, mas, pelo menos, da gramática generativa do código poético? Qual a sua opinião sobre o rendimento, na tarefa de equacionar a literariedade do poemático, de microscopias montadas na fórmula poesia da gramática/gramática da poesia? Quantos actantes você é capaz de discernir na textualidade dos romances que provavelmente (tres-)leu? E que me diz do 'plural do texto' de Barthes – é possível assimilá-lo ao genotexto da famigerada Kristeva? Sente-se você em condições de detectar o trabalho do significante no 'nouveau roman', por exemplo, por meio de uma 'decodificação semannalítica' de bases glossemáticas? Ou prefere perseguir a 'significância', mercê de alguns cortes epistemológicos, no terreno da forclusão, tão limpidamente exposta no arquipedante seminário de Lacan?

 

Citar em profusão não é necessariamente um pedantismo.

 

No epílogo das cinco estações entre o verão setentrional de 1989 – a chamada Revolução de 1789 – e o aprofundamento da crise do Leste europeu, a que se veio somar o conflito do Golfo, a fermentação política desse inquietante virar-a-década soa como um desmentido brutal à tese do ex-diretor-adjunto de planejamento no Departamento de Estado, Francis Fukuyama, sobre 'o fim da História'. E que desmentido, se considerar a presunção profética desse harvardiano transformado em tecnocrata das relações internacionais! A História continua quente, nem há dúvida – quente, explosiva e imprevisível. Em vez de assistirmos ao seu fim, o que estamos é testemunhando a agonia do historicismo: a morte – já vai tarde! – das arrogantes teorias de uma lógica da História.

 

Um dia, lá se vão vários anos, no solar da Rua D. Mariana, com a meiga e tácita aprovação de Dona Annah, sua esposa e companheira de toda a vida, Mestre Afonso Arinos decidiu me presentear com uma foto histórica: o instantâneo de sua passagem do cargo de Ministro das Relações Exteriores a seu velho amigo San Thiago Dantas. Guardo com o maior carinho esse emblema da nossa aristocracia política. Arinos e San Thiago sorriem um para o outro na serena alegria de uma cumplicidade patriótica, acima e além de tudo quanto a política possa conter de mesquinho. Quando é que esse escol servirá de escola entre nós? Os liberais da era Afonso Arinos eram juristas e tribunos como ele; os de hoje são sociólogos e economistas, raça que ele, discreta e algo preconceituosamente, tendia a desprezar. Não importa: a política da liberdade não precisa só de lucidez econômica. Precisa também de inspiração humanística como a que nós íamos tantas vezes beber, entre livros e pássaros, no seu velho casarão de Botafogo, no convívio inigualável de Afonso Arinos, nosso último patrício. (Negrito e sublinhado meus).

 

Você não precisa ser marxista para se preocupar com justiça social e querer corrigir abusos, onde eles se manifestem.

 

 

Marxismo

 

 

Sobre Gláuber Rocha: Com a lucidez da sua loucura, é o melhor sismógrafo da turma de 60.

 

Depois que a crítica moderna descobriu, pela experiência de Auschwitz e Dachau, o realismo premonitório de Kafka, depois que foi levada a revelar o visionário como origem mal disfarçada de muito realista tido por exemplar – Hoffmann como fonte de Balzac – já não parece haver dúvida sobre a legitimidade do imaginário enquanto realismo.

 

A análise imanente e a análise cultural do discurso literário podem vir amalgamadas.

 

O fantástico só se realiza quando o extraordinário abrange um universo completo. Porém, desse universo, que rompe a norma do natural, qual é a lei suprema, a lei que autoriza a inversão das regras ordinárias? 'É a revolta dos meios contra os fins', responde Sartre. No mundo do fantástico, os objetos-meios se esquivam ao nosso uso, rebelam-se contra os fins que lhes são normalmente assinalados.

 

 

 

 

O homem que constata o absurdo renuncia a todos os projetos; não reconhece mais nenhuma finalidade. O herói do mundo fantástico, entretanto, continua perseguindo os fins num universo que a insolência dos meios torna hostil, torna cruel, torna indecifrável – mas não absurdo.

