Ler
é mais importante do que estudar.
Livro:
gênero de primeira necessidade.
Adulto
vive tendo saudades da vida que passou. Criança tem saudades do futuro.
O
livro é o alimento da alma.
O
jovem pai chegou ao pediatra, bastante aflito, com uma criança no
colo: — Doutor, meu filho está com seis meses e não
abre os olhos!
O médico examinou bem, virou-se pro rapaz, e falou: — Quem
deve abrir os olhos é o senhor, meu amigo. Isso aí é
filho de japonês.
O
que tentei foi fazer exatamente uma transposição de linguagem:
dizer com caricaturas o que Drummond disse com palavras.
Lá
no fundo do sertão, o casalzinho namorava sentadinho no banco, na
porta da cafua. No céu, uma Lua linda, os dois, sem assunto, sentados
ali, um ao lado do outro, caladinhos. De repente, o Zé vira pra Maria
e fala: — No que que ocê está pensando, Maria?
—
No mesmo que ocê, Zé.
E o Zé, com um sorriso maroto: — Ocê é indecente,
hem!
Todo
equívoco humano é satirizável. Enquanto houver ser
humano com suas carências, inseguranças e dúvidas, haverá
sátira.
Tá
lá o velho morrendo. De repente, ele chama o filho e diz: —
Meu filho, tou sentindo um cheiro de pão de queijo.
— Mas é pão de queijo mesmo pai. (Essa se passa em Minas
Gerais, é bom explicar.)
—
É sua mãe que tá fazendo, filho?
—
É, pai.
—
Ah, meu filho, ninguém faz um
pão de queijo melhor no mundo. Que cheirinho bom, meu Deus. Que saudade
me dá, meu Deus. Vai lá na cozinha, meu filho, vai. Vai lá
e traz uns pãodequeijim pra mim.
—
Vou, meu pai.
Uns
minutos depois, e o rapazinho volta sem pão de queijo.
—
Cadê, meu filho?
—
Mamãe não quis dar.
—
Por quê?
—
Diz ela que são pro velório.
Quem
pensa que Deus é brasileiro pode estar certo: Ele se mudou.
No
Brasil, homem público é o masculino de mulher pública.
Conseguimos
a vitória que é a Democracia, mas, não é só
isso que precisamos.
Todos
os canalhas foram crianças infelizes.
Engraçado:
o telefone deu certo no mundo inteiro. No Brasil, não pegou.
Escrever
é a arte mais difícil de se desenvolver.
O
importante é motivar a criança para leitura, para a aventura
de ler.
Só
jogue no rio ou no mar o que o peixe pode comer.
Cagalhão
não se joga nos rios ou nos mares
(para quem não sabe, cagalhão é uma baita
maçaroca de bosta de consistência sólida, e
aquático que se preza não come cagalhão)
Quem
mostrou a bunda em Caras jamais mostrará a cara em Bundas.
Não
fossem os amigos de infância e o espelho, a gente nunca saberia que
está ficando velho.
Quando
se tem 20 anos, a gente vive querendo saber quem transa com as garotas de
20. Aos 30, descobre.
Millôr
Fernandes:
Ele foi um grande filósofo brasileiro. Ele fazia uma piada, mas nunca
fazia uma piada barata, não era um trocadilho, era uma coisa profunda.
Tenho
uma tese: uma criança feliz vai gerar, no futuro, um adulto legal.
A
anedota é um bom caminho para se entender as pessoas.
A
família brasileira não lê. Nós temos a Internet,
que pode ser a fonte da vida e do conhecimento, mas, o computador é
usado como brinquedo. Muitos pais não percebem, mas seus filhos se
tornaram idiotas.
Bote
um livro na mão do seu filho e ensine o domínio da leitura.
Se ele não dominar isso, só vai dar certo se souber jogar
futebol ou dar porrada muito bem para entrar nesse UFC.1
Liguei
a TV de madrugada outro dia e vi dois seres se esfregando. Achei que fosse
pornografia. E aí o chão começou a se encher de sangue,
como se tivesse rompido o hímen. Só depois percebi que era
essas lutas.
Não
tenho um talento como o de Thalita Rebouças ou da autora do Harry
Potter. Eu parto de uma idéia simples, como uma ilustração,
e tento fechá-la com chave de ouro, como fazia quando trabalhava
no marketing.
O
livro é o objeto mais perfeito da História da Humanidade.
