VINICIUS DE MORAES
(Um Pouquinho de Tudo)

 

 

 

 

Vinicius de Moraes

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo é um pouquinho de tudo do que o Poetinha Vinicius de Moraes nos ofereceu: de seus pensamentos, de suas reflexões, de suas advertências, de suas tiradas de humor – como esta duas: 1ª) Existem umas feias potáveis; mas a maioria só serve mesmo para fazer sabão; e 2ª) O uísque é o melhor amigo do homem; ele é o cachorro engarrafado) – de seus poemas etc. Conhecemos, geralmente, o cheio de amor pra dar poeta-letrista Vinicius, mas desconhecemos o Pensador Maçom Vinicius. Então, para nós, resolvi garimpar na Internet uma pequena parte – como eu disse, um pouquinho de tudo – do que Vinicius pensou e divulgou, ainda que a maioria do que está neste estudo seja do conhecimento de todos. Mas há algumas novidades, e, por isto, espero que valha a pena. E, para quem não sabe, Vinicius – um nome de origem latina – significa aquele que possui uma lucidez incomum e que tem uma voz agradável.

 

 

 

Cronologia da Vida e da Obra

 

 

 

Vinicius Neném

Vinicius Neném


 

 

1913

Marcos Vinicius da Cruz de Mello Moraes – o Poetinha – nasce, em meio a forte temporal, na madrugada de 19 de outubro, no antigo nº 114 (casa já demolida) da rua Lopes Quintas, no Jardim Botânico, ao lado da chácara de seu avô materno, Antônio Burlamaqui dos Santos Cruz. São seus pais Lydia Cruz de Moraes e Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, este, sobrinho do poeta, cronista e folclorista Mello Moraes Filho e neto do historiador Alexandre José de Mello Moraes.


1916

A família muda-se para a rua Voluntários da Pátria, nº 192, em Botafogo, passando a residir com os avós paternos, Maria da Conceição de Mello Moraes e Anthero Pereira da Silva Moraes.


1917

Nova mudança para a rua da Passagem nº 100, ainda em Botafogo, onde nasce seu irmão Helius. Vinicius e sua irmã Lygia entram para a escola primária Afrânio Peixoto, na rua da Matriz.


1919

Transfere-se para a rua 19 de fevereiro nº 127.


1920

Mudança para a rua Real Grandeza nº 130. Primeiras namoradas na escola Afrânio Peixoto. É batizado na Maçonaria, por disposição de seu avô materno, cerimônia que lhe causaria grande impressão.


1922

Última residência em Botafogo, na rua Voluntários da Pátria nº 195. Impressão de deslumbramento com a exposição do Centenário da Independência do Brasil e de curiosidade com o levante do Forte de Copacabana, devido a uma bomba que explodiu perto de sua casa. Sua família transfere-se para a Ilha do Governador, na praia de Cocotá nº 109-A, onde o Poetinha passa suas férias.


1923

Faz sua primeira comunhão na Matriz da rua Voluntários da Pátria.


1924

Inicia o Curso Secundário no Colégio Santo Inácio, na rua São Clemente. Começa a cantar no coro do colégio, durante a missa de domingo. Por grande amizade, liga-se a seus colegas Moacyr Veloso Cardoso de Oliveira e Renato Pompéia da Fonseca Guimarães, este, sobrinho de Raul Pompéia, com os quais escreve o épico escolar, em dez cantos, de inspiração camoniana: Os Acadêmicos. A partir daí, participa sempre das festividades escolares de encerramento do ano letivo, seja cantando, seja atuando nas peças infantis.


1927

Conhece e torna-se amigos dos irmãos Paulo e Haroldo Tapajoz, com os quais começa a compor. Com eles e alguns colegas do Colégio Santo Inácio, forma um pequeno conjunto musical que atua em festinhas, em casa de famílias conhecidas.


1928

Compõe, com os irmãos Tapajoz, Loura ou Morena e Canção da Noite, que têm grande sucesso popular. Por essa época, namora invariavelmente todas as amigas de sua irmã Laetitia.


1929

Bacharela-se em Letras, no Santo Inácio. Sua família muda-se da Ilha do Governador para a casa contígua àquela onde nasceu, na rua Lopes Quintas, também já demolida.


1930

Entra para a faculdade de Direito da rua do Catete, sem vocação especial. Defende tese sobre a vinda de D. João VI para o Brasil para ingressar no Centro Acadêmico de Estudos Jurídicos e Sociais (CAJU), onde se liga de amizade a Otávio de Faria, San Thiago Dantas, Thiers Martins Moreira, Antônio Galloti, Gilson Amado, Hélio Viana, Américo Jacobina Lacombe, Chermont de Miranda, Almir de Andrade e Plínio Doyle.


1931

Entra para o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR).


1933

Forma-se em Direito e termina o Curso de Oficial da Reserva. Estimulado por Otávio de Faria, publica seu primeiro livro, O Caminho para a Distância, na Schimidt Editora.


1935

Publica Forma e Exegese, com o qual ganha o prêmio Felipe d'Oliveira.


1936

Publica, em separata, o poema Ariana, a Mulher. Substitui Prudente de Morais Neto, como representante do Ministério da Educação junto à Censura Cinematográfica. Conhece Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, dos quais se torna amigo.


1938

Publica novos poemas e é agraciado com a primeira bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na Universidade de Oxford (Magdalen College), para onde parte em agosto do mesmo ano. Funciona como assistente do programa brasileiro da BBC. Conhece, em casa de Augusto Frederico Schimidt, o poeta e músico Jayme Ovalle, de quem se torna um dos maiores amigos.


1939

Casa-se por procuração com Beatriz Azevedo de Mello. Regressa da Inglaterra em fins do mesmo ano, devido à eclosão da II Grande Guerra. Em Lisboa encontra seu amigo Oswald de Andrade com quem viaja para o Brasil.


1940

Nasce sua primeira filha, Susana. Passa longa temporada em São Paulo, onde se liga de amizade com Mário de Andrade.


1941

Começa a fazer jornalismo em A Manhã, como crítico cinematográfico e a colaborar no Suplemento Literário ao lado de Rineiro Couto, Manuel Bandeira, Cecília Meireles e Afonso Arinos de Melo Franco, sob a orientação de Múcio Leão e Cassiano Ricardo.


