A VIRTUDE DO ZEN
(Parte III)

 

 

Manly Palmer Hall

Manly Palmer Hall

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

Introdução

 

 

 

Este estudo se compõe da Parte III de uma coletânea de fragmentos garimpados na obra A Clara Virtude do Zen, de autoria de Manly Palmer Hall, que o considerava não um sistema de credo abstrato, mas, um guia imediato de conduta.

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Manly Palmer Hall (Peterborough, Ontario, 18 de março de 1901 – 29 de agosto de 1990, Los Angeles, California) foi um místico e autor canadense de mais de cem livros, dentre eles The Secret Teachings of All Ages: An Encyclopedic Outline of Masonic, Hermetic, Qabbalistic and Rosicrucian Symbolical Philosophy, que ele publicou aos 25 anos de idade.

 

Em 1934, Hall fundou a Philosophical Research Society, em Los Angeles, EUA, dedicada ao ideal de buscar soluções para os problemas humanos.

 

Uma biografia mais detalhada está disponível em:

http://www.christianrosenkreuz.org/mph_biografia.htm

 

 

 

Fragmentos da Obra

 

 

 

Provavelmente, não haja área em que o homem ocidental esteja mais necessitado de assistência do que na correção básica de excessos temperamentais. De maneira geral, somos muito violentos, estamos comprometidos com coisas erradas ou equivocadas, somos urgencialmente movidos por questões de somenos importância, vivemos completamente escravizados por nossos próprios pensamentos e emoções, prisioneiros dos nossos desejos, cobiças e paixões. Estamos sob constante pressão da nossa própria natureza, que deveria estar nos servindo, mas, da qual nos tornamos servos. Como poderemos corrigir tudo isto? Usando a técnica de relaxar na direção oposta de um problema, ao invés de tentar superá-lo pela força. Não há qualquer virtude zen em tentar lancetar moinhos de vento, como fez Dom Quixote. Ora, não somos cavaleiros errantes e não adianta nada tentar matar os nossos dragões interiores. Esses dragões, como os dragões gregos, fazem surgir dez novas cabeças para cada uma que cortamos, e esse tipo de autodisciplina é inútil. Esta é uma das razões, penso eu, de porque as chamadas disciplinas religiosas, no Ocidente, terem, em grande parte, induzido às neuroses. Todas estas disciplinas são imposições de inibição e de frustração, consistindo em vários graus de açoite, em que a pessoa se pune por suas faltas. E quanto mais sofremos, mais defeitos adquirimos, pela simples razão de que as nossas próprias misérias destroem em nós qualquer possibilidade de melhorar a nossa natureza ou corrigir a nossa condição. O pior é que, fora das penitências e dos arrependimentos, acabamos nutrindo apenas o desejo imediato de morrer, como a única libertação possível. Portanto, há um erro sesquipedal em tentar pagar com sofrimento o sofrimento que causamos. Precisamos, sim, recuperar a integração de nós mesmo com o Uni[multi]verso, saldar todas as nossas dívidas razoáveis e irracionais, parar de causar sofrimentos a outras pessoas e nos libertar das pressões. [Mas, tudo isto só poderá acontecer de uma forma e por um único Caminho: pela Compreensão.]

 

 

 

 

Precisamos compreender, aprender a alcançar [e permanecer no] estado que o Zen denomina de nenhuma natureza, pois, o que não tem natureza nunca poderá ter uma natureza cruel [ou desarmônica]; isto simplesmente não é possível. Ao assumirmos o estado de nenhuma natureza, nós nos separamos imediatamente dos processos que induzem a mente a instintivamente aumentar a tensão, [a divergência, a discordância e a divisão.] [Para que não paire qualquer dúvida, nem que prevaleça um negativismo doentio, nem que se confunda macróbia nariguda com cobra-d'água rechonchuda, nem Cloroquina com Tubaína, devemos compreender que o estado de nenhuma natureza não é negação da vida; antes, é a própria SANTA VIDA per se. Portanto, é estar no mundo e participar das coisas do mundo (Servir) sem ser do mundo ou se escravizar (mâyâ) às coisas do Mundo.

