Este
estudo tem por objetivo apresentar para reflexão alguns excertos
(algumas vezes editados, mas sem comprometer a substância do original)
da obra platônica As Leis – último diálogo
(inacabado) de Platão e também o mais extenso, mas que não
conta com a presença de Sócrates como dialogador. Entretanto,
focalizei mais o texto na dialética dialogal subjacente (único
modo, segundo Platão, de podermos nos elevar das aparências
sensíveis às Realidades Inteligíveis ou Idéias)
que ampara o pensamento de Platão para a consecução
de boas e justas leis, que, fundamentalmente, depende da avaliação,
como ponderou o autor. Em suas palavras:
À avaliação, quando se torna o decreto público
do Estado, dá-se o nome de lei... É
o fio condutor – dourado e sagrado –
da avaliação
que se intitula lei pública do Estado.
Na
verdade, confesso, este estudo pretende ser uma espécie de catalisador
para a leitura integral da obra – extensa, mas fácil de ser
entendida – principalmente por aqueles que são apaixonados
pelo Direito. Afinal, o estudo que hoje estou divulgando está absolutamente
incompleto e fragmentado. O próprio arquivo .htm do Adobe
Dreamweaver não suportaria um texto mais extenso e mais
pesado. E não acho conveniente dividir um trabalho em pedacinhos.
Então, fui até onde deu.
A
obra As Leis, conforme um texto do
Projeto
Phronesis
(que objetiva divulgar e popularizar o conhecimento filosófico),
pode ser resumida da seguinte forma: Em
suma, o legislador tem que visar, em sua legislação, três
motivos: a liberdade, a unidade e a racionalidade do Estado para o qual
legisla, pois, quando um Estado chega ao extremo da escravidão ou
ao extremo da liberdade, se constata a ausência de proveito de qualquer
uma delas.
Na verdade, liberdade sem responsabilidade é uma espécie
de escravidão, da mesma forma que liberdade [tra]vestida de fanatismo
ou vice-versa é a pior das liberdades.
As
Leis perpassam por elementos da Psicologia, da Gnosiologia, da Ética,
da Política, da Ontologia e mesmo Astronomia e da Matemática;
mas, os argumentos de Platão também se enraízam na
cíclica História das civilizações.
Enfim,
como disse o filósofo e matemático britânico Alfred
North Whitehead (Ramsgate, 15 de fevereiro de 1861 – Cambridge, 30
de dezembro de 1947), a
Filosofia ocidental nada mais é do que uma série de notas
de rodapé a Platão. Exageração?
Em parte, sim; mas, nem tanto. O que é certo é que Platão
(428/427 – 348/347 a.C.), entre muitas maravilhas –
umas ainda não descobertas,
outras mal entendidas – antecipou a revolução científica
protagonizada por Galileu Galilei (1564
– 1642) e Isaac Newton (1643 – 1727),
pois admitia, teosoficamente, que o Universo é regido por Leis Matemáticas
imudáveis (os
números governam o mundo) e não por deuses de
barro (criados pela fértil e ilusória imaginação
humana). Seja como for, não devemos esquecer de que Pitágoras
(cerca de 571/570 a.C. – cerca de 497 a.C. a 496 a.C.) e Platão
foram alunos do mesmo Colégio Iniciático, e, para nós,
afetuosamente divulgaram o que pôde (podia) ser divulgado. A infelicidade
infeliz e infelicitadora é que a Humanidade não aprendeu (quase)
nada do que nos foi legado por Pitágoras e por Platão. Os
Iniciados sabem (e os pesquisadores estão descobrindo) que Platão
escreveu todas as suas obras segundo
um certo Código – Código de Platão –
um conjunto de conhecimentos
herdados da Escola Pitagórica e dos seus
seguidores, de sorte a formar uma estrutura musical harmônica e impressionar
emocionalmente a personalidade-alma do leitor. (Isto só é
válido para o original escrito na língua grega antiga ou clássica
– he hellenike
glossa). Enfim, como explica Jay Kennedy,
ao ler os livros de Platão [no
original], as nossas emoções seguem os altos e
baixos de uma escala musical. Platão utilizou os leitores como instrumentos
musicais.
