SÉTIMA CARTA ROSACRUZ

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

O Website da Fraternidade Rosacruz Max Heindel oferece para leitura em sua biblioteca on-line amplo e diversificado material sobre o Rosacrucianismo de vertente heindeliana. Nesta oportunidade, estou divulgando a Sétima e última Carta Rosacruz, que remonta ao século XVIII, escrita por um antigo membro da Ordem. Ao final, apresentarei alguns comentários.

 

 

 

 

Carta VII

 

Os Irmãos

 

 

 

Jesus, o Cristo,
o Irmão Maior de todos nós.

 

 

Não perguntes quem são os que escreveram estas cartas. Julga-as pelos méritos que apresentam; considera não meramente as palavras, mas o espírito com que foram escritas.

 

Não nos move nenhum espírito egoísta. É a LLuz interna que nos instiga a agir, que nos impulsiona a te escrever. As credenciais são as verdades que possuímos, verdades facilmente reconhecidas por aqueles que põem a verdade acima de tudo. Também a ti as revelaremos, na medida da tua capacidade para receber ou não o que dissermos.

 

A Sabedoria Divina não clama que A admitam; LLuz que brilha com eterna tranqüilidade, espera pacientemente o dia em que seja reconhecida e aceita.

 

Nossa comunidade existiu desde o primeiro dia da criação, e continuará existindo até ao último. É a sociedade dos Filhos da LLuz. Seus membros conhecem a LLuz que brilha no interior e no exterior das trevas e a natureza do destino humano. Em sua Escola, o Mestre – a própria Sabedoria Divina [SOPhIa] – ensina aos que procuram a verdade pela verdade e não por qualquer benefício mundano. Os mistérios explicados nesta Escola reportam-se às coisas que é possível conhecer, relativas a Deus, à Natureza e ao homem. Todos os antigos sábios aprenderam em nossa Escola. Entre seus membros, alguns são habitantes de outros mundos, distintos deste. Esparsos pelo Universo, todavia, estão ligados por um só Espírito. Entre eles não há diferença de opiniões. Estudam em um só Livro e, para todos, o método de estudo é o mesmo. Esta Sociedade é composta de Escolhidos, dos que buscam a LLuz e podem recebê-La. O que possui maior receptividade para a LLuz é o Chefe. O lugar de reunião é intuitivamente conhecido por cada membro e facilmente alcançado por todos, residam onde residirem. Está muito perto, mas tão oculto aos olhos do mundo, que ninguém, a não ser um Iniciado, pode encontrá-lo. Os que estão maduros podem entrar, mas os que estão verdes esperam.

 

A Ordem possui três graus: ao primeiro, chega-se pelo poder da inspiração divina; ao segundo, pela Illuminação interior e, ao terceiro, o mais elevado, pela contemplação e adoração.

 

Não existem disputas entre nós, nem controvérsias, nem especulações, nem sofismas, nem dúvidas, nem ceticismos. Aquele a quem se apresenta a melhor oportunidade para fazer o bem é o mais feliz. Estamos de posse dos maiores mistérios e, não obstante, não constituímos nenhuma sociedade secreta. Nossos segredos são um livro aberto para quem está disposto e apto. O segredo que mantemos não decorre de pouco desejo de ensinar, mas resulta da fraqueza dos que pedem os ensinamentos. Estes segredos não podem ser comprados por dinheiro nem demonstrados publicamente. Os Corações despertados para estes poderes são capazes de receber a Sabedoria e o amor fraternos, e compreendem-nos. Aquele que despertou o Fogo Sagrado é feliz e está contente. Percebe a causa das misérias humanas e a necessidade inevitável do mal e dos sofrimentos. Sua visão clara compreende o fundamento de todos os sistemas religiosos, as verdades relativas que contêm e a instabilidade que os caracteriza, por falta, entre os seus membros, do verdadeiro saber.

