QUARTA CARTA ROSACRUZ

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

O Website da Fraternidade Rosacruz Max Heindel oferece para leitura em sua biblioteca on-line amplo e diversificado material sobre o Rosacrucianismo de vertente heindeliana. Nesta oportunidade, estou divulgando a Quarta Carta Rosacruz, que remonta ao século XVIII, escrita por um antigo membro da Ordem. Ao final, apresentarei alguns comentários.

 

 

 

 

Carta IV

 

A Doutrina Secreta

 

 

Em seus fundamentos, a Doutrina Secreta, fonte dos mais profundos mistérios do Universo, é tão simples que pode ser compreendida por um menino. Por ter esta simplicidade, dela desdenham os que suspiram pela complexidade e pelas ilusões. 'Ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo' – o conhecimento prático desta verdade é tudo que se requer para entrar no Templo onde se adquire a Sabedoria Divina.

 

Não poderemos conhecer a causa de todo bem se não nos aproximarmos dela; e não poderemos nos aproximar dela se não a amarmos e se não formos, por amor, atraídos para ela. Não a podemos amar sem que a sintamos, e não a podemos sentir sem que exista em nós.

 

Para amar o bem precisamos ser bons. Para, sobre todas as coisas, amar o bem, devem os sentimentos da verdade, da justiça e da harmonia sobrepujar e absorver os outros sentimentos. Devemos deixar de viver no âmbito do eu pessoal, que é o mal, e começar a viver no divino da Humanidade como em um todo. Devemos amar o que é divino, tanto na Humanidade como dentro de nós mesmos. Se alcançarmos este estado supremo de esquecimento do nosso ego intelectual e animal e conquistarmos a união com Deus, não haverá, na Terra ou nos céus, nenhum segredo inacessível.

 

O que é conhecer Deus? É o conhecimento do bem e do mal. Deus é a causa de todo bem, e o bem é a origem do mal. O mal é a reação do bem, no mesmo sentido em que as trevas são a reação da LLuz. O Fogo Divino de que procede a LLuz não é causa da obscuridade, mas a LLuz que irradia do Centro Flamígero não poderá chegar a se manifestar sem a presença das trevas. Sem a presença da LLuz as trevas seriam desconhecidas.

 

Por conseguinte, há dois princípios: o do bem e o do mal, partindo ambos da mesma raiz, destituída de mal. Nesta raiz, só existe o inconcebível Bem Absoluto. O homem é um produto da manifestação do princípio do bem, e unicamente no bem pode encontrar a felicidade, visto que a condição necessária de felicidade para cada ser é viver no âmbito a que a sua natureza pertença.

 

Os que nascem no bem são felizes no bem, os que nascem para o mal nada mais desejam do que o mal. Os que nascem na LLuz buscarão a LLuz; os que pertencem às trevas buscam as trevas. Sendo o homem um filho da LLuz, não será feliz enquanto em sua natureza existir um resquício de trevas. O homem não encontrará a paz enquanto albergar no íntimo uma pequena mancha do mal.

 

A alma do homem é como um jardim onde se lançou um número infinito de sementes. Destas sementes, podem surgir belas plantas e plantas disformes. O calor necessário para o seu crescimento vem do fogo que se chama vontade. Se a vontade é boa, desenvolverá plantas belas; se é má, plantas disformes. Logo, a finalidade principal da existência do homem, na Terra, é a purificação da vontade, cultivando-a para que se converta em uma potência espiritual. O único meio para purificar a vontade é a ação. Para o conseguir, as ações têm de ser boas, até que o agir bem seja mera questão de hábito. E o hábito se estabelece quando na vontade não houver mais desejo de agir mal.

 

Que proveito terias em conhecer intelectualmente os mistérios da Trindade e o poder falar brilhantemente sobre os atributos do Logos, se no altar do teu Coração não ardesse o Fogo do Amor Divino, e, neste templo sagrado, não brilhasse a LLuz do Cristo? Se tua inteligência for abandonada pelo Espírito, o dador da vida, desvanecer-se-á, perecerá, a não ser que a chama do amor espiritual arda em teu Coração com a LLuz da Consciência Eterna.