 

O egoísmo é uma parte da nossa natureza. [Precisamos transmutá-lo em altruísmo.]

 

Se nos afastarmos de nossos sentimentos pessoais, chegaremos à realidade de um sentimento virtuoso e impessoal. É sempre a nossa atitude pessoal que nos traz problemas, e na medida em que nos livrarmos desta atitude pessoal, poderemos alcançar aquela paz que está na raiz inconsciente de nós mesmos.

 

Sempre poderemos combater a tensão com relaxamento.

 

Devemos aprender, através do relaxamento, a desintegrar a nossa ambição pessoal. Devemos aprender, gradativamente, a nos separar de qualquer pressão que tenda a destruir a justiça e a integridade da nossa própria consciência.

 

 

 

 

Cada vitória que alcançamos em qualquer obrigação da vida é uma vitória da Illuminação sobre o que estava extraviado. Mas, a grande vitória é o triunfo do Conhecimento sobre a ignorância.

 

Precisamos estar muito atentos, pois, um ponto de vista equivocado poderá se espalhar e contaminar outros pontos de vista, até que, finalmente, toda a nossa natureza estará corrompida. Portanto, é importantíssimo tentarmos encontrar o nosso principal erro de avaliação, a nossa maior falsa premissa.

 

 

 

 

A vitória final do Zen é a capacidade de ignorar o incentivo para ser egocêntrico e egoísta. Simplesmente, por falta de aceitação, este desejo acaba caindo por terra.

 

A contemplação da beleza, como apontou Platão, é um alimento. O homem se alimenta tanto pelos olhos quanto pela boca. A nutrição chega ao corpo pelos olhos, pelos ouvidos e, até certo ponto, por praticamente todas as percepções sensoriais. Esta nutrição deve, portanto, ser uma fonte constante de inspiração. Ele deve carrear relaxamento, doçura, desinteresse e a impessoalidade que a própria mente está procurando experimentar. Através da arte, temos uma espécie de experiência vicária por meio das nossas percepções sensoriais.

 

Beleza é alimento.
Bondade é alimento.
Piedade é alimento.
Misericórdia é alimento.
Fraternidade é alimento.
Não-julgamento é alimento.
Despreconceito é alimento.
Bem é alimento.
Paz é alimento.
Solidariedade é alimento.
Voluntariado é alimento.
Tolerância é alimento.
Indulgência é alimento.
Condescendência é alimento.
Paciência é alimento.
Humildade é alimento.
LLuz é alimento.
Vida é alimento.
Serviço é alimento.
Auxílio é alimento.
Ensinança é alimento.
Despretenção é alimento.
Desapego é alimento.
Simpatia é alimento.
Ternura é alimento.
Amor é alimento.
Magia Branca é alimento.

 

Se nos interessarmos verdadeiramente por algo que é naturalmente bom em si mesmo, se formos capazes de nos envolver na Grande Arte, esqueceremos as tensões e o interesse próprio e nos tornaremos, de certa forma, pessoas maiores e melhores. Este é um medicamento que nos ajuda a restaurar nossa confiança na bondade essencial da vida, independentemente de sermos imediatamente capazes de demonstrar esta confiança.

 

Poderemos, se quisermos, mover o centro do conhecimento de algo que, talvez, seja terrivelmente importante em si mesmo para nós, para a apreciação silenciosa da Grande Música ou da Grande Beleza, e encontrar, aí, a libertação interior da tirania dos nossos próprios interesses.

 

Toda as nossas dores e todas as nossas aflições são uma espécie de autocomplacência com relação a problemas, desgostos ou vicissitudes pessoais, e esta autopiedade só é possível e acontece porque não nos entendemos e permitimos que ela se manifeste. Realmente, não há absolutamente nada em nós que precise de compaixão. A autopiedade, de fato, não tem nada a ver com o ser, porque o ser, mesmo longe de ser perfeito, está no controle da situação real sobre a qual estamos tentando criar um molde de autopiedade. Para nos libertarmos desta situação, o auto-esquecimento é a resposta. O auto-esquecimento fará esta autocompaixão se desintegrar.

