PLATÃO: AS LEIS

 

 

 

Scuola di Atene (1509 – 1511)
Stanza della Segnatura (Vaticano)
Raffaello Sanzio (1483 – 1520)

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo tem por objetivo apresentar para reflexão alguns excertos (algumas vezes editados, mas sem comprometer a substância do original) da obra platônica As Leis – último diálogo (inacabado) de Platão e também o mais extenso, mas que não conta com a presença de Sócrates como dialogador. Entretanto, focalizei mais o texto na dialética dialogal subjacente (único modo, segundo Platão, de podermos nos elevar das aparências sensíveis às Realidades Inteligíveis ou Idéias) que ampara o pensamento de Platão para a consecução de boas e justas leis, que, fundamentalmente, depende da avaliação, como ponderou o autor. Em suas palavras: À avaliação, quando se torna o decreto público do Estado, dá-se o nome de lei... É o fio condutor – dourado e sagrado da avaliação que se intitula lei pública do Estado.

 

Na verdade, confesso, este estudo pretende ser uma espécie de catalisador para a leitura integral da obra – extensa, mas fácil de ser entendida – principalmente por aqueles que são apaixonados pelo Direito. Afinal, o estudo que hoje estou divulgando está absolutamente incompleto e fragmentado. O próprio arquivo .htm do Adobe Dreamweaver não suportaria um texto mais extenso e mais pesado. E não acho conveniente dividir um trabalho em pedacinhos. Então, fui até onde deu.

 

A obra As Leis, conforme um texto do Projeto Phronesis (que objetiva divulgar e popularizar o conhecimento filosófico), pode ser resumida da seguinte forma: Em suma, o legislador tem que visar, em sua legislação, três motivos: a liberdade, a unidade e a racionalidade do Estado para o qual legisla, pois, quando um Estado chega ao extremo da escravidão ou ao extremo da liberdade, se constata a ausência de proveito de qualquer uma delas. Na verdade, liberdade sem responsabilidade é uma espécie de escravidão, da mesma forma que liberdade [tra]vestida de fanatismo ou vice-versa é a pior das liberdades.

 

As Leis perpassam por elementos da Psicologia, da Gnosiologia, da Ética, da Política, da Ontologia e mesmo Astronomia e da Matemática; mas, os argumentos de Platão também se enraízam na cíclica História das civilizações.

 

Enfim, como disse o filósofo e matemático britânico Alfred North Whitehead (Ramsgate, 15 de fevereiro de 1861 – Cambridge, 30 de dezembro de 1947), a Filosofia ocidental nada mais é do que uma série de notas de rodapé a Platão. Exageração? Em parte, sim; mas, nem tanto. O que é certo é que Platão (428/427 – 348/347 a.C.), entre muitas maravilhas umas ainda não descobertas, outras mal entendidas – antecipou a revolução científica protagonizada por Galileu Galilei (1564 1642) e Isaac Newton (1643 – 1727), pois admitia, teosoficamente, que o Universo é regido por Leis Matemáticas imudáveis (os números governam o mundo) e não por deuses de barro (criados pela fértil e ilusória imaginação humana). Seja como for, não devemos esquecer de que Pitágoras (cerca de 571/570 a.C. – cerca de 497 a.C. a 496 a.C.) e Platão foram alunos do mesmo Colégio Iniciático, e, para nós, afetuosamente divulgaram o que pôde (podia) ser divulgado. A infelicidade infeliz e infelicitadora é que a Humanidade não aprendeu (quase) nada do que nos foi legado por Pitágoras e por Platão. Os Iniciados sabem (e os pesquisadores estão descobrindo) que Platão escreveu todas as suas obras segundo um certo Código – Código de Platão um conjunto de conhecimentos herdados da Escola Pitagórica e dos seus seguidores, de sorte a formar uma estrutura musical harmônica e impressionar emocionalmente a personalidade-alma do leitor. (Isto só é válido para o original escrito na língua grega antiga ou clássica – he hellenike glossa). Enfim, como explica Jay Kennedy, ao ler os livros de Platão [no original], as nossas emoções seguem os altos e baixos de uma escala musical. Platão utilizou os leitores como instrumentos musicais.