 

 

 

 

 

 

Se não estás na posse do amor do bem, mais te vale permanecer sumido na ignorância; assim, pecarás ignorantemente e não serás tão responsável por teus atos. Mas, aqueles que conhecem a Verdade e a desprezam por má vontade sofrerão; cometeram pecado contra a Verdade Santa e Espiritual. Particularmente, o Rosacruz, em cujo Coração arde o Fogo do Amor Divino, está iluminado e inspirado por este Fogo, e, por causa do mesmo amor, pratica ações nobres. Não necessita de mestre mortal algum que lhe ensine a verdade porque, penetrado do Espírito de Sabedoria, este é o seu Mestre verdadeiro.

 

Todas as ciências e todas as artes mundanas são mínimas e pueris ante a excelência desta Sabedoria Divina. A posse do saber do mundo não confere valor permanente, mas a da Sabedoria Divina é um valor eterno. Todavia, não pode existir Sabedoria Divina sem o Amor Divino. A Sabedoria Divina é a união do saber espiritual com o amor espiritual, de que resulta o poder espiritual. Aquele que não conhece o amor divino não conhece Deus. Deus é amor – fonte e o centro flamígero do amor. Por isto, foi dito que, ainda que penetrássemos todos os mistérios e fizéssemos boas obras, mas não possuíssemos o amor divino, nada disso nos aproveitaria. Pelo amor é que se pode conquistar a imortalidade.

 

O que é o amor? O amor é um poder universal que procede do Centro, de onde surgiu e se expandiu o Universo. No reino elementar, o amor age à maneira de força cega, chamada força de atração. No reino vegetal, obtém os rudimentos dos instintos que, no reino animal, tem completo desenvolvimento. Finalmente, no reino hominal, converte-se em paixão; esta, ou o impelirá para a fonte divina donde brotou ou, se for pervertida, conduzi-lo-á à destruição. No reino espiritual, o do Homem Regenerado, o amor se transforma em poder espiritual, consciente e vivo. Para a maior parte dos homens, o amor não é mais do que um sentimento. O amor verdadeiramente divino e poderoso é quase desconhecido da Humanidade. O sentimento superficial a que os homens chamam de amor é um elemento semi-animal, fraco, impotente, e, todavia, suficiente para guiar ou extraviar os homens. Podemos amar ou deixar de amar uma coisa, mas o amor superficial não penetra senão os extratos superficiais do objeto amado. A posse do amor divino não depende de escolha; é um dom do espírito que reside no interior, é um produto da evolução espiritual, e só os que a esta evolução chegam podem possuí-lo. Não é possível alguém conhecer este amor se não alcança a consciência divina. Mas, o que a atinge sabe que é um poder que penetra tudo, brota do centro do Coração e, tocando o Coração do ente amado, atrai os germes do amor ali contidos. A este Amor Espiritual poderás chamar, se te parecer melhor, LLuz Espiritual, pois é tudo isto e muito mais. Todos os poderes espirituais brotam de um centro eterno, e ascendem à maneira do vértice de uma pirâmide de muitos lados. A este Ponto, a este Poder, a este Centro, a esta LLuz, a esta Vida, a este Todo, chamamos deus, a Causa de todo o Bem. Esta palavra é um mero vocábulo sem significação para aqueles que não o entendem; aliás, nem sequer podem conceber seu significado porque não sentem nem conhecem a Deus em seus Corações.