1942

Inicia seu debate sobre cinema silencioso e cinema sonoro, a favor do primeiro, com Ribeiro Couto, e em seguida com a maioria dos escritores brasileiros mais em voga, e do qual participam Orson Welles e madame Falconetti. Nasce seu filho Pedro. A convite do então prefeito Juscelino Kubitschek, chefia uma caravana de escritores brasileiros a Belo Horizonte, onde se liga de amizade com Otto Lara Rezende, Fernando Sabino, Hélio Pelegrino e Paulo Mendes Campos. Inicia, com seus amigos Rubem Braga e Moacyr Werneck de Castro, a roda literária do Café Vermelhinho, à qual se misturam a maioria dos jovens arquitetos e artistas plásticos da época, como Oscar Niemeyer, Carlos Leão, Afonso Reidy, Jorge Moreira, José Reis, Alfredo Ceschiatti, Santa Rosa, Pancetti, Augusto Rodrigues, Djanira, Bruno Giorgi. Freqüenta, nessa época, as domingueiras em casa de Aníbal Machado. Conhece e se torna amigo da escritora Argentina Maria Rosa Oliver, através da qual conhece Gabriela Mistral. Faz uma extensa viagem ao Nordeste do Brasil acompanhando o escritor americano Waldo Frank, a qual muda radicalmente sua visão política, tornando-se um antifacista convicto. Na estada em Recife, conhece o poeta João Cabral de Melo Neto, de quem se tornaria, depois, grande amigo.


1943

Publica suas Cinco Elegias, em edição mandada fazer por Manuel Bandeira, Aníbal Machado e Otávio de Faria. Ingressa, por concurso, na carreira diplomática.


1944

Dirige o Suplemento Literário de O Jornal, onde lança, entre outros, Oscar Niemeyer, Pedro Nava, Marcelo Garcia, Francisco de Sá Pires, Carlos Leão e Lúcio Rangel em colunas assinadas, e publica desenhos de artistas plásticos até então pouco conhecidos, como Carlos Scliar, Athos Bulcão, Alfredo Ceschiatti, Eros (Martim) Gonçalves, Arpad Czenes e Maria Helena Vieira da Silva.


1945

Colabora em vários jornais e revistas, como articulista e crítico de cinema. Faz amizade com o poeta Pablo Neruda. Sofre um grave desastre de avião perto da cidade de Rocha, no Uruguai. Em sua companhia estão Aníbal Machado e Moacir Werneck de Castro. Faz crônicas diárias para o jornal Diretrizes.


1946

Parte para Los Angeles, como vice-cônsul, em seu primeiro posto diplomático. Ali permanece por cinco anos sem voltar ao Brasil. Publica em edição de luxo, ilustrada por Carlos Leão, seu livro, Poemas, Sonetos e Baladas.


1947

Em Los Angeles, estuda cinema com Orson Welles e Gregg Toland. Lança, com Alex Viany, a revista Film.

 

1949

João Cabral de Melo Neto tira, em sua prensa mensal, em Barcelona, uma edição de cinqüenta exemplares de seu poema Pátria Minha.


1950

Viagem ao México para visitar seu amigo Pablo Neruda, gravemente enfermo. Ali conhece o pintor David Siqueiros e reencontra seu grande amigo, o pintor Di Cavalcanti. Morre seu pai. Retorna ao Brasil.


1951

Casa-se pela segunda vez com Lila Maria Esquerdo e Bôscoli. Começa a colaborar no jornal Última Hora, a convite de Samuel Wainer, como cronista diário e posteriormente como crítico de cinema.


1952

Visita, fotografa e filma, com seus primos, Humberto e José Francheschi, as cidades mineiras que compõem o roteiro do Aleijadinho, com vistas à realização de um filme sobre a vida do escultor que lhe fora encomendado pelo diretor Alberto Cavalcanti. É nomeado delegado junto ao festival de Punta Del Leste, fazendo paralelamente sua cobertura para o jornal Última Hora. Parte logo depois para a Europa, encarregado de estudar a organização dos festivais de cinema de Cannes, Berlim, Locarno e Veneza, no sentido da realização do Festival de Cinema de São Paulo, dentro das comemorações do IV Centenário da Cidade. Em Paris, conhece seu tradutor francês, Jean Georges Rueff, com quem trabalha, em Estrasburgo, na tradução de suas Cinco Elegias.


1953

Nasce sua filha Georgiana. Colabora no tablóide semanário Flan, da Última Hora, sob direção de Joel Silveira. Aparece a edição francesa das Cinq Élégies, em edição de Pierre Seghers. Liga-se de amizade com o poeta cubano Nicolás Guillén. Compõe seu primeiro samba, música e letra, Quando Tu Passas Por Mim. Faz crônicas diárias para o jornal A Vanguarda, a convite de Joel Silveira. Parte para Paris como segundo secretário de Embaixada.


1954

Sai a primeira edição de sua Antologia Poética. A revista Anhembi publica sua peça Orfeu da Conceição, premiada no concurso de teatro do IV Centenário do Estado de São Paulo.


1955

Compõe, em Paris, uma série de canções de câmara com o maestro Cláudio Santoro. Começa a trabalhar para o produtor Sasha Gordine, no roteiro do filme Orfeu Negro. No fim do ano vem com ele ao Brasil, por uma curta estada, para conseguir financiamento para a produção da película, o que não consegue, regressando em fins de dezembro a Paris.


1956

Volta ao Brasil em gozo de licença-prêmio. Nasce sua terceira filha, Luciana. Colabora no quinzenário Para Todos a convite de seu amigo Jorge Amado, em cujo primeiro número publica o poema O Operário em Construção. Paralelamente aos trabalhos da produção do filme Orfeu Negro, tem o ensejo de encenar sua peça Orfeu da Conceição, no Teatro Municipal, que aparece também em edição comemorativa de luxo, ilustrada por Carlos Scliar. Convida Antônio Carlos Jobim para fazer a música do espetáculo, iniciando com ele a parceria que, logo depois, com a inclusão do cantor e violonista João Gilberto, daria início ao movimento de renovação da música popular brasileira que se convencionou chamar de Bossa Nova. Retorna ao posto, em Paris, no fim do ano.


1957

É transferido da Embaixada em Paris para a Delegação do Brasil junto à UNESCO. No fim do ano é removido para Montevidéu, regressando, em trânsito, ao Brasil. Publica a primeira edição de seu Livro de Sonetos, em edição de Livros de Portugal.


1958

Sofre um grave acidente de automóvel. Casa-se com Maria Lúcia Proença. Parte para Montevidéu. Sai o LP Canção do Amor Demais, de músicas suas com Antônio Carlos Jobim, cantadas por Elizete Cardoso. No disco, ouve-se, pela primeira vez, a batida da Bossa Nova, no violão de João Gilberto, que acompanha a cantora em algumas faixas, entre as quais o samba Chega de Saudade, considerado o marco inicial do movimento.


1959

Sai o Lp Por Toda Minha Vida, de canções suas com Jobim, pela cantora Lenita Bruno. O filme Orfeu Negro ganha a Palme d'Or do Festival de Cannes e o Oscar, de Hollywood, como melhor filme estrangeiro do ano. Aparece o seu livro Novos Poemas II. Casa-se sua filha Susana.


1960

Retorna à Secretaria de Estado das Relações Exteriores. Em novembro, nasce seu neto, Paulo. Sai a segunda edição de sua Antologia Poética, pela Editora de Autor e a edição popular da peça Orfeu da Conceição, pela livraria São José e Recette de Femme et Autres Poèmes, tradução de Jean-Georges Rueff, em edição Seghers, na coleção Autour du Monde.