 

Se o fantástico é um universo completo, vale dizer, onde tudo é homogeneamente extraordinário, no plano do visionário o mundo é, diversamente, um universo misto. Misto ou híbrido, no universo visionário convivem o insólito e o natural, o maravilhoso e o vulgar. O plano do visionário é eminentemente transitivo: nele, o espantoso irrompe e desaparece com a mesma naturalidade. Seu ingresso abrupto e sua não menos brusca reconversão ao natural são fenômenos freqüentes numa esfera em permanente processo. Em oposição ao estático do fantástico, o mundo visionário é vivamente dinâmico. Heterogêneo, aí se chocam vários elementos contraditórios, num procedimento dialético jamais reduzido à imobilidade. Nenhuma situação é fixa; nenhuma se exime de ser envolvida pelo processo. Assim, se os meios, às vezes, se rebelam, se os utensílios ameaçam trair sua função, nunca se pode dizer, do homem desse universo, que tenha perdido sem apelação a liberdade de sua consciência. O habitante do visionário não é, como o do fantástico, um burocrata medular. Ele perde-e-recupera, perde-mas-recupera o seu 'status' humano de detentor supremo de finalidades. Tampouco habita um mundo sem significação (absurdo) ou de significação irremediavelmente oculta (fantástico). Por mais que vacile, por mais que se contradiga, atribui sempre ao mundo um sentido inteligível, de leitura parcial e não raro difícil, mas nunca impossível. A concepção do mundo do visionário é, portanto, aberta ao entendimento de uma lógica do acontecer, de uma razão histórica e de uma ordem temporal – embora não seja esta simplesmente linear.

 

O rótulo de libertário é efetivamente o melhor para indicar Michel Foucault enquanto teórico social. Mais precisamente, ele foi (mesmo que não tenha utilizado essa palavra) um anarquista moderno. Em sintonia ainda mais acentuada com a mais pura tradição anarquista, Foucault era convicto na sua falta de crença nas instituições (mesmo naquelas revolucionárias, como demonstra a dissensão em relação aos maoístas no que diz respeito à justiça revolucionária, concebível somente além dos ritos, estruturas, tribunais e coreografias típicas da burguesia). Negativismo e irracionalismo são os elementos de fundo na crítica radical da contracultura contemporânea, que Foucault e Marcuse representam, oficializando seu matrimônio com o Anarquismo, com prejuízo, assim, para o Marxismo.

 

Quanto a essa questão de corrente fria do Marxismo e corrente quente do Marxismo, eu sempre achei que isso era um Marxismo de torneira.

 

Como dizia meu saudoso amigo Murilo Mendes, 'precisamos ser contemporâneos, e não apenas sobreviventes de nós mesmos.'

 

Nenhum exílio pode servir de álibi para a esterilidade intelectual.

 

 

 

 

No Brasil, quem sabe três coisas é considerado gênio por quem sabe duas. Um dia, alguém vai demonstrar que minha famosa erudição não passa de uma imagem em negativo da famigerada ignorância das pessoas a quem ela incomoda.

 

Em Quincas Borba, em que o motivo da dissimulação já preludia D. Casmurro, a arte machadiana se compraz na retórica do subentendido. Nesse estilo velado, impera a metonímia: o registro dos efeitos sugere as causas, sem explicitá-las. Por exemplo: o constrangimento ambíguo de Palha, quando Sofia lhe conta a declaração de amor que lhe fez Rubião, transparece na lacônica referência ao seu gesto.

 

Boa consciência e má-fé andam de braços dados.

 

Em certo sentido, a sociedade industrial é – quanto mais avançada profundamente igualitária: vê a cena social inteira pelos óculos da igualdade, e, ao contrário das sociedades pregressas, não considera o princípio da hierarquia ou da desigualdade algo intrinsecamente legítimo. Na nossa cultura, a desigualdade, como, aliás, a autoridade, têm sempre que se justificar o que por si só revela a alma igualitária, tocquevilleana, da sociedade moderna.

 

O Estado não é só o Governo.

 

Sobre o debate intelectual no Brasil: Uma das características defeituosas do nosso debate intelectual – quando ele ocorre, pois a outra característica é que ele é muito subdesenvolvido e raramente ocorre é a tendência à imediata ideologização. Os problemas são sempre apresentados de maneira abstrata, principista e apriorista. Portanto, o coeficiente de análise empírica, de exame concreto de realidades verificáveis, é muito pequeno. O irlandês Oscar Wilde dizia que os patrões falam de coisas e os criados de pessoas. No debate político e intelectual brasileiro, há muito pouca gente falando de coisas ou pessoas. Fala-se de noções abstratas. O resultado, em outras palavras, é que se restaurou no Brasil o estilo escolástico de debate. Uma das melhores definições de escolástica como estilo retórico diz que ela era uma maneira precisa de falar de coisas vagas.

 

Não se pode sacralizar a pureza do intelectual nem demonizar o poder do Estado, que não é um mal em si.

 

A vanguarda é uma forma extrema de arte pela arte, e nisso é herdeira do Romantismo. Mas, ao passo que românticos como Shelley, Lamartine e Hugo acreditavam no progresso, os modernistas são socialmente reacionários. É o caso de Yeats, Eliot e Pound.