 

 

 

10 4 3 1 = Universo

 

 

 

Bem, com uma certa inveja mística de Platão, inveja inínvida que muito me honra, pois eu gostaria de ter o conhecimento universal do Ateniense, para poder escrever iluminando e discursar maieutizando sobre o que ele escreveu e discursou, convido você para ler os fragmentos platônicos que selecionei. Já, para ler integralmente a obra As Leis, por favor, dirija-se a:

http://www.4shared.com/get/Nr_xC8U-/
17934302-PLATAO-AS-LEIS.html

ou

http://www.4shared.com/get/cesEi9Ip/PLATO
_As_leis_incluindo_EPINOM.html

 

 

 

 

Platão – As Leis
(Fragmentos)

 

 

 

Platão

Platão apontando os Arquétipos

 

 

Parece-me ter o legislador ter condenado a estupidez da multidão, a qual não consegue compreender que todos os homens de uma cidade estão envolvidos incessantemente em uma guerra vitalícia contra todos os outros Estados.

 

Paz, como o termo é comumente empregado, não passa de um nome. A verdade é que todos os Estados estão, por uma Lei da Natureza, comprometidos perpetuamente em uma guerra informal com todos os outros Estados.

 

Todos os bens dos vencidos caem nas mãos dos vencedores.

 

A vitória sobre o ego é, de todas as vitórias, a mais gloriosa e a melhor; e a autoderrota, de todas as derrotas, é, de pronto, a pior e a mais vergonhosa. Uma guerra contra nós mesmos existe dentro de cada um de nós.

 

Todo legislador, em toda a sua legislação, deverá visar o maior bem. O maior bem, contudo, não é nem a guerra (menos branda do que uma revolução) nem a revolução (de todas as guerras, a mais amarga) – coisas em relação às quais deveríamos, de preferência, orar para delas sermos poupados – mas, sim, a paz recíproca e o sentimento amistoso.

 

Os bens são de duas espécies, a saber: humanos e divinos. Os bens humanos dependem dos divinos, e aquele que recebe o maior bem adquire igualmente o menor; caso contrário, é privado de ambos. Entre os bens menores, a saúde vem em primeiro lugar; a beleza, em segundo; o vigor, em terceiro, pois é necessário à corrida e a todos os demais exercícios corporais. Segue-se o quarto bem, a riqueza; não a riqueza cega, mas aquela de visão aguda, que tem a Sabedoria por companheira. A Sabedoria, a propósito, ocupa o primeiro lugar entre os bens que são divinos, oportunizando a racional moderação da alma. E da união destas duas (Sabedoria e moderação) com a coragem nasce a justiça, ou seja, o terceiro bem divino, seguido pelo quarto, que é propriamente a coragem. Enfim, os bens humanos são orientados para os bens divinos, e estes para a razão, que é soberana.

 

A vitória de um Estado sobre si mesmo não é apenas uma das melhores coisas a serem atingidas; mas, sim, uma daquelas coisas necessárias, como se um homem supusesse que um corpo humano está na sua melhor condição quando se acha enfermo e sob efeito de um medicamento, sem nunca atentar para o fato de que um corpo não deve, em princípio, necessitar de qualquer medicamento.

 

Razão —› vincula todos os estatutos em um único sistema.

 

 

 

 

Reconhecido o erro, é precisamente isto que conduz ao remédio e à cura, se a crítica for aceita sem animosidade e em uma disposição amigável.

 

Se, desde a juventude, os cidadãos se desenvolverem distantes do gozo dos maiores prazeres, a conseqüência será que quando se encontrarem em meio aos prazeres sem serem treinados no dever de a eles resistir e recusarem cometer qualquer ato desonroso – devido à natural atração dos prazeres – sofrerão o mesmo destino daqueles que cedem ao medo: serão, de uma outra forma, ainda mais vergonhosa, escravizados por aqueles que são capazes de resistir em meio aos prazeres e aqueles que são versados na arte do prazer – seres humanos que são, por vezes, inteiramente perversos – de modo que suas almas serão em parte escravas, em parte livres, não merecendo eles, sem reservas, receber o título de homens livres e homens de coragem.

 

Em relação ao corpo humano, parece impossível indicar qualquer tratamento específico para cada caso, sem se descobrir que esta mesma indicação em parte é benéfica e em parte é prejudicial ao corpo.1

 

E faça-se a observação – em tom sério ou a título de gracejo – seguramente não se deixa de constatar que quando o macho se une à fêmea, para procriação, o prazer experimentado é considerado devido à Natureza; porém, é contrário à Natureza, quando o macho se une ao macho ou a fêmea se une à fêmea, sendo que os primeiros responsáveis por tais enormidades foram impelidos pelo domínio que o prazer exercia sobre eles.