Você carrega a História em suas mãos, sente o cheiro
do papel. O tempo que você vira uma página é um tempo
que percorre na História. O livro contém vida, e isto não
pode ser substituído por algo frio e digital.
Os
tempos e as tecnologias podem mudar, mas a criança não muda
nunca.2
Ser
criança é brincar muito, aventurar-se, descobrir, viver essa
fase maravilhosa de nossas vidas.
Desde
que nasci, isto é, desde quando tenho consciência de minha
existência, desenhava em todos os lugares: na calçada, nas
paredes, na sala de aula. Posso afirmar que a minha infância foi muito
boa. Rodei pião, joguei bola de gude. Achei ótimo brincar
de cabra-cega, pular carniça (brincadeira também chamada de
pula-sela), soltar pipa. Tudo por minha conta. Foi um barato! Fui muito
feliz; se tivesse sofrido um pouquinho mais, tava aí escrevendo romances
poderosos.
No
meu tempo de criança não existiam essas comemorações.
Todo dia era o "Dia da Criança".
Os
tempos mudam, e cada geração há de criar sua própria
forma de felicidade que, no futuro, vai achar melhor do que a que as gerações
de seus filhos estarão vivendo.
Cada
época com seus usos, cada roca com seus fusos. Bons foram os tempos
do meu avô, quando um menino sabia o que eram fusos. Só que
não sabia o que era 'chip'... O mundo mudou, mas os jovens são
os mesmos. É só dar uma boa causa, que eles vão fundo.
O que está faltando aí é uma boa causa; todo mundo
está
entorpecido pelo consumismo.
A
pior postura do homem é o comodismo. Tem uma frase do Cervantes,
do "Dom Quixote", em que ele diz que seu repouso é em um
campo de batalha. Comigo é por aí.
O
Batman e o Capitão
América eram os meus amigos na
infância.
Comecei
a comprar gibi adoidado, comprava tudo. Isso apesar de a Igreja Católica
ser ortodox[íssim]a
na época, e proibir a leitura de gibi, porque dispersava os conhecimentos
da Bíblia.
O
segredo da vida é viver intensamente as energias.
A
Internet só serve a quem tem curiosidade, buscando. Se você
não tem nada a procurar, não tem curiosidade de ir além,
a informação pela informação é inútil.
Conversa-fiada.
O
PT se deixou contaminar, então, larguei; agora sou PSOL. Eles ainda
não se contaminaram; vamos ver o que acontece. Eles ainda têm
pureza política; o PT virou só mais um partido. Mas, já
foram a coisa mais importante que aconteceu na ditadura. Criou essa figura
do Lula – esse fenômeno.
Acho
o Lula um Ali Babá e seus aloprados, uma turma absolutamente descartável.
Com um peteleco, o Brasil se livra deles. Agora, os herdeiros das capitanias
hereditárias, esses são imbatíveis. Jamais nos livraremos
deles. Como o Lula não é o representante direto dessa raça,
tenho muito mais simpatia por ele que pelos amigos do FHC.
Estou
arrastando um pouco o pé, e temo que isto desperte compaixão.
Quando chego ao aeroporto e vejo todo mundo me olhando, dou uma parada,
encho o peito e ataco de Jonh Travolta. Chego morto de cansaço no
táxi, mas o cara que me vê, fala: 'Olha lá, o Ziraldo
parece o Jonh Travolta'.
Artista
tem que fazer arte, e burocrata tem que burocratar. Não pode colocar
médico no Ministério da Saúde. Tem que colocar um bom
administrador.
A
gente chega aos 80 anos com o mesmo susto que a gente chega ao Natal. Em
janeiro, você começa o ano; em outubro você vê
o primeiro Papai Noel, e pensa: 'meu Deus, já é Natal?'
Descobri
hoje uma frase antológica: 'A Natureza seria realmente sábia,
se a cabeça do homem envelhecesse junto com o corpo. Isto é
o que deveria acontecer.'
Só
existe um medo no mundo: o medo da morte.
É
preciso viver com muita intensidade para não ficar com conversa boboca.
Velho
fissurado é velho que não viveu a vida. A cabeça do
homem deveria envelhecer junto com o corpo. Igual o Oscar Niemeyer.
'Eu
ainda hei de comer essa moça'.
Isso é a coisa de velho cafajeste.
A
probabilidade de eu fazer 100 anos é mínima. Só 10%
dos caras que faz 80 anos chega aos 90. No cemitério, só tem
cara que morreu com 84, 85.