10
4
3 1 = Universo
Bem,
com uma certa inveja mística de Platão, inveja inínvida
que muito me honra, pois eu gostaria de ter o conhecimento universal do
Ateniense, para poder escrever iluminando e discursar maieutizando sobre
o que ele escreveu e discursou, convido você para ler os fragmentos
platônicos que selecionei. Já, para ler integralmente a obra
As Leis, por favor, dirija-se a:
http://www.4shared.com/get/Nr_xC8U-/
17934302-PLATAO-AS-LEIS.html
ou
http://www.4shared.com/get/cesEi9Ip/PLATO
_As_leis_incluindo_EPINOM.html
Platão
– As Leis
(Fragmentos)
Platão
apontando os Arquétipos
Parece-me
ter o legislador ter condenado a estupidez da multidão, a qual não
consegue compreender que todos os homens de uma cidade estão envolvidos
incessantemente em uma guerra vitalícia contra todos os outros Estados.
Paz,
como o termo é comumente empregado, não passa de um nome.
A verdade é que todos os Estados estão, por uma Lei da Natureza,
comprometidos perpetuamente em uma guerra informal com todos os outros Estados.
Todos
os bens dos vencidos caem nas mãos dos vencedores.
A
vitória sobre o ego é, de todas as vitórias, a mais
gloriosa e a melhor; e a autoderrota, de todas as derrotas, é, de
pronto, a pior e a mais vergonhosa. Uma guerra contra nós mesmos
existe dentro de cada um de nós.
Todo
legislador, em toda a sua legislação, deverá visar
o maior bem. O maior bem, contudo, não é nem a guerra (menos
branda do que uma revolução) nem a revolução
(de todas as guerras, a mais amarga) – coisas em relação
às quais deveríamos, de preferência, orar para delas
sermos poupados – mas, sim, a paz recíproca e o sentimento
amistoso.
Os
bens são de duas espécies, a saber: humanos e divinos. Os
bens humanos dependem dos divinos, e aquele que recebe o maior bem adquire
igualmente o menor; caso contrário, é privado de ambos. Entre
os bens menores, a saúde vem em primeiro lugar; a beleza, em segundo;
o vigor, em terceiro, pois é necessário à corrida e
a todos os demais exercícios corporais. Segue-se o quarto bem, a
riqueza; não a riqueza cega, mas aquela de visão aguda, que
tem a Sabedoria por companheira. A Sabedoria, a propósito, ocupa
o primeiro lugar entre os bens que são divinos, oportunizando a racional
moderação da alma. E da união destas duas (Sabedoria
e moderação) com a coragem nasce a justiça, ou seja,
o terceiro bem divino, seguido pelo quarto, que é propriamente a
coragem. Enfim, os bens humanos são orientados para os bens divinos,
e estes para a razão, que é soberana.
A
vitória de um Estado sobre si mesmo não é apenas uma
das melhores coisas a serem atingidas; mas, sim, uma daquelas coisas necessárias,
como se um homem supusesse que um corpo humano está na sua melhor
condição quando se acha enfermo e sob efeito de um medicamento,
sem nunca atentar para o fato de que um corpo não deve, em princípio,
necessitar de qualquer medicamento.
Razão
—› vincula todos os estatutos em um único sistema.
Reconhecido
o erro, é precisamente isto que conduz ao remédio e à
cura, se a crítica for aceita sem animosidade e em uma disposição
amigável.
Se,
desde a juventude, os cidadãos se desenvolverem distantes do gozo
dos maiores prazeres, a conseqüência será que quando se
encontrarem em meio aos prazeres sem serem treinados no dever de a eles
resistir e recusarem cometer qualquer ato desonroso – devido à
natural atração dos prazeres – sofrerão o mesmo
destino daqueles que cedem ao medo: serão, de uma outra forma, ainda
mais vergonhosa, escravizados por aqueles que são capazes de resistir
em meio aos prazeres e aqueles que são versados na arte do prazer
– seres humanos que são, por vezes, inteiramente perversos
– de modo que suas almas serão em parte escravas, em parte
livres, não merecendo eles, sem reservas, receber o título
de homens livres e homens de coragem.
Em
relação ao corpo humano, parece impossível indicar
qualquer tratamento específico para cada caso, sem se descobrir que
esta mesma indicação em parte é benéfica e em
parte é prejudicial ao corpo.1
E
faça-se a observação – em tom sério ou
a título de gracejo – seguramente não se deixa de constatar
que quando o macho se une à fêmea, para procriação,
o prazer experimentado é considerado devido à Natureza; porém,
é contrário à Natureza, quando o macho se une ao macho
ou a fêmea se une à fêmea, sendo que os primeiros responsáveis
por tais enormidades foram impelidos pelo domínio que o prazer exercia
sobre eles.