 

Como poderemos obter este poder espiritual de amor, de boa vontade, de luz e de vida eterna? Não poderemos amar uma coisa sem que saibamos que é boa; não poderemos conhecer se uma coisa é boa ou má sem senti-la; não a poderemos sentir sem que nos aproximemos dela; e não podemos nos aproximar se a não amamos. Assim, giraríamos, eternamente em um círculo vicioso – sem nos acercarmos jamais da eterna verdade que, do centro do Coração humano, lança seus raios, e, instintiva e inconscientemente, transforma o movimento circular em movimento espiral – se a Luz da Graça não conduzisse os homens para aquele Centro, malgrado as próprias inclinações humanas.

 

 

 

 

 

Tem sido dito que a inclinação do homem para o mal é mais forte do que para o bem. Indubitavelmente, isto é certo; no estado presente de sua evolução, as atividades e tendências animais são muito fortes. Os princípios espirituais mais elevados não se desenvolveram suficientemente para lhe dar consciência de si. Contudo, se as inclinações animais são mais fortes do que seus poderes espirituais, a LLuz Eterna e Divina que o atrai para o centro é muito poderosa. Se o homem resiste ao poder do amor divino e prefere se dirigir ao mal, não deixará, contudo, de ser atraído, contínua e inconscientemente, para o centro do amor. Portanto, ainda que, em certo grau, seja vítima indefesa de poderes invisíveis, na medida em que faz uso de sua razão é, de certa maneira, um agente livre, livre relativamente, visto que só poderá ser completamente livre quando sua razão for perfeita. A razão humana só se tornará perfeita quando vibrar uníssona e harmoniosamente com a Razão Divina e Universal. Portanto, o homem só pode ser livre se obedecer à Lei.

 

Só pode existir uma Razão Suprema, uma Lei Suprema, uma Sabedoria Suprema, ou em outros termos: um Deus. A palavra-conceito Deus significa o ponto culminante de tudo aquilo que é físico e espiritual, a um só tempo. Significa o Centro único de onde procedem todas as coisas, todas as atividades, todos os atributos, faculdades, funções e princípios que, por fim, ao mesmo Centro voltarão. O homem pode esperar a concretização de sua aspiração quando agir em harmonia com a Lei Universal. A teoria universalmente aceita da sobrevivência dos mais aptos e a verdade absoluta de que o forte suplantará o fraco são tão certas no reino animal como no reino espiritual. Uma gota de água não pode, por si, correr em sentido contrário ao da corrente de que participa. Será, por acaso, o homem, em toda a sua vaidade e pretensão de sabedoria, mais do que uma gota de água no oceano da Vida Universal?

 

Para obedecer à Lei precisamos aprender a conhecê-La. Mas, como pode alguém conhecer a Lei pura e distingui-la da adulterada, a não ser no estudo da natureza espiritual, em seus aspectos internos e externos? Só existe um Livro que o aspirante ocultista precisa conhecer, livro em que se acha contida toda a Doutrina Secreta, com todos os mistérios conhecidos unicamente pelos Iniciados. Tal Livro nunca foi modificado ou erroneamente traduzido; nunca foi objeto de fraudes piedosas nem de interpretações absurdas. Está ao alcance de todos, tanto dos mais favorecidos de riquezas como dos mais pobres. Todos podem compreender sua linguagem, sem distinção de idioma ou de nacionalidade. Seu título é M, que significa Macrocosmos e Microcosmos reunidos em um volume. Para bem compreende-Lo, importa lê-Lo com os olhos da inteligência e com os do espírito. Se penetrarmos nas Suas páginas só com a luz do cérebro, fria como a luz da Lua, as páginas parecerão mortas, e ensinarão somente o que está impresso na superfície. Mas, se a Luz Divina do Amor irradiar do Coração, Illuminará Suas páginas e os sete selos que fecham os capítulos se romperão, um após outro, e serão erguidos os véus que os cobrem. Conheceremos. então, os mistérios divinos que jazem no santuário da Natureza.