 

A única razão para fazermos uma coisa ou agirmos de determinada maneira é porque o que iremos fazer ou como iremos agir é correto. A memória é apenas uma desculpa, não uma causa real. A memória é uma justificativa, não uma razão.

 

Não devemos conviver com passado de forma desagradável. Pelo contrário, devemos ser gratos por termos superado nossos defeitos. O entendimento filosófico da vida nos libertará.

 

É a confusão e a mistura do verdadeiro com o falso que causam a complexidade das regras de memória, podendo também causar uma memória errônea ou uma interpretação equivocada das coisas lembradas.

 

Devemos aprender a descartar o que não vale a pena lembrar, simplesmente, lhe negando direito à importância. Então, quando algum pensamento bobo ou pernicioso do passado nos incomodar novamente, deveremos pegar um bom livro, talvez, e ler uma página ou duas. Nós simplesmente não deveremos deixar a memória entrar. Não deveremos deixar que ela nos influencie não lutando contra ela, mas, voltando imediatamente nosso pensamento para algum outro uso da mente. Se, gradualmente, fizermos isto, até criarmos hábitos mentais melhores, descobriremos que estes velhos pensamentos se tornam cada vez menos insistentes e aporrinhantes. Se os bloquearmos, eles se tornarão cada vez mais importunos e maçantes, e poderão terminar em paranóia mania persecutória. Afastando-nos deles, para que não produzam em nós nenhuma tensão e nenhum sentimento de defesa ou de beligerância contra eles, simplesmente os deixamos morrer por falta de nutrição. Se voltarmos nossa atenção para a consciência direta do valor construtivo, pouco a pouco iremos fortalecendo esta norma edificadora e instrutiva, até que não haver mais espaço nem tempo para as lembranças ou energias destrutivas do passado.

 

 

Descartando o que não vale a pena ser lembrado

 

 

Ao assumirmos nossas responsabilidades estamos contribuindo para o bem geral.

 

A pessoa que está relaxada e vivendo graciosamente se torna um canal através do qual todo o Mistério Universal da Vida é liberado.

 

Grande parte da demora e do raleamento em compreendermos as coisas e nos libertarmos está nos argumentos e na análise. [A simples razão é irmã univitelina da fé religiosa, ainda que operem em instâncias, domínios, campos e esferas distintas. Se, por um lado, por exemplo, entre outros absurdos incomprováveis e improváveis, a religião inventou o Pecado Original, o céu para os bons e justos e o inferno para os pecadores irremediáveis, a ciência, não menos irracional, delirantemente, criou a Teoria Geocêntrica, chegou a admitir que o Universo era estático e ainda, hoje, aceita que este mesmo Universo tenha sido gerado por um Big Bang.] Entretanto, a pessoa que estiver interiormente determinada a mudar poderá mudar em um instante. Em um único instante, uma vida poderá ser redirecionada, e, de repente, poderá conhecer seu verdadeiro valor. Através do esforço contínuo, da gentileza, da humildade, do relacionamento amável e de uma determinação dedicada de manter a confiança na Vida [BOM COMBATE] – inevitavelmente e certamente, o indivíduo crescerá e ascensionará. Gradualmente ou rapidamente, conforme suas próprias condições [culturais] permitirem, ele será renovado [RENASCERÁ], e uma Vida à qual foi negada expressão, mas, que sempre esteve em seu interior, terá a chance de se manifestar e de se tornar um guia natural de sua conduta. [Por isto, mais do que compreensão, é preciso que haja TRANSCOMPREENSÃO INICIÁTICA, para que possa haver LIBERTAÇÃO, ILLUMINAÇÃO e ASCENSÃO.]