 

Crianças bem educadas se revelarão bons indivíduos.

 

Educar é treinar, desde a infância, na virtude, o que torna o indivíduo entusiasticamente desejoso de se converter em um cidadão perfeito, o qual possui a compreensão tanto de governar como a de ser governado com justiça. Seria vulgar, servil e inteiramente indigno chamar de educação uma formação que vise somente à aquisição de dinheiro, de vigor físico ou mesmo de alguma habilidade mental destituída de Sabedoria e de Justiça... Enfim, educação é a primeira aquisição que a criança faz da virtude.

 

Quando o prazer, o amor, a dor e o ódio nascem com justeza nas almas antes do despertar da razão, e uma vez a razão desperta, os sentimentos se harmonizam com ela no reconhecimento de que foram bem treinados pelas práticas adequadas correspondentes, e essa harmonização, vista como um todo, constitui a virtude. Mas, a parte dela que é corretamente treinada quanto aos prazeres e aos sofrimentos, de modo a odiar o que deve ser odiado desde o início até o fim, e amar o que deve ser amado, esta é aquela que a razão isolará para denominá-la educação, o que é, a meu ver, denominá-la corretamente.

 

Cada um de nós é, por si só, um todo.

 

A coragem e o destemor têm que ser praticados em meio aos medos.

 

 

 

 

O que poderíamos nós supor que nos induz ao erro? Será o fato de que nós todos não vemos como belas as mesmas coisas ou será o fato de que, embora elas sejam as mesmas, não são pensadas como as mesmas?

 

Quando os indivíduos estão certos em seus gostos naturais, mas errados naqueles adquiridos por hábito, ou certos nestes, mas errados naqueles, ocorre que, através de suas manifestações de louvor, transmitem o oposto do que sentem realmente.

 

Denunciar coisas que são irremediáveis e nas quais o erro foi demasiado longe é uma incumbência nada agradável, a despeito de, por vezes, ser necessária.

 

As coisas que a maioria denomina boas não são corretamente designadas.

 

 

 

 

A vida injusta não é apenas mais vil e ignóbil, como também, muito verazmente, mais desagradável do que a vida justa e piedosa. Todos nós devemos agir sempre com justiça em relação a todas as coisas, de livre vontade e sem coação.

 

Os deuses declaram que uma única e mesma vida é tanto mais agradável quanto mais justa ela for.2

 

Tudo o que é acompanhado de um certo encanto, mais do que este encanto em si mesmo, deve possuir alguma forma de retidão e, em terceiro lugar, deve possuir utilidade... O elemento de encanto é o prazer, mas o que produz sua retidão e utilidade, seu bem e sua beleza, é a verdade.

 

 

 

 

Não se trata apenas de cultivar a música; mas, sim, a forma pela qual a música deve ser cultivada. Sem conhecimento e uma pronta percepção dos ritmos e das harmonias, como alguém poderá reconhecer as melodias corretas? Toda melodia que possui seus elementos adequados é correta, enquanto é incorreta aquela que possui elementos inadequados.

 

O vinho não deve ser bebido por aqueles que são dirigidos pela Reta Razão e pela Lei.

 

 

 

 

Ciclicamente, os Estados pequenos se transformaram em grandes e os grandes em pequenos, os melhores em piores e os piores em melhores.

 

A comunidade que não conhece nem a riqueza nem a pobreza é geralmente aquela na qual se desenvolvem as personalidades mais nobres, pois aí não há espaço para o crescimento da insolência e da injustiça, das rivalidades e dos ciúmes.

 

O legislador de um Estado, ao estabelecer suas determinações legais, tem sempre que levar em conta a racionalidade... As leis devem ser moldadas tendo como referencial apenas a Sabedoria.

 

A súplica constitui uma prática perigosa para aquele que está privado da razão. Geralmente, o que o peticionário obtém é o oposto de seus desejos.3

 

 Normalmente, o que aniquila um Estado é especialmente a ignorância dos interesses maiores da Humanidade.4

 

O legislador precisa procurar instalar nas cidades o máximo possível de sabedoria, e desenraizar a estultícia o máximo que o seu poder o permitir.