Pergunta
da repórter:
— Você é um homem conservado. É vaidoso? Acha
que aparenta a idade que tem?
Ziraldo:
— Conservado é a puta que te pariu. Mas, menina, eu era muito
bonitinho, e nem sabia.
A
diferença entre uma criança e um velho, é que o tempo
da criança passa muito depressa, mas os anos passam muito devagar.
Você demora uma eternidade para fazer 17. Aí quando você
faz 80, os dias custam a passar, mas, os anos passam numa velocidade incrível.
Se
alguém fala: "Oh, Ziraldo, seu trabalho é uma bosta".
Eu respondo: "Ah, vai pra puta que te pariu. Como é que meu
trabalho é uma bosta?"
Eu
tenho a solução para a educação brasileira.
O que está errado é o ensino fundamental. A coisa mais importante
é colocar livro nas mãos das crianças. Elas têm
que ler, escrever e contar. A sociedade toda deve se mobilizar para que
a leitura seja como respirar. O sujeito analfabeto não arranja emprego.
Hoje, a forma de vencer na vida é se jogar bem futebol ou lutar nesta
merda que inventaram agora [UFC].
O cara que não sabe ler é um aleijado, um deficiente físico.
Vamos parar de ensinar besteira. Agora tem esse negócio de promoção
automática. Ora, criança não é cabo, sargento;
não tem que ser promovida.
Xuxa
deveria incentivar mais a leitura. Mas nunca se esforçou para isso.
A
escola deve optar pelo ensino da palavra, fazer a criança descobrir
que palavra não é grunhido.
A
História da Humanidade mudou com a invenção do tipo
móvel. O que é chamado de invenção da imprensa,
por Gutemberg, foi, apenas, isto: fazer um carimbinho para cada letra e
juntar este carimbo para levar ao prelo. Uma pequena idéia que mudou
a História
da Humanidade. O livro saiu dos conventos
e foi para a rua. Em quinhentos anos, o ser humano – que não
conseguia se mover a não ser andando, desde que começou a
andar a pé (põe milhares de anos nisso) –
chegou à Lua. Tudo porque o livro foi para a rua.
A chamada revolução tecnológica, centrada na Internet,
vai mudar o mundo na mesma medida. É um marco igual, em minha opinião.
De futuro e conseqüências inimagináveis.
A
escola fundamental brasileira deveria ensinar quatro coisas às crianças,
até que elas estivessem equipadas para receber o ensino curricular.
As quatro coisas são: ler, escrever, contar e entender o que é
ser cidadão. O resto, a vida, o ginásio e a universidade,
ensinam. O Brasil devia decidir o seguinte: a partir de hoje, nenhuma criança
brasileira cresce sem dominar esses quatro aspectos. No final do século,
não teríamos um só analfabeto no Brasil. E teríamos
um povo capaz de escolher com lucidez o seu destino.
A
criança deve ler de tudo: livros de histórias, livros que
contam casos, gibis etc. Tudo que possa despertar a curiosidade das crianças
para a vida e para o mundo. Livros! Qualquer livro!
Duas
cadeiras fundamentais na escola, em minha opinião: Formação
das Palavras e Gostar de Ler.
Toda
criança grande é um imbecil. Um irresponsável. Bons
momentos mesmo são os da vida adulta. Por isso, é preciso
viver com intensidade para, quando velho, não ficar se lamentando:
falta isso, falta aquilo. Se tivesse comido as mulheres que podia nos bares
certos, o Itamar não ficava naquela fissura no camarote.
Se
a Pfizer tivesse feito uma pílula para a libido em vez de um remédio
para ereção [Viagra®
= Citrato de Sildenafila] ia ficar dez vezes mais
rica. Está cheio de velho aí que simplesmente não quer
sexo. Dá muito trabalho; mexe com a rotina. E quem já usou
sabe: sem estar a fim, a pílula azul não funciona. Mas, é
claro, se a mente continua jovem, o aspecto físico não há
como ignorar. Eu mesmo estou com falência múltipla dos órgãos.
Ter
80 anos é algo que a gente só entende quando chega lá.
Não adianta livrinho.
Hoje,
quando eu vejo umas fotos minhas dos 40, percebo: porra, eu era mesmo bonito.
A viúva sabia... Foram 49 anos de convivência diária.
Vida que segue... Casei com minha prima e atual mulher. Filha de um tio
que foi muito importante para mim: ele me levou à zona pela primeira
vez, em Caratinga, Minas Gerais, em completa segurança e respeito.