Crianças bem educadas se revelarão
bons indivíduos.
Educar
é treinar, desde a infância, na virtude, o que torna o indivíduo
entusiasticamente desejoso de se converter em um cidadão perfeito,
o qual possui a compreensão tanto de governar como a de ser governado
com justiça. Seria vulgar, servil e inteiramente indigno chamar de
educação uma formação que vise somente à
aquisição de dinheiro, de vigor físico ou mesmo de
alguma habilidade mental destituída de Sabedoria e de Justiça...
Enfim, educação é a primeira aquisição
que a criança faz da virtude.
Quando
o prazer, o amor, a dor e o ódio nascem com justeza nas almas antes
do despertar da razão, e uma vez a razão desperta, os sentimentos
se harmonizam com ela no reconhecimento de que foram bem treinados pelas
práticas adequadas correspondentes, e essa harmonização,
vista como um todo, constitui a virtude. Mas, a parte dela que é
corretamente treinada quanto aos prazeres e aos sofrimentos, de modo a odiar
o que deve ser odiado desde o início até o fim, e amar o que
deve ser amado, esta é aquela que a razão isolará para
denominá-la educação, o que é, a meu ver, denominá-la
corretamente.
Cada
um de nós é, por si só, um todo.
A
coragem e o destemor têm que ser praticados em meio aos medos.
O
que poderíamos nós supor que nos induz ao erro? Será
o fato de que nós todos não vemos como belas as mesmas coisas
ou será o fato de que, embora elas sejam as mesmas, não são
pensadas como as mesmas?
Quando
os indivíduos estão certos em seus gostos naturais, mas errados
naqueles adquiridos por hábito, ou certos nestes, mas errados naqueles,
ocorre que, através de suas manifestações de louvor,
transmitem o oposto do que sentem realmente.
Denunciar
coisas que são irremediáveis e nas quais o erro foi demasiado
longe é uma incumbência nada agradável, a despeito de,
por vezes, ser necessária.
As
coisas que a maioria denomina boas não são corretamente designadas.
A
vida injusta não é apenas mais vil e ignóbil, como
também, muito verazmente, mais desagradável do que a vida
justa e piedosa. Todos nós devemos agir sempre com justiça
em relação a todas as coisas, de livre vontade e sem coação.
Os deuses declaram que uma única
e mesma vida é tanto mais agradável quanto mais justa ela
for.2
Tudo
o que é acompanhado de um certo encanto, mais do que este encanto
em si mesmo, deve possuir alguma forma de retidão e, em terceiro
lugar, deve possuir utilidade... O elemento de encanto é o prazer,
mas o que produz sua retidão e utilidade, seu bem e sua beleza, é
a verdade.
Não
se trata apenas de cultivar a música; mas, sim, a forma pela qual
a música deve ser cultivada. Sem conhecimento e uma pronta percepção
dos ritmos e das harmonias, como alguém poderá reconhecer
as melodias corretas? Toda melodia que possui seus elementos adequados é
correta, enquanto é incorreta aquela que possui elementos inadequados.
O
vinho não deve ser bebido por aqueles que são dirigidos pela
Reta Razão e pela Lei.
Ciclicamente,
os Estados pequenos se transformaram em grandes e os grandes em pequenos,
os melhores em piores e os piores em melhores.
A
comunidade que não conhece nem a riqueza nem a pobreza é geralmente
aquela na qual se desenvolvem as personalidades mais nobres, pois aí
não há espaço para o crescimento da insolência
e da injustiça, das rivalidades e dos ciúmes.
O
legislador de um Estado, ao estabelecer suas determinações
legais, tem sempre que levar em conta a racionalidade... As leis devem ser
moldadas tendo como referencial apenas a Sabedoria.
A
súplica constitui uma prática perigosa para
aquele que está privado da razão. Geralmente, o que o peticionário
obtém é o oposto de seus desejos.3
Normalmente,
o que aniquila um Estado é especialmente a ignorância dos interesses
maiores da Humanidade.4
O legislador
precisa procurar instalar nas cidades o máximo possível de
sabedoria, e desenraizar a estultícia o máximo que o seu poder
o permitir.
