Provavelmente,
não haja área em que o homem ocidental esteja mais necessitado
de assistência do que na correção básica de excessos
temperamentais. De maneira geral, somos muito violentos, estamos comprometidos
com coisas erradas ou equivocadas, somos urgencialmente movidos por questões
de somenos importância, vivemos completamente escravizados por nossos
próprios pensamentos e emoções, prisioneiros dos nossos
desejos, cobiças e paixões. Estamos sob constante pressão
da nossa própria natureza, que deveria estar nos servindo, mas, da
qual nos tornamos servos. Como poderemos corrigir tudo isto? Usando a técnica
de relaxar na direção oposta de um problema, ao invés
de tentar superá-lo pela força. Não há qualquer
virtude zen em tentar lancetar moinhos de vento, como fez Dom Quixote. Ora,
não somos cavaleiros errantes e não adianta nada tentar matar
os nossos dragões interiores. Esses dragões, como os dragões
gregos, fazem surgir dez novas cabeças para cada uma que cortamos,
e esse tipo de autodisciplina é inútil. Esta é uma
das razões, penso eu, de porque as chamadas disciplinas religiosas,
no Ocidente, terem, em grande parte, induzido às neuroses. Todas
estas disciplinas são imposições de inibição
e de frustração, consistindo em vários graus de açoite,
em que a pessoa se pune por suas faltas. E quanto mais sofremos, mais defeitos
adquirimos, pela simples razão de que as nossas próprias misérias
destroem em nós qualquer possibilidade de melhorar a nossa natureza
ou corrigir a nossa condição. O pior é que, fora das
penitências e dos arrependimentos, acabamos nutrindo apenas o desejo
imediato de morrer, como a única libertação possível.
Portanto, há um erro sesquipedal em tentar pagar com sofrimento o
sofrimento que causamos. Precisamos, sim, recuperar a integração
de nós mesmo com o Uni[multi]verso,
saldar todas as nossas dívidas razoáveis e irracionais, parar
de causar sofrimentos a outras pessoas e nos libertar das pressões.
[Mas, tudo isto só
poderá acontecer de uma forma e por um único Caminho: pela
Compreensão.]
Precisamos compreender, aprender a alcançar [e
permanecer no] estado
que o Zen denomina de nenhuma
natureza, pois, o que não tem natureza nunca poderá
ter uma natureza cruel [ou
desarmônica]; isto simplesmente não é possível.
Ao assumirmos o estado de nenhuma
natureza, nós nos separamos imediatamente dos processos
que induzem a mente a instintivamente aumentar a tensão, [a
divergência, a discordância e a divisão.] [Para
que não paire qualquer dúvida, nem que prevaleça um
negativismo doentio, nem que se confunda macróbia nariguda com cobra-d'água
rechonchuda, nem Cloroquina com Tubaína, devemos compreender que
o estado de nenhuma
natureza não é negação
da vida; antes, é a própria SANTA VIDA per
se. Portanto, é estar no mundo e participar das coisas do mundo
(Servir) sem ser do mundo ou se escravizar (mâyâ)
às coisas do Mundo.
O
egoísmo é uma parte da nossa natureza. [Precisamos
transmutá-lo em altruísmo.]
Se
nos afastarmos de nossos sentimentos pessoais, chegaremos à realidade
de um sentimento virtuoso e impessoal. É sempre a nossa atitude pessoal
que nos traz problemas, e na medida em que nos livrarmos desta atitude pessoal,
poderemos alcançar aquela paz que está na raiz inconsciente
de nós mesmos.
Sempre
poderemos combater a tensão com relaxamento.
Devemos
aprender, através do relaxamento, a desintegrar a nossa ambição
pessoal. Devemos aprender, gradativamente, a nos separar de qualquer pressão
que tenda a destruir a justiça e a integridade da nossa própria
consciência.