 

Os neoliberais brasileiros – que, aliás, andam precisando de correção semântica, pois na verdade são paleoliberais1 juntaram-se à esquerda nessa festa de rejeição do Estado. Porque num país como o nosso o Estado é, ou pelo menos deve ser, um promotor de progresso, do equilíbrio social. Mas os paleoliberais rejeitam essa função do Estado, e, por isso, se juntaram aos gramscianos na criação do mito da sociedade civil, chamada a resolver os problemas brasileiros sem a interferência do Estado ou contra ela. Isso é uma bobagem.

 

No fundo da visão conservadora, existe um elemento muito positivo, que consiste em acreditar que nem todos os males humanos têm causas sociais, sendo, portanto, elimináveis através de mudanças sociais. Do lado liberal, a idéia básica, também verdadeira, é que a finalidade do Estado é dar segurança, sem esclerosar a sociedade com um sistema demasiado refratário à iniciativa individual. Enfim, o Socialismo tem de válida a idéia de que o pessimismo antropológico, por trás da posição conservadora, não deve ter o poder absolutista de evitar as reformas sociais citadas pelo reformismo esclarecido.

 

 

 

 

Teses não são necessariamente feitas para ser publicadas. Na Inglaterra, que tem excelentes costumes acadêmicos, encontram-se intelectuais notáveis, reputadíssimos, que aos sessenta anos, com uma carreira acadêmica plenamente realizada, têm dois ou três livros publicados. Mas são livros de verdade.

 

O método de organizar autores por ordem cronológica é um equívoco. O importante é a tendência literária, não a cronologia.

 

Meu agradecimento só pode tomar a forma de uma renovada fidelidade à defesa das letras contra toda superstição ideológica.

 

A vanguarda brasileira anda muito quieta, tão quieta que não a estou notando, ou se dissolveu, e não sou eu quem vai botar luto por isso. A última vanguarda fecunda no Brasil foi a de 1922 – a geração modernista.

 

O luxo de ontem virou o conforto ao alcance de muitos Na sociedade moderna, a posição do indivíduo não é predeterminada; a desigualdade deixou de ser um destino.

 

O progresso é um crescimento cumulativo que jamais poderia ser totalmente planejado. Nesse sentido, o progresso é um processo de adaptação bem sucedida, não um construto laboratorial.

 

A Economia, e não a guerra, foi o veículo institucional do salto para o progresso enquanto condição permanente da civilização.

 

O Igualitarismo da retórica dos regimes socialistas não agüenta a acareação com a realidade. A 'nomenklatura' soviética reforça o mito por trás dessa crença. O igualitarismo pratica o que a distopia de Orwell enfatiza: todos são iguais, mas uns são bem mais iguais que os outros...

 

mais fácil encontrar gente apta a se governar a si mesma do que gente apta a governar os outros.' (Lord Acton, apud Merquior).

 

O império da lei é justamente o que compatibiliza o princípio da ordem com o ânimo individualista da cultura moderna.

 

A natureza do processo é o progresso da liberdade.

 

No Brasil, há uma intelectualidade, mas não uma 'intelligentsia'. A diferença entre uma coisa e outra é a mesma que distingue o gênero da espécie. A 'intelligentsia' é um tipo de intelectualidade. Um tipo cujo modelo histórico foram os intelectuais da Europa oriental no século passado, sobretudo no império czarista. O que a caracteriza é a separação em que os intelectuais vivem em relação à sociedade. São párias, até pela situação de sua renda e seu status. Os intelectuais brasileiros mais radicais, não são párias de nossa sociedade, nem pela renda nem pelo 'status'. Se disserem que são, eu respondo com uma gargalhada. Eles se beneficiaram do progresso econômico, subiram socialmente nos últimos anos como o resto da classe média. Por isso, têm uma retórica muito radical. Fingem que são uma 'intelligentsia'. Mas, na prática, se comportam como um setor do salariado, têm impulsos corporativistas.

 

No Brasil, quando um intelectual se sente incomodado por um crítico, ele não contra-ataca as idéias do crítico; ataca o próprio crítico.

 

 

 

 

Uma das características de toda seita é o puritanismo, a intransigência no plano da conduta e o dogmatismo.

 

O mal da grafocracia (termo cunhado pelo marxista austríaco Karl Renner, depois da II Guerra, para designar essa vocação moderna do intelectual para exercer o poder através do que ensina ou escreve) é que, com ela, o humanismo deixa de ser um movimento intelectual, para se transformar em uma ideologia, no sentido marxista da palavra, isto é, um sistema que reflete os interesses de uma camada intelectual que se comporta como clero.