 

A maior ignorância é a que vemos naquele que odeia em lugar de amar aquilo que julga ser nobre e bom, ao mesmo tempo que ama e acarinha o que julga ser mau e injusto. Esta falta de harmonia entre os sentimentos de dor e prazer e o discernimento racional é, eu o sustento, a extrema forma de ignorância, e também é a maior porque é pertinente a maior parte da alma, ou seja, aquela que sente dor e prazer, correspondente à massa populacional do Estado.5

 

Sem harmonia, como poderá existir sequer a mais ínfima fração de sabedoria? É impossível! E a maior e melhor das harmonias seria tida com justeza como a maior sabedoria, da qual compartilha aquele que vive segundo a razão, enquanto aquele a quem ela falta sempre se revelará um destruidor de casas e jamais um salvador do Estado, devido à sua ignorância destas matérias.

 

Se descurarmos da regra da medida, atribuindo coisas de demasiado poder à coisas demasiadamente pequenas, sejam velas às embarcações, alimentos aos corpos, cargos administrativos às almas, então, tudo se transtornará, e as coisas passarão a funcionar mediante o excesso da desmedida, resultando, em alguns casos, em distúrbios corporais, em outros, naquele rebento da exorbitância, que é a injustiça.

 

 

 

 

Um Estado deve ser livre, racional e amigo de si mesmo, devendo o legislador desempenhar seu trabalho visando a isto.

 

A sabedoria e a amizade, quando colocadas como a meta a ser atingida, não são realmente metas distintas, mas, sim, a mesma meta, não devendo nos perturbar a multiplicidade de expressões que possamos encontrar.

 

Há duas formas de constituição que são, por assim dizer, as matrizes, a partir das quais todas as restantes nasceram. Uma é chamada adequadamente de Monarquia; a outra, de Democracia. As restantes são praticamente modificações destas duas.

 

Uma educação acabará por se tornar deteriorada, se o educador se abstiver de corrigir aquele que se pretende educar.

 

Uma educação fundada na abastança jamais poderá produzir um menino, um homem ou um velho que se distinga pela virtude.

 

Não é legítimo que, em um Estado, honras especiais sejam conferidas a um homem porque este é invulgarmente abastado, do mesmo modo que não é legítimo conferi-las porque é corredor célere, porque é formoso ou porque é forte, mas desprovido de virtude, ou, ainda, porque é virtuoso, porém, carente de temperança.

 

A justiça não poderá ser gerada independentemente da temperança.

 

Um Estado que pretenda durar e ser o mais feliz que for humanamente possível terá, necessariamente, que dispensar corretamente honras e desonras, sendo o modo correto o seguinte: deverá ser estabelecido que os bens da alma recebam as mais elevadas honras e venham em primeiro lugar, desde que a alma seja detentora de temperança; em segundo lugar, viriam as coisas boas e belas do corpo; e, em terceiro lugar, os chamados bens substanciais e propriedades. E, se qualquer legislador ou Estado transgredir estas regras, atribuindo ao dinheiro o posto da honra, seja designando uma posição superior a uma das classes de bens inferiores, será responsável por infringir tanto o sagrado quanto o político.6

 

Quando, no Estado, o despotismo e a escravidão destroem os laços de amizade e de camaradagem, o conselho dos governantes não delibera mais no interesse dos governados e do povo, mas, somente no interesse da manutenção de seu próprio poder...

 

Magistrados eleitos!

 

Ter receio da opinião de alguém superior devido ao orgulho não passa de vulgar atrevimento.

 

A reversão a planos ou dimensões inferiores produz uma existência dolorosa para a qual jamais há qualquer repouso ou trégua diante do infortúnio.

 

O legislador, em sua legislação, tem que visar três objetivos: racionalidade, liberdade e unidade do Estado para o qual legisla.

 

 

 

 

Quando uma forma de Governo avança para o extremo da escravidão ou para o extremo da liberdade, constata-se a ausência de proveito para qualquer uma delas.7

 

Seria calamitoso e deformante para um Estado se ele fosse inundado de ouro e prata, pois seria quase impossível que fossem adquiridos costumes nobres e justos.8

 

Toda lei promulgada que não vise a virtude é uma lei incorretamente promulgada.9

 

Não são a mera segurança e a manutenção da existência as coisas mais preciosas a serem possuídas pela Humanidade; mas, sim, a conquista de todo o Bem possível e a preservação deste Bem através da vida.10

 

Legislação e fundação de Estados são empreendimentos que exigem que os homens aprimorem, acima de tudo, outros homens na virtude.