A
maior ignorância é a que vemos naquele que odeia em lugar de
amar aquilo que julga ser nobre e bom, ao mesmo tempo que ama e acarinha
o que julga ser mau e injusto. Esta falta de harmonia entre os sentimentos
de dor e prazer e o discernimento racional é, eu o sustento, a extrema
forma de ignorância, e também é a maior porque é
pertinente a maior parte da alma, ou seja, aquela que sente dor e prazer,
correspondente à massa populacional do Estado.5
Sem
harmonia, como poderá existir sequer a mais ínfima fração
de sabedoria? É impossível! E a maior e melhor das harmonias
seria tida com justeza como a maior sabedoria, da qual compartilha aquele
que vive segundo a razão, enquanto aquele a quem ela falta sempre
se revelará um destruidor de casas e jamais um salvador do Estado,
devido à sua ignorância destas matérias.
Se
descurarmos da regra da medida, atribuindo coisas de demasiado poder à
coisas demasiadamente pequenas, sejam velas às embarcações,
alimentos aos corpos, cargos administrativos às almas, então,
tudo se transtornará, e as coisas passarão a funcionar mediante
o excesso da desmedida, resultando, em alguns casos, em distúrbios
corporais, em outros, naquele rebento da exorbitância, que é
a injustiça.
Um
Estado deve ser livre, racional e amigo de si mesmo, devendo o legislador
desempenhar seu trabalho visando a isto.
A
sabedoria e a amizade, quando colocadas como a meta a ser atingida, não
são realmente metas distintas, mas, sim, a mesma meta, não
devendo nos perturbar a multiplicidade de expressões que possamos
encontrar.
Há
duas formas de constituição que são, por assim dizer,
as matrizes, a partir das quais todas as restantes nasceram. Uma é
chamada adequadamente de Monarquia; a outra, de Democracia. As restantes
são praticamente modificações destas duas.
Uma
educação acabará por se tornar deteriorada, se o educador
se abstiver de corrigir aquele que se pretende educar.
Uma
educação fundada na abastança jamais poderá
produzir um menino, um homem ou um velho que se distinga pela virtude.
Não
é legítimo que, em um Estado, honras especiais sejam conferidas
a um homem porque este é invulgarmente abastado, do mesmo modo que
não é legítimo conferi-las porque é corredor
célere, porque é formoso ou porque é forte, mas desprovido
de virtude, ou, ainda, porque é virtuoso, porém, carente de
temperança.
A
justiça não poderá ser gerada independentemente da
temperança.
Um
Estado que pretenda durar e ser o mais feliz que for humanamente possível
terá, necessariamente, que dispensar corretamente honras e desonras,
sendo o modo correto o seguinte: deverá ser estabelecido que os bens
da alma recebam as mais elevadas honras e venham em primeiro lugar, desde
que a alma seja detentora de temperança; em segundo lugar, viriam
as coisas boas e belas do corpo; e, em terceiro lugar, os chamados bens
substanciais e propriedades. E, se qualquer legislador ou Estado transgredir
estas regras, atribuindo ao dinheiro o posto da honra, seja designando uma
posição superior a uma das classes de bens inferiores, será
responsável por infringir tanto o sagrado quanto o político.6
Quando,
no Estado, o despotismo e a escravidão destroem os laços de
amizade e de camaradagem, o conselho dos governantes não delibera
mais no interesse dos governados e do povo, mas, somente no interesse da
manutenção de seu próprio poder...
Magistrados eleitos!
Ter
receio da opinião de alguém superior devido ao orgulho não
passa de vulgar atrevimento.
A
reversão a planos ou dimensões inferiores produz uma existência
dolorosa para a qual jamais há qualquer repouso ou trégua
diante do infortúnio.
O
legislador, em sua legislação, tem que visar três objetivos:
racionalidade, liberdade e unidade do Estado para o qual legisla.
Quando
uma forma de Governo avança para o extremo da escravidão ou
para o extremo da liberdade, constata-se a ausência de proveito para
qualquer uma delas.7
Seria
calamitoso e deformante para um Estado se ele fosse inundado de ouro e prata,
pois seria quase impossível que fossem adquiridos costumes nobres
e justos.8
Toda
lei promulgada que não vise a virtude é uma lei incorretamente
promulgada.9
Não
são a mera segurança e a manutenção da existência
as coisas mais preciosas a serem possuídas pela Humanidade; mas,
sim, a conquista de todo o Bem possível e a preservação
deste Bem através da vida.10
Legislação
e fundação de Estados são empreendimentos que exigem
que os homens aprimorem, acima de tudo, outros homens na virtude.