 

Minha preocupação com a erudição é instrumental. Quero equipar-me com ela para tratar de determinados problemas. Mas essa conversa do erudito que leu o último livro é uma bobagem. Ninguém leu o último livro. Essa época acabou na Renascença, quando as grandes bibliotecas tinham 500 volumes. A minha tem 7.000 volumes e não tem o último livro. Por outro lado, a erudição também vai ganhando um ar pejorativo, que serve para descartar certas idéias, um certo tipo de pensamento a pretexto de que 'são coisas de erudito'. A insinuação é de que existe outro saber, por graça infusa, que dispensa seus iluminados do trabalho de serem eruditos. Basta estar na posição 'correta'. Eu gostaria de saber quem dá esse atestado de dispensa.

 

Eu me sinto um pouco um iluminista. Tenho confiança no progresso, acredito no progresso pela racionalidade. Essa crença já foi característica dos socialistas, mas, hoje, os socialistas mais sofisticados abandonaram seu compromisso histórico com o Evolucionismo. Direita e esquerda ficaram muito parecidas neste aspecto: o repúdio aos tempos modernos. Adorno, que se proclamava neomarxista, chamou nossa época de satânica. No século XVIII, quem acreditava no progresso eram os filósofos. Atualmente, intelectual que acredita no progresso é coisa rara. Hoje em dia, quem acredita no progresso, felizmente, são as massas.

 

No reino dos mestres e doutores em letras, há os que entendem (quando entendem) de um autor e de um método, mas não entendem lhufas de Literatura.

 

O autor compõe. O público interpõe. O crítico decompõe. Mas a obra dispõe.

 

Antes de verter lágrimas de crocodilo ante a perspectiva de emagrecimento do Estado, nossa esquerda bem pensante deveria compreender que, além de ser bastante ineficiente como amo e senhor da Economia, o Estado latino-americano típico, e o brasileiro em particular, está longe de ser filantrópico. Nosso Estado 'social', na verdade, reproduz privilégios, ao mesmo tempo em que cerceia a dinâmica de crescimento por alimentar a inflação crônica, interminavelmente reabastecida pelas atitudes e demandas cartoriais de grupos sociais particularistas. Por isto, emagrecer o Estado – o que não significa, ao contrário do que pretende o Liberalismo conservador, aboli-lo ou reduzi-lo a mero gendarme – é um imperativo atualmente embutido na própria exigência das reformas de estrutura sugeridas pelo diagnóstico das nossas taras sociais. Pois somente o emagrecimento do Estado permitirá a redefinição de suas funções, em favor do social e do planejamento sem estatismo... Uma vez emagrecido e agilizado (emagrecido para se tornar mais ágil) o Estado fica de mãos livres para promover o investimento público produtivo... E este Estado, fiscalmente forte e investidor, ganha condições de realizar duas coisas essenciais à melhoria do nível de vida popular: (a) gera, direta e indiretamente empregos; e (b) torna-se apto a atacar, com vigor e escalas inéditos, programas de alto sentido social na área da saúde, da moradia e da educação.

 

Em uma reunião no Palácio do Planalto, com vistas a impedir a construção do Memorial JK, desenhado por Niemeyer, Merquior fez o seguinte comentário aos adversários do projeto: Acaba de sair em Londres uma obra importante, 'Makers of Modern Culture', onde só foram incluídos dois brasileiros: Carlos Drummond de Andrade e Oscar Niemeyer. Peço considerarem o fato. O Memorial acabou sendo erguido.

 

É a conjunção de Estado forte e Economia dinâmica que reduz os diferenciais de renda, aumentando o consumo de massa pela constituição definitiva de um amplo mercado interno. O distributivismo imediatista, inibindo a Economia pelo afugentamento do lucro, só é 'social' de maneira fugaz e contraditória. No fim da linha, seu resultado não é o bem-estar da população, e, sim, o empobrecimento causado pela desarticulação da máquina econômica. E sabemos que esse distributivismo escamoteia a reforma do Estado, privando-se, assim, do mais poderoso instrumento de superação das iniqüidades da nossa estrutura social.

 

Aquilo que as sociedades modernas aspiram positivamente não é o igualitarismo da miséria, a justiça na penúria, e, sim, a participação livre e razoavelmente igualitária nos frutos do progresso e do conforto.

 

 

 

O Socialismo, em suas origens intelectuais, não era uma teoria política, e, sim, uma teoria econômica. Mais precisamente, uma teoria que procurava reorganizar a sociedade industrial. Os primeiros ideólogos socialistas – os que Engels chamou de 'socialistas utópicos' simplesmente não cogitavam de instituições políticas. O Socialismo só se politizou com Marx, que fundiu a crítica do Liberalismo Econômico com a tradição revolucionária e igualitária do Comunismo.