 

Sempre que, em um indivíduo humano, o poder supremo reúne Sabedoria e Temperança, está plantada a semente da melhor constituição e da melhor legislação, e de nenhuma outra maneira se poderá chegar a isto.

 

 

 

 

Deus é o verdadeiro governante de indivíduos racionais.

 

Em qualquer lugar que seja, onde um Estado tem um mortal e nenhum deus como governante, as pessoas não têm trégua em relação ao peso dos males e das dificuldades.

 

... ordenando tanto nossos lares quanto nossos Estados segundo o acatamento ao elemento imortal no nosso interior, dando a esta ordenação da razão o nome de lei. (Grifo meu).

 

'A lei caminha com a Natureza quando justifica o direito do poder.' (Píndaro, apud Platão).

 

A justiça consiste no interesse do mais forte... As leis, em um Estado, são sempre promulgadas pelo poder que nele vigora no momento.11a

 

Em uma Democracia ou em qualquer outra forma de Governo, só se produzem leis que tenham como objetivo primordial assegurar a própria permanência do Governo no poder.11b

 

Quando há luta pelo poder, os que se sagram vitoriosos se apropriam dos cargos públicos completamente, de modo a não deixar a menor parcela de autoridade para os próprios vencidos e seus descendentes, e cada partido passa a vigiar o outro, com receio que haja uma insurreição em represália aos transtornos sofridos anteriormente.11c

 

Na realidade, os cargos públicos deveriam caber somente aos homens que se destacam na obediência às leis...

 

A justiça se vinga daqueles que infringem a Lei Divina.12

 

De todos os bens que se possui, depois dos deuses, o mais divino é a alma, visto que é o mais pessoal.

 

Aquele que pensa estar engrandecendo sua alma mediante palavras, dádivas ou mesuras, enquanto não a aprimora, está imaginando que lhe presta honra, mas de fato não está.

 

Quando se tem maior apreço pela beleza do que pela virtude, deprecia-se literal e totalmente a alma, pois isto implica o raciocínio cuja conclusão é que o corpo é mais digno de consideração do que a alma, o que é falso, já que nada nascido da Terra é digno de maior apreço do que o Olímpico.

 

Todo o ouro sobre a Terra e sob ela não se iguala ao valor da virtude.

 

A honra, em termos gerais, consiste em acatar o melhor e em empreender o máximo para melhorar o menos ruim, quando este o admite.

 

Os bens e as riquezas, quando excessivos, geram animosidades e conflitos tanto no Estado como no âmbito particular; quando deficientes, geram, normalmente, servidão.

 

Aos filhos, deve-se deixar um grande legado de respeito próprio, não de ouro.

 

Ali, onde os velhos são impudentes, os jovens, fatalmente, o serão ainda mais.

 

Entre todos os bens, tanto para os deuses quanto para os seres humanos, a verdade vem em primeiro lugar.13

 

Indigno de confiança é aquele que gosta de mentir voluntariamente, enquanto, por outro lado, é insensato o indivíduo a quem apraz a mentira involuntária.

 

A virtude deve ser ambicionada e conquistada de modo benevolente.

 

Todo homem deve unir à justa indignação – nobre cólera – a maior amabilidade possível.

 

Não é nem a nós mesmos nem aos nossos próprios bens que devemos nos devotar, se pretendemos ser grandes; mas, sim, ao que é justo, independentemente da ação justa ser nossa ou dos outros.

 

Onde há um constante refluxo deverá sempre se produzir também um influxo correspondente. E, quando a sabedoria reflui, o influxo adequado é constituído pela reminiscência.14

 

O empobrecimento é constituído menos pela redução da riqueza do que pelo aumento da ambição.

 

 

 

 

Se o fundamento for podre, as subseqüentes operações políticas não se revelarão nada fáceis para qualquer Estado.

 

Não há outro caminho —› renunciar à avareza com a ajuda da justiça.15

 

Os indivíduos humanos, de livre e espontânea vontade, não progredirão na construção política, se não tiverem um mínimo de senso.

 

5040...

 

A mais penosa ignorância é aquela que passa por sabedoria.