Cada
vitória que alcançamos em qualquer obrigação
da vida é uma vitória da Illuminação sobre o
que estava extraviado. Mas, a grande vitória é o triunfo do
Conhecimento sobre a ignorância.
Precisamos
estar muito atentos, pois, um ponto de vista equivocado poderá se
espalhar e contaminar outros pontos de vista, até que, finalmente,
toda a nossa natureza estará corrompida. Portanto, é importantíssimo
tentarmos encontrar o nosso principal erro de avaliação, a
nossa maior falsa premissa.
A
vitória final do Zen é a capacidade de ignorar o incentivo
para ser egocêntrico e egoísta. Simplesmente, por falta de
aceitação, este desejo acaba caindo por terra.
A
contemplação da beleza, como apontou Platão, é
um alimento. O homem se alimenta tanto pelos olhos quanto pela boca. A nutrição
chega ao corpo pelos olhos, pelos ouvidos e, até certo ponto, por
praticamente todas as percepções sensoriais. Esta nutrição
deve, portanto, ser uma fonte constante de inspiração. Ele
deve carrear relaxamento, doçura, desinteresse e a impessoalidade
que a própria mente está procurando experimentar. Através
da arte, temos uma espécie de experiência vicária por
meio das nossas percepções sensoriais.
Beleza
é alimento.
Bondade é alimento.
Piedade é alimento.
Misericórdia é alimento.
Fraternidade é alimento.
Não-julgamento é alimento.
Despreconceito é alimento.
Bem é alimento.
Paz é alimento.
Solidariedade é alimento.
Voluntariado é alimento.
Tolerância é alimento.
Indulgência é alimento.
Condescendência é alimento.
Paciência é alimento.
Humildade é alimento.
LLuz
é alimento.
Vida é alimento.
Serviço é alimento.
Auxílio é alimento.
Ensinança é alimento.
Despretenção é alimento.
Desapego é alimento.
Simpatia é alimento.
Ternura é alimento.
Amor é alimento.
Magia Branca é alimento.
Se
nos interessarmos verdadeiramente por algo que é naturalmente bom
em si mesmo, se formos capazes de nos envolver na Grande Arte, esqueceremos
as tensões e o interesse próprio e nos tornaremos, de certa
forma, pessoas maiores e melhores. Este é um medicamento que nos
ajuda a restaurar nossa confiança na bondade essencial da vida, independentemente
de sermos imediatamente capazes de demonstrar esta confiança.
Poderemos,
se quisermos, mover o centro do conhecimento de algo que, talvez, seja terrivelmente
importante em si mesmo para nós, para a apreciação
silenciosa da Grande Música ou da Grande Beleza, e encontrar, aí,
a libertação interior da tirania dos nossos próprios
interesses.
Toda
as nossas dores e todas as nossas aflições são uma
espécie de autocomplacência com relação a problemas,
desgostos ou vicissitudes pessoais, e esta autopiedade só é
possível e acontece porque não nos entendemos e permitimos
que ela se manifeste. Realmente, não há absolutamente nada
em nós que precise de compaixão. A autopiedade, de fato, não
tem nada a ver com o ser, porque o ser, mesmo longe de ser perfeito, está
no controle da situação real sobre a qual estamos tentando
criar um molde de autopiedade. Para nos libertarmos desta situação,
o auto-esquecimento é a resposta. O auto-esquecimento fará
esta autocompaixão se desintegrar.
A
única razão para fazermos uma coisa ou agirmos
de determinada maneira é porque o que iremos fazer ou como iremos
agir é correto. A memória é apenas uma desculpa, não
uma causa real. A memória é uma justificativa, não
uma razão.
Não
devemos conviver com passado de forma desagradável. Pelo contrário,
devemos ser gratos por termos superado nossos defeitos. O entendimento filosófico
da vida nos libertará.
É
a confusão e a mistura do verdadeiro com o falso
que causam a complexidade das regras de memória, podendo também
causar uma memória errônea ou uma interpretação
equivocada das coisas lembradas.