 

Sem esta Luz Divina do Amor ó inútil tentar penetrar no desconhecido, onde permanecem os mais profundos mistérios. Os que estudam a Natureza com a mera luz dos sentidos nada mais conhecerão do que u'a máscara exterior. Em vão podem esperar que lhe ensinem os mistérios. Unicamente com a Luz do Espírito poderão ser compreendidos, razão de se dizer que a LLuz brilhou nas trevas e as trevas não A compreenderam.

 

A Luz do Espírito somente se encontra no íntimo. O homem só pode conhecer o que existe dentro de si; não pode ver nem ouvir nem perceber nenhuma coisa externa; só contempla as imagens e experimenta as sensações que, em sua consciência, produzem os objetos exteriores. O que ao homem pertence é um resumo, uma imagem do Universo. Ele é o Microcosmos da Natureza. Nele, em germe, se encontra, mais ou menos desenvolvido, tudo quanto a Natureza contém. Nele residem Deus, Cristo e o Espírito Santo. Nele vivem a Trindade e os elementos dos reinos vegetal, animal e espiritual. Nele estão o Inferno, o Purgatório e o Céu. Tudo está no homem porque ele é a imagem de Deus, e Deus é a causa de tudo que existe. Nada existe que não seja manifestação de Deus e de que não se possa dizer, em certo sentido, que seja Deus ou a substância de Deus.

 

O Universo é a manifestarão daquela Causa ou Poder Interno a que os homens chamam Deus. Para estudar as manifestações deste Poder, temos que estudar as impressões que produz em nosso íntimo. Nada se pode conhecer fora do que existe em nós. O estudo da Natureza não é, nem pode ser, nada mais do que o estudo do Eu, ou, por outras palavras, o estudo das impressões internas a que as causas externas deram lugar. Positivamente, o homem não pode, de maneira nenhuma, conhecer nada, a não ser o que vê, sente ou percebe na intimidade do seu ser; todos os conhecimentos sobre as coisas são meras especulações e suposições; poderemos chamá-las de verdades relativas.

 

Conseqüentemente, se não é possível ao homem conhecer algo sobre as coisas fenomênicas senão quando as veja, sinta ou perceba em si, como é possível saber das coisas internas que não sejam manifestadas em seu íntimo? Todos os que buscam um Deus no mundo externo, em vez de procurá-lo em seus Corações, em vão O procuram. Todos os que adoram um rei desconhecido da criação, enquanto fazem por abafar o Rei que existe em seus Corações, adoram uma ilusão. Se aspiramos conhecer Deus e obter a Sabedoria Divina (SOPhIa), devemos estudar a atividade do Divino Princípio em nossos Corações. Devemos escutar Sua Voz com o ouvido da inteligência e ler as suas palavras com a luz do divino amor, porque o único Deus que o homem pode conhecer é o seu próprio Deus pessoal, uno com o Deus do Universo. Por outro modo dizendo, o Deus Universal entra cm relação com o homem e alcança personalidade por meio do organismo a que chamamos homem. É assim que Deus se faz homem e o homem se transforma em Deus. Mas tal transformação se efetua apenas quando o homem obtém o conhecimento perfeito do Divino Eu ou, em termos diferentes, quando Deus se faz consciente de si mesmo e alcança, no homem, [cons]ciência de si mesmo.

 

 

 

 

 

 