Sempre que, em um indivíduo
humano, o poder supremo reúne Sabedoria e Temperança, está
plantada a semente da melhor constituição e da melhor legislação,
e de nenhuma outra maneira se poderá chegar a isto.
Deus
é o verdadeiro governante de indivíduos racionais.
Em
qualquer lugar que seja, onde um Estado tem um mortal e nenhum deus como
governante, as pessoas não têm trégua em relação
ao peso dos males e das dificuldades.
...
ordenando tanto nossos lares quanto nossos
Estados segundo o acatamento ao elemento imortal no nosso interior,
dando a esta ordenação da razão o nome de lei. (Grifo
meu).
'A
lei caminha com a Natureza quando justifica o direito do
poder.' (Píndaro,
apud Platão).
A
justiça consiste no interesse do mais forte... As leis, em um Estado,
são sempre promulgadas pelo poder que nele vigora no momento.11a
Em
uma Democracia ou em qualquer outra forma de Governo, só se produzem
leis que tenham como objetivo primordial assegurar a própria permanência
do Governo no poder.11b
Quando
há luta pelo poder, os que se sagram vitoriosos se apropriam dos
cargos públicos completamente, de modo a não deixar a menor
parcela de autoridade para os próprios vencidos e seus descendentes,
e cada partido passa a vigiar o outro, com receio que haja uma insurreição
em represália aos transtornos sofridos anteriormente.11c
Na
realidade, os cargos públicos deveriam caber somente aos homens que
se destacam na obediência às leis...
A
justiça se vinga daqueles que infringem a Lei Divina.12
De
todos os bens que se possui, depois dos deuses, o mais divino é a
alma, visto que é o mais pessoal.
Aquele
que pensa estar engrandecendo sua alma mediante palavras, dádivas
ou mesuras, enquanto não a aprimora, está imaginando que lhe
presta honra, mas de fato não está.
Quando
se tem maior apreço pela beleza do que pela virtude, deprecia-se
literal e totalmente a alma, pois isto implica o raciocínio cuja
conclusão é que o corpo é mais digno de consideração
do que a alma, o que é falso, já que nada nascido da Terra
é digno de maior apreço do que o Olímpico.
Todo o ouro sobre a Terra e sob ela
não se iguala ao valor da virtude.
A
honra, em termos gerais, consiste em acatar o melhor e em empreender o máximo
para melhorar o menos ruim, quando este o admite.
Os
bens e as riquezas, quando excessivos, geram animosidades e conflitos tanto
no Estado como no âmbito particular; quando deficientes, geram, normalmente,
servidão.
Aos filhos, deve-se deixar um grande
legado de respeito próprio, não de ouro.
Ali,
onde os velhos são impudentes, os jovens, fatalmente, o serão
ainda mais.
Entre
todos os bens, tanto para os deuses quanto para os seres humanos, a verdade
vem em primeiro lugar.13
Indigno
de confiança é aquele que gosta de mentir voluntariamente,
enquanto, por outro lado, é insensato o indivíduo a quem apraz
a mentira involuntária.
A
virtude deve ser ambicionada e conquistada de modo benevolente.
Todo
homem deve unir à justa indignação – nobre cólera
– a maior amabilidade possível.
Não
é nem a nós mesmos nem aos nossos próprios bens que
devemos nos devotar, se pretendemos ser grandes; mas, sim, ao que é
justo, independentemente da ação justa ser nossa ou dos outros.
Onde
há um constante refluxo deverá sempre se produzir também
um influxo correspondente. E, quando a sabedoria reflui, o influxo adequado
é constituído pela reminiscência.14
O
empobrecimento é constituído menos pela redução
da riqueza do que pelo aumento da ambição.
Se
o fundamento for podre, as subseqüentes operações políticas
não se revelarão nada fáceis para qualquer Estado.
Não há outro caminho
—›
renunciar à avareza com a ajuda da justiça.15
Os
indivíduos humanos, de livre e espontânea vontade, não
progredirão na construção política, se não
tiverem um mínimo de senso.
5040...
A
mais penosa ignorância é aquela que passa por sabedoria.
És
ainda jovem, e o tempo, à medida que avançar, te fará
alterar muitas das opiniões que agora sustentas. Assim, aguarda antes
de emitires juízos sobre matérias de suma gravidade e importância,
e destas, a mais grave de todas – embora presentemente a consideres
como nada – é a questão de sustentar uma opinião
correta sobre os deuses, e assim viver bem ou o oposto.