Devemos
aprender a descartar o que não vale a pena lembrar, simplesmente,
lhe negando direito à importância. Então, quando algum
pensamento bobo ou pernicioso do passado nos incomodar novamente, deveremos
pegar um bom livro, talvez, e ler uma página ou duas. Nós
simplesmente não deveremos deixar a memória entrar. Não
deveremos deixar que ela nos influencie –
não
lutando contra ela, mas, voltando imediatamente nosso pensamento para algum
outro uso da mente. Se, gradualmente, fizermos isto, até criarmos
hábitos mentais melhores, descobriremos que estes velhos pensamentos
se tornam cada vez menos insistentes e aporrinhantes. Se os bloquearmos,
eles se tornarão cada vez mais importunos e maçantes, e poderão
terminar em paranóia –
mania persecutória. Afastando-nos deles, para que não
produzam em nós nenhuma tensão e nenhum sentimento de defesa
ou de beligerância contra eles, simplesmente os deixamos morrer por
falta de nutrição. Se voltarmos nossa atenção
para a consciência direta do valor construtivo, pouco a pouco iremos
fortalecendo esta norma edificadora e instrutiva, até que não
haver mais espaço nem tempo para as lembranças ou energias
destrutivas do passado.
Descartando
o que não vale a pena ser lembrado
Ao
assumirmos nossas responsabilidades estamos contribuindo para o bem geral.
A
pessoa que está relaxada e vivendo graciosamente se torna um canal
através do qual todo o Mistério Universal da Vida é
liberado.
Grande
parte da demora e do raleamento em compreendermos as coisas e nos libertarmos
está nos argumentos e na análise. [A
simples razão é irmã univitelina da fé religiosa,
ainda que operem em instâncias, domínios, campos e esferas
distintas. Se, por um lado, por exemplo, entre outros absurdos incomprováveis
e improváveis, a religião inventou o Pecado Original, o céu
para os bons e justos e o inferno para os pecadores irremediáveis,
a ciência, não menos irracional, delirantemente, criou a Teoria
Geocêntrica, chegou a admitir que o Universo era estático e
ainda, hoje, aceita que este mesmo Universo tenha sido gerado por um
Big Bang.] Entretanto,
a pessoa que estiver interiormente determinada a mudar poderá mudar
em um instante. Em um único instante, uma vida poderá ser
redirecionada, e, de repente, poderá conhecer seu verdadeiro valor.
Através do esforço contínuo, da gentileza, da humildade,
do relacionamento amável e de uma determinação dedicada
de manter a confiança na Vida –
[BOM COMBATE]
– inevitavelmente e certamente, o indivíduo crescerá
e ascensionará. Gradualmente ou rapidamente, conforme suas próprias
condições [culturais]
permitirem,
ele será renovado [RENASCERÁ],
e uma Vida à qual foi negada expressão, mas, que
sempre esteve em seu interior, terá a chance de se manifestar e de
se tornar um guia natural de sua conduta. [Por
isto, mais do que compreensão, é preciso que haja
TRANSCOMPREENSÃO INICIÁTICA, para que possa haver
LIBERTAÇÃO, ILLUMINAÇÃO
e ASCENSÃO.]
Uma
coisa que pode ser francamente percebida sobre o homem é que o ser
humano, embora constantemente cingido por uma fonte de educação
– [devido
a um negacionismo boçal, retrógrado e doentio] – tem,
consistentemente, resistido a pôr em prática esta educação,
e prefere, antes, criar um modo de vida próprio, estabelecido pelo
ego [Manipura]
e
não por Intuição ou Conhecimento. Com esta fictícia
e enganosa lei de existência, que o próprio homem-ego criou,
a vida, progressivamente, se torna cada vez mais complicada, mais desacertada,
mais incorreta, mais doentia e mais equivocada, e o indivíduo é
impelido, inevitavelmente, para distorcer, falsear e desvirtuar julgamentos.