Depois, no Rio, conheci as francesas da Lapa.
Eu
trabalho a rejeição mal pra burro. Sempre fui muito exibido:
saía do trabalho, ia para a vida. Fui jurado de tudo que é
festival. O povo aplaudia calorosamente, mas, me lembro de uma vez em que
um sujeito ficou sério e não aplaudiu. Isso me deixou arrasado;
eu precisava saber o porquê, e nunca soube. Agora, estou numa fase
de aceitação. Não tem ninguém falando mal de
mim.
Em
um País que tem 90% de analfabetismo funcional,3
o pessoal devia era estar preocupado em fazer uma revolução
em que nenhuma criança cresça sem aprender a ler, escrever,
contar e interpretar.
Não
sou 'workholic',4
não. Gosto de fazer o que faço.
A
Internet é um antro de débeis mentais. A Internet
vai mexer mais com o mundo do que a imprensa – de uma maneira extraordinária,
fantástica. Hoje, não há uma informação
que você procure que não esteja na Internet!
É inacreditável, uma coisa absurda. Mas, o mau uso que fazem
da Internet
é o mau uso que a Humanidade faz da vida. A Humanidade não
sabe viver direito! A maioria dos seres humanos quer comprar feito. Não
cria nada.
O
mundo caminha por causa dos cinco por cento que estão preocupados
com o próximo, com o mundo, com o futuro.
Não
se deve deixar o computador no quarto do filho de jeito nenhum! O computador
tem de ficar em um lugar onde todo mundo passa. Porque você não
sabe com que companhia o seu filho está andando. Acontece que –
de madrugada – metade do mundo está acordada.
Sua
posição de achar que os direitos são iguais e que capacidade
igual tem de ter a mesma remuneração, toda essa consciência
de como deve ser esta convivência perfeita, você chega a ela
pela razão, não pelo instinto.
Se
dois homossexuais querem viver juntos, sejam mulheres ou sejam homens, têm
todo o direito. Os dois têm direito a todos os benefícios de
uma união equivalente ao casamento, mas deveria se chamar “união
legal”. Sou a favor de “união
legal” de homossexuais. Claro! Total
e completamente. Mas não chamem de casamento. Porque não é
casamento!
Aracy
de Almeida era namorada de Fernando Lobo. Um dia, numa boate, ela passou
diante de uma mesa em que estava Fernando Lobo, que a havia abandonado.
Fernando Lobo disse: — Olá… Aracy parou e disse: —
Não sou mulher de olá.
No
Brasil, os escritores que escrevem para crianças são
tão importantes – ou mais – do que a maioria dos escritores
que escrevem para adultos. O Brasil tem o elenco de escritores para crianças
mais importante do mundo.
Somos
todos iguais, cheios de problemas, dificuldades, dores na coluna e carências
afetivas.5
A
obra tem duas pontas: a feitura e o entendimento.
Uma obra só fica pronta quando o decodificador a “decifra”.
Todo
dia eu tenho uma idéia para salvar o mundo. Todo dia! No princípio,
elas me angustiavam – “meu Deus, não há nada que
eu possa fazer” – mas, hoje, isto não acontece mais.
Eu sei, meu Deus, que não há nada que eu possa fazer.6
Eu
não sou daqueles caras que dizem “como eram bons aqueles tempos
em que a gente era criança”. Não tem nada disso. O que
os meninos têm hoje para brincar e alimentar a fantasia é fantástico.
Naquela época, você tinha que inventar seus próprios
brinquedos,7
e nenhum fascinava tanto como os jogos de hoje. O ser humano pode ser feliz
em qualquer lugar, em qualquer época. E é sempre bom ser criança,
sempre, sempre...
Velho
de 80 anos é sinônimo de ancião. Eu sou velho, que coisa
impressionante!
A
mágica que eu inventaria seria assim: qualquer pessoa que tivesse
problema, eu “tum”, resolveria.
O
futuro é feito de muitos “hojes”. Hoje é hoje,
amanhã vai ser hoje, depois de amanhã vai ser hoje. Todo dia
que nasce é hoje para você. Você tem de ser feliz hoje,
para ser feliz a vida inteira.
Eu
queria viver a história dos meninos dos planetas... Passear por todos
os planetas, convivendo com os amigos em todos eles.