Portanto, não poderá haver Sabedoria Divina nem conhecimento do próprio Eu Divino, senão depois que, encontrando o Eu Divino em seu interior, quando, então, o homem se fará sábio. Não sejam os especuladores da ciência e da teologia tão presumidos para dizer que encontraram o próprio Divino Ego. Se o tivessem encontrado, estariam na posse de poderes divinos, poderes que só possuem os homens 'sobrenaturais', quase desconhecidos entre a Humanidade. Se os homens encontrassem seus Divinos Egos, não precisariam de pregadores, nem de doutores, nem de mais livros, nem de outras instruções que as mutuadas do seu Deus Interno. Portanto, a sabedoria dos nossos sábios não é 'SOPhIa' de Deus; procede de livros, de fontes externas e falíveis. Convém saber que o sentimento do Eu ao qual os homens chamam seu próprio 'eu', não é o do Eu Divino, mas o do ego animal ou intelectual em que sua consciência se concentra. Cada homem tem um grande e variado número destes egos ou eus. Deverão perecer e desaparecer todos, antes que o Eu Divino, universal e onipresente, possa vivificar a existência do homem. Ai dos homens se conhecessem realmente seus próprios eus animais e semi-animais! A aparição enchê-lo-ia de horror. Na maioria dos homens, as qualidades predominantes são a inveja, a cobiça, o sibaritismo, a ambição etc. Estes são os poderes ou deuses que governam os homens. A eles se aferram com amor e carinho, como se fossem seus próprios eus. Tais egos, em cada alma de homem, assumem a forma que corresponda ao seu caráter (cada caráter corresponde a uma forma, produz uma forma). Estes egos ilusórios carecem de vida própria; alimentam-se do princípio da vida em cada homem, vivem graças à sua vontade e são dissolvidos com a vida do corpo ou pouco depois. Imortal, que existiu c existirá para sempre, é unicamente o Espírito Divino. No homem, os elementos perfeitos e puros, unidos ao Espírito Divino, continuarão vivendo.

 

Este Eu Interior Divino não experimenta o sentimento de separação que tanto domina nossos egos inferiores; como o espaço, não estabelece distinção entre si e os demais seres humanos; vê-se e a si mesmo se reconhece em todos os outros seres. Todavia, vivendo e sentindo com os outros seres, não morre com eles porque, sendo já perfeito, não requer transformações. Este é Deus ou Brahma, somente reconhecível por aquele que se tornou divino. É o Cristo, jamais compreendido pelo que leva em sua fronte o sinal da Besta – o Anticristo – símbolo do intelectualismo sem espiritualidade ou da ciência sem Amor Divino, Amor Divino que só pode ser conhecido pelo poder da fé verdadeira, essa Espiritual Sabedoria que penetra até o centro ardente do amor existente no Coração do Uno. Este centro do Amor, da Vida e da LLuz é a origem de todos os poderes. Nele estão contidos todos os germes e mistérios, fonte da revelação divina. Se encontrares a LLuz que irradia daquele centro, não necessitarás de mais ensinos, pois achaste a Vida Eterna e a Verdade Absoluta.

 

O grande erro da nossa época intelectual é crerem os homens que podem chegar ao conhecimento da verdade por meras especulações intelectuais, científicas, filosóficas ou teológicas, isto é, tão só pelo raciocínio. A teoria oculta deve ser conhecida, mas seria um mero conhecimento teórico, que não prestaria para nada, se não fosse confirmada, experimentada c realizada por meio da prática. Que aproveita ao homem falar muito sobre o amor e, como papagaio, repetir o que ouviu ou leu, se não sente em seu Coração o poder divino do amor? De que lhe servirá falar sabiamente da Sabedoria, se não é um Sábio? Ninguém chegará a ser um bom músico, um bom soldado ou um bom estadista só pela leitura dos livros. O poder não se obtém por simples especulação, mas pela prática diligente. Para conhecer o bem há que pensar e praticar o bem; para experimentar a Sabedoria é preciso ser Sábio. Amor que não encontre expressão em ações não obtém nenhuma força. Caridade que só exista na imaginação será sempre imaginária, se não for expressa em atos. A toda a ação corresponde uma reação. Por isto, a prática das boas ações robustece o amor ao bem que, por sua vez, se manifestará em forma de novas boas ações.

 

 

 

 

Quem, não sabendo agir bem, age mal, é digno de compaixão; porém, quem sabe como agir bem e age mal, intelectualmente é sabedor que é digno de condenação. Esta é a razão porque é perigoso para os homens receber instruções sobre a Vida Superior se a sua vontade é má. Se depois de aprendermos a distinguir entre o bem e o mal, optarmos pelo caminho do mal, isto nos tornará mais responsáveis do que antes.