 

A Humanidade vive mergulhada em um mundo de símbolos, incompreendidos pela maioria dos homens. Mas, aproxima-se o dia do reconhecimento do espírito vivente que encerram. Então, os sagrados mistérios serão revelados.

 

Perfeito conhecimento de Deus e perfeito conhecimento do homem são as LLuzes que, no templo da verdade, iluminam o Santuário da Sabedoria. Fundamentalmente, só existe uma religião e uma fraternidade universais. Sob as formas, os sistemas e as associações religiosos jaz somente uma parte da verdade. São cascas revelando verdades relativas do que representam e ocultam, mas necessárias aos que não podem ainda reconhecer a verdade invisível e informe representada pelos símbolos.

 

Ensinar a compreender, pouco a pouco, que a verdade ali existe, ainda que invisível, é cooperar no despertar da crença, base do desenvolvimento da fé e do conhecimento espirituais. Mas, se as formas externas de um sentimento religioso representam verdades ocultas não integradas no sistema, tais símbolos só representam coisas ridículas. Existem tantos erros nas formas como nas teorias porque, sendo infinita a Verdade Absoluta, não pode se circunscrever a uma forma limitada ou a uma teoria limitada. Os homens, equivocadamente, tomaram a forma pelo espírito, o símbolo pela verdade e, deste equívoco, nasceram infinitos erros. Denunciá-los ou estabelecer ardentes controvérsias em nada os corrige; assim também, as atitudes hostis não corrigirão os que vivem no erro. As trevas não podem ser dissipadas ou combatidas com armas. A LLuz é que as afasta. Onde entra o Saber a ignorância desaparece.

 

No presente século que começa aparecerá a LLuz. Coisas ocultas durante centúrias serão conhecidas, muitos véus serão levantados. Será mostrada a verdade que está para além da forma. A Humanidade, como um todo, mais se aproximará de Deus.

 

Não podemos te dizer, agora, porque isto virá neste século. Limitamo-nos a dizer que cada coisa tem seu tempo e seu lugar, e que todas as coisas no Universo estão reguladas por uma Lei de Ordem e Harmonia Divinas.

 

 

Ordem e Harmonia

 

 

Primeiro veio o símbolo que ocultava a verdade; depois, a explicação do símbolo; e, finalmente, a própria verdade será recebida e reconhecida. A árvore brota da semente, o símbolo, a síntese do seu inteiro caráter.

 

É nosso dever ajudar o nascimento da verdade e abrir as cascas que cobrem a verdade, reavivando, por toda a parte, os hieróglifos mortos. Não são os poderes pessoais que nos permitem fazer isto, mas o poder da LLuz que, como seus instrumentos, opera em nós. Não pertencemos a nenhuma seita, não temos ambições a satisfazer, não desejamos ser conhecidos, nem somos daqueles a quem desgosta o presente estado de coisas do mundo e desejariam governar para impor suas opiniões à Humanidade. Não existe ninguém, partidarismo algum, que influa sobre nós, nem esperamos prêmio pessoal pelo nosso trabalho.

 

Possuímos uma LLuz que nos abre os mistérios mais profundos da Natureza e um Fogo que nos alimenta e permite agir em tudo que em a Natureza existe. Temos as chaves de todos os segredos e conhecemos os elos que unem o Planeta a todos os mundos. Temos a ciência universal que abraça todo o Universo, cuja história começou com o primeiro dia da criação.

 

Possuímos todos os livros de sabedoria antiga. A Natureza está sujeita à nossa vontade porque somos unos com o Espírito Universal, a Potência Motriz do Universo e a origem Eterna da Vida. Não precisamos ser informados nem pelos homens nem pelos livros que escrevem porque conhecemos tudo que existe, pois lemos em um livro isento de erros – a Natureza. Tudo se ensina em nossa Escola, é nossa Mestra a LLuz que produziu todas as coisas.

 

Podemos falar-te das coisas mais maravilhosas, tão longe do alcance do filósofo mais erudito do nosso tempo como o Sol está da Terra. Todavia, estão para nós tão perto como a LLuz está próxima do Espírito de onde emana.