 

 

 

 

Uma coisa que pode ser francamente percebida sobre o homem é que o ser humano, embora constantemente cingido por uma fonte de educação – [devido a um negacionismo boçal, retrógrado e doentio] – tem, consistentemente, resistido a pôr em prática esta educação, e prefere, antes, criar um modo de vida próprio, estabelecido pelo ego [Manipura] e não por Intuição ou Conhecimento. Com esta fictícia e enganosa lei de existência, que o próprio homem-ego criou, a vida, progressivamente, se torna cada vez mais complicada, mais desacertada, mais incorreta, mais doentia e mais equivocada, e o indivíduo é impelido, inevitavelmente, para distorcer, falsear e desvirtuar julgamentos. [Quem se vacina vira jacaré.] Assim, ele é impelido a se desviar das insistências harmonizadoras da Natureza para satisfazer as insistências desarmonizadoras que vêm de dentro, de sua própria estrutura psíquica. Desta forma, o homem, embora cercado por um universo de seres livres livres porque desconhecem que a escravidão existe está agrilhoado e preso, em virtude de seu conhecimento malformado. Encontra-se, por sua própria ignorância, em uma condição contrária às Leis da Natureza, e, um dia, precisará, finalmente, reconhecer que esta falsa condição se deve ao uso falaz de suas próprias forças racionais.

 

Devido às suas opiniões [para Platão, Eikasia], o homem complicou sua existência, destruiu sua paz de espírito e se separou de uma relação intuitiva adequada com os atuais e próprios padrões da vida e da subsistência. Isto não é porque o instrumento mental humano seja essencialmente mau, mas, sim, porque foi ele condicionado incorretamente e é utilizado erroneamente. Por isto, o homem vive, sofre, adoece e morre por preconceitos e preconcebimentos, sempre justificando o que não pode ser justificado e sempre substituindo uma boçalidade mental ou intelectual por uma filosofia de vida [inventada por ele] que ele considera razoável, vivendo prisioneiro de suas próprias engendrações mentais equivocadas.

 

 

 

 

 

 

A simplicidade é o princípio fundamental do Zen.

 

 

Isto não é Zen

 

 

O homem civilizado, por hábito [imitação] ou por prazer, é viciado e dependente da moda, das tendências e dos estilos, e sacrifica seu bem-estar e sua saúde pelo que considera ser uma boa aparência. Isto é válido para todos os outros padrões de vida.

 

Eu imito porque imito
Tu imitas porque gostas
Ele imita porque quer
Nós imitamos porque somos tolos
Vós imitais porque sois prisioneiros
Eles imitam porque não sabem o que fazem

 

 

 

 

Bom Gosto é Justiça a coisa como deve ser. Uma coisa é correta quando, por sua verdadeira estrutura e natureza, põe em circulação a vida livre do ser humano; e, inversamente, uma coisa é incorreta quando, por sua natureza ou estrutura, aprisiona esta livre vida. Portanto, neste sentido, o que é certo transcende a moralidade estabelecida. Moralidade é uma palavra que criamos, e pela qual temos determinado a intenção. Pássaros e flores nada sabem desta palavra; não obstante, eles são criaturas morais, e nós, normalmente, não somos. Logo, a Verdadeira Moralidade é algo que existe por causa da aceitação completa do Sistema Divino de coisas, e o que chamamos de moralidade é simplesmente um código de restrições arbitrárias que impomos aos outros e a nós mesmos. Este código imposto não tem significado real, pois, só a própria Natureza é a única fonte fundamental do Verdadeiro Conhecimento no que concerne ao caráter Daquilo-Que-de-Fato-É [O-QUE-É] e ao caráter daquilo que não é; e O-QUE-É e o que não é têm precedência sobre o bem, sobre o mal e sobre todos os códigos criados pelo homem.

 

 

 

 

O que é certo, correto e justo transcende a moralidade estabelecida.

 

Em a Natureza, não há decisão que seja contrária à Atualidade Cósmica.

 

O que é Verdade? A Verdade é simplesmente a inevitabilidade do plano de existência, [do Unimultiverso], sempre se movendo em sua própria natureza, [no próprio Unimultiverso], de acordo com sua própria natureza, [o Unimultiverso].