Uma
falsa noção é crer na existência dos deuses,
mas admitir que os deuses são facilmente conquistados com orações
e ofertas.
A
alma é uma das primeiras existências e anterior a todos os
corpos... É a alma que governa todas as alterações
e modificações do corpo... A alma é mais velha do que
o corpo... Por natureza, o comando é da alma; cabe ao corpo se submeter.
A alma impulsiona todas as coisas
– no céu, na Terra e no mar – por meio de seus próprios
movimentos, cujos nomes são: desejo, reflexão, previdência,
deliberação, opinião verdadeira ou falsa, júbilo,
pesar, confiança, medo, ódio, amor e todos os movimentos que
são afins a estes ou são movimentos primários. Estes,
quando assumem os movimentos secundários dos corpos, os impelem ao
crescimento e ao decrescimento, à separação e à
combinação, e ao que se segue a estes – o calor e o
frio, o peso e a leveza, a dureza e a maciez, a brancura e o negrume, o
amargor e a doçura. Todas estas qualidades que a alma emprega, quando
associadas à razão, guia com retidão e sempre governa
tudo com justeza e felicidade.16
Quando associada à desrazão, produz resultados que são,
em todos os aspectos, o oposto. (Grifo
meu).
A
Melhor Alma governa a totalidade do Universo e o conduz em seu curso, que
é perfeito como ela.
A
circunferência do céu é necessariamente impulsionada
circularmente sob o cuidado e a ordenação da Melhor Alma.
Tudo vem-a-ser mediante transformação
e deslocamento, e uma coisa que efetivamente exista permanece fixa, mas
quando muda para uma outra constituição é inteiramente
destruída.
[H]
+ [H] + [O] —› H2O
O
movimento que é capaz de mover a si mesmo é infinitamente
superior aos demais, e, por isto, estes são movimentos secundários.
Quando
uma coisa que moveu a si mesma transforma uma outra coisa, e esta transforma
uma terceira, assim o movimento se propagando progressivamente através
de milhares e milhares de coisas, será a fonte primária de
todos os movimentos algo distinto do movimento daquela que moveu a si mesma?
Não
existe nenhuma força de mutação nas coisas antecipadamente.
A
ociosidade é filha da covardia e a preguiya, da ociosidade e da indolência.
O
movimento automotivo é o ponto de partida de todos os movimentos
e o primeiro a surgir nas coisas em repouso e a existir nas coisas em movimento.
Se é assim, ele é necessariamente a mais antiga e a mais poderosa
das mutações, enquanto que o movimento que é alterado
por uma outra coisa, e ele mesmo move outras, vem em segundo lugar.
No
que diz respeito a todos os astros e à Lua, e no que tange aos anos,
aos meses e a todas as estações, são todos movidos
por uma ou mais almas, que são dotadas de todas as virtudes.
Tudo
está repleto de deuses!
Os
deuses, sendo detentores de todas as virtudes, zelam, com toda a propriedade,
pelo Universo.
É
o próprio ser humano, entre todos os animais, aquele que mais teme
os deuses.17
Toda
geração parcial visa o todo, para que seja assegurada a existência
bem-aventurada do Universo.
A
alma, sendo unida agora a um corpo, depois a outro, está sempre sofrendo
todos os tipos de mudanças, seja por si mesma, seja pela ação
de outra alma... de maneira que possa ser destinada a cada uma a sorte que
lhe cabe.
Todos
os seres animadas se transformam, pois possuem dentro de si mesmos a causa
da transformação.18
______
Notas:
1. Qualquer
um que precise tomar um remédio – qualquer remédio –
se se dispuser a ler a bula, não o tomará, pois a série
de efeitos colaterais e de contra-indicações é tamanha,
que o tal do remédio parece mais indicado para envenenar, aleijar
ou matar do que para curar. Mas, há três remédios que
não causam efeitos colaterais nem têm contra-indicações:
bons pensamentos, alegria e água.
2. Estou
convencido de que quando Platão alude aos deuses,
está a se referir aos Adeptos, Altos Iniciados e Hierofantes de todos
os tempos – que para a turbamulta sempre foram tidos como deuses,
cujo inverso são os demônios.
3. Creio
que posso comentar o seguinte: suplicar é ignorar; logo, só
o ignorante suplica. O Sábio, relativamente e dentro do possível,
considerando sempre a utilidade da coisa, faz acontecer.