 

Não temos a intenção de excitar a tua curiosidade. Desejamos, sim, criar em ti a sede da Sabedoria e a fome do Amor Fraterno, para que possas abrir teus olhos à LLuz e contemplar a Verdade Divina. Não nos cumpre nos aproximar de ti para te dar entendimento: o Poder da própria Verdade é que entra no Coração – é o esposo divino da alma que clama à porta. E quantas almas rejeitam este esposo, submersas nas ilusões da existência externa!

 

Desejas ser um membro da nossa Fraternidade? Desejas conhecer os Irmãos? Entra em teu Coração, aprende a conhecer a Divindade que se manifesta em tua alma.

 

Busca em ti o que é perfeito, imortal, permanente. Quando encontrares, entrarás em nossa confraria e conhecer-nos-ás. Tens que expulsar todas as impurezas antes de entrar em nosso círculo, imune a toda imperfeição. Todos os elementos mortais do teu íntimo deverão ser consumidos pelo Fogo do Amor Divino. Deves ser batizado com a Água da Verdade e vestido da substância incorruptível originada dos pensamentos. O sensório interno deverá abrir-se à percepção das Verdades Espirituais e a mente aos clarões da Sabedoria Divina. Por estes meios, poderão se desenvolver em tua alma elevados poderes. Com eles, estarás apto a vencer o mal. Todo o teu ser será restaurado e transformado em um ser luminoso, e teu corpo servirá de mansão ao Espírito Divino.

 

Perguntas quais são as nossas doutrinas? Não tomamos a defesa de nenhuma. Fosse qual fosse a que te apresentássemos seria mera opinião duvidosa, enquanto não te conheceres a ti mesmo. Interroga teu Espírito Divino, abre tua alma, teus sentidos, à compreensão do que te é dito. Certamente, o Espírito Divino em teu Coração responderá às tuas perguntas.

 

Tudo o que podemos fazer por ti é oferecer algumas teorias. Considera-as, examina-as e não creias nelas só porque procedem de nós. Devem servir-te de balizas e sinais durante tuas excursões pelo labirinto do exame próprio.

 

Uma das proposições que submetemos à tua ponderação é que a Humanidade, como um todo, não será feliz enquanto não reviver no Espírito da Sabedoria Divina e do Amor Fraternal. Quando isto for realidade, os regentes do mundo terão coroas de razão pura, os cetros serão amor e, ungidos do poder puro, poderão libertar os povos da superstição e das trevas. Então, com tal aperfeiçoamento, melhorarão as condições da Humanidade, desaparecerão a pobreza, o crime e as enfermidades.

 

Outra sentença te apresentamos: os homens seriam mais espirituais e mais inteligentes se a densidade das partículas materiais dos seus corpos não impedissem a ação do próprio Espírito. Quanto mais grosseiramente vivem os homens, quanto mais se deixam dominar pela sensualidade animal e semi-animal, tanto menos podem alçar o pensamento às regiões superiores do mundo ideal e perceber as eternas realidades do Espírito. Repara nas formas humanas que transitam pelas ruas, repletas de alimentos carnívoros, cheias de impurezas, com o selo da intemperança e da sensualidade impresso nos rostos, e pergunta a ti próprio se estarão em condições de nelas se manifestar a Sabedoria Divina.

 

Também te dizemos: o Espírito é substância, é realidade; seus atributos são indestrutibilidade, impenetrabilidade e duração. Matéria é um agregado que produz a ilusão da forma, é divisível, penetrável, corruptível e está sujeita a mudanças contínuas.

 

 

Ilusão da Forma

 

 

O Reino Espiritual é um mundo indestrutível que existe agora e sempre. Cristo – o Logos – está no centro, e seus habitantes são poderes conscientes e inteligentes.