1961

Começa a compor com Carlos Lira e Pixinguinha. Aparece Orfeu Negro, em tradução italiana de P. A. Jannini, pela Nuova Academia Editrice, de Milão.


1962

Começa a compor com Baden Powell, dando inicio à série de afro-sambas, entre os quais, Berimbau e Canto de Ossanha. Compõe, com música de Carlos Lyra, as canções de sua comédia-musicada Pobre Menina Rica. Em agosto, faz seu primeiro show, de larga repercussão, com Antônio Carlos Jobim e João Gilberto, na boate Au Bom Gourmet, que daria início aos chamados pocket-shows, e onde foram lançados pela primeira vez grandes sucessos internacionais como Garota de Ipanema e o Samba da bênção. Faz um show com Carlos Lyra, na mesma boate, para apresentar Pobre Menina Rica, e onde é lançada a cantora Nara Leão. Compõe com Ari Barroso as últimas canções do grande compositor popular, entre as quais Rancho das Namoradas. Aparece a primeira edição de Para Viver um Grande Amor, pela Editora do Autor, livro de crônicas e poemas. Grava, como cantor, seu disco com a atriz e cantora Odete Lara.


1963

Começa a compor com Edu Lobo. Casa-se com Nelita Abreu Rocha e parte em posto para Paris, na delegação do Brasil junto a UNESCO.


1964

Regressa de Paris e colabora com crônicas semanais para a revista Fatos e Fotos, assinando paralelamente crônicas sobre música popular para o Diário Carioca. Começa a compor com Francis Hime. Faz show de grande sucesso com o compositor e cantor Dorival Caymmi, na boate Zum-Zum, onde lança o Quarteto em Cy. Do show é feito um LP.


1965

Sai Cordélia e o Peregrino, em edição do Serviço de Documentação do Ministério da Educação e Cultura. Ganha o primeiro e o segundo lugares do I Festival de Música Popular de São Paulo, da TV Record, em canções de parceria com Edu Lobo e Baden Powell. Parte para Paris e St. Maxime para escrever o roteiro do filme Arrastão, indispondo-se, subseqüentemente, com seu diretor, e retirando suas músicas do filme. De Paris, voa para Los Angeles a fim de se encontrar com seu parceiro Antônio Carlos Jobim. Muda-se de Copacabana para o Jardim Botânico, morando na rua Diamantina, nº 20. Começa a trabalhar com o diretor Leon Hirszman, do Cinema Novo, no roteiro do filme Garota de Ipanema. Volta ao show com Caymmi, na boate Zum-Zum.


1966

São feitos documentários sobre o poeta pelas televisões americana, alemã, italiana e francesa, sendo que os dois últimos são realizados pelos diretores Gianni Amico e Pierre Kast. Aparece seu livro de Crônicas Para uma Menina Com Uma Flor pela Editora do Autor. Seu Samba da Bênção, em parceria com Baden Powell, é incluído, em versão de compositor e ator Pierre Barouh, no filme Un Homme… Une Femme, vencedor do Festival de Cannes do mesmo ano. Participa do jurí do mesmo festival.


1967

Aparecem, pela Editora Sabiá, a 6ª edição de sua Antologia Poética e a 2ª do seu Livro de Sonetos (aumentada). É posto à disposição do Governo de Minas Gerais no sentido de estudar a realização anual de um Festival de Arte em Ouro Preto, cidade à qual faz freqüentes viagens. Faz parte do júri do Festival de Música Jovem, na Bahia. Estréia do filme Garota de Ipanema.


1968

Falece sua mãe no dia 25 de fevereiro. Aparece a primeira edição de sua Obra Poética, pela Companhia José Aguilar Editora. Tem poemas traduzidos para o italiano por Ungaretti. A convite do crítico Ricardo Cravo Albin, Vinicius prestou histórico depoimento para o Museu da Imagem e do Som (de onde era membro do Conselho Superior de MPB).

 

1969

É exonerado do Itamaraty. Casa-se com Cristina Gurjão.


1970

Casa-se com a atriz baiana Gesse Gessy. Nasce Maria, sua quarta filha. Início da parceria com Toquinho.


1971

Muda-se para a Bahia. Viagem para a Itália.


1972

Retorna à Itália com Toquinho onde gravam o LP Per Vivere Un Grande Amore.


1973

Publica A Pablo Neruda.


1974

Trabalha no roteiro, não concretizado, do filme Polichinelo.


1975

Excursiona pela Europa. Grava, com Toquinho, dois discos na Itália.


1976

Escreve as letras de Deus Lhe Pague, em parceria com Edu Lobo. Casa-se com Marta Rodrigues Santamaria.


1977

Grava um LP em Paris, com Toquinho. Show com Tom, Toquinho e Miúcha, no Canecão.


1978

Excursiona pela Europa com Toquinho. Casa-se com Gilda de Queirós Mattoso, que conhecera em Paris.


1979

Leitura de poemas no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, a convite do líder sindical Luís Inácio da Silva. Voltando de viagem à Europa, sofre um derrame cerebral no avião. Perdem-se, na ocasião, os originais de Roteiro Lírico e Sentimental da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.


1980

É operado em 17 de abril para a instalação de um dreno cerebral. Morre, na manhã de 9 de julho, de edema pulmonar, em sua casa, na Gávea, em companhia de Toquinho e de sua última mulher. Extraviam-se os originais de seu livro O Dever e o Haver.

 

1998

É anistiado (post-mortem) pela Justiça brasileira.

 

2006

É oficialmente reintegrado na carreira diplomática.

 

2010

Em fevereiro, a Câmara dos Deputados brasileira aprovou a promoção póstuma do Poetinha ao cargo de ministro de primeira classe do Ministério dos Negócios Estrangeiros – o equivalente a embaixador, que é o cargo mais alto da carreira diplomática.

 

Para Sempre

Deixará saudades.

 

 

 

 

Fragmentos Vinicianos

 

 

 

A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.

 

Que hei de fazer de mim, neste quarto sozinho,
Apavorado, lancinado, corrompido,
A solidão ardendo em meu corpo despido,
E em volta apenas trevas e a imagem do carinho!

 

Quem de dentro de si não sai, vai morrer sem amar ninguém...

 

Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para se ter a consciência de que ainda se vive.

 

A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.

 

Com as lágrimas do tempo e a cal do meu dia eu fiz o cimento da minha poesia.

 

A vida é uma grande ilusão! Só sei que ela está com a razão!

 

 

 

 

De manhã escureço,
De dia tardo,
De tarde anoiteço,
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo;
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem,
Passo por passo:
Eu morro ontem.

Nasço amanhã,
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.

 

A vida só se dá para quem se deu.

 

Tomara que a tristeza te convença que a saudade não compensa e que a ausência não dá paz.