4. Há
pecados
e pecados;
todavia, o pior deles, em relação ao todo da Humanidade, talvez
seja o egoísmo, que, geralmente, anda travestido de desinteresse.
Um exemplo: República do Haiti. Outro exemplo: República da
Somália. Há um outro tipo de egoísmo, que é
a transfusão impiedosa de recursos de um Estado para outro, sem que
haja justas contrapartidas. Há, também, o egoísmo-covarde,
que não autoriza mudanças necessárias e justas, por
receio de que elas desatendam e não satisfaçam interesses
geoestratégicos comuns, que é, por exemplo, o caso da diplomacia
americana em não permitir a fundação de um Estado Palestino
independente, para não causar um desmoronamento das relações
com o Knesset
(Parlamento Judaico), em particular, e um descontentamento mundialmente
indesejável nos israelitas, em geral. E, por último, talvez
o pior deles, há o egoísmo belígero, no qual um Estado
avança sobre outro de olho gordo em suas riquezas naturais. Exemplo:
invasão covarde (mal denominada de guerra) do Iraque, cujo motivo
subtérreo foi, como todo mundo sabe, a cobiça indisfarçada
do petróleo iraquiano. As tais armas de destruição
em massa – justificativa política neofascista bushiana para
a desbriosa invasão – nunca foram encontradas. Por tudo isto
e pelo que não comentei, ajustes cíclicos os mais coloridos,
os mais doloridos e os mais sortidos, que, como são educativos, não
podem ser subtraídos nem protraídos. Estes ajustes, em geral,
sempre acontecem no melhor momento para educar; nunca para punir. Punição,
talionato, desforra e vendetta
são coisas de
Homo ignorantis e de Homo
maffioso (que, um dia, será Homo
supernus), não do Kosmos,
que não pune nem premia.
5. Perdi
a conta das vezes que ouvi: — Se
eu não roubar, outros roubarão. Se eu não enriquecer
agora, não enriquecerei nunca. Se eu não fizer por mim, quem
fará? Se eu não isto, não sei quem aquilo.
Particularmente, há muitos anos, conheço um "respeitável"
senhor que foi preso por malversação do dinheiro público,
formação de quadrilha, apropriação indébita
e sei lá mais o quê. Foi demitido de um alto cargo de confiança,
traído e abandonado pelos "amigos", mas sempre afirmou
que era inocente e que havia sido preso injustamente. E sempre dizia: —
Ainda voltarei;
vocês verão.
6. Neste
sentido, o sofrimento e o desmantelamento (pessoal e coletivo) derivam da
inversão e do desprivilegiamento deste ordenamento proposto por Platão.
7. E
o que pode ser entendido como escravidão moderada e aceitável?
A escravidão místico-espiritual à obrigação
de ser leal, justo, sincero, imparcial, fraterno, magnânimo, compassivo,
co-participante et
cetera – ou seja, um desapaixonado servidor do Bem, da
Beleza e da Unidade.
8. Nada
poderá ser mais anestesiante e entravante do que a opulência
e a abastança.
9. Por
que, no Brasil, a reforma política, por exemplo, não é
implementada? Porque, para ser corretamente feita, feriria de morte os políticos
nos seus mais mesquinhos interesses, e isto desinteressa a todos eles. Quem
é doido o bastante para fatiar o bolo e dividi-lo? Aliás,
o bolo é seu, é meu, é do povão; eles é
que, indebitamente, se assenhorearam do bolo. Em geral, no mundo, os políticos,
mas, particularmente no Brasil, com raras exceções, estão
interessados em tudo, menos na virtude. Para eles, Platão é
um chato de galochas. E, a cada mandato, algumas vezes conseguido daquele
jeito que todo mundo sabe bem direitinho cumequeé,
mais o patrimônio é aumentado. E o povão... Ó!
10. E a conquista do
Bem, ipso facto,
permitirá que se conheça sua irmã gêmea –
a Beleza.
11a, 11b e 11c. Parece
que isto foi escrito ontem ou mesmo hoje, mas, não esqueçamos
que Platão escreveu estas coisas há mais ou menos 400 anos
antes de Cristo.
12. Esta é uma
forma poético-literária de dizer que tudo será devida
e educativamente compensado. Certamente, Platão sabia que vingança
e talionato são incompatíveis com a própria justiça.