 

O mundo físico é um mundo de ilusões; não pode conter a Verdade Absoluta. As causas que explicam o mundo externo são relativas e fenomênicas. Este mundo é, por assim dizer, uma pintura sombria, comparado ao mundo interno e real onde brilha a LLuz do Espírito Vivente que opera no interior e no exterior da matéria.

 

A inteligência inferior do homem toma as idéias do reino mutável do sensível, e, por isto, está sujeita à maior versatilidade. Mas a Inteligência Espiritual (ou intuição), um atributo do Espírito, é imutável e divina.

 

Quanto mais etéreas, refinadas e sutis forem as partículas constituintes do organismo humano, mais facilmente serão penetradas pela Luz da Inteligência e da Sabedoria Espirituais.

 

Um sistema racional de educação deverá se fundar no conhecimento da constituição física, psíquica e espiritual do homem. Mas isto só será possível quando a constituição do homem for conhecida completamente e, acima de tudo, a sua essência, o espírito, não o seu espectro, a matéria. Os aspectos da constituição humana podem ser estudados por métodos externos, mas o conhecimento do seu organismo invisível só pode ser obtido pela introspecção, pelo estudo de si mesmo.

 

O conselho mais importante que temos a te dar é, portanto:

 

CONHECE TEU PRÓPRIO EU.

 

As proposições anteriores são suficientes. Deves meditá-las e examiná-las à Luz do Espírito, em teu Coração, até que possas receber mais ensinamentos.

 

Fonte:

http://www.fraternidaderosacruz.org/cartarc7.htm

 

 

 

 

Três Comentários

 

 

 

Citação 1: Nossa comunidade existiu desde o primeiro dia da criação, e continuará existindo até ao último... Temos a ciência universal que abraça todo o Universo, cuja história começou com o primeiro dia da criação. Isto precisa ser lido e compreendido no âmbito do seu sentido alegórico-metafórico. O primeiro dia e a criação nunca existiram de fato como primeiro dia de per si e como criação em si, pois, se tivessem existido, o Ser, do nada, teria tido começo; mas o Ser não teve começo nem poderá ter fim, e o Tempo Ontológico só pode efetivamente ser um eterno presente, no Tempo que não é tempo, no Dia que não é dia. A coisa toda é como ensinou Aurelius Augustinus (Tagaste, 13 de novembro de 354 Hipona, 28 de agosto de 430): É impróprio afirmar que os tempos são três: passado, presente e futuro. Mas, talvez, fosse próprio dizer que os tempos, da seguinte forma, sejam três: o presente das coisas passadas, o presente das coisas presentes e o presente das coisas futuras... E, como concluiu Søren Aabye Kierkegaard (Copenhague, 5 de maio de 1813 – Copenhague, 11 de novembro de 1855), para a realidade do Ser não há passado nem futuro, ainda que a vida só possa ser compreendida olhando-se para trás; mas, só pode ser vivida olhando-se para a frente. Agora, se considerarmos os conceitos teosóficos de mânvântâra (ou kalpa),1 e de prâlâya,2 realmente, e só neste caso, sempre haverá [re]começos e fins, vigília e suspensão das experiências conscientes, criação e destruição, primeiro dia e último dia. Enfim, como explica o Mestre Alden (Harvey Spencer Lewis), para o Ser nunca houve começo, porque o nada não pode dar origem a alguma coisa. Finalmente, se quisermos admitir os Sete Dias da Criação como uma verdade bíblica, teremos que reconhecer que ainda estamos vivendo o Quarto Dia (Período Terrestre). Depois, Quinto Dia (Período Jupiteriano), Sexto Dia (Período Venusiano) e Sétimo Dia (Período Vulcaniano), ao final do qual, segundo Max Heindel e algumas correntes Rosacruzes, os seres-no-mundo de hoje desenvolverão todas as suas faculdades latentes possíveis, tornando-se Deuses. Encerrando este comentário, cito para reflexão, dois fragmentos de autoria de Madame Blavatsky: Primeiro: O impulso manvantárico principia com o redespertar da Mente Universal, simultânea e paralelamente com o primeiro emergir da Substância Cósmica – sendo esta última o veículo manvantárico da primeira – de seu estado pralaico não-diferenciado [Doutrina Secreta]. Segundo: O autoconvencimento assemelha-se a uma elevada torre, à qual subiu um louco soberbo. Ali se senta em orgulhosa solidão, impercebido de todos, menos de si próprio. Neófito: mate o Assassino do Real. [Voz do Silêncio].