 

O homem que tem a virtude de viver pelo Zen tem o privilégio da Ascensão. Ele se torna, gradualmente, capaz de entrar em contato com todo o Mistério do Uni[multi]verso. Paulatinamente, vai entendendo o que os seres menos evoluídos devem obedecer sem entender.

 

Se estamos conscientes da Verdade [mesmo que relativa], então, somos postos em harmonia com todos os processos vitais que operam ao nosso redor, em nós e através de nós.

 

A experiência não será útil, se for mal interpretada. [Aqui, discordo desta afirmação, pois, penso que toda experiência seja útil, mesmo as experiências mal interpretadas, pois, a má interpretação do que quer que seja acabará nos conduzindo à interpretação correta e os excessos serão imediatamente contidos. Se a má interpretação fosse inútil, a própria vida e a Lei da Causa e do Efeito seriam inúteis.]

 

O animal percebe o perigo imediato, mas, o homem percebe perigos inexistentes. O homem dá importância a improbabilidades remotas, e seu mecanismo de medo é tão intenso, que ele, praticamente, vive assustado com cada circunstância da vida. O homem vive em um mundo de medo um medo baseado no fato de que ele não sabe o que está por trás dos fenômenos ao seu redor; não sabe interpretar os incidentes que acontecem ao seu redor. O medo, então, tem que ser reduzido [ou melhor, eliminado,] de alguma forma ou as emoções naturais da vida serão diminuídas lentamente. Não podemos nos tornar instintivamente ou intuitivamente conscientes do Fator Verdade, se estivermos constantemente promovendo a falsidade dentro de nossas próprias estruturas.

 

Não podemos realmente possuir nada além de nós mesmos, e, verdadeiramente, poucos de nós possuem a si mesmos. Isso significa que o medo da perda é uma perda completa de si mesmo. A perda é inevitável. A perda e a mudança, que muitas vezes são interpretadas como perdas-em-si, fazem parte do movimento, mas, o movimento é eterno. A inverdade relativa aceita pelo homem é que ele é capaz de possuir. A verdade real, eterna no Uni[multi]verso, é que o homem não pode possuir nada. O máximo que o ser humano pode alcançar relativamente a qualquer coisa material é uma mordomia temporária. Sem posses viemos ao mundo; sem posses deixaremos este mundo. Portanto, a posse, como a conhecemos, é uma das impermanências da vida. Enfim, qualquer esforço para alcançarmos a posse do que quer que seja é um sacrifício da mente, e, em última análise, um desperdício de energia.

 

Precisamos aprender a recobrar nosso autocontrole, nosso autodomínio, nosso comedimento, nosso equilíbrio e o valor da tranqüilidade e a compreensão do sentido oculto da serenidade.

 

O Caminho para a Verdade [mesmo que as verdades que compreendemos sejam sempre e eternamente relativas] está, preliminarmente, na compreensão [abolimento] dos falsos valores que incorporamos à nossa natureza. Há um centro de ordem e de harmonia em nós que pode e deve, finalmente, dominar a confusão dos fatores dissonantes da nossa personalidade. Enfim, para nos autogovernarmos, deveremos ser capazes de controlar as nossas próprias atitudes.

 

Em tudo isso, precisamos transcender o nosso complexo vício de tentar alcançar uma virtude imaginária. No Zen, portanto, não se implora pela salvação, nem pelo perdão por nossas falhas, nem é encorajado que tentemos derrotar algum adversário teológico intangível [e inexistente, inventado pelo sacerdócio maquiavélico, apenas para exercício, pelo medo, do poder dogmático-autoritário sacerdotal.]

 

Pecaste?
Transgrediste?
Infringiste?
Ajoelha.
Arrepende-te.
Pede perdão.
Penitencia-te.
Mortifica-te.
Ou irás para o inferno!

 

Precisamos nos esforçar para descobrir a Realidade [ATUALIDADE] que ainda não nasceu [em nós]. As Realidades [ATUALIDADES] Universais não-manifestadas são imperecíveis, e, em algum lugar, sob e por trás de todas as circunstâncias fugazes e transitórias da vida, há Aquilo-que-é Não-nascido e Imperecível, que continua simplesmente a ser O-QUE-É.

