Verdade
Absoluta e Relativa
Toda
a ciência do mundo se funda na hipótese de que as coisas
são como parecem ser. Contudo, pouco é preciso pensar
para compreender o erro da suposição, visto que a aparência
das coisas não depende somente do que são em si, mas,
também, de nossa própria organização,
da constituição de nossas faculdades perceptivas.
No
caminho do progresso, o maior obstáculo que encontra o estudante
das ciências ocultas é a crença errônea
de que as coisas são o que parecem ser. A
menos que possa se sobrepor a este erro e considerar as coisas não
sob o mero ponto de vista de sua limitada pessoa, mas relativamente
ao Infinito e ao Absoluto, não
poderá conhecer a Absoluta Verdade.
Antes
de prosseguir nas instruções sobre o modo prático
de te aproximares da LLuz, será necessário que radiques,
com toda a energia, em tua mente, que todos os fenômenos são
ilusórios. O que o homem conhece do mundo externo chegou à
sua consciência através dos sentidos. Comparando, umas
com as outras, as impressões repetidamente recebidas, e tomando
o resultado, o que julga conhecer, corno base de especulação
sobre o que não conhece, pode formar certas opiniões
sobre causas que transcendam o seu poder de percepção
sensitiva. Tais juízos serão válidos para si
e para aqueles que tenham idêntica estruturação.
Para os demais seres, que tenham organização por completo
diferente da sua, estas especulações e estes argumentos
lógicos não têm nenhum valor. É de esperar
que possam existir no Universo incalculáveis milhões
de seres de organização superior ou inferior a nossa,
mas completamente distinta, que percebam as coisas sob aspectos muito
diferentes. Semelhantes seres, ainda que vivam neste mundo, podem,
contudo, nada conhecer dele, para nós o único concebível.
Podemos, também, nada saber, intelectualmente, acerca do seu
mundo, apesar de ser uno e idêntico com o nosso.
Para
compreender o seu mundo, necessitamos de suficiente energia que arroje
todos os erros e preocupações herdadas e adquiridas.
Devemos elevar-nos a um nível superior ao do eu inferior, ainda
preso ao mundo sensorial por milhares de cadeias, e atingir mentalmente
o lugar onde possamos contemplar o mundo sob um aspecto superior.
Devemos morrer, por assim dizer, ou antes, devemos
viver inconscientes da nossa existência pessoal, até
podermos adquirir a consciência da Vida
Superior e
olhar para o mundo sob o ângulo de visão de um Deus.
A
ciência moderna é somente conhecimento relativo, o que
equivale a dizer que os nossos sistemas científicos ensinam
unicamente as relações existentes entre as cousas externas
e mutáveis e esta outra cousa, transitória e ilusória,
a pessoa humana, mera aparência externa de uma atividade interna
completamente desconhecida da ciência acadêmica. Os tão
louvados e enaltecidos conhecimentos científicos são
pura superficialidade; referem-se, tão-só, a alguns
dos infinitos aspectos da manifestação divina. A ignorância,
ainda que ilustrada, julgando ser a sua maneira especial de considerar
o mundo dos fenômenos a única verdadeira, agarra-se desesperadamente
a estas ilusões que toma por únicas realidades. Aos
que distinguem as ilusões qualifica-os de sonhadores.
Enquanto
a ciência se mantiver presa destas ilusões, não
se elevará acima delas, continuará sendo enganosa e
incapaz de transmitir o verdadeiro caráter da Natureza. Em
vão pedirá provas da existência de Deus enquanto
cerrar os olhos à Eterna LLuz. Entenda-se, todavia, que não
estamos pedindo à ciência moderna para se colocar no
Plano do Absoluto porque, neste caso, deixaria de ser relativa para
as coisas externas e não teria valor algum.
Homo
mechanicus1
Admitiu-se
que as cores não são realidades por si mesmas, mas produto
de certo número de ondulações da luz, o que não
impede a fabricação das cores e o seu útil emprego.
Análogos
argumentos são aplicáveis às demais utilizações
da ciência. Obviamente, não se pretende opô-los
aos trabalhos de investigação da ciência, mas
instruir aqueles que não encontrem satisfação
no meio conhecimento superficial e externo e, se é possível,
moderar a presunção dos que crêem saber tudo e,
escravos de suas ilusões, negam a existência do Eterno
e do Real.
