SEGUNDA CARTA ROSACRUZ

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

O Website da Fraternidade Rosacruz Max Heindel divulga em sua biblioteca on-line amplo e diversificado material sobre o Rosacrucianismo de vertente heindeliana. Nesta oportunidade, estou divulgando a Segunda Carta Rosacruz, que remonta ao século XVIII, escrita por um antigo membro da Ordem. Ao final, apresentarei alguns comentários.

 

 

 

 

Carta II

 

Um Meio Prático
de Aproximação à Luz

 

 

Quem, gratificando os desejos sensuais, tenta encher o vazio da sua alma, não o conseguirá nunca. Tampouco os anelos de verdade poderão ser satisfeitos pela aplicação da inteligência às coisas externas. O homem não pode entrar na paz enquanto não vencer o que é incompatível com seu Eu Divino. Para conseguir a paz, deve aproximar-se da LLuz, obedecendo à Lei da LLuz. O desejo sensual e o desejo do externo devem desaparecer e dirigir sua visão espiritual para a LLuz, a fim de afastar as nuvens que a eclipsam. Primeiramente, deve ter consciência da existência, em seu íntimo, de um Germe Divino. Nele, deve concentrar a vontade e, à sua LLuz, cumprir estritamente todos os deveres, interna e externamente.

 

 

 

 

Existe uma lei oculta, mencionada com freqüência em escritos esotéricos, que só raros compreendem. Diz que todo o inferior tem a sua contraparte superior e, assim, ao agir o inferior, o superior reage sobre ele. Segundo esta lei, todo o desejo, pensamento, aspiração boa ou má, é seguido imediatamente de uma reação que procede do alto. Quanto mais pura é a vontade do homem, quanto menos adulterada por desejos egoístas, tanto mais enérgica é a reação divina.

 

O progresso espiritual do homem não depende, de modo nenhum, dos esforços sobre si próprio. Pelo contrário, quanto menos tentar estabelecer leis por si mesmo, quanto mais se submeter à Lei Universal, tanto mais rápidos serão os seus progressos. Aliás, o homem não pode dirigir sua vontade em sentido diverso da Vontade Universal de Deus. Se o fizer, se não a identificar com a Vontade Divina, pervertem-se e aniquilam-se os seus efeitos. Só quando a vontade se harmoniza e coopera com a Vontade de Deus se torna poderosa e efetiva. Demais, em todos os tempos, têm existido entidades espirituais que se comunicam com o homem para transmitir o conhecimento das Verdades Espirituais ou para refrescar a sua memória quando em perigo de olvidá-las, a fim de restabelecer um laço de forte união entre o homem intelectual e o Homem Divino. Os que têm certo grau de pureza podem, mesmo nesta vida, entrar em comunhão com estes mensageiros celestiais; poucos são, porém, os que podem consegui-lo.

 

Seja como for, é a vontade e não a inteligência que deve ser purificada e regenerada. Portanto, a melhor das instruções é inútil se não houver vontade de pô-la em prática. E como ninguém pode se salvar sem vontade de salvação, o desejo mais íntimo do Coração deve ser o de conhecer e de praticar a verdade. O homem de reta vontade alcançará o saber e a verdadeira fé sem necessidade de sinais externos ou de razões lógicas que o convençam da verdade daquilo que sabe ser certo. Provas, somente as pede o 'sábio' pretensioso. De coração vaidoso, de vontade fraca, sem conhecimento espiritual nem fé, nada mais pode saber além do que lhe vem pelos sentidos. Mas, as mentes puras e sinceras adquirem a consciência das verdades em que intuitivamente creram.

 

Todas as ciências culminam em um ponto: quem conhece o Uno conhece tudo, e o que julga conhecer muitas coisas é um iludido. Quanto mais te aproximares deste ponto, quanto mais íntima for tua união com Deus, tanto mais clara será tua percepção da verdade. Se a tal ponto chegares, acharás coisas em a Natureza que transcendem a imaginação dos filósofos e com as quais os cientistas nem sonham.