 

Quanta tristeza
Há nesta vida!
Só incerteza...
Só despedida...

 

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas...
Pensem nas meninas
Cegas inexatas...
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas...
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas...
Mas, oh!, não se esqueçam
Da rosa da rosa...
Da rosa de Hiroxima,
A rosa hereditária,
A rosa radioativa,
Estúpida e inválida,
A rosa com cirrose,
A anti-rosa atômica,
Sem cor sem perfume,
Sem rosa sem nada.

 

 

 

 

Mesmo que as pessoas mudem e suas vidas se reorganizem, os amigos devem ser amigos para sempre. Mesmo que não tenham nada em comum, para somente compartilhar as mesmas recordações.

 

Ele te amou... E te plasmou na visão da manhã e do dia. Na visão de todas as horas... Ó hora dolorosa e roxa das emoções silenciosas.

 

O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e de se ferir, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.

 

E você tem que ser a estrela derradeira
– Minha amiga e companheira –
No infinito de nós dois.

 

Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão.

 

As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental.

 

Amai, porque não há nada melhor para a saúde que um amor correspondido.

 

E de amar assim, muito amiúde, é que um dia, em teu corpo de repente, hei de morrer de amar mais do que pude.

 

A mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza!

 

Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio é um campo de lírios;
Tem sete cores nos seus cabelos,
Sete esperanças na boca fresca!
Oh!, como és linda, mulher que passas!
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!

 

Não ando só! Só ando em boa companhia! Com meu violão, com minha canção e com a poesia!

 

O uísque é o melhor amigo do homem ele é o cachorro engarrafado.

 

Quem pagará o enterro e as flores, se eu me morrer de amores?

 

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura,
Essa intimidade perfeita com o silêncio.
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo:
— Perdoai! Eles não têm culpa de ter nascido...

 

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face de meu maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento.
E, em seu louvor, hei de espalhar meu canto,
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure,
Quem sabe a morte – angústia de quem vive –
Quem sabe a solidão, fim de quem ama,

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama,
Mas que seja infinito enquanto dure.

 

Ser feliz é viver morto de paixão.

 

Hoje eu acordei possuído da maior ternura por Otto Lara Resende.1 Otto tem sido para mim, ao longo de vinte anos de convívio, um amigo exemplar: desses que a pessoa não sabe bem o que fez para merecer.

 

É curioso como, com o avançar dos anos e o aproximar da morte, vão os homens fechando portas atrás de si, numa espécie de pudor de que o vejam enfrentar a velhice que se aproxima.

 

Rostos irmãos se olham dos porta-retratos, a se amarem e compreenderem mudamente.

 

A gente pega o abacate
Bate bem no batedor.
Depois do bate-que-bate,
Que é que parece? – Cocô.
Ô abacate biruta:
Tem mais caroço que fruta!

 

... tendo ao lado seu velhinho, todo elegante em seu paletó de alpaca, e cuja entrada no Céu só obteve pelo muito que rezou e por todo o bem que fez em vida.

 

Desfazendo-se em lágrimas azuis,
Em mistério nascia a madrugada...

 

Aurora, entretanto eu te diviso, ainda tímida, inexperiente das luzes que vais acender e dos bens que repartirás com todos os homens... Bem haja aquele que envolveu sua poesia da luz piedosa e tímida da aurora!

 

Por mais longa que seja a caminhada, o mais importante é dar o primeiro passo.

 

 

 

 

Creio firmemente que o confinamento em si mesmo, imposto a toda uma legião de criaturas pela guerra, é dinamite se acumulando no subsolo das almas para as explosões da paz. No seio mesmo da tragédia, sinto o fermento da meditação crescer. Não tenho dúvida de que poderosos artistas surgirão das ruínas ainda não reconstruídas do mundo, para cantar e contar a beleza e reconstruí-lo livre. Pois, na luta onde todos foram soldados, a minoria nos campos de batalha, a maioria nas solidões do próprio eu, lutando a favor da liberdade e contra ela, a favor da vida e contra ela – os sobreviventes, de corpo e espírito, e os que aguardaram em lágrimas a sua chegada imprevisível, hão de se estreitar num abraço tão apertado, que nem a morte os poderá separar. E o pranto que chorarem juntos há de ser água para lavar dos corações o ódio e das inteligências o mal-entendido.

 

Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores. Mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!

 

Quem já passou por essa vida e não viveu, pode ser mais, mas sabe menos do que eu…

 

Sofre ainda o mundo de tirania e de opressão, da riqueza de alguns para a miséria de muitos, da arrogância de certos para a humilhação de quase todos. Sofre o mundo da transformação dos pés em borracha, das pernas em couro, do corpo em pano e da cabeça em aço. Sofre o mundo da transformação das mãos em instrumentos de castigo e em símbolos de força. Sofre o mundo da transformação da pá em fuzil, do arado em tanque de guerra, da imagem do semeador que semeia na do autômato com seu lança-chamas, de cuja sementeira brotam solidões. A esse mundo, só a poesia poderá salvar, e a humildade diante da sua voz. Parece tão vago, tão gratuito, e, no entanto, eu o sinto de maneira tão fatal! Não se trata de desencantá-la, porque creio na sua aparição espontânea, inevitável. Surgirá de vozes jovens fazendo ciranda em torno de um mundo caduco; de vozes de homens simples, operários, artistas, lavradores, marítimos, brancos e negros, cantando o seu labor de edificar, criar, plantar, navegar um novo mundo; de vozes de mães, esposas, amantes e filhas, procriando, lidando, fazendo amor, drama, perdão. E contra essas vozes não prevalecerão as vozes ásperas de mando dos senhores nem as vozes soberbas das elites. Porque a poesia ácida lhes terá corroído as roupas. E o povo, então, poderá cantar seus próprios cantos, porque os poetas serão em maior número e a poesia há de velar.

 

Ah, meus amigos, não vos deixeis morrer assim...

 

Não sei. Tenho horror à idéia de me tornar literário, de começar a redigir no ato de escrever. O que me dificulta, hoje em dia, a leitura dos escritores em geral, com pouquíssimas exceções, é justamente esse detestável defeito. Mal sinto, em lugar de estilo, o menor maneirismo, a menor fita, largo o livro de mão. Acho-os, na maioria, uns chatos; só contam o que todo mundo já sabe ou logo adivinha. A vida é infinitamente mais rica que suas palavras – e estou certo de que mesmo os mais medíocres são portadores de experiências, que nas mãos de um bom romancista ou um bom biógrafo, dariam matéria de interesse universal. Pois tudo tem interesse, mesmo o coito de duas moscas, desde que provoque no ser que o observa um reflexo vital.

 

Nádegas é importantíssimo. Grave, porém, é o problema das saboneteiras. Uma mulher sem saboneteiras é como um rio sem pontes.