[Quem se
vacina vira jacaré.]
Assim, ele é impelido a se desviar das insistências harmonizadoras
da Natureza para satisfazer as insistências desarmonizadoras que vêm
de dentro, de sua própria estrutura psíquica. Desta forma,
o homem, embora cercado por um universo de seres livres
– livres
porque desconhecem que a escravidão existe
–
está agrilhoado e preso, em virtude de seu conhecimento malformado.
Encontra-se, por sua própria ignorância, em uma condição
contrária às Leis da Natureza, e, um dia, precisará,
finalmente, reconhecer que esta falsa condição se deve ao
uso falaz de suas próprias forças racionais.
Devido
às suas opiniões [para
Platão, Eikasia],
o
homem complicou sua existência, destruiu sua paz de espírito
e se separou de uma relação intuitiva adequada com os atuais
e próprios padrões da vida e da subsistência. Isto não
é porque o instrumento mental humano seja essencialmente mau, mas,
sim, porque foi ele condicionado incorretamente e é utilizado erroneamente.
Por isto, o homem vive, sofre, adoece e morre por preconceitos e preconcebimentos,
sempre justificando o que não pode ser justificado e sempre substituindo
uma boçalidade mental ou intelectual por uma filosofia de vida [inventada
por ele] que ele considera razoável, vivendo prisioneiro
de suas próprias engendrações mentais equivocadas.
A
simplicidade é o princípio fundamental do Zen.
Isto
não é Zen
O
homem civilizado, por hábito [imitação]
ou por prazer, é viciado e dependente da moda, das tendências
e dos estilos, e sacrifica seu bem-estar e sua saúde pelo que considera
ser uma boa aparência. Isto é válido para todos os outros
padrões de vida.
—
Eu imito porque imito
Tu imitas porque gostas
Ele imita porque quer
Nós imitamos porque somos tolos
Vós imitais porque sois prisioneiros
Eles imitam porque não sabem o que fazem
Bom
Gosto é Justiça –
a coisa como deve ser. Uma coisa é correta quando, por sua verdadeira
estrutura e natureza, põe em circulação a vida livre
do ser humano; e, inversamente, uma coisa é incorreta quando, por
sua natureza ou estrutura, aprisiona esta livre vida. Portanto, neste sentido,
o que é certo transcende a moralidade estabelecida. Moralidade é
uma palavra que criamos, e pela qual temos determinado a intenção.
Pássaros e flores nada sabem desta palavra; não obstante,
eles são criaturas morais, e nós, normalmente, não
somos. Logo, a Verdadeira Moralidade é algo que existe por causa
da aceitação completa do Sistema Divino de coisas, e o que
chamamos de moralidade é simplesmente um código de restrições
arbitrárias que impomos aos outros e a nós mesmos. Este código
imposto não tem significado real, pois, só a própria
Natureza é a única fonte fundamental do Verdadeiro Conhecimento
no que concerne ao caráter Daquilo-Que-de-Fato-É
[O-QUE-É]
e ao caráter daquilo que não é; e O-QUE-É
e o que não é têm precedência sobre o bem, sobre
o mal e sobre todos os códigos criados pelo homem.
O
que é certo, correto e justo transcende a moralidade estabelecida.
Em
a Natureza, não há decisão que seja contrária
à Atualidade Cósmica.
O que é Verdade? A Verdade é simplesmente
a inevitabilidade do plano de existência, [do
Unimultiverso], sempre
se movendo em sua própria natureza, [no
próprio Unimultiverso], de
acordo com sua própria natureza, [o
Unimultiverso].
O
homem que tem a virtude de viver pelo Zen tem o privilégio da Ascensão.
Ele se torna, gradualmente, capaz de entrar em contato com todo o Mistério
do Uni[multi]verso.
Paulatinamente, vai entendendo o que os seres menos evoluídos devem
obedecer sem entender.