 

Toda a vida está em Deus. O que parece viver fora de Deus é simplesmente ilusão. Se desejarmos conhecer a verdade, devemos conhecê-la à LLuz de Deus e não à luz falsa e enganadora da especulação intelectual. A união com a LLuz é o único caminho para chegar ao conhecimento perfeito da verdade. Como são bem poucos os que conhecem esta Senda!

 

O mundo zomba e ri dos que por ela caminham, porque não conhece a verdade; o mundo está cheio de ilusões, cego ante a sua LLuz. O primeiro sinal de que desponta a aurora da sabedoria é calar-nos e permanecermos tranqüilos, impassíveis, ante o riso dos néscios, o desprezo dos ignorantes, o desdém dos orgulhosos. Uma vez conhecida, a verdade será capaz de resistir ao escrutínio intelectual mais severo e aos ataques da lógica mais potente. Podem ser abaladas e transtornadas as inteligências dos que, pressentindo a verdade, não a conhecem; mas, os que sabem e a compreendem permanecem firmes como rocha. Enquanto buscarmos a gratificação dos sentidos ou a satisfação da curiosidade, não encontraremos a verdade. Para encontrá-la temos de entrar no Reino de Deus. Então, a LLuz descerá sobre a nossa inteligência.

 

Para alcançá-La, não é preciso que torturemos o corpo ou que arruinemos os nervos. É indispensável crer em certas verdades fundamentais, intuitivamente percebidas por todo aquele que não tem a inteligência pervertida. Tais verdades fundamentais são: a existência de um Deus universal, origem de todo o bem e a imortalidade da alma humana. Possuindo o homem faculdade de raciocínio, tem o direito e o dever de usá-la, mas nunca em oposição à Lei do Bem, à Lei do Amor Divino, à Lei da Ordem e da Harmonia. Não deve profanar os naturais dons que Deus lhe deu; antes, deve considerar todas as coisas como dons divinos, a si mesmo como um templo vivente de Deus e, seu corpo, como um instrumento para manifestação do Divino Poder.

 

Um homem separado de Deus é coisa inconcebível, posto que a Natureza inteira é simples manifestação de Deus. Se a luz do Sol nos ilumina não é por obra nossa; é porque procede do Sol. Se nos ocultarmos do Sol, a luz desaparece.

 

Assim também, Deus é o Sol do Espírito. Devemos permanecer iluminados por seus raios, gozar do seu influxo e exortar os outros a entrar na LLuz. Não existe mal nenhum em procurar conhecer esta LLuz intelectualmente, se para tal a vontade se dirige.

 

Contudo, se a vontade for atraída por uma luz falsa, tomada pela do Sol, sem dúvida cairemos em erro.

 

Existe uma relação definida e exata entre todas as coisas e sua causa. Mesmo nesta vida, pode o homem chegar ao conhecimento destas relações e aprender a se conhecer. O mundo em que vivemos é um mundo de fenômenos ilusórios. Tudo o que se toma por real, assim parece enquanto duram certas condições ou relações entre aquele que percebe e o objeto de sua percepção. O que percebemos não depende tanto das coisas em si quanto das condições do próprio organismo. Se a nossa organização fosse diferente, cada coisa seria percebida sob um aspecto também diferente. Quando aprendemos integralmente esta verdade e discernimos o real do ilusório, podemos entrar no Reino da Sublime Ciência, assistidos pela LLuz do Espírito Divino. Os mistérios desta transcendental ciência, que abraça todos os mistérios da Natureza, são os seguintes:

1º - o reino interno da Natureza;

2º - o laço que une o Mundo Interno do Espírito com as formas;

3º - as relações que existem entre o homem e os seres invisíveis;

4º - os poderes ocultos no homem por meio dos quais pode agir no Reino Interno.

 

Se, de Coração puro, desejas a Verdade, haverás de encontrá-La. Mas, se tuas intenções são egoístas, afasta-te destas Cartas. Não serás capaz de compreendê-las nem te prestarão o menor benefício.

 

Os mistérios da Natureza são sagrados. O malvado não os pode compreender. Se, todavia, conseguir descobri-los, sua LLuz converter-se-á em fogo consumidor de sua alma... E o aniquilará.