 

Ignorante, eu vivia
engolfado em o-que-não-é.
Iniciado, passei a Viver
em harmonia com
O-QUE-É.

Ignorante, eu vivia
imerso em miragens e ilusões.
Iniciado, passei a Viver
em harmonia com a ATUALIDADE.

Ignorante, eu vivia
agrilhoado à Media Nox.
Iniciado, passei a Viver
em harmonia com a AURORA.

Ignorante, eu vivia
acolitando meu demônio.
Iniciado, passei a Viver
em harmonia com meu DEUS INTERIOR.

 

A nossa [relativa] liberdade só será alcançada com a liberação completa da pressão de aquilo-que-não-é em nós. Atualmente, a liberdade é a emergência pessoal do homem no estado do que não nasceu [não-Renascido], no estado do que está situado no início de cada coisa e que chega à manifestação pelos processos de expressão.

 

Se o ser-humano-aí-no-mundo for capaz de alcançar a dimensão da sua Eternidade, ele obterá o máximo do que é capaz.

 

Onde quer que a linha reta surja no âmbito de um domínio completo, teremos uma tendência ao hiper-intelectualismo e ao materialismo. Portanto, onde quer que tenhamos apenas uma linha reta, estaremos comprometendo a composição estética de qualquer estrutura com a qual estejamos interessados. A linha reta é fria. A linha curva, que é a linha da graça e da beleza, simboliza a vitória, por assim dizer, do intelecto sobre a verdadeira consciência [ego] do indivíduo.

 

 

 

 

Portanto, sendo a linha reta a linha da força e a linha curva a linha da graça e da beleza, juntas, sustentam o mundo. Elas, também, devem manter a consciência do Buscador Zen. Desta forma, a idéia da mistura dos dois fatores para produzir a curva-linha-reta [ou reta-linha-curva] é um lembrete sutil da natureza do estado de consciência que o Zen exige. Neste sentido, devemos sempre considerar esses dois fatores em todos os momentos da experiência consciente.

 

Em pelo menos uma medida, toda obstinação, representada pela linha reta, é escravidão, pois, constrói muros de prisão. A linha reta, como a conhecemos, é consistência obstinada, o que é perigoso. A linha reta é uma determinação poderosa, que pode ser expressa através da ambição cruel de um ditador, que tem apenas uma idéia em sua mente, e que vive e morre por essa idéia. A linha reta, que nos parece o verdadeiro símbolo do sucesso, está sempre próxima de um símbolo de desastre psicológico. Representa vontade completa e teimosia; é um poderoso estímulo à ambição. É a inflexibilidade e a crueldade de um único propósito. Marcha não apenas contra as diferenças comuns, mas, também, contra o que é bom, verdadeiro e correto. A linha reta traz consigo, portanto, a imagem ou o símbolo do perigo, que sempre espreitam dentro do ego, que tem certas atitudes impassíveis e inevitáveis que não podem variar, mas, que devem continuar como a bala que sai do cano da arma procurando seu alvo. No entanto, mesmo a bala, em sua trajetória, apresenta uma curva. Todavia, muitas vezes, o homem não é dócil. Ele continua imisericordioso fazendo o que decide fazer. Em todo simbolismo oriental, a linha curva representa aceitação e a resignação. É a força para inclinar a cabeça à vontade do que é maior. Quase todos os cultos colocam o corpo em uma posição curva de algum tipo. O egoísta é sempre retratado de pé enfrentando o inevitável com grande entusiasmo, mas, o sábio costuma ser mostrado com a cabeça baixa, e, muitas vezes, com os ombros caídos, porque não tem o peculiar egoísmo agressivo que, novamente, a linha reta, na arte e no simbolismo, parece indicar tão claramente. Enfim, o Zen tenta combinar ou reunir em uma relação harmoniosa o mistério das linhas retas e curvas. E chegamos à constatação de que o Zen é essencialmente uma linha reta do erro à verdade, ou seja, é uma linha reta que tem curvas magníficas. As linhas retas são necessárias porque o caminho reto para a verdade é semelhante ao caminho direto do rio para o mar, é o caminho mais direto, mas, também, é um caminho de regulação contínua para o inevitável. O grande rio segue a inclinação da Terra, e, por esta curva, chega mais rapidamente ao mar. Assim, o indivíduo, com propósitos certos e bem definidos, deve, freqüentemente, cumprir esses propósitos por esse tortuoso problema de regulação, seguindo o grande arco largo que conduz pelo caminho mais curto ao objetivo. Portanto, a linha reta curvada não é uma contradição: é a simples afirmação de um fato, de uma verdade e de uma realidade, que podem ser conhecidos pela experiência, mas, que não podem ser totalmente explicados pela mente. Este é o tipo de quebra-cabeça com o qual a Filosofia Zen é tão ricamente ornamentada.