 

Os contatos entre a Antropologia e a Psicanálise foram, em seu começo, marcados pela hostilidade dos antropólogos às generalizações freudianas tipo Totem e Tabu (1913), onde a 'explicação' da cultura em termos de impulsos da libido não podia resistir à seriedade crítica. Ainda por cima, Freud extraiu a maior parte de seu material antropológico, de maneira freqüentemente ingênua, do Evolucionismo e da Antropologia de 'gabinete' do século XIX e dos inícios do atual: de Spencer e Wundt, de McLennan e Taylor, de Lange, sobretudo, de Frazer. Em tais condições, o prazer bem maligno de Malinowski, ao arrasar a aplicação ortodoxa do complexo de Édipo ao estudo das origens culturais, encontra sua razão ao combate que a Antropologia moderna, sob o signo do Funcionalismo, moveu contra os 'pais' oitocentistas dessa ciência. O Determinismo e o Unilateralismo interpretativo de livros como Totem e Tabu, tanto nas fontes quanto na orientação, só poderiam indignar as novas tendências antropológicas.

 

Ao contrário de Freud, Jung teve uma longa vivência clínica da loucura, e nessa sua prática terapêutica se enraíza uma de suas melhores contribuições à teoria psicológica: a distinção entre introversão e extroversão. Procurando captar a especificidade do comportamento esquizofrênico, ele supôs que este consiste numa tentativa, por parte do doente mental, de conferir sentido à sua experiência, protegendo-se do mundo hostil (é fácil reconhecer o quanto essa caracterização se aplica como uma luva às paranóias). Até aí, tudo perfeito. Mas acontece que, ao construir sua Psicologia Analítica como visão do mundo, Jung partiu para uma generalização indébita, descrevendo o homem moderno como alguém no fundo tão necessitado quanto o esquizofrênico de dar sentido à sua vida.

 

No Brasil, temos, ao mesmo tempo, Estado demais e Estado de menos. Demais na Economia, onde o Estado emperra, desperdiça, onera e atravanca. De menos, no plano social, onde são gritantes e inadmissíveis tantas carências em matéria de saúde, educação e moradia. Por isto, há, muitas vezes, um diálogo de surdos: de um lado liberais se esquecem, ao condenar a ação do Estado, de ressalvar nossas tremendas necessidades no campo assistencial; de outro, os que se dizem defensores 'do social' condenam todas as posições liberais.

 

Liberalismo com preocupações sociais é a única doutrina política atual que leva profundamente a sério o ideal democrático no sentido rigoroso da palavra, de Governo do povo. Os socialismos de Estado dizem ser democráticos, mas ninguém se atreveria a dizer que praticaram a Democracia como forma de Governo. A Democracia Liberal Social é realmente Democracia, variando apenas no grau do seu teor democrático. O argumento liberal não precisa fugir à realidade; mas o antiliberalismo socialista só consegue basear-se no idealismo e em promessas sempre refeitas e adiadas de um paraíso de liberdade.

 

A verdadeira Democracia Liberal tem duas paixões — as paixões de Rousseau: liberdade e igualdade.

 

Temos coisa melhor a fazer do que permitir que nosso pensamento e sensibilidade se escravizem a uma sovada e infundada ideologia de negação e de desespero.

 

Em 1955, sem tostão para comprar sequer uma tela, o grande pioneiro do 'pop-art', Robert Rauschenberg, pegou o edredom de sua cama, estendeu-o no chão, juntou-lhe o travesseiro e pintou vigorosamente o conjunto. Batizada como Cama, essa insólita salada de lençol, cobertor e fronhas, espessamente pintados, foi há pouco oferecida pelo conhecido 'marchand' Leo Castelli ao Museu de Arte Moderna, o famoso MoMA [Museum of Modern] de Nova York. Valor atual estimado: perto de 10 milhões de dólares. É o caso de dizer: faça a cama e deite-se na fama...

 

A terrível trepidação da vida-reflexo, banindo a vida da reflexão, se casa ao reino da grossura para nos negar o refúgio da arte – a pausa da qual se volta intimamente mais rico ao debate cotidiano.