 

O gênio do apelido é virtude brasileira, diria quase carioca. Não conheço, em outros povos, uma tal espontaneidade na caracterização de tipos através de apelidos. Aqui no Rio, então, se o sujeito não tiver sido muito bem-feitinho, a régua e compasso, dificilmente o seu defeito ou modo peculiar de ser passará despercebido ao olho do carioca... Há um amigo meu a quem apelidaram Mal Necessário. Um bom sujeito. Há um outro, que um dia, nu, foi se olhar no espelho sobre uma penteadeira, que tinha uma gaveta aberta e perdeu o equilíbrio (contam seus amigos que o berro que deu foi tremendo!), a quem só chamam de Gaveta.

 

 

 

Arma Secreta

 


A notícia dada por um vespertino de que dez mil pintinhos de raça estavam sendo eletrocutados por ordem da Inspetoria Sanitária Animal do Ministério da Agricultura, por estarem contaminados de perigoso mal, foi recebida com a maior indignação por todos os galinheiros livres da cidade. O terrível morticínio, que nem de longe se compara a outros de memória recente, como as chacinas de Guernica, Lídice e Ouradour, sem falar nos 6 milhões de judeus torturados e assassinados pelos nazistas, causou, no entanto, grande mal-estar no seio da família galinácea do Brasil, sobretudo por serem as vítimas pobres crianças indefesas.

Como é sabido, cinco mil pintinhos já haviam sido sacrificados até sábado último, devendo os outros enfrentar o poleiro elétrico nos dias a seguir. Quer dizer: por essas horas o pintalhame todo já deve ter encontrado o seu Criador, e não é difícil, com um pouco de imaginação, ver os bichinhos a piar tristemente pelas verdes e enevoadas pastagens do céu das galinhas, na saudade de seus inconsoláveis.

De posse da notícia, andou o cronista percorrendo vários galinheiros da cidade, encontrando, por toda parte, um ambiente misto de desolação e revolta, principalmente entre os galináceos prisioneiros, a cujas gaiolas e samburás teve acesso, graças a uma permissão dificilmente conseguida com o Fomento da Produção Animal.

É uma barbaridade! — disse um garnisé de pés atados. — Se eu conseguir sair daqui eles vão ver comigo!

E eu que tinha vários sobrinhos lá... — soluçou uma Rhode Island rolando dolorosamente os olhos cheios de lágrimas.

Não se importe não, minha filha — retrucou uma galinha-de-pescoço-pelado, que se fazia notar por um certo ar subversivo. — A coisa está por pouco. O 'revertere' vem aí!

Qual! — cacarejou uma bela Leghorn. — Você ainda acredita em justiça? Pois bem: eu, minha filha, quero é me divertir. Assim que sair daqui, você vai ver só o galinheiro grã-fino que eu vou pegar. É preciso é aparência... Que é que adianta lutar? Eles são mesmo os mais fortes... Eu não, eu vou é com jeitinho...

Galinha! — cacarejou-lhe de volta um pedrês.

Diante do que, resolveu o cronista bater em retirada, mal habituado que está a um certo cacarejo mais vulgar. Mas, a visita a alguns galinheiros particulares, onde o regime de iniciativa privada é evidente, e a outros em franco processo de socialização, produziu efeito idêntico.

Soube que morreram como heróis! — disse um galinho carijó. — Apesar de crianças, enfrentaram a morte com a bravura característica da raça! Estamos providenciando uma reunião no sentido de erguer-lhes um monumento que perdure como o símbolo da nossa revolta. Pobres pintinhos...

E assim, foi em todos os galinheiros. Num último, por sinal localizado no quintal de uma parenta nossa, tivemos oportunidade de falar com um líder da raça. O encontro foi cercado das maiores precauções, mas nos foram feitas revelações que não podemos deixar de transmitir aos leitores, embora sem citar o santo, ou melhor, o galo. Disse-nos o circunspecto bípede:

Trata-se de um ato de desespero, um ato de medo, meu caro plumitivo. Eles não sabem, no entanto, que a coisa está muito mais avançada do que eles pensam. As condições mudaram. O senhor não vê, por exemplo, essa galinha que apareceu em Rondolândia, em Goiás, e que põe ovos brancos e azuis através de dois sistemas de fecundação e postura independentes? Isso é uma arma com que eles não contam. No fundo, ficam atribuindo mais esse fenômeno à bomba atômica, mas se enganaram redondamente... Para nós, isso é pinto!

 

 

 

 

 

Arte não é só 'fazer': é também esperar. Quando o veio seca, nada melhor para o artista que oferecer a face aos ventos, e viver, pois só da vida lhe poderão advir novos motivos para criar. Nada pode resultar mais esterilizante que o encontro de uma síntese, se ela não for, como na vida, a conseqüência de uma análise que se retoma a partir dela... A arte não ama os covardes: e essa afirmação não pode ser mais antifascista. A arte, há que domá-la como a um miúra: e, para tanto, é preciso viver sem medo. Não a coragem idiota dos que se arriscam desnecessariamente, em franco desrespeito a esse terrível postulado da vida, que ordena uma preservação constante, de maneira a se estar sempre apto para os seus grandes momentos.

 

E como as páginas dos jornais estivessem mais sujas de sangue do que as que embrulham o peso de carne nos açougues, eu resolvi desligar e buscar um pouco de beleza no mundo.

 

Realmente, o que pode existir de pior que a impossibilidade de arrancar à morte o ser amado, que fez Orfeu descer aos Infernos em busca de Eurídice, e acabou por lhe calar a lira mágica?

 

Depois da Guerra vão nascer lírios nas pedras, grandes lírios cor de sangue, belas rosas desmaiadas. Depois da Guerra vai haver fertilidade, vai haver natalidade, vai haver felicidade. Depois da Guerra, ah meu Deus, depois da Guerra, como eu vou tirar a forra de um jejum longo de farra!

 

 

 

Dia de Sábado

 


Porque hoje é Sábado, comprei um violão para minha filha Susana, a fim de que ela aprenda dó maior e cante um dia, ao pé do leito de morte de seu pai, a valsa 'Lágrimas de dor', de Pixinguinha, e seu pai possa, assim, cerrar para sempre os olhos entre prantos, e galgar a eternidade ajudado pela mão negra e fraterna do grande valsista...

Porque hoje é Sábado, desejarei ser de novo jovem e tremer, como outrora, à idéia de encontrar a mulher casada, de pés de açucena; desejarei ser jovem e olhar, como outrora, meus bícepes fortes diante do espelho...

Porque hoje é Sábado, desejarei estar num trem indo de Oxford para Londres, e à passagem da estação de Reading lembrar-me de Oscar Wilde, a escrever na prisão que o homem mata tudo o que ele ama...

Porque hoje é Sábado, desejarei estar de novo num botequim do Leblon, com meu amigo Rubem Braga, ambos negros de sol e com os cabelos, ai, sem brancores; desejarei ser de novo moreno de Sol e de amores, eu e meu amigo Rubem Braga, pelas calçadas luminosas da praia atlântica, a pele salgada de mar e de saliva de mulher, ai...