 

Fonte:

http://www.fraternidaderosacruz.org/cartasrc2.htm

 

 

 

Três Comentários

 

 

 

Para encontrar a Verdade, temos de entrar no Reino de Deus. Penso que isto esteja rigorosamente correto, tanto quanto não haja do que discordar da segunda grande súplica da Oração do Senhor, também conhecida como o Pai Nosso: venha a nós o Vosso Reino. Entretanto, não devemos imaginar que este Reino exista alhures, inalcançável em não sei onde, enquanto estivermos encarnados. Infelizmente, é isto o que é ensinado ordinariamente em todas as religiões, e o religioso fideísta, de maneira geral, acredita que só conhecerá este Reino depois da morte, e se merecer. Se merecer, está bem; mas só depois da morte, creio que não. Por que? Porque este Reino está disponível para ser acessado agora, já. Longe? Não. Bem pertinho. Onde? Em nosso Coração. Meu irmão, tente fazer o seguinte: se você se considera digno e se acha que é merecedor, tome um copo d'água, sente, relaxe, e comece a vocalizar audivelmente o Mantra OM. Vá diminuindo a intensidade da vocalização, até emitir o Mantra OM apenas mentalmente. Com calma; sem pressa. Devagarzinho, sempre com calma e sem pressa, vá se interiorizando. Procure esquecer o mundo exterior e sua vida objetiva. Não pense em nada; não peça nada. Apenas deixe a coisa acontecer no Santo Silêncio do seu Ventrículo-silêncio. E não se esqueça: primeiro, as coisas acontecem mentalmente. Ao terminar este exercício, no mínimo, você se sentirá rejuvenescido. E, para concluir, deseje paz à toda Humanidade. Nossa Humanidade nunca precisou tanto de paz como nos tempos em que vivemos.

 

 

 

 

Se a vontade for atraída por uma luz falsa... sem dúvida cairemos em erro. De bem-intencionados, o inferno está cheio; de mal-intencionados, sai pelo ladrão. Por isto, cuidado! Pululam gentes por aí – tanto bem-intencionadas quanto mal-intencionadas que acabam por só fazer uma coisa: retardar o ascendimento dos incautos, que acreditam porque não têm alternativa e, por isto, precisam acreditar. Por isto, peço desculpas, mas tenho de insistir: só há um Colégio; só há um Professor. O Colégio – nosso Coração; o Professor nosso Deus Interior. O resto é pura balela; papo-furado para animal mamífero, ruminante, artiodáctilo, com par de chifres não-ramificados, ocos e permanentes, do gênero Bos (Bos taurus taurus ou Bos taurus indicus), dormir. Ou seja: conversa-fiada para boi dormir. Precisamos parar com esse treco fútil e inútil de querer que os outros façam por nós o que nos cabe fazer ou que nos indiquem o Caminho... que está e sempre esteve em nós. Ninguém (vivo ou morto) fará nada por nós; ninguém (vivo ou morto) nos indicará nada. O Caminho está em nós; o Caminho somos nós.

 

E, finalmente, comentarei a afirmação: Se, de Coração puro, desejas a Verdade, haverás de encontrá-La. Sim, de Coração puro encontraremos tudo. Mas, atenção: tudo que não é tudo, e Verdade que não é nem absoluta nem definitiva. Já discuti estes temas à saciedade. Hoje, acrescentarei o seguinte: a maravilha da relatividade das Verdades progressivamente alcançadas é que elas nos dão a certeza cordial de que cada Verdade é sempre relativa. Por isto, cada Verdade relativa conquistada funciona como uma espécie de catalisador impulsionante para a frente e para o alto, para uma Verdade mais avançada e mais concertada – primeiro ponto iluminante de um novo triângulo a ser dialeticamente construído e laboriosamente finalizado. Sentar em cima de uma Verdade, como se fosse a última, é um dos erros que um Iniciado não pode cometer. Portanto, ao se estudar a última Carta do último Irmão, na realidade, estamos apenas avançando e – quem sabe!? nos habilitando para ler outras cartas em nosso Coração.

 

 

 

 

 

Música de fundo:

Lost Horizon
Composição: Burt Bacharach & Hal David
Interpretação: Shawn Phillips

Fonte:

http://beemp3.com/