 

Enfim, estas cartas não teriam sido escritas, se não houvesse esperança de encontrar, entre os seus leitores, alguns que, além de compreenderem intelectualmente seu conteúdo, entrem resolutamente no caminho prático. A porta deste caminho é o conhecimento do Eu. Ela conduz à união com Deus, e sua primeira conseqüência é o reconhecimento do princípio da Fraternidade Universal.

 

Fonte:

http://www.fraternidaderosacruz.org/cartarc4.htm

 

 

 

 

Três Comentários

 

 

 

Citação 1: Se alcançarmos este estado supremo de esquecimento do nosso ego intelectual e animal e conquistarmos a união com Deus, não haverá, na Terra ou nos céus, nenhum segredo inacessível. O que é um segredo inacessível? Em uma palavra, a resposta é: ignorância. Ignorância de que e por quê? Em uma palavra, a resposta é: demérito. De maneira geral, mas particularmente no âmbito das coisas espirituais ou místicas, a palavra que tudo regula é: mérito. Não há milagres ou privilégios; não há jeitinho nem maracutaia. Não há, portanto, maneira hábil, esperta ou astuciosa de conseguir a Santa Illuminação. E não há atalhos; só há uma Estrada, e ela terá de ser percorrida. É tão-somente pelo mérito e pelo trabalho que a compreensão libertadora acontecerá. É como tenho dito: ninguém poderá fazer por nós o trabalho de purga transmutativa que cabe apenas a nós, exclusivamente a nós, fazermos. Entretanto, precisamos ter a humildade de aceitar, talvez, até, mais compreender do que propriamente aceitar, que, por mais que nos esforcemos, poderá acontecer que nesta encarnação nada aconteça de objetivamente perceptível ou de constatavelmente grandioso para nós. Todavia, se entendermos que, se assim acontecer, uma encarnação é a base da seguinte, e assim sucessivamente, não nos entristeceremos nem desistiremos. Afinal, o que é uma simples encarnação frente ao inexistente tempo? Frente à totalidade das encarnações em uma dada Dimensão? O que é certo é que, se persistirmos, um dia seremos promovidos à uma Dimensão (ou Plano) mais elevada. E sempre, sem exceção, uma coisa é o catalisador1 de outra, seja no que concerna ao bem, seja no que concerna ao mal. Quanto a conquistarmos a união com Deus, esta conquista se refere ao Deus de nosso Coração. Enfim, nunca toquei neste assunto, mas direi, hoje, o seguinte: os deuses exteriores nada mais são do que catalisadores para que cada um reconheça e se funda com o seu Deus Interior. Isto não significa um reconhecimento da existência necessária dos deuses exteriores; é apenas uma constatação, pois todos eles foram criados por nós, e, se ainda existem, é porque os alimentamos mentalmente. Só isto e mais nada. A fé exterior deverá dar lugar à certeza interior. Quando isto acontecer, os rituais externos, de qualquer natureza, perderão o sentido místico e iniciático a eles atribuído.

 

Citação 2: Sem a presença da LLuz as trevas seriam desconhecidas. Se isto é assim – e é – bendito 'pecado'! Usando novamente o conceito químico de catalisador, o 'pecado', quando é misticamente compreendido, passa a estimular ou dinamizar mudanças e comportamentos, por assim dizer, positivos e libertadores. E a repulsa pelo erro degradador passa a ter função inibitória e obstaculizante, no que concerne a desvios e à prática do mal. No fundo, todo pecado é um (relativo) bem, pois ninguém aprende e se transforma observando os 'pecados' dos outros; só admitindo e transmutando as próprias fraquezas é que poderemos compreender que sem a presença da LLuz as trevas seriam desconhecidas, que é equivalente a dizer que sem o conhecimento e o domínio das necessárias trevas, a LLuz não poderá ser conhecida, ainda que a LLuz seja a Generatrix de tudo, mas intrinsecamente destituída de mal. Então, pode[re]mos, sim, nos envergonhar dos delitos praticados; mas, se tivermos em mente que estes delitos só foram praticados porque ignorávamos o funcionamento da sua contraparte iluminante, então, não temeremos mais o risco de contraparte (counterparty risk), que, misticamente, pode ser entendido como o risco de que a contraparte compreensiva do nosso ser não cumpra as suas obrigações, no sentido de sempre buscar e estar pronta para receber a Santa LLuz. Entretanto, sempre há e haverá risco de descumprimento. Daí a advertência mística contida no Evangelho de Mateus, XXVI, 41: Vigiai e Orai, para que não entreis em tentação. O espírito, na verdade, está pronto; mas a carne é fraca.