13. Não à
Verdade Cósmica, Absoluta, pois à esta não temos acesso
absolutamente; mas, à verdade relativa, isto é, àquela
verdade que, para nós, é a Verdade. Como disse Platão,
ela vem em primeiro
lugar.
14. Uma das condições
para a indagação ou investigação acerca das
Idéias é que não estamos em estado de completa ignorância
sobre elas. Do contrário, não teríamos nem o desejo
nem o poder de procurá-las. Em vista disso, é uma condição
necessária, para tal investigação, que tenhamos em
nossa alma alguma espécie de conhecimento ou lembrança de
nosso contato com as Idéias (contato este ocorrido antes do nosso
próprio nascimento) e nos recordemos das Idéias ao vê-las
reproduzidas palidamente nas coisas. Deste modo, toda
a ciência platônica é uma reminiscência. A investigação
das Idéias supõe que as almas preexistiram em uma região
divina onde contemplavam as Idéias. Podemos tomar como exemplo o
Mito da Parelha
Alada, localizado no diálogo Fedro, de Platão.
Neste diálogo, Platão compara a raça humana a carros
alados. Tudo o que fazemos de bom, dá forças às nossas
asas. Tudo o que fazemos de errado, tira força das nossas asas. Ao
longo do tempo, fizemos tantas coisas erradas que nossas asas perderam as
forças e, sem elas para nos sustentarmos, caímos no Mundo
Sensível, onde vivemos até hoje. A partir deste momento, fomos
condenados a vermos apenas as sombras do Mundo das Idéias. Enfim,
de acordo com a Teoria da Reminiscência há uma Sabedoria (SOPhIa)
inata que pode ser recordada, sendo o conhecimento uma reminiscência
das Idéias (consciente ou inconscientemente) contempladas. Talvez,
o que melhor fundamente a Teoria da Reminiscência seja os ciclos de
reencarnações das personalidades-alma.
Esta nota foi editada
das fontes:
http://afilosofia.no.sapo.pt/12prog2Plat3.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Plat%C3%A3o
15.
Se consultarmos a História, observaremos que, de maneira geral, os
impérios sempre acabaram por ruir por causa da ganância[ganância].
Ganância de riquezas, ganância de escravização,
ganância de poderes, ganância de supremacia militar, ganância
de subjugação, ganância de intervenção,
ganância de expansionismo, ganância de regulamentação,
ganância de manda quem pode e obedece quem tem juízo, ganância
de tudo, inclusive, ganância de ganância e ganância de
eliminar a ganância alheia porque a ganância só pode
ser minha. Só há uma coisinha de nada, que os impérios
antigos talvez não soubessem (apesar de Platão, mais ou menos
absconsamente, ter tocado neste assunto em todas as suas obras) e os impérios
contemporâneos, desgraçadamente, ainda não aprenderam:
a Lei do Ajustamento poderá tardar, mas é educativamente infalível;
para todos, acontecerá sempre na hora certinha. O porrete que aporreta
o Joca pinoca aporretará também a Dona Maroca, seja a Dona
Maroca coroca ou seca-na-paçoca.
16.
Ou seja: adequado, exato e tal como deve ser.
17.
Para se considerar um ser humano um animal, é preciso que se o considere
também um vegetal e um mineral. Na verdade, o ser humano, apesar
de ter passado por todos estes estágios, forma um reino à
parte. Então, em princípio e simplificativamente, na Terra,
há quatro reinos: o reino mineral, o reino vegetal, o reino animal
e o reino humano. O que seremos nos Períodos de Júpiter, de
Vênus e de Vulcano, que se seguirão, nesta ordem, ao Período
Terrestre?
18.
E a
causa da transformação,
no caso do homem, é o Deus de seu Coração.
Páginas
da Internet consultadas:
http://www.google.com/intl/en/
press/annc/20081112_earthrome.html
http://www.smh.com.au/
http://kristiina.bravehost.com/interest.html
http://www.possibilidades.com.br/intelig_
emocional/medo_aliado_do_sucesso.asp
http://www.manchester.ac.uk/
aboutus/news/display/?id=5894
http://clubecetico.org/forum/index.php?
http://pt.wikipedia.org/wiki/Leis_(di%C3%A1logo)
http://projetophronesis.wordpress.com/2010/10/14/
resumo-platao-%E2%80%93-as-leis-%E2%80%93-livro-iii/
Música
de fundo:
Aighaio
Fonte:
http://www.navis.gr/midi/midi.htm#Greek