Se
estamos conscientes da Verdade [mesmo
que relativa], então,
somos postos em harmonia com todos os processos vitais que operam ao nosso
redor, em nós e através de nós.
A
experiência não será útil, se for mal interpretada.
[Aqui, discordo
desta afirmação, pois, penso que toda experiência seja
útil, mesmo as experiências mal interpretadas, pois, a má
interpretação do que quer que seja acabará nos conduzindo
à interpretação correta e os excessos serão
imediatamente contidos. Se a má interpretação fosse
inútil, a própria vida e a Lei da Causa e do Efeito seriam
inúteis.]
O
animal percebe o perigo imediato, mas, o homem percebe perigos inexistentes.
O homem dá importância a improbabilidades remotas, e seu mecanismo
de medo é tão intenso, que ele, praticamente, vive assustado
com cada circunstância da vida. O homem vive em um mundo de medo –
um
medo baseado no fato de que ele não sabe o que está por trás
dos fenômenos ao seu redor; não sabe interpretar os incidentes
que acontecem ao seu redor. O medo, então, tem que ser reduzido [ou
melhor, eliminado,] de alguma forma ou as emoções
naturais da vida serão diminuídas lentamente. Não podemos
nos tornar instintivamente ou intuitivamente conscientes do Fator Verdade,
se estivermos constantemente promovendo a falsidade dentro de nossas próprias
estruturas.
Não
podemos realmente possuir nada além de nós mesmos, e, verdadeiramente,
poucos de nós possuem a si mesmos. Isso significa que o medo da perda
é uma perda completa de si mesmo. A perda é inevitável.
A perda e a mudança, que muitas vezes são interpretadas como
perdas-em-si, fazem parte do movimento, mas, o movimento é eterno.
A inverdade relativa aceita pelo homem é que ele é capaz de
possuir. A verdade real, eterna no Uni[multi]verso,
é que o homem não pode possuir nada. O máximo que o
ser humano pode alcançar relativamente a qualquer coisa material
é uma mordomia temporária. Sem posses viemos ao mundo; sem
posses deixaremos este mundo. Portanto, a posse, como a conhecemos, é
uma das impermanências da vida. Enfim, qualquer esforço para
alcançarmos a posse do que quer que seja é um sacrifício
da mente, e, em última análise, um desperdício de energia.
Precisamos
aprender a recobrar nosso autocontrole, nosso autodomínio, nosso
comedimento, nosso equilíbrio e o valor da tranqüilidade e a
compreensão do sentido oculto da serenidade.
O
Caminho para a Verdade [mesmo
que as verdades que compreendemos sejam sempre e eternamente relativas]
está,
preliminarmente, na compreensão [abolimento]
dos falsos valores que incorporamos à nossa natureza. Há um
centro de ordem e de harmonia em nós que pode e deve, finalmente,
dominar a confusão dos fatores dissonantes da nossa personalidade.
Enfim, para nos autogovernarmos, deveremos ser capazes de controlar as nossas
próprias atitudes.
Em
tudo isso, precisamos transcender o nosso complexo vício de tentar
alcançar uma virtude imaginária. No Zen, portanto, não
se implora pela salvação, nem pelo perdão por nossas
falhas, nem é encorajado que tentemos derrotar algum adversário
teológico intangível [e
inexistente, inventado pelo sacerdócio maquiavélico, apenas
para exercício, pelo medo, do poder dogmático-autoritário
sacerdotal.]
—
Pecaste?
Transgrediste?
Infringiste?
Ajoelha.
Arrepende-te.
Pede perdão.
Penitencia-te.
Mortifica-te.
Ou irás para o inferno!
Precisamos
nos esforçar para descobrir a Realidade [ATUALIDADE]
que
ainda não nasceu [em
nós]. As
Realidades [ATUALIDADES]
Universais
não-manifestadas são imperecíveis, e, em algum lugar,
sob e por trás de todas as circunstâncias fugazes e transitórias
da vida, há Aquilo-que-é Não-nascido e Imperecível,
que continua simplesmente a ser O-QUE-É.