 

És ainda jovem, e o tempo, à medida que avançar, te fará alterar muitas das opiniões que agora sustentas. Assim, aguarda antes de emitires juízos sobre matérias de suma gravidade e importância, e destas, a mais grave de todas – embora presentemente a consideres como nada – é a questão de sustentar uma opinião correta sobre os deuses, e assim viver bem ou o oposto.

 

Uma falsa noção é crer na existência dos deuses, mas admitir que os deuses são facilmente conquistados com orações e ofertas.

 

A alma é uma das primeiras existências e anterior a todos os corpos... É a alma que governa todas as alterações e modificações do corpo... A alma é mais velha do que o corpo... Por natureza, o comando é da alma; cabe ao corpo se submeter.

 

A alma impulsiona todas as coisas – no céu, na Terra e no mar – por meio de seus próprios movimentos, cujos nomes são: desejo, reflexão, previdência, deliberação, opinião verdadeira ou falsa, júbilo, pesar, confiança, medo, ódio, amor e todos os movimentos que são afins a estes ou são movimentos primários. Estes, quando assumem os movimentos secundários dos corpos, os impelem ao crescimento e ao decrescimento, à separação e à combinação, e ao que se segue a estes – o calor e o frio, o peso e a leveza, a dureza e a maciez, a brancura e o negrume, o amargor e a doçura. Todas estas qualidades que a alma emprega, quando associadas à razão, guia com retidão e sempre governa tudo com justeza e felicidade.16 Quando associada à desrazão, produz resultados que são, em todos os aspectos, o oposto. (Grifo meu).

 

A Melhor Alma governa a totalidade do Universo e o conduz em seu curso, que é perfeito como ela.

 

A circunferência do céu é necessariamente impulsionada circularmente sob o cuidado e a ordenação da Melhor Alma.

 

 

 

 

Tudo vem-a-ser mediante transformação e deslocamento, e uma coisa que efetivamente exista permanece fixa, mas quando muda para uma outra constituição é inteiramente destruída.

 

 

[H] + [H] + [O]  —›  H2O

 

 

O movimento que é capaz de mover a si mesmo é infinitamente superior aos demais, e, por isto, estes são movimentos secundários.

 

Quando uma coisa que moveu a si mesma transforma uma outra coisa, e esta transforma uma terceira, assim o movimento se propagando progressivamente através de milhares e milhares de coisas, será a fonte primária de todos os movimentos algo distinto do movimento daquela que moveu a si mesma?

 

Não existe nenhuma força de mutação nas coisas antecipadamente.

 

A ociosidade é filha da covardia e a preguiya, da ociosidade e da indolência.

 

O movimento automotivo é o ponto de partida de todos os movimentos e o primeiro a surgir nas coisas em repouso e a existir nas coisas em movimento. Se é assim, ele é necessariamente a mais antiga e a mais poderosa das mutações, enquanto que o movimento que é alterado por uma outra coisa, e ele mesmo move outras, vem em segundo lugar.

 

No que diz respeito a todos os astros e à Lua, e no que tange aos anos, aos meses e a todas as estações, são todos movidos por uma ou mais almas, que são dotadas de todas as virtudes.

 

Tudo está repleto de deuses!

 

Os deuses, sendo detentores de todas as virtudes, zelam, com toda a propriedade, pelo Universo.

 

É o próprio ser humano, entre todos os animais, aquele que mais teme os deuses.17

 

Toda geração parcial visa o todo, para que seja assegurada a existência bem-aventurada do Universo.

 

A alma, sendo unida agora a um corpo, depois a outro, está sempre sofrendo todos os tipos de mudanças, seja por si mesma, seja pela ação de outra alma... de maneira que possa ser destinada a cada uma a sorte que lhe cabe.

 

Todos os seres animadas se transformam, pois possuem dentro de si mesmos a causa da transformação.18

 

 

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Notas:

1. Qualquer um que precise tomar um remédio – qualquer remédio – se se dispuser a ler a bula, não o tomará, pois a série de efeitos colaterais e de contra-indicações é tamanha, que o tal do remédio parece mais indicado para envenenar, aleijar ou matar do que para curar. Mas, há três remédios que não causam efeitos colaterais nem têm contra-indicações: bons pensamentos, alegria e água.

 

 

 

 

2. Estou convencido de que quando Platão alude aos deuses, está a se referir aos Adeptos, Altos Iniciados e Hierofantes de todos os tempos – que para a turbamulta sempre foram tidos como deuses, cujo inverso são os demônios.