 

 

 

Permanente Movimento

 

 

Citação 2: Aquele que despertou o Fogo Sagrado é feliz e está contente. Percebe a causa das misérias humanas e a necessidade inevitável do mal e dos sofrimentos. As misérias humanas e a necessidade inevitável do mal e dos sofrimentos são, digamos assim, na verdade, desnecessidades, e podem ser evitadas. Isto é mais do que evidente. A miséria humana, a inevitabilidade do mal e os padecimentos decorrem da ignorância, que obriga educativas compensações, mais ou menos dolorosas, mais ou menos inflictivas. O consumo de carne (de qualquer bicho) é apenas um dos muitos exemplos que produzirá efeitos geralmente desconhecidos ou a ela não atribuídos – o que é pior. Tenho falado tanto nestas coisas, que, hoje, só repetirei o seguinte: a Liberdade e o fim das dores só acontecerão pela Compreensão, que só poderá ser encontrada e realizada ventricularmente in Corde. E, particularmente no caso dos animais, ou compreendemos já que somos todos irmãos e paramos de matar e de comer os bichos ou o pau haverá de comer na casa de noca.

 

 

Desnecessidade ou Necessidade?

 

 

Citação 3: As causas que explicam o mundo externo são relativas e fenomênicas. Tudo (o que acontece) no Universo é relativo e fenomênico; apenas o próprio Universo como Universo, ou seja, aquilo que concerne à permanência do Universo como Universo, não é nem relativo nem fenomênico, pois o Universo não está, em termos energéticos e mantenedores de sua eterna existência – suas Leis – sujeito à qualquer apócope ou acrescentamento, ou seja, qualquer mudação. Se houvesse qualquer mudança, o Universo deixaria de ser o Universo. Além do mais, o que ou quem mudaria o quê? As Leis Universais são o que são porque sempre foram e sempre serão o que são; não foram criadas nem poderão ser desmanteladas. O Universo e suas Leis são uma coisa só. Agora, se há Leis Universais diferentes e específicas para os múltiplos Planos e Dimensões, isto é outra coisa. Todavia, a dupla Lei que rege o Universo, em qualquer Plano ou Dimensão, é Sistema e Ordem (em meio a permanente movimento), ainda que, para nós, em nossa abissal e sesquipedal ignorância, algumas vezes, isto pareça ser e se afigure como dessistema e como desordem. O grande drama humano é tomar o que está próximo, o que é corriqueiro e o que é caleidoscópico como universal, verídico e definitivo. É tomar as categorias e os conceitos bolados pela [ir]racionalidade indutiva, dedutiva, silogística, imediata, mediata, absurda e analógica (como a substância, a qualidade, a quantidade, a relação, o espaço, o tempo, o finito, o infinito, o limitado, o ilimitado, a unidade, a pluralidade, a totalidade etc.) como definições e [de]limitações inalteráveis, em alguns casos, sinônimas, em outros, até antônimas, como se, generalizadamente, por exemplo, o mal fosse um treco isolado, existente por si, antônimo do bem. É também tomar a linha, sem perscrutar a entrelinha, como palavra definitiva e causa immutabilis das coisas que são coisas e das coisas que não são coisas. É, enfim, garimpar e tomar de si e de sua cultura o que há de melhor e o que há de pior, e emprestar estes [pre]conceitos àquilo que entende ser o deus supremo do Universo (deus é poder; deus é fiel), admitindo a existência de uma divindade hipotética, poderosa e leal, que absolve (se alegrando e premiando) e que condena (se afligindo e punindo), a depender das circunstâncias, a depender de o fato ser essencial ou acessório, a depender de a coisa ser inabitual ou banal. Por outro lado, não pode haver na consciência