Porque hoje é Sábado, desejarei receber uma carta súbita, contendo sobre uma folha de papel de linho azul a marca em batom de uns grossos lábios femininos, e ver carimbado no timbre o nome Florença...

Porque hoje é Sábado, desejarei que a Lua nasça em castidade, e que eu a olhe no céu por longos momentos, e que ela me olhe também com seus grandes olhos brancos cheios de segredo…

Porque hoje é Sábado, desejarei escrever novamente o poema sobre o dia de hoje, sentindo a antiga perplexidade diante da palavra escrita em poesia e como dantes, levantar-me com medo da coisa escrita e ir olhar-me ao espelho para ver se eu era eu mesmo...

Porque hoje é Sábado, desejarei ouvir cantar minha mãe em velhas canções perdidas, quando a tarde deixava um alto silêncio na casa vazia de tudo que não fosse sua voz infantil...

Porque hoje é Sábado, desejarei ser fiel, ser para sempre fiel; ser com o corpo, com o espírito, com o coração fiel à amiga, àquela que me traz no seu regaço desde as origens do tempo, e que, com mãos de pluma, limpa de preocupações e angústia, a minha fronte imensa e tormentosa...

 

 

 

Quem, dentre vós, já não teve vontade de ver um passarinho lhe vir pousar na mão? Quem já não sentiu a adorável sensação da repentina falta de temor de um bicho esquivo? A cutia que, num parque, faz uma pose rápida para o fotógrafo - em quem já não despertou o impulso de lhe afagar o dorso tímido? Quem já não invejou Francisco de Assis em suas pregações aos cordeirinhos da úmbria? Quem já não sorriu ao esquilo quando o animalzinho volta-se curioso para nos mirar? Quem já não se deliciou ao contato dulcíssimo de uma pomba malferida, a tremer medrosa em nossa palma?

 

 

 

Eu Não Existo Sem Você

 

Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim,
Que nada nesse mundo levará você de mim.
Eu sei e você sabe que a distância não existe,
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste.
Por isso, meu amor,
Não tenha medo de sofrer,
Que todos os caminhos
Me encaminham pra você.

Assim como o oceano
Só é belo com luar,
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar,
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover,
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer,
Assim como viver
Sem ter amor não é viver,
Não há você sem mim
Eu não existo sem você.

 

 

 

De que mais precisa um homem senão de um pedaço de mar e um barco com o nome da amiga, e uma linha e um anzol pra pescar? E enquanto pescando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de suas mãos, uma pro caniço, outra pro queixo, que é pra ele poder se perder no infinito, e uma garrafa de cachaça pra puxar tristeza, e um pouco de pensamento pra pensar até se perder no infinito... Sim, de que mais precisa um homem senão de suas mãos e da mulher – as únicas coisas livres que lhe restam para lutar pelo mar, pela terra, pelo amigo...

 

Meninas sozinhas, perdidas no mundo e dentro de si. Meninas sozinhas, meninas perdidas, perdidas sozinhas, sozinhas no mundo, meninas imundas, sozinhas no mundo, meninas imundas perdidas nas fossas do mundo... Tende piedade de nós!

 

Só raramente nos lembramos que bichos pequenos também morrem de morte natural. Quando, por acaso, encontramos sobre uma mesa ou no chão uma mosca, hirta, nunca nos vem a idéia de que ela faleceu dentro das regras: isso porque, para todo mundo, a mosca é um inseto que não morre – é morto. E assim, para a grande maioria dos bichinhos. Quem é que vai se lembrar de que uma joaninha pode morrer, ou um mosquitinho, ou uma baratinha de praia, ou uma pulga, ou uma minhoca? São bichos de tal modo submissos aos azares da morte violenta, de tal modo sujeitos a serem comidos por um outro bicho, pisados, batidos, espremidos, dedetizados, que acabam, no consenso do homem, sem direito a morte própria. Daí o espanto que se tem ao ver o raro espetáculo de uma mosca moribunda agitando as patinhas nas vascas da agonia.

 

Muitos dormiam sem saber de nada. Muitos cansados do trabalho braçal do dia, do massacre das filas, da miséria dos bondes e trens superlotados. Muitos exaustos de dar pulo para conseguir o amanhã da família, muitos que a vida vem gastando, que a carestia vem submetendo, que as humilhações vêm afligindo, que o nervoso, a anemia, a úlcera do estômago, a velhice precoce vêm roendo sem remissão. Esses dormiam, sem rádio ou telefone para saber a notícia. Mas é para eles, mais que para os outros, que meu Coração se volta neste momento. A Hora da Libertação se aproxima. É para eles que aquela mulher da sacada da travessa Santa Amélia grita o seu grito de amor e de anunciação: — Brasileiros! Despertai, brasileiros!

 

Homem e mulher são, em sua constante atração e repúdio, a imagem mesma da Vida em Movimento, e que sua longa jornada de mãos juntas, a se afastar cada vez mais do Paraíso Perdido, tende a uma alfombra cada vez menos distante, onde se aninharão melhor e onde fecundarão seres cada vez mais próximos da Terra.

 

Freqüentemente, a velhice, mesmo sábia, não tem nenhuma noção do ridículo nos momentos de alegria, podendo mesmo chegar a dançar rodas e sarabandas, numa curiosa volta à infância.

 

Mas é isso mesmo. Hoje somos nós, amanhã são eles, depois de amanhã são os filhos deles, nossos possíveis netos. Esta joça toda caminha para a Constelação de Órion, desde há alguns milhares de séculos.

 

 

 

 

Na hora que corre, quase todas as mulheres estão fazendo regime para emagrecer (e o advérbio representa aqui algumas poucas e honrosas exceções). O ideal da forma feminina passou a ser o esqueleto acolchoado, 'ma non troppo', de maneira que certos ossos fundamentais aos últimos padrões da moda – como a coluna vertebral, os ilíacos, as clavículas, as rótulas e os fêmures – fiquem francamente à mostra. E obedientes a essa nova extravagância do sexo, outrora considerado fraco, os especialistas, transformados em mágicos, formulam esquemas dietéticos de toda sorte: macrobióticos, hipocalóricos, astronáuticos, líquidos, o diabo. Os consultórios vivem repletos, o faturamento é altíssimo, as mulheres se sentem divinas-maravilhosas quando começam a ranger nas dobradiças. Tirante conversa de futebol e análise de grupo, é o tópico sobre que mais se fala atualmente. Fulana perdeu quinze quilos em um mês! Sicrana, imaginem só, está reduzindo um quilo por dia com a dieta líquida: que bárbaro! Viram Beltraninha depois que saiu da clínica? Como é que pode!… E os homens – eu digo: os homens! – vêem, compungidos, evaporar-se aquelas partes do corpo da mulher consideradas, desde séculos, como as mais responsáveis pela preservação da espécie.