 

Citação 3: A teoria universalmente aceita da sobrevivência dos mais aptos e a verdade absoluta de que o forte suplantará o fraco são tão certas no reino animal como no reino espiritual. Isto poderá até nos constranger, mas jamais nos desanimar, e por uma única razão: a Luz da LLuz está disponível para todos. Metaforicamente, digamos assim: basta que haja um nanograma2 de boa vontade para que, paulatinamente, haja uma espécie de convergência aproximativo-precessional ser-no-mundo ‹—› Luz da LLuz.

 

 

 

 

É importante que tenhamos certeza: não estamos sozinhos nem desamparados; basta que haja um nanograma de boa vontade para que, de alguma forma, sejamos inspirados e auxiliados. Mas, que fique bem claro: inspiração e auxílio são apenas inspiração e auxílio; nada mais. Aqueles-que-podem jamais farão conosco nem por nós. Além de isto não poderem fazer, sabem perfeitamente bem que não adiantaria nada. A coisa, portanto, é mais ou menos, por exemplo, como em cirurgia e no caso de aprender a dirigir. O médico-cirurgião tem que, orientado e supervisionado, aprender e praticar; depois, deverá, sozinho, botar mesmo a mão no bisturi, senão, não opera nem uma pequena lesão papilar benigna. E ninguém aprende a dirigir decorando manuais teóricos de auto-escola. Já para ser um abiscoitanocrata não é necessário praticar; basta abiscoitanocratizar. E não precisamos ir muito longe para constatarmos envergonhadoras e estapafúrdicas abiscoitanocratizações; é só acompanhar o noticiário concernente ao Poder Legislativo brasileiro. Houve corrupção mais vergonhosa do que o tal do fedorento mensalão? Deu até filhote! Há exceções, dissidências, inconformações, claro, pois o Congresso Nacional não é inteiramente corrupto. Há muitos parlamentares honestos com espírito realmente republicano.

 

 

O Abiscoitanocrata

 

 

 

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Notas:

1. Catálise é a mudança (aceleração) da velocidade de uma reação química devido à adição de uma substância (catalisador), que praticamente não se transforma ao final da reação. Os catalisadores agem provocando um novo caminho reacional, no qual a energia inicial necessária para que uma reação aconteça (energia de ativação Ea) é menor. No gráfico abaixo, observe que Ea1 (reação não-catalisada) Ea2 (reação catalisada).

 

 

 

 

2. Nanograma é uma unidade de medida de massa do Sistema Internacional de Unidades (SI), no qual é representado pelo símbolo ng. Equivale ao bilionésimo do grama, ou seja: 1ng = 0,000000001g.

 

Música de fundo:

Lost Horizon
Composição: Burt Bacharach & Hal David
Interpretação: Shawn Phillips

Fonte:

http://beemp3.com/

 

Páginas da Internet consultadas:

http://sarahssureshots.wikispaces.com/
Focus+on+Proteins

http://kabruncus.wordpress.com/

http://commons.wikimedia.org/
wiki/File:Precessing-top.gif

http://fenixmixture.webnode.com.br/votices/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cat%C3%A1lise