humana – pelo menos no grau de compreensão/evolução em que hoje se encontra o ser-no-mundo nenhuma forma de cabalidade; tudo é relatividade. Seja como for, tudo é mesmo relativo, até a possibilidade de o ser-no-mundo prosseguir em sua peregrinação. Se houver mérito, prosseguirá; se houver demérito incurável e irreversível, será entropizado. Enfim, na obra Introductio in Prædicamenta (também conhecida como Isagoge), o filósofo neoplatônico e um dos mais importantes discípulos de Plotino (205 – 270), Porfírio (232 304), questiona se os gêneros e as espécies (substâncias segundas) são realidades subsistentes ou apenas conceitos mentais. Foi justamente a Isagoge e este questionamento originado pelas Categorias de Aristóteles (384 – 322) que vieram a desencadear, na Filosofia Medieval, a Querela dos Universais. Nesta Querela, buscou-se, de todas as formas, responder às três perguntas que fez Porfírio na sua Isagoge, quais sejam: No que tange aos gêneros e às espécies, saber, primeiro, se são realidades subsistentes em si mesmas ou se consistem apenas de simples conceitos mentais; segundo, admitindo que sejam realidades subsistentes, saber se são corpóreas ou incorpóreas; e terceiro, saber se são separadas ou se existem nas coisas sensíveis e se delas dependem. Bem, se você tentar responder à estas três perguntas usando exclusivamente a razão, lembre-se de que as respostas, corretas ou incorretas, verdadeiras ou falsas, estarão inexoravelmente vinculadas à sua cultura pessoal e à sua experiência de vida, e têm validade apenas para o Planeta Terra, quando muito para a Terceira Dimensão. E mais: valem tão-só para você! Pessoas com culturas diferentes e experiências de vida distintas poderão chegar (e certamente chegarão) a conclusões diametralmente opostas. Conclusão: forçar o outro a aceitar nossas idéias é uma inutilidade que não leva a lugar algum; e, se porventura levar, será com dor, desânimo e desafeição. Precisamos compreender que todas as experiências são pessoais e intransferíveis. O frio, para uns, poderá ser calor para outros.

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Mânvântâra (ou kalpa), segundo a Teosofia, é o período de tempo do ciclo de existência dos planetas em que ocorre atividade. Ele dura, segundo o cômputo dos Brâmanes, 4.320.000.000 anos.

2. Prâlâya, segundo a Teosofia, é o período de tempo do ciclo de existência dos planetas em que não ocorre atividade. Ele dura, segundo o cômputo dos Brâmanes, 4.320.000.000 anos. Tomando-se 360 mânvântâras e igual número de prâlâyas, obtém-se um Ano de Brahman. A duração de 100 Anos de Brahman forma uma Vida de Brahman, também chamada de Mahamânvântâra, durando, no total, 311.040.000.000.000 anos. Este é, segundo Madame Blavatsky, o período de atividade do cosmo, seguindo-se um período de inatividade, chamado Mahaprâlâya, de igual duração.

 

Música de fundo:

Lost Horizon
Composição: Burt Bacharach & Hal David
Interpretação: Shawn Phillips

Fonte:

http://beemp3.com/

 

Páginas da Internet consultadas:

http://media.photobucket.com/image/%22
onda.gif%22+/July_bucket_photo/onda.gif

http://en.wikipedia.org/wiki/File:Circular-slice.gif

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pralaya

http://pt.wikipedia.org/wiki/Manvantara

http://books.google.com.br/

http://www.pec.ufrj.br/ousia/verb/artigo_kant.pdf

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Categorias_(Arist%C3%B3teles)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Porf%C3%ADrio

http://timeless-wisdom.blog.co.uk/
2011/01/04/title-10301197/