 

Quanto tempo, meu Deus, vai-se passar ainda até que um homem, rodando por essas estradas brasileiras de conservação tão precária, mas, assim mesmo, tão lindas, possa-se dizer, como se diz um americano, um alemão, um russo, um holandês, um canadense, um sueco, e pelo menos isto: não há fome? Até quando essas faces terrosas, esses olhos opacos, esses braços finos, essa pasmaceira filha de uma longa indigência sem remédio? Quando virá o dia em que, ao se parar num botequim para um café, não nos chegará de mão estendida uma criança imunda e endefluxada a nos exigir uma esmola com um duro olhar adulto? Ou um idiota de boca torta, os braços ainda saudosos da posição fetal, para nos dizer de sua angústia em sons afásicos, fazendo-nos olhar para outro lado como se não o estivéssemos vendo? Sim, porque o que é que adianta [só] ver?

 

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso – para viver um grande amor. Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... – não tem nenhum valor.

 

A poesia é a amante espiritual dos homens, aquela com quem eles traem a rotina do cotidiano.

 

Fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades...

 

Há mulheres altas e mulheres baixas; mulheres bonitas e mulheres feias; mulheres gordas e mulheres magras; mulheres caseiras e mulheres rueiras; mulheres fecundas e mulheres estéreis; mulheres primíparas e mulheres multíparas; mulheres extrovertidas e mulheres inconsúteis; mulheres homófagas e mulheres inapetentes; mulheres suaves e mulheres wagnerianas; mulheres simples e mulheres fatais... Há mulheres de toda sorte e toda sorte de mulheres no nosso mundo de homens. Mas, do que pouca gente sabe é que há duas categorias antagônicas de mulheres, cujo conhecimento é da maior utilidade, de vez que pode ser determinante na relação desses dois sexos que eu, num dia feliz, chamei de 'inimigos inseparáveis'. São as mulheres 'ácidas' e as mulheres 'básicas', qualificação esta tirada à designação coletiva de compostos químicos que, no primeiro caso, são hidrogenados, de sabor azedo; e no segundo, resultam da união dos óxidos com a água e devolvem à tintura do tornassol, previamente avermelhada pelos ácidos, sua primitiva cor azul.

 

 

 

 

Ao acordar, naquele dia preliminar da Primavera, senti imediatamente que alguma coisa tinha acontecido de muito fundamental na ordem do mundo. Eu, homem de despertar difícil, pulei da cama tão bem-disposto e leve que, por um momento, assustei-me com a sensação indizível que sentia. Ao pegar o copo habitual para a minha água matutina, notei que se achava cheio de uma substância volátil, penetrada de uma linda cor violeta. E não sei por que bebi do copo vazio, estranguladamente, o ar da Primavera, de gosto azul e fragrância fria, com um peso específico de sonho.

 

Não há que olhar para o passado. O passado é a neurose. O futuro é que conta.

 

Deixe o espírito vagar. Tem que ter plá!

 

É isso que você tem que fazer, execrável leitor, se quiser ser moderno. Pergunte a esse grande ator Hugo Carvana, que me forneceu muitos dos elementos que estão aqui. O resto é papo furado. Se você não estiver nessa nunca vai ser um praça-boa, uma pedra-90. Senão, bicho, quando você for buscar o milho, eles já fizeram a pipoca. Em rio que tem piranha, mosquito não dá rasante. Quem se mete a avestruz tem que agüentar o ovo. Ou como diz o fotógrafo filósofo e 'gentleman' tijuco-ipanemense Paulinho Garcez: — Ajoelhou, tem que rezar!

 

Amar é querer estar perto, se longe; e mais perto, se perto.

 

Ela é de Capricórnio, eu sou de Libra.
Eu sou o Oxalá velho, ela é Inhansã.
A mim me enerva o ardor com que ela vibra.

 

O dinheiro de quem não dá é o trabalho de quem não tem.

 

 

 

O seu denominador
É o amor.

 

Você nunca avance
Em uma mulher de câncer.
Seu planeta é a Lua
E a Lua, é sabido,
Só vive na sua.
É muito apegada.
E quando pegada,
Pega da pesada.
É a mulher que ama
Com muito saber...
No tocante à cama,
Não sei lhe dizer...

 

Serei delicado. Sou delicado. Morro de delicadeza.

 

São demais os perigos desta vida. Para quem tem paixão, principalmente.

 

Um operário parte de um monte de tijolos sem significação especial senão serem tijolos para – sob a orientação de um construtor, que, por sua vez, segue os cálculos de um engenheiro obediente ao projeto de um arquiteto – levantar uma casa. Um monte de tijolos é um monte de tijolos. Não existe nele beleza específica. Mas uma casa pode ser bela, se o projeto de um bom arquiteto tiver a estruturá-lo os cálculos de um bom engenheiro e a vigilância de um bom construtor no sentido do bom acabamento, por um bom operário, do trabalho em execução. Troquem-se tijolos por palavras, ponha-se o poeta, subjetivamente, na quádrupla função de arquiteto, engenheiro, construtor e operário, e aí tendes o que é poesia. A comparação pode parecer orgulhosa, do ponto de vista do poeta, mas, muito pelo contrário, ela me parece colocar a poesia em sua real posição diante das outras artes: a de verdadeira humildade. O material do poeta é a vida, e só a vida, com tudo o que ela tem de sórdido e sublime. Seu instrumento é a palavra. Sua função é a de ser expressão verbal rítmica ao mundo informe de sensações, sentimentos e pressentimentos dos outros, com relação a tudo o que existe ou é passível de existência no mundo mágico da imaginação. Seu único dever é fazê-lo da maneira mais bela, simples e comunicativa possível, do contrário ele não será nunca um bom poeta, mas um mero lucubrador de versos.

 

O destino dos homens é a liberdade.

 

Pra quê chorar, se o Sol já vai nascer, se o dia vai amanhecer. Pra quê chorar, se há sempre um novo amor em cada amanhecer.

 

Em busca de luz, um rio nasceu.

 

 

 

Soneto da Separação

 

De repente, do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma,
E das bocas unidas fez-se a espuma,
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente, da calma fez-se o vento,
Que dos olhos desfez a última chama.
E da paixão fez-se o pressentimento,
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente,
Fez-se de triste o que se fez amante,
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante,
Fez-se da vida uma aventura errante.
De repente, não mais que de repente.