—
Ignorante, eu vivia
engolfado em o-que-não-é.
Iniciado, passei a Viver
em harmonia com O-QUE-É.
—
Ignorante, eu vivia
imerso em miragens e ilusões.
Iniciado, passei a Viver
em harmonia com a ATUALIDADE.
—
Ignorante, eu vivia
agrilhoado à Media
Nox.
Iniciado, passei a Viver
em harmonia com a AURORA.
—
Ignorante, eu vivia
acolitando meu demônio.
Iniciado, passei a Viver
em harmonia com meu DEUS
INTERIOR.
A
nossa [relativa]
liberdade só será alcançada com a liberação
completa da pressão de aquilo-que-não-é em nós.
Atualmente, a liberdade é a emergência pessoal do homem no
estado do que não nasceu [não-Renascido],
no estado do que está situado no início de cada
coisa e que chega à manifestação pelos processos de
expressão.
Se
o ser-humano-aí-no-mundo for capaz de alcançar a dimensão
da sua Eternidade, ele obterá o máximo do que é capaz.
Onde
quer que a linha reta surja no âmbito de um domínio completo,
teremos uma tendência ao hiper-intelectualismo e ao materialismo.
Portanto, onde quer que tenhamos apenas uma linha reta, estaremos comprometendo
a composição estética de qualquer estrutura com a qual
estejamos interessados. A linha reta é fria. A linha curva, que é
a linha da graça e da beleza, simboliza a vitória, por assim
dizer, do intelecto sobre a verdadeira consciência [ego]
do indivíduo.
Portanto,
sendo a linha reta a linha da força e a linha curva a linha da graça
e da beleza, juntas, sustentam o mundo. Elas, também, devem manter
a consciência do Buscador Zen. Desta forma, a idéia da mistura
dos dois fatores para produzir a curva-linha-reta [ou
reta-linha-curva] é
um lembrete sutil da natureza do estado de consciência que o Zen exige.
Neste sentido, devemos sempre considerar esses dois fatores em todos os
momentos da experiência consciente.
Em
pelo menos uma medida, toda obstinação, representada pela
linha reta, é escravidão, pois, constrói muros de prisão.
A linha reta, como a conhecemos, é consistência obstinada,
o que é perigoso. A linha reta é uma determinação
poderosa, que pode ser expressa através da ambição
cruel de um ditador, que tem apenas uma idéia em sua mente, e que
vive e morre por essa idéia. A linha reta, que nos parece
o verdadeiro símbolo do sucesso, está sempre próxima
de um símbolo de desastre psicológico. Representa vontade
completa e teimosia; é um poderoso estímulo à ambição.
É a inflexibilidade e a crueldade de um único propósito.
Marcha não apenas contra as diferenças comuns, mas, também,
contra o que é bom, verdadeiro e correto. A linha reta traz consigo,
portanto, a imagem ou o símbolo do perigo, que sempre espreitam dentro
do ego, que tem certas atitudes impassíveis e inevitáveis
que não podem variar, mas, que devem continuar como a bala que sai
do cano da arma procurando seu alvo. No entanto, mesmo a bala, em sua trajetória,
apresenta uma curva. Todavia, muitas vezes, o homem não é
dócil. Ele continua imisericordioso fazendo o que decide fazer. Em
todo simbolismo oriental, a linha curva representa aceitação
e a resignação. É a força para inclinar a cabeça
à vontade do que é maior. Quase todos os cultos colocam o
corpo em uma posição curva de algum tipo. O egoísta
é sempre retratado de pé enfrentando o inevitável com
grande entusiasmo, mas, o sábio costuma ser mostrado com a cabeça
baixa, e, muitas vezes, com os ombros caídos, porque não tem
o peculiar egoísmo agressivo que, novamente, a linha reta, na arte
e no simbolismo, parece indicar tão claramente. Enfim, o Zen tenta
combinar ou reunir em uma relação harmoniosa o mistério
das linhas retas e curvas. E chegamos à constatação
de que o Zen é essencialmente uma linha reta do erro à verdade,
ou seja, é uma linha reta que tem curvas magníficas. As linhas
retas são necessárias porque o caminho reto para a verdade
é semelhante ao caminho direto do rio para o mar, é o caminho
mais direto, mas, também, é um caminho de regulação
contínua para o inevitável. O grande rio segue a inclinação
da Terra, e, por esta curva, chega mais rapidamente ao mar. Assim, o indivíduo,
com propósitos certos e bem definidos, deve, freqüentemente,
cumprir esses propósitos por esse tortuoso problema de regulação,
seguindo o grande arco largo que conduz pelo caminho mais curto ao objetivo.