O
que salva [a
educação] é o heroísmo
de alguns professores. Mas, uma educação que precisa de heróis
está perdida. E não é só salário. A classe
é muito mal assistida pelo Governo. Não há congresso
ou incentivo para reciclar o conhecimento. O ENEM [Exame
Nacional do Ensino Médio] deveria avaliar o professor,
não o aluno.
Bullying8
é uma importação dos americanos. A sociedade brasileira
não tem esse tipo de intolerância racial. E você demonizar
o cara que fica gozando do outro também não é bom;
fica aquele negócio da autoridade defendendo o cagão. Todas
as pessoas que conheci de muito sucesso foram molestadas na escola –
Caetano Veloso, Lobão, todo mundo. Você vai arrumar proteção
pro cara que se deixa ser sacaneado? Deixa ele se virar!
Gosto
de inquietar adultos acomodados...
Nosso
povo está sendo esvaziado pelo consumismo, pelo imediatismo, pelo
comprar pronto. Ninguém quer criar, inventar, escolher o próprio
caminho.
Um
dos caminhos para tornar um país melhor é fazer dele um país
de leitores.
Eu
acho que eu faço um livro cúmplice; eu não faço
um livro adulto dizendo a criança como ela deve ser. Eu faço
um livro como se eu também fosse um menino, então, a criança
se identifica com o personagem... E é assim que se deve escrever
para crianças, colocando-se no lugar delas.
Parece
até que sou uma porção de coisas, mas eu sou só
isso: um cara que desenha e escreve com humor.
A
Internet é a porta da igreja, no mau sentido. Por que o cachorro
entra na igreja? Porque a porta está aberta. Por que o idiota entra
na Internet? Porque ela abre a porta para todo mundo, e como tem muito idiota
no mundo, ela está cheia. Mas, é a maior dádiva que
foi dada ao ser humano, mais do que a gráfica de Gutemberg. Não
há informação que não esteja ao seu alcance
numa velocidade impressionante. Só tem lado bom, o que atrapalha
são os idiotas.
Para
estimular a leitura entre crianças e adolescentes, leia com eles.
Discuta o livro que está lendo, leve-os para museus, livrarias, encha
a casa de livros. Você não sabe que papo bom têm as crianças.
Os
caras querem esta tal lei de imprensa para fazer a chamada censura branca.
A retirada da biografia do Garrincha das livrarias prova que não
precisa lei de imprensa. As pessoas que se sentiram ofendidas ou com direitos
sobre a imagem do Garrincha utilizaram a justiça comum. Pode-se até
achar que o juiz julgou mal, mas com essa lei, este tipo de juiz filho-da-puta
e repressor, vai ter mais força ainda. Nos EUA, a 1ª Emenda
da Constituição deles diz que não se fará leis
sobre liberdade de expressão.
Algumas
escolas e creches usam o nome O Menino Maluquinho sem autorização,
mas, eu me sinto lisonjeado quando isso acontece. Inclusive, há uma
escola em Montevidéu, no Uruguai, que leva o nome de Ziraldo. Este
é o maior orgulho da minha vida. O que me incomodaria é se
ninguém ligasse para o que eu faço depois de mais de quarenta
anos de trabalho. Isso, sim, me deixaria magoado.
Existe
uma diferença entre a mãe do interior e a mãe urbana.
A interiorana prepara o filho para ser mais independente e batalhar a própria
vida; já a urbana é mais possessiva.
Eu
não sou propriamente contra a interpretação de textos
nas escolas, mas, sim, a maneira como a coisa é administrada. Um
texto possui várias leituras subjetivas, e o que geralmente ocorre
nas escolas é que as respostas do livro do professor não oferecem
flexibilidade suficiente, o que torna a coisa um verdadeiro absurdo. Por
isto, eu digo às professoras: se querem que as crianças apreciem
a leitura, esqueçam os exercícios de interpretação
de texto.
É
preciso se colocar na situação do outro antes de estabelecer
qualquer julgamento severo em relação a ele, e, em se tratando
de crianças, isto é fundamental. O Carlos Drummond inventou
um verbo ótimo para estas situações: "outrar".
Eu
envelheci vendo as novas gerações sendo impactadas com uma
porrada atrás da outra. A capacidade de adaptação do
ser humano ao novo é uma coisa impressionante... Não há
limite para a adaptação humana. O que muda é o que
está à volta do homem. Em essência, continuamos os mesmos.9
Quando
não havia promoção automática, a escola tinha
disciplina. Isso foi abandonado para tentar evitar a evasão. Mas
não funcionou! O Governo deveria proibir o aluno de passar de ano
antes que fosse comprovado que ele aprendeu a matéria.