 

 

 

Se eu morrer antes de você, faça-me um favor: chore o quanto quiser, mas não brigue com Deus por Ele haver me levado. Se não quiser chorar, não chore. Se não conseguir chorar, não se preocupe. Se tiver vontade de rir, ria. Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente sua versão. Se me elogiarem demais, corrija o exagero. Se me criticarem demais, defenda-me. Se me quiserem fazer um santo, só porque morri, mostre que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser o santo que me pintam. Se me quiserem fazer um demônio, mostre que eu talvez tivesse um pouco de demônio, mas que a vida inteira eu tentei ser bom e amigo. Se falarem mais de mim do que de Jesus Cristo, chame a atenção deles. Se sentir saudade e quiser falar comigo, fale com Jesus, e eu ouvirei. Espero estar com Ele o suficiente para continuar sendo útil a você, lá onde estiver. E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas uma frase: 'Foi meu amigo, acreditou em mim e me quis mais perto de Deus!' Aí, então, derrame uma lágrima. Eu não estarei presente para enxugá-la, mas não faz mal. Outros amigos farão isso no meu lugar. E, vendo-me bem substituído, irei cuidar de minha nova tarefa no céu. Mas, de vez em quando, dê uma espiadinha na direção de Deus. Você não me verá, mas eu ficaria muito feliz vendo você olhar para Ele. E, quando chegar a sua vez de ir para o Pai, aí, sem nenhum véu a separar a gente, vamos viver, em Deus, a amizade que aqui nos preparou para Ele. Você acredita nessas coisas? Sim?Então, ore para que nós dois vivamos como quem sabe que vai morrer um dia, e que morramos como quem soube viver direito. Amizade só faz sentido se traz o céu para mais perto da gente, e se inaugura, aqui mesmo, o seu começo. Eu não vou estranhar o céu... Sabe por quê? Porque ser seu amigo já é um pedaço dele!

 

O sofrimento é o intervalo entre duas felicidades.

 

Ai quem me dera, terminasse a espera...

 

Tantos caminhos sem-fim... Amigo, não se perca de você. Não se negue... E assim, não se perderá de nós!

 

E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...

 

Não te quero ter porque
em meu ser está tudo terminado.
Quero só que surjas em mim
como a fé nos desesperados.

 

Cuidado! A vida é pra valer.E não se engane não: tem uma só. Duas mesmo que é bom, ninguém vai me dizer que tem sem provar muito bem provado, com certidão passada em cartório do céu, e assinada embaixo: Deus! E com firma reconhecida. A vida não é de brincadeira, amigo.

 

Deveria chamar-te claridade
Pelo modo espontâneo
Franco e aberto
Com que encheste de cor meu mundo escuro...

 

A hora do sim é um descuido do não.

 

Quem é homem de bem não trai o amor que lhe quer seu bem.

 

E por falar em saudade, onde anda você?

 

Nada renasce antes que se acabe. E o Sol que desponta tem de anoitecer.

 

Sou um crente – e por que não o ser? A fé desentope as artérias; a descrença é que dá câncer!

 

É melhor ser alegre
que ser triste.
Alegria é a melhor
coisa que existe.

 

O passado é como o último morto que é preciso esquecer para ter vida.

 

A vida é a espera da morte. Faça da vida um bom passaporte.

 

Eu sem você
sou só desamor.
Um barco sem mar,
um campo sem flor.

 

Sinto-me só.

 

Da morte, apenas, nascemos imensamente.2

 



 

 

 

Sim, o Amor

 

 

 

Sim, o Amor!

Sim, o Amor

que não pede licença

 

Sim, o Amor!

Sim, o Amor

que está presente

em cada Flor.

 

Sim, o Amor!

Sim, o Amor

que desdá a força

que parteja o sor.

 

Sim, o Amor!

Sim, o Amor

que despariu

o cruel Condor.3

 

Sim, o Amor!

Sim, o Amor

que faz queimar

sem sentir dor.

 

Sim, o Amor!

Sim, o Amor

que aquarela

a cor de Cor.

 

Sim, só o Amor!

Sim, só o Amor

nos fará entender

sem tirar nem pôr.




______

Notas:

1. Otto de Oliveira Lara Resende (São João del-Rei, 1º de maio de 1922 – Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 1992) foi um jornalista e escritor brasileiro. Otto, proprietário de uma facilidade verbal incomum, era um excepcional frasista. Leia esta: Positivamente, não posso ser apresentado a Satanás. Como André Gide,* sofro a tentação de entender as razões do adversário.

* André Paul Guillaume Gide (Paris, 22 de novembro de 1869 – Paris, 19 de fevereiro de 1951) foi um escritor francês. Recebeu o Nobel de Literatura de 1947.

2. Claro, não vou corrigir o Poetinha, mas eu escreveria assim esta frase: Da Morte, apenas, nascemos imensamente.

3. A Operação Condor foi uma aliança político-militar entre os vários regimes militares da América do Sul – Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai – criada com o objetivo de coordenar a repressão a opositores dessas ditaduras instalados nos seis países do Cone Sul. Montada no início dos anos 1970, durou até a onda de redemocratização, na década seguinte. A operação, liderada por militares da América Latina, foi batizada com o nome do condor, abutre típico dos Andes que se alimenta de carniça, como os urubus. Esses sangüinários só se esqueceram de uma coisa: do Amor – que não pede licença para se impor.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.m-schmid.com/
nuke/first_bomb.html

http://pensador.uol.com.br/
autor/Vinicius_de_morais/2/

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Vinicius_de_Moraes

http://im-possible.info/english/art/
computer/akiyoshi-kitaoka.html

http://technoface.hu/new/tag/
portable-life-illusion-blogspot/

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autor/Vinicius_de_Moraes/9/

http://pensador.uol.com.br/
autor/Vinicius_de_Moraes/8/

http://pensador.uol.com.br/
autor/Vinicius_de_Moraes/6/

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autor/Vinicius_de_Moraes/5/

http://pensador.uol.com.br/
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http://pensador.uol.com.br/
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http://www.sonetos.com.br/biografia.php?a=25

http://poemasesonetos.arteblog.com.br/r5499/
pensamentos-e-frases-de-famosos/12/

http://www.frasesypensamientos.com.ar/
autor/vinicius-de-moraes.html

http://frasesparaorkut.us/frases-de-vinicius
-de-moraes-frases-para-vinicius-de-moraes

http://www.ronaud.com/frases-pensamentos
-citacoes-de/vinicius-de-moraes

http://www.frases.mensagens.nom.br/
frases-autor-v1-viniciusdemoraes.html

http://www.viniciusdemoraes.com.br/
site/rubrique.php3?id_rubrique=12

http://www.viniciusdemoraes.com.br/site/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Opera
%C3%A7%C3%A3o_Condor

http://misturaestilosa.blogspot.com/
2011/01/wonder-woman.html

http://www.gifmania.com.pt/
passaros/pollos/index2.htm

http://www.releituras.com/
olresende_frases.asp

http://pt.wikiquote.org/wiki/
Vin%C3%ADcius_de_Moraes

 

Música de fundo:

Eu Sei Que Vou Te Amar
Interpretação: Simone & Tom Jobim
Composição: Vinicius de Morais Tom Jobim

Fonte:

http://mp3skull.com/mp3/
eu_sei_que_vou_te_amar_simone.html