Portanto, a linha reta curvada não é uma contradição:
é a simples afirmação de um fato, de uma verdade e
de uma realidade, que podem ser conhecidos pela experiência, mas,
que não podem ser totalmente explicados pela mente. Este é
o tipo de quebra-cabeça com o qual a Filosofia Zen é tão
ricamente ornamentada.
A
Beleza e a criação da Beleza fazem parte da grande lição
da nossa encarnação, e a criação da Beleza,
através do entendimento, não deixa de ser uma forma de oração.
Todo
grande enriquecimento precisa de desvios. [Linhas
curvas, que simbolizam o caminho
das pausas graciosas.]
A
Verdadeira Sabedoria não se apreende só em livros, mas, também,
com as árvores, com as flores e com as pequenas pedras. As experiências
Zen chegam até nós por pequenos e variados caminhos, fora
dos planos do intelecto, que consideramos tão importantes, tão
substanciais e tão reais.
A
ciência, se movendo passo a passo, não alcançará
o fim a que está destinada, a menos que pare e que crie um desvio
estético. É necessário que se misture a estética
interior, intuitiva e inspiradora com a realidade, se quisermos descobrir
a Realidade. [Atualidade
Cósmica.]
A
Fórmula Matemática –
a Origem da Existência –
é
inevitável, inalterável e eterno.
A
raiz de todas as coisas é triádica.
Devemos
aprender a compreender a Beleza — senti-La — não intelectualmente,
mas, por uma experiência de consciência. Devemos atingir uma
certa experiência de sublimidade pela reverência pelo Belo.
Sem
o fator estético, como poderemos ter a emoção, a sensibilidade,
a simpatia e a confiança do Uni[multi]verso?
Sempre
temos que ter e manter na mente os conceitos de Sabedoria Cósmica
e de Amor Universal. [Sem
isto não somos nada.]
Enquanto
estivermos centrados em nós mesmos, não poderemos ser Zens.
A
arte cria dentro de nós a necessidade de expressar
nossa própria criatividade.
Ninguém
pode se decepcionar com a Natureza, a menos que tenha construído
uma estrutura mental de [miragens
+] ilusões.
Nenhum indivíduo pode, em última análise, ser enganado
pela completa [e consciente]
obediência às Leis da Natureza. Ninguém pode
negar o testemunho válido da Natureza. Ninguém pode dizer
que as coisas que vemos e sentimos ao nosso redor não acontecem.
Ninguém pode negar a ordem e a integração dos fenômenos
naturais [sistema].
Ninguém pode duvidar que as coisas vivas têm instintos, e que
esses instintos, expressos de várias maneiras distintas, são
a fonte da tapeçaria magnificamente matizada da existência
que conhecemos. Portanto, a única possibilidade de erro está
na nossa má interpretação das coisas, [das
Leis Unimultiversais].
Quando
a vida interior apresenta uma sensação de integração
e o indivíduo começa a viver segundo o Zen, esse viver é
marcado por um retorno à Natureza, isto é, no sentido que
passa a ter uma existência construtiva e sábia.