3. Creio que posso comentar o seguinte: suplicar é ignorar; logo, só o ignorante suplica. O Sábio, relativamente e dentro do possível, considerando sempre a utilidade da coisa, faz acontecer.

4. Há pecados e pecados; todavia, o pior deles, em relação ao todo da Humanidade, talvez seja o egoísmo, que, geralmente, anda travestido de desinteresse. Um exemplo: República do Haiti. Outro exemplo: República da Somália. Há um outro tipo de egoísmo, que é a transfusão impiedosa de recursos de um Estado para outro, sem que haja justas contrapartidas. Há, também, o egoísmo-covarde, que não autoriza mudanças necessárias e justas, por receio de que elas desatendam e não satisfaçam interesses geoestratégicos comuns, que é, por exemplo, o caso da diplomacia americana em não permitir a fundação de um Estado Palestino independente, para não causar um desmoronamento das relações com o Knesset (Parlamento Judaico), em particular, e um descontentamento mundialmente indesejável nos israelitas, em geral. E, por último, talvez o pior deles, há o egoísmo belígero, no qual um Estado avança sobre outro de olho gordo em suas riquezas naturais. Exemplo: invasão covarde (mal denominada de guerra) do Iraque, cujo motivo subtérreo foi, como todo mundo sabe, a cobiça indisfarçada do petróleo iraquiano. As tais armas de destruição em massa – justificativa política neofascista bushiana para a desbriosa invasão – nunca foram encontradas. Por tudo isto e pelo que não comentei, ajustes cíclicos os mais coloridos, os mais doloridos e os mais sortidos, que, como são educativos, não podem ser subtraídos nem protraídos. Estes ajustes, em geral, sempre acontecem no melhor momento para educar; nunca para punir. Punição, talionato, desforra e vendetta são coisas de Homo ignorantis e de Homo maffioso (que, um dia, será Homo supernus), não do Kosmos, que não pune nem premia.

5. Perdi a conta das vezes que ouvi: — Se eu não roubar, outros roubarão. Se eu não enriquecer agora, não enriquecerei nunca. Se eu não fizer por mim, quem fará? Se eu não isto, não sei quem aquilo. Particularmente, há muitos anos, conheço um "respeitável" senhor que foi preso por malversação do dinheiro público, formação de quadrilha, apropriação indébita e sei lá mais o quê. Foi demitido de um alto cargo de confiança, traído e abandonado pelos "amigos", mas sempre afirmou que era inocente e que havia sido preso injustamente. E sempre dizia: — Ainda voltarei; vocês verão.

6. Neste sentido, o sofrimento e o desmantelamento (pessoal e coletivo) derivam da inversão e do desprivilegiamento deste ordenamento proposto por Platão.

7. E o que pode ser entendido como escravidão moderada e aceitável? A escravidão místico-espiritual à obrigação de ser leal, justo, sincero, imparcial, fraterno, magnânimo, compassivo, co-participante et cetera – ou seja, um desapaixonado servidor do Bem, da Beleza e da Unidade.

8. Nada poderá ser mais anestesiante e entravante do que a opulência e a abastança.

9. Por que, no Brasil, a reforma política, por exemplo, não é implementada? Porque, para ser corretamente feita, feriria de morte os políticos nos seus mais mesquinhos interesses, e isto desinteressa a todos eles. Quem é doido o bastante para fatiar o bolo e dividi-lo? Aliás, o bolo é seu, é meu, é do povão; eles é que, indebitamente, se assenhorearam do bolo. Em geral, no mundo, os políticos, mas, particularmente no Brasil, com raras exceções, estão interessados em tudo, menos na virtude. Para eles, Platão é um chato de galochas. E, a cada mandato, algumas vezes conseguido daquele jeito que todo mundo sabe bem direitinho cumequeé, mais o patrimônio é aumentado. E o povão... Ó!

 

 

 

 

10. E a conquista do Bem, ipso facto, permitirá que se conheça sua irmã gêmea – a Beleza.

11a, 11b e 11c. Parece que isto foi escrito ontem ou mesmo hoje, mas, não esqueçamos que Platão escreveu estas coisas há mais ou menos 400 anos antes de Cristo.

12. Esta é uma forma poético-literária de dizer que tudo será devida e educativamente compensado. Certamente, Platão sabia que vingança e talionato são incompatíveis com a própria justiça.