 

Sobre a arte moderna: Há pelo menos duas décadas, com a fadiga do abstrato, o paradigma da pintura ocidental voltou à imagem. À imagem violenta ou plácida, impessoal ou retratística: daí o triunfo de Bacon ou de Balthus, dos hiper-realistas ou de um Lucien Freud. Mas, como advertiram os primeiros denunciantes da penúria do abstracionismo, o retorno à figuração só ganharia consistência se passasse por um novo rigor da técnica e da composição. Na plástica brasileira dos últimos anos, ninguém encarna esse requisito com mais consciência que Marcos Duprat. Tranqüilamente, alheio ao frenesi neofágico das propostas vanguardeiras, Duprat se refugiou na mais estrita fidelidade ao que ele chama 'o enigma da realidade visível'. Esse enigma, os óleos de Marcos Duprat o armam, decifram e rearmam num estilo translúcido, cristalino, onde as mudanças cromáticas sugerem momentos de mágicas metamorfoses. Os planos são dispostos, as camadas superpostas, a cor nasce da 'velatura' – um processo colorístico de nobre linhagem, que exige um trabalho em ritmo artesanal, a léguas da herança turbulenta, e ainda tão influente, de Pollock e sua tribo. Uma pintura lenta, em adágio, propícia à meditação do duplo, à ponderação da série, à perquirição da profundidade – todos temas desses olhos peritos em focalizar o prolongamento de uma imagem noutra, o reflexo no espelho ou na água, os corredores engavetados em túnel, a delicada modulação de seqüências. Quando ele aborda a figura humana, especialmente nua, Duprat sabe ser tão sereno quanto Balthus – mas sem fazer da cena o prelúdio a um drama de vício e malícia. Quando prefere objetos, o silêncio das formas é tão lírico quanto um Morandi.

 

O Liberalismo, como se sabe, é pluralista desde as suas origens. Caracteriza-se pela multiplicidade de seus clássicos e pela variedade de suas distintas elaborações, que respondem a problemas colocados por contextos sócio-político-culturais, heterogêneos no tempo e no espaço. Por esse motivo, tem vertentes econômicas, políticas, jurídicas e culturais muito variadas nos seus propósitos, razão pela qual convém falar em Liberalismos no plural, e não em Liberalismo no singular.

 

Os Liberalismos de José Guilherme Merquior: Protoliberalismo - A noção de direitos e limites constitucionais surge na Idade Média. A Renascença contribui com a ideologia do humanismo e da cidadania. O culminar do processo de formação do Liberalismo nasce com o Iluminismo do século dezoito. Tendo como base os anteriores, o Romantismo coloca ênfase na importância do indivíduo. Liberalismo Clássico - Dá forma à moderna teoria da liberdade com Constant e do sistema político moderno com os pais fundadores da Democracia Americana. A tese econômica clássica com Smith e Ricardo e a teoria da liberdade econômica constituem o legado central do Liberalismo Clássico. A teoria da democracia com Bentham e Tocqueville, bem como a teoria do individualismo liberal de John Stuart Mill fazem parte dos cânones clássicos. Liberalismo Conservador - A meio do século dezenove, os excessos da revolução Francesa e o 'nascimento' de Napoleão Bonaparte dão origem a uma busca de mecanismos que protejam contra os aspectos negativos da Democracia. Autores como Bagehot, Spencer, os alemães do Rechsstaat, Croce e Ortega advogam um Liberalismo Elitista. Novo Liberalismo - No final do século XIX surge uma nova forma de Liberalismo fortemente preocupada com o bem-estar social. Green, Hobhouse, Kelsen, Keynes e Dewey formulam as posições do Liberalismo Social. Por outro lado, o Totalitarismo Comunista e Fascista gera uma contra-ofensiva liberal com Popper, Orwell, Camus e Berlin. Rawls e Bobbio expõem já mais recentemente uma nova modalidade de Liberalismo Social. Neoliberalismo - Em oposição ao Liberalismo Social, o Neoliberalismo mantém uma posição conservadora e advoga uma muito maior minimização do Estado e o crescimento da Economia de Mercado. Liberalismo Sociológico - Pensadores contemporâneos, como Aron e Dahrendorf, relembram a necessidade de um equilíbrio entre os direitos e as obrigações, entre a expansão da liberdade e uma maior eqüidade social.

 

O Liberalismo moderno é um Social-liberalismo; é um Liberalismo que não tem mais aquela ingenuidade, aquela inocência diante da complexidade do fenômeno social, e em particular do chamado problema social, que o Liberalismo clássico tinha. O Liberalismo moderno não possui complexos frente à questão social, que ele assume. É a essa visão do Liberalismo que eu me filio.

 

Não compartilho dessa visão pateta do Brasil de que os grandes astros da música popular são intelectuais. Caetano Veloso é um pseudo-intelectual de miolo mole.2

 

 

 

 

Não gosto da expressão ‘fazer a cabeça’. Acho-a alienada. Quem faz as minhas idéias, com muita dificuldade, sou eu mesmo.

