MEDO

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

Medo de

dar um punzito e se borrar.

Medo de

rir de uma piada e se mijar.

 

Medo de

alguém comentar e criticar.

Medo de

ser livre e de poder gaivotar.

 

Medo de,

de repente, perder o decoro.

Medo de

a moçoila romper o namoro.

 

Medo de

encarecar muitovelozmente.

Medo de

não precisar mais de pente.

 

Medo de

a empregada furtar um treco.

Medo de

acabar se tornando rabisseco.

 

Medo de

seu time não ser campeão.

Medo de,

por isto, não ganhar o bolão.

 

Medo de

ser considerado um burrego.

Medo de

ser dispensado do emprego.

 

Medo de

a Dilma não dar aumento.

Medo de

acabar ficando ao relento.

 

Medo de

dizerem: – Você tá ultrapassado.

Medo de

pensarem: Coitado, tá acabado.

 

Medo de

botarem a boca no trombone.

Medo de

que a dona sorte decepcione.

 

Medo de

o proprietário pedir o imóvel.

Medo de

não saber mexer no telemóvel.

 

Medo de

ser assaltado por um pivete.

Medo de

ceder aos encantos da vedete.

 

Medo de

luxuriar incitado por Asmodeus.

Medo de

pecar e de não ser digno de Deus.

 

Medo de

deitar e de ficar a desdormir.

Medo de

o arrependimento não remir.

 

Medo de

o vento ventar forte demais.

Medo de

intervalados sai-não-sais.

 

Medo de

uma alma penada assombrar.

Medo de

um fantasma dar de terrorizar.

 

Medo de

perder tudo e de empobrecer.

Medo de

não ter como se abastecer.

 

Medo de

a bolsa de valores despencar.

Medo de

o United States dollar desvalorizar.

 

Medo de

contrariar Sinhozinho Malta.

Medo de

maré baixa e de maré alta.

 

Medo do

Bento – o vampiro brasileiro.

Medo de

juremeiro e de arapuqueiro.

 

Medo de

saci e de mula-sem-cabeça.

Medo de

não resistir ao já-começa.

 

Medo de

o fado se tornar insuportável.

Medo de

a sogra se tornar intolerável.

 

Medo de

ficar velhusco, doente e fedo.

Medo de

perder o medo de ter medo.

 

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Medo de

de tudo – sobrosso criado!

Medo do

beiçudo – cagaço forjado.

 

Medo de

poder enunciar: — Eu já não sou!

Medo de

poder exclamar: — Agora, Eu-sou!

 

 

 

Modern Times
(Charlie Chaplin & Paulette Goddard)