Não
é o corpo físico que vê, ouve, respira, raciocina
e pensa. É o Homem Interno Invisível que o realiza por
meio dos órgãos corporais. Não existe nenhuma
razão para crer que o Homem Interno cessar de existir quando
o corpo morre; pelo contrário, como adiante veremos, supor
tal coisa seria insensatez.
Sem
dúvida, se o homem interno, pela morte do organismo físico,
perde o poder de receber impressões sensíveis do mundo
externo e, perdendo o cérebro, perde o poder de pensar, certamente
mudarão por completo as relações condicionadoras
da sua permanência no mundo. Conseqüentemente, as condições
da sua nova existência serão totalmente distintas. Seu
mundo não será o nosso mundo, considerando, todavia,
que, no sentido absoluto da palavra, não há senão
um só mundo.
Vemos,
portanto, que pode coexistir com o nosso mundo um sem-número
de mundos diferentes, desde que exista um número indeterminado
de seres de constituições diferentes uma das outras.
Por outras palavras, a Natureza é uma só e pode se manifestar
sob infinito número de aspectos. A cada uma das mudanças
de nossa organização, observamos o mundo através
de um prisma distinto. Ao morrer, entramos em um mundo novo, notando
que não é o mundo que muda, mas as nossas relações
com ele.
Que
sabe o mundo sobre a verdade absoluta? E nós, que realmente
sabemos? Sol, Lua, Terra, fogo, ar, água, só os consideramos
existentes em conseqüência de certo estado de nossa consciência,
que nos leva a crer que existem. A verdade absoluta não existe
no reino dos fenômenos. Nem sequer nas matemáticas a
encontramos, porque todas as suas regras e princípios estão
fundados em certas hipóteses respeitantes à grandeza
e à extensão, já, por si, de caráter fenomênico.
Mudem-se os conceitos fundamentais das matemáticas e o sistema
inteiro será modificado.
Do
mesmo modo, pode-se conceituar quanto à matéria, ao
movimento e ao espaço. Tais palavras somente exprimem conceitos,
formados sobre cousas inconcebíveis, dependentes do nosso estado
de consciência.
Se
olharmos a uma árvore, forma-se uma imagem em nossa mente,
o que equivale a dizer que entramos em certo estado de consciência
que nos relaciona com um fenômeno de cuja inteira natureza nada
sabemos, ao qual damos o nome de árvore. Para um ser organizado
de modo distinto, talvez a nossa árvore seja inteiramente diferente,
quiçá transparente e sem solidez material. E, assim,
para milhares de seres diferentes, isto é, de constituições
diversas umas das outras, parecerá ter outros tantos aspectos
distintos. O Sol, outro exemplo, pode ser considerado simplesmente
como uma bola de fogo. Mas um ser de compreensão superior poderá
ver nele alguma coisa para nós indescritível, por carecermos
das faculdades precisas para tal concepção e descrição.
O homem externo guarda certa relação com o mundo externo
e, como tal, nada mais pode conhecer do mundo do que esta relação
externa.
Algumas
pessoas podem objetar que o homem deve se contentar com aqueles conhecimentos,
e não tentar aprofundá-los. Isto equivaleria a privá-lo
de todo o progresso ulterior e condená-lo a permanecer preso
da ignorância e do erro.
A
ciência que depende de ilusões externas é uma
ciência ilusória. O aspecto externo das coisas é
produto da atividade interior. Se esta atividade não for conhecida,
o fenômeno externo não poderá ser compreendido.
O homem real, interno, residente na forma externa, mantém certas
relações com a atividade interna do Cosmos, não
menos estritas e definidas do que as relações existentes
entre o homem interno e a Natureza externa. Se
o homem não conhecer as relações que o ligam
àquele poder interno, por outras palavras, que o ligam a Deus,
não compreenderá a própria natureza divina e
não atingirá, jamais, o verdadeiro conhecimento de si
mesmo.
O
único e verdadeiro objetivo da verdadeira religião e
da verdadeira ciência deve ser ensinar ao homem a relação
entre si e o infinito, e a se elevar àquele exaltado plano
de existência para o qual foi criado.
Pelo
fato de um homem ter nascido em certa casa ou em certa cidade, não
se conclui que tenha de permanecer ali toda a vida. Do mesmo modo,
as condições física, moral e intelectual não
impõem a necessidade de ficar sempre em tal estado, nem que
não faça nenhum esforço por se elevar a maiores
alturas. A mais sabida de todas as ciências tem por finalidade
o mais elevado de todos os conhecimentos. Não pode existir
objetivo mais sublime nem mais digno de ser conhecido que a Causa
Universal do Bem. Deus é o objetivo mais elevado dos conhecimentos
humanos; nada podemos saber Dele, fora da Sua manifestação
ativa em nós próprios. Obter o conhecimento do Eu equivale
a obter o conhecimento do Princípio Divino que habita em nós
ou, por outras palavras, o conhecimento do próprio Eu depois
que ascendeu ao Divino.