 

Sobre a validade dos conceitos de direita e esquerda: Eu acho que esse tipo de conceituação está em grande parte esvaziado pelo uso demasiado sloganesco que dele tem sido feito. O problema da direita 'versus' esquerda, usado na base do clichê, tem levado realmente a muito pouca análise. É o caso típico em que a discussão produz mais calor do que luz. Trata-se de palavras dotadas de uma grande carga emocional, e que são usadas para fins puramente polêmicos na vida política e no combate ideológico. Eu, hoje, sou um cético em relação ao uso dessas categorias.

 

Como imaginar o Brasil da Nova República? Talvez não seja mau começar por uma constatação: a de quanto o nosso País, até aqui, já conseguiu desmentir os estereótipos mais renitentes sobre a América Latina em seu conjunto... Graças a seu senso histórico-filosófico do papel do Estado, Tancredo Neves regenera a noção da autoridade legítima entre nós. Daí a tranqüila, suave impressão que cerca, nesse homem proverbialmente afável, o sentido, no entanto, vivíssimo da autoridade. Reparem nas montanhas de Minas: delas emana uma majestade amena, muito diversa da monumentalidade abrupta de outros relevos. Algo semelhante deflui da 'imago potestatis' de Tancredo. Essa 'majestas' sem pompa, mas sempre cônscia da própria dignidade, é a que melhor consulta os requisitos do poder em reconstrução na transição democratizante... No discurso de Vitória, Tancredo preconizou o reforço da Democracia e a reanimação do princípio federal. O poder, na Nova República, admite, deseja desconcentrar-se. E pode fazê-lo, porque o que perder em concentração será ganho em autoridade. No ciclo atribulado da nossa Quarta República, Juscelino nos ensinou o convívio com o desenvolvimento. A grande e sóbria esperança da Nova República é que com Tancredo, nosso príncipe civil, a nação interiorize de vez a vivência da Democracia. Qualquer coisa aquém disso seria indigna do Brasil moderno.

 

Os juízos estéticos de Silvio Romero são às vezes claudicantes, às vezes insustentáveis (por exemplo o endeusamento de Tobias – dado por superior à Castro Alves... – a subestimação parcialíssima de Machado de Assis); contudo, o estilo ágil e combativo facilita a leitura, e o patriotismo sem ufanismo faz desse colosso historiográfico, ao qual se deve a fixação definitiva (em termos globais) do nosso 'corpus' literário, um depoimento fundamental sobre o itinerário da cultura brasileira.

 

Entre a biografia do herói e essa melodia tragicômica, Machado de Assis tece um contraponto sutil. Brás Cubas é um fátuo, um prisioneiro dos desejos, que aspira egoisticamente ao gozo, ao poder e à glória. Sua história evolui num palco onde reina a decomposição dos seres e das experiências: a beleza de Marcela, o seu amor por Virgília, a sua ternura pela irmã, tudo se esvai, tudo apodrece. Não é à-toa que o narrador avisa que o livro ‘cheira a sepulcro’. A destruição, a crueldade é a norma da vida.

 

Cuba, hoje, não oferece maiores perigos na América do Sul. O guevarismo já era. E o reatamento tem pelo menos três vantagens para nós: a) abriria um significativo potencial de exportações brasileiras; b) permitiria ao Brasil influir, em boa medida, na conduta internacional de Havana, como faz o México, em sentido moderador e realista; e c) evitaria que, no futuro, nosso reatamento se desse a reboque de uma reconciliação diplomática Cuba/USA, reconciliação essa, a médio prazo, tão certa quanto o foi o reconhecimento de Pequim por Washington, na década passada.

 

Desconfio que a próxima edição do perspicaz Tratado Geral dos Chatos, de Guilherme Figueiredo, trará um capítulo especialmente consagrado ao chato analisando, que, decretando 'todo mundo neurótico', não descansa enquanto não vence a 'resistência' (ou torra os países baixos) dos amigos e até conhecidos, no ignóbil afã de prostrá-los no divã.

 

As críticas que venho dirigindo à Psicanálise certamente possuem uma quota de sátira, irresistivelmente provocada pela própria beatice que costumam exibir os círculos devotos de Freud. No entanto, desde o início, isto é, desde junho de 1980, quando foi lançado o livro O Fantasma Romântico, todos os textos em que procurei questionar a validez científica, terapêutica e cultural da Psicanálise expõem vários argumentos e várias referências a pesquisas empíricas, uns e outras inteiramente independentes, em si mesmos, do tom de sátira ou ironia presente nesses escritos.

 

No Brasil, ultra-românticos foram os poetas-estudantes, quase todos falecidos na segunda adolescência, membros de rodas boêmias, dilacerados entre um erotismo lânguido e o sarcasmo obsceno. Os que dobraram a casa dos vinte e cinco acumularam os fracassos profissionais e os rasgos de instabilidade, confirmando a índole desajustada desses 'poetas da dúvida', a que faltam por completo a afirmatividade dos românticos indianistas e a combatividade dos condoreiros.