 

A Beleza e a criação da Beleza fazem parte da grande lição da nossa encarnação, e a criação da Beleza, através do entendimento, não deixa de ser uma forma de oração.

 

Todo grande enriquecimento precisa de desvios. [Linhas curvas, que simbolizam o caminho das pausas graciosas.]

 

A Verdadeira Sabedoria não se apreende só em livros, mas, também, com as árvores, com as flores e com as pequenas pedras. As experiências Zen chegam até nós por pequenos e variados caminhos, fora dos planos do intelecto, que consideramos tão importantes, tão substanciais e tão reais.

 

A ciência, se movendo passo a passo, não alcançará o fim a que está destinada, a menos que pare e que crie um desvio estético. É necessário que se misture a estética interior, intuitiva e inspiradora com a realidade, se quisermos descobrir a Realidade. [Atualidade Cósmica.]

 

A Fórmula Matemática a Origem da Existência é inevitável, inalterável e eterno.

 

A raiz de todas as coisas é triádica.

 

 

 

 

Devemos aprender a compreender a Beleza — senti-La — não intelectualmente, mas, por uma experiência de consciência. Devemos atingir uma certa experiência de sublimidade pela reverência pelo Belo.

 

Sem o fator estético, como poderemos ter a emoção, a sensibilidade, a simpatia e a confiança do Uni[multi]verso?

 

Sempre temos que ter e manter na mente os conceitos de Sabedoria Cósmica e de Amor Universal. [Sem isto não somos nada.]

 

Enquanto estivermos centrados em nós mesmos, não poderemos ser Zens.

 

A arte cria dentro de nós a necessidade de expressar nossa própria criatividade.

 

Ninguém pode se decepcionar com a Natureza, a menos que tenha construído uma estrutura mental de [miragens +] ilusões. Nenhum indivíduo pode, em última análise, ser enganado pela completa [e consciente] obediência às Leis da Natureza. Ninguém pode negar o testemunho válido da Natureza. Ninguém pode dizer que as coisas que vemos e sentimos ao nosso redor não acontecem. Ninguém pode negar a ordem e a integração dos fenômenos naturais [sistema]. Ninguém pode duvidar que as coisas vivas têm instintos, e que esses instintos, expressos de várias maneiras distintas, são a fonte da tapeçaria magnificamente matizada da existência que conhecemos. Portanto, a única possibilidade de erro está na nossa má interpretação das coisas, [das Leis Unimultiversais].

 

Quando a vida interior apresenta uma sensação de integração e o indivíduo começa a viver segundo o Zen, esse viver é marcado por um retorno à Natureza, isto é, no sentido que passa a ter uma existência construtiva e sábia.

 

 

 

Continua...

 

 

 

 

 

 

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Nota:

Música de fundo:

A Time For Us
Compositor: Nino Rota

Fonte:

http://www.midi-karaoke.info/20cc1671.html

 

Páginas da Internet consultadas:

https://hritc.co/16238?lang=

https://bomretironamoda.com.br

https://blog.marketex.com.br

https://dribbble.com

https://m.facebook.com/VanderlanCardosoOficial/photos
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