Hoje,
é preciso ter ‘professora maluquinha’, professora heróica.
Eu conheci muitas, mas é a minoria. Sem professora heróica,
o ensino básico não é nada. E isso tá errado.
Se é preciso ter heroísmo, é porque o ensino básico
está muito errado.
Um
povo que não sabe ler não consegue nem votar. Mas tem professor
do ensino básico que nunca leu um livro inteiro.
Eu
tinha caderno de caligrafia! Mas, agora, caderno
de caligrafia é brega. E aí a gente vê R maiúsculo
no meio da palavra!
Vai
muito dinheiro para a universidade e pouco para o ensino básico.
E olha que nem são todas as universidades públicas que são
boas. A de Cuiabá é terrível. Mas, realmente, as universidades
recebem demais. O aluno custa dez vezes mais na universidade pública
do que na particular. Quem sabe agora, com esse dinheiro que o Governo vai
colocar no ensino básico [FUNDEB
– Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação],
não melhora? Mas, é preciso saber aproveitar esse dinheiro,
dar ênfase no ensino dos fundamentos. É preciso fazer como
a Coréia [do Sul],
que gasta muito com a educação básica. Todo mundo sabe
que foi por causa disso que a Coréia foi pra frente. E no Brasil
não se faz nada disso.
As
piores escolas que eu vi foram no Nordeste, com certeza. O Nordeste é
terrível. Tem escola que tem cem professores para cada aluno. É
cabide de emprego.
No
Brasil, tudo está por ser feito. Então, é preciso ter
cuidado com o que se faz e o
que se diz. Não se pode mentir
ou enganar, pois se está falando com pessoas que estão ainda
criando um País. A responsabilidade do cidadão existe como
ser humano e não especificamente como escritor. Eu sempre carreguei
bandeiras, como contra a ditadura militar, contra
o Fernando Henrique, contra
o Bush, contra
a globalização, contra
a corrupção, contra
o desmatamento, contra
a poluição das águas e por aí
vai. Quando virei autor de Literatura Infantil, descobri que um artista,
em um país como o Brasil, acaba fazendo de seu trabalho uma forma
de missão. Escrever livros para um país sem leitores é
meio complicado. Temos que tentar mudar este panorama. Acho que um dos caminhos
para um país melhor é fazer dele um país de leitores.
E é o que eu tento fazer.
Sempre
desejei e continuo desejando um mundo melhor. Acho que,
no mundo ideal, a criança seria o centro de preocupação
da sociedade. Um mundo de crianças felizes seria o mundo do futuro
sonhado.
Não
tenho medo de nada; nem do ridículo.
Ode
em Treze Versos
I
Digo
eu, e digo assim:
Sujeitar-se
é clownesco;
II
Como
um ângulo reto,
o Ziraldo
está correto.
é
ler e bem decodizar.
III
O
que é bem decodizar?
É
ler sem pré-qualificar,
ante[pro]pondo
Dialética
IV
Um
tiquinho só não dói;
qualquer
feito compensa;
a modorra
só imprensa.
V
O
Trabalho e a Paciência
são
as Chaves da Ciência.
Para
podermos nos libertar,
nós
teremos que cavoucar.
VI
E
o bom cavouco Illumina,
e mostra
o Mapa da Mina;
Mapa
que está no Coração;
VII
Todavia,
evite o chabouco,
para
não subsistir amouco.
Todo
malfeito será desfeito,
pois,
in Corde,
é mal aceito.
VIII
Temos
que compreender,
e urge
expugnar o não-ser.
A alforria
é já, não quando!
IX
Daí,
só prazerar cheirando
–
qual o Touro Ferdinando10
–
poderá
desencadear alergia,
e não
manumite da maresia!
X
Jacaré
que dorme na água
vira
bolsa da mãe-d'água!
Vira-bosta
que não se vira
acaba
paparoca de caipira!
XI
Com
didática e carinho,
expliquei
tudo direitinho.
Quem
não compreendeu,
ore a
São Judas Tadeu!
XII
Não
pense que ele fará
ou que,
por dó, desfará.
Quem
deve mutar é você,
desde
o ABC até o XYZ.
XIII
E
não comece pelo XYZ;
primeiro
A; depois B e C.
Não
desista; meta bronca.
Não
alveja quem enconca!
Não
desista; meta bronca.
Não alveja quem enconca!