 

Diálogo entre Fernando Collor, 32º Presidente do Brasil, e José Guilherme Merquior:

Collor: — Embaixador, preciso de uma base ideológica. Falam que eu sou de direita, e para mim a direita é o Delfim Netto e o Roberto Campos. O senhor me vê como político de direita?

Merquior:Não. O vejo como um socialista liberal.

Collor: — Mas não há uma contradição entre o Socialismo e o Liberalismo?

Merquior, apoiando-se nas teorias do cientista político italiano Norberto Bobbio:Não. O Norberto Bobbio usa e defende essa classificação.

 

 

 

 

 

 

 

É Rapidinho

 

 

 

Não acredito que o Liberalismo

ou qualquer outro tipo de -ismo

– e, talvez, o próprio Misticismo –

possam...

 

– despojadas de qualquer vaidade

e de toda estéril hipoteticidade –

poderão...

 

Então, tudo depende do homem,

que ainda é meio que infra-homem,

mas que – um dia! – Deus-homem

será!

 

 

 

______

Notas:

1. Pale(o)- = do grego palaiós, á, ón, antepositivo que significa velho, antigo.

2. Mais tarde, Caetano afirmou que Merquior estava certo.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.crestock.com/blog/photography/
13-fantastic-free-wallpaper-images-80.aspx

http://pt.wikipedia.org/wiki/Direitos_fundamentais#
Efic.C3.A1cia_horizontal_dos_direitos_fundamentais

http://pt.wikipedia.org/wiki/Liberalismo

http://www.academia.org.br/
abl/media/depoimentos5.pdf

http://www.bresserpereira.org.br/
view.asp?cod=1071

http://acaricatura.zip.net/
arch2006-12-17_2006-12-23.html

http://lisandronogueira.blogspot.com/2011/01/
caetano-veloso-filhos-drogas-sexo.html

http://thenetexperiment.com/2009/01/20/progress
-update-2009-week-2-january-12th-18th/

http://romanos12.blogspot.com/
2010/04/cessar-fogo.html

http://muitasvoltasaestemundo.blogspot.com/
2011/01/socialismo-e-cristianismo-sao.html

http://fasesefacetas.blogspot.com/
2010/05/sobre-exilio.html

http://www.abralic.org.br/anais/cong2008/Anais
Online/simposios/pdf/041/REGINA_FARIA.pdf

http://www.institutoliberal.org.br/
resenha.asp?cdc=1732

http://e-revista.unioeste.br/index.php/
temasematizes/article/viewFile/540/451

http://www.overmundo.com.br/overblog/ha
-25-anos-briga-de-cachorro-grande

http://www.nodo50.org/insurgentes/biblioteca/
foucault_e_o_anarquismo_-_vaccaro.pdf

http://www.tiosam.org/enciclopedia/
index.asp?q=José_Merquior

http://www.assis.unesp.br/
posgraduacao/letras/mis/pdf/v4/v4mariaa.pdf

http://www.jb.com.br/

http://www.olavodecarvalho.org/
convidados/0122.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Jos%C3%A9_Guilherme_Merquior

http://www.ordemlivre.org/node/1150

http://www.spectrumgothic.com.br
/literatura/ultraromantismo.htm

http://www.liberal-social.org/os-
liberalismos-de-jose-guilherme-merquior

http://home.comcast.net/~pensadoresbrasileiros/
Diversos/merquior-aranha_e_abelha.htm

http://home.comcast.net/~pensadoresbrasileiros/
Diversos/merquior-socialismo_e_liberalismo.htm

http://www.escuelaaustriaca.org/Docs/
Papers/EA2008/Piccolo%20Ponencia.pdf

http://books.google.com.br/

http://veja.abril.com.br/
especiais/35_anos/p_014.html

http://www.ponteiro.com.br/vf.php?p4=8788

http://pt.wikipedia.org/wiki/Quincas_Borba

http://proverbios.worldpages.us/index.
php?autor=José Guilherme Merquior

http://www.frazz.com.br/escritor/
jose_guilherme_merquior/219

http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/07/
frase-permanente-enquanto-durar-jose.html

http://frases.netsaber.com.br/busca_up.php?l=
&buscapor=Jos%E9%20Guilherme%20Merquior

 

Música de fundo:

Soomaaliyeey Toosoo (Hino Nacional da Somália)
Composição: Ali Mire Awale

Fonte:

http://ultradownloads.uol.com.br/download/
Hino-Nacional-da-Somalia-MP3/