13. Não à Verdade Cósmica, Absoluta, pois à esta não temos acesso absolutamente; mas, à verdade relativa, isto é, àquela verdade que, para nós, é a Verdade. Como disse Platão, ela vem em primeiro lugar.

14. Uma das condições para a indagação ou investigação acerca das Idéias é que não estamos em estado de completa ignorância sobre elas. Do contrário, não teríamos nem o desejo nem o poder de procurá-las. Em vista disso, é uma condição necessária, para tal investigação, que tenhamos em nossa alma alguma espécie de conhecimento ou lembrança de nosso contato com as Idéias (contato este ocorrido antes do nosso próprio nascimento) e nos recordemos das Idéias ao vê-las reproduzidas palidamente nas coisas. Deste modo, toda a ciência platônica é uma reminiscência. A investigação das Idéias supõe que as almas preexistiram em uma região divina onde contemplavam as Idéias. Podemos tomar como exemplo o Mito da Parelha Alada, localizado no diálogo Fedro, de Platão. Neste diálogo, Platão compara a raça humana a carros alados. Tudo o que fazemos de bom, dá forças às nossas asas. Tudo o que fazemos de errado, tira força das nossas asas. Ao longo do tempo, fizemos tantas coisas erradas que nossas asas perderam as forças e, sem elas para nos sustentarmos, caímos no Mundo Sensível, onde vivemos até hoje. A partir deste momento, fomos condenados a vermos apenas as sombras do Mundo das Idéias. Enfim, de acordo com a Teoria da Reminiscência há uma Sabedoria (SOPhIa) inata que pode ser recordada, sendo o conhecimento uma reminiscência das Idéias (consciente ou inconscientemente) contempladas. Talvez, o que melhor fundamente a Teoria da Reminiscência seja os ciclos de reencarnações das personalidades-alma.

Esta nota foi editada das fontes:

http://afilosofia.no.sapo.pt/12prog2Plat3.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Plat%C3%A3o

 

 

15. Se consultarmos a História, observaremos que, de maneira geral, os impérios sempre acabaram por ruir por causa da ganância[ganância]. Ganância de riquezas, ganância de escravização, ganância de poderes, ganância de supremacia militar, ganância de subjugação, ganância de intervenção, ganância de expansionismo, ganância de regulamentação, ganância de manda quem pode e obedece quem tem juízo, ganância de tudo, inclusive, ganância de ganância e ganância de eliminar a ganância alheia porque a ganância só pode ser minha. Só há uma coisinha de nada, que os impérios antigos talvez não soubessem (apesar de Platão, mais ou menos absconsamente, ter tocado neste assunto em todas as suas obras) e os impérios contemporâneos, desgraçadamente, ainda não aprenderam: a Lei do Ajustamento poderá tardar, mas é educativamente infalível; para todos, acontecerá sempre na hora certinha. O porrete que aporreta o Joca pinoca aporretará também a Dona Maroca, seja a Dona Maroca coroca ou seca-na-paçoca.

 

 

 

16. Ou seja: adequado, exato e tal como deve ser.

17. Para se considerar um ser humano um animal, é preciso que se o considere também um vegetal e um mineral. Na verdade, o ser humano, apesar de ter passado por todos estes estágios, forma um reino à parte. Então, em princípio e simplificativamente, na Terra, há quatro reinos: o reino mineral, o reino vegetal, o reino animal e o reino humano. O que seremos nos Períodos de Júpiter, de Vênus e de Vulcano, que se seguirão, nesta ordem, ao Período Terrestre?

18. E a causa da transformação, no caso do homem, é o Deus de seu Coração.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.google.com/intl/en/
press/annc/20081112_earthrome.html

http://www.smh.com.au/

http://kristiina.bravehost.com/interest.html

http://www.possibilidades.com.br/intelig_
emocional/medo_aliado_do_sucesso.asp

http://www.manchester.ac.uk/
aboutus/news/display/?id=5894

http://clubecetico.org/forum/index.php?

http://pt.wikipedia.org/wiki/Leis_(di%C3%A1logo)

http://projetophronesis.wordpress.com/2010/10/14/
resumo-platao-%E2%80%93-as-leis-%E2%80%93-livro-iii/

 

Música de fundo:

Aighaio

Fonte:

http://www.navis.gr/midi/midi.htm#Greek