O
Eu Interno e Divino reconhecerá, por assim dizer, as relações
existentes entre si e o Princípio Divino no Universo, se permitido
é falar de relações entre duas coisas que não
são duas, mas uma só e idênticas. Mais corretamente
deveríamos dizer: o conhecimento espiritual, no homem, realiza-se
quando Deus nele expressa sua própria Divindade.
Todo
poder – quer pertença ao corpo, à alma ou ao princípio
inteligente – nasce do centro, do espírito. Ver, sentir,
ouvir e perceber são capacidades dos sentidos que o homem deve
à atividade espiritual. Na maior parte dos homens, despertou
somente a potência intelectual que pôs em atividade os
sentidos. Mas, há pessoas excepcionais que desenvolveram esta
atividade espiritual em grau muito maior, e expandiram extraordinariamente
suas faculdades internas de percepção. Tais pessoas
podem perceber realidades imperceptíveis para os demais e por
em exercício poderes que os restantes mortais não possuem.
Se os pretensos sábios encontram pessoas dessa natureza, geralmente
consideram-nas enfermas de corpo, vítimas de uma condição
patológica.
Todos
os dias, a experiência demonstra que a ciência do exterior,
da superfície, ignora quase inteiramente as Leis Fundamentais
da Natureza, porque, contínua e equivocadamente, toma as causas
por efeitos e os efeitos por causas.
Com
igual razão e a mesma lógica, se, em um rebanho de carneiros,
um obtivesse a faculdade de falar como homem, poderiam os restantes
considerar o companheiro enfermo e se ocupar de sua condição
patológica. A sabedoria parece loucura para o louco. Para o
cego a luz não se distingue das trevas. Para o vicioso a virtude
é como o vício, e o falso diz que a verdade não
vale mais do que o embuste.
Vemos,
pois, que o homem percebe as cousas pelo que imagina e não
pelo que são.
Assim,
tudo a que chamam bom ou mau, verdadeiro ou falso, útil ou
inútil, tem sentido relativo. E a conceituação
difere, ainda, de um para outro, de acordo com as distintas opiniões,
objetivos ou aspirações. Conseqüência: onde
começa a linguagem nasce a confusão, porque diferem
as constituições humanas, donde resulta, em cada um,
uma concepção das cousas distinta das concepções
dos outros.
Isto
é verdadeiro já nos assuntos comuns, mas se evidencia
muito mais nas questões do Ocultismo, do qual os homens comuns
só possuem idéias falsas. Não será aventuroso
dizer que o simples enunciado de uma sentença de natureza oculta
daria origem a disputas e a interpretações falsas.
As
únicas verdades que se encontram fora de toda disputa são
as Verdades Absolutas. Não precisam ser enunciadas porque
são evidentes por si mesmas. Expressá-las pela linguagem
equivale a dizer o que todo o mundo sabe e ninguém põe
em dúvida.
Dizer,
por exemplo, que Deus é a causa de todo o bem equivale, simplesmente,
a simbolizar a origem desconhecida de todo bem pela Palavra Deus.
A verdade relativa respeita unicamente às personalidades transitórias
dos homens.
Só
pode conhecer a Verdade no Absoluto aquele que, sobrepondo-se à
esfera do ego e do fenômeno, chega ao Real, ao
Eterno e ao
Imutável. Fazer isto é,
em certo sentido, morrer para o mundo; o que é o mesmo que
se desembaraçar por completo da noção do ego
pessoal e ilusório, e chegar a ser um com o Universal, onde
não existe o mínimo sentido de separação.
Se
estiveres disposto a Morrer assim, poderás penetrar no Santuário
da Ciência Oculta.
Todavia,
se as ilusões do mundo, sobretudo a ilusão de tua existência
pessoal, te atraem, buscarás em vão o conhecimento do
que existe por si e independente de qualquer relação
com coisas, qual seja: o Eterno Centro flamígero, o Pai, do
qual só pode se aproximar o Filho, a LLuz, a Vida e a Verdade
Suprema.
Fonte:
http://www.fraternidaderosacruz.org/cartasrc3.htm
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