Nossas
atitudes (série de edificações) podem sobreviver a
muitos choques, desde que sejam e estejam sustentadas pelo Eu Interior.
A
continuidade da consciência não é algo que flui, mas,
uma série de justaposições ou de contigüidades.
As
atitudes não surgem na consciência; surgem, apenas, em decorrência
de uma fixação mental.
Ninguém
encarna de joelhos;
ajoelhamos porque queremos.
A
partir do momento que não tivermos mais nada além do nosso
Eu Interior (o Verdadeiro Ser), também não teremos subordinados,
[e não
seremos subordinados a ninguém nem a nada]. Portanto,
não teremos nada para governar, nada para ser patrono [e
não seremos governados por ninguém]. Não
seremos mais confrontados com a necessidade de manter uma posição
legal [ou social] sobre
nada. Não teremos que tentar ser melhores do que o nosso vizinho.
Se [harmonicamente] tirarmos
o melhor e o menos possível das coisas, então, encontraremos
o início de um conceito de identidade universal. Descobriremos que
somos a própria Vida e que a Vida está, realmente, [em
tudo], ao redor e dentro de nós, que sempre foi, que é
e que sempre será uma única Vida [Universal].
Que esta Vida sempre esteve, está e sempre estará em ação.
E que, enfim, as diferentes atitudes que parecem bloqueá-La não
bloqueiam a Vida; tão-somente nos bloqueiam.
Esta
é a verdadeira libertação: atingir uma disposição
equilibrada, capaz de se comunicar com qualquer pessoa com facilidade e
liberdade, sem estar mais interessado em agradar ou desagradar. Assim, estando
livre do prazer e do desprazer, a pessoa também está livre
do conteúdo posterior derivado de suas ações.
Não
tendo mais nenhuma preocupação, nem mesmo com a sua existência
corporal, o indivíduo está livre de outro tipo de tirania:
a tirania da pressão do corpo e a identificação de
si mesmo com seu corpo. Precisamos nos esforçar para nos tornar uma
força livre no espaço. Uma força livre significa simplesmente
um poder livre que não se bloqueia, e que, portanto, é capaz
de retornar à [participar
conscientemente da]
Ação comum da Vida, que é a única Ação
que existe.
A
ajuda sobrenatural [que
costumamos implorar], de
fato, simplesmente, [já
está em nosso interior, e] consiste em nos libertarmos
das tensões, [basicamente,
desejos, cobiças e paixões], por meio das quais
todos nós nos fechamos em nós mesmos. A verdadeira coragem
é viver sem adotar atitudes, a coragem de Servir ao Intangível
com devoção ampla e completa, ou, em termos mais simples,
a liberdade absoluta de Servir ao Princípio sem hesitação.
[Isto significa
compreender qual é e Servir ao Propósito-Plano Shambálico-Hierárquico].
Enfim, esta é a única coragem verdadeira. O indivíduo
que está preso a atitudes [comportamento
ditado pelas nossas miragens e ilusões] não as
possui; ele pode ser corajoso e covarde ao mesmo tempo, e aqui está
um ponto interessante de semântica. O que comumente chamamos de coragem
é apenas heroísmo –
a força para remover o medo, por meio do esforço.
A verdadeira coragem, porém, não precisa se livrar do medo,
porque não o conhece. A verdadeira coragem está firmemente
alicerçada em estarmos livres das nossas próprias influências
intimidadoras e interesses retrogressivos.
A
Natureza não é apenas uma coisa profunda, mas, como toda profundidade,
é também uma superfície ilimitada.
Se,
com Sabedoria, aprendermos as lições que a Natureza e a vida
nos ensinam a cada instante, o quadro que pintarmos terá coesão;
mas, se não tiver coesão, então, teremos que recomeçar.
Por
que estamos nos tornando uma raça de hipocondríacos, tanto
que o menor sintoma nos faz entrar em pânico em relação
a alguém ou a algo? A resposta é óbvia: porque estamos
nos tornando cada vez mais dependentes de fatores, elementos e condições
externos a nós mesmos. Por causa de certas idéias falsas,
temos, inclusive, sido levados na direção oposta à
própria verdade.
Sabemos
muito sobre muitos assuntos diferentes, mas, a maior parte do nosso conhecimento
é, em última análise, inaplicável, porque não
toca no assunto essencial: o Ser. E saber todas as outras coisas e ignorar
o Ser é viver sobrecarregado caminhando para um verdadeiro desastre.
Não
há nada pior do que, continuamente, perpetuarmos normas e padrões.
[Precisamos
aprender a conhecer O-QUE-É.]
Romper
com todo esse desperdício com o qual carregamos nosso próprio
pensamento é a ação mais marcante e vital de nós
mesmos [para
nós mesmos. Por isto repito: precisamos aprender a conhecer O-QUE-É.]
Uma
pequena porcentagem de seres humanos, de fato, pode precisar de Psicoterapia,
porém, a maioria das pessoas estaria em boas condições
para se emancipar, se pudesse compreender e aplicar os conceitos ensinados
pelo Zen.
Às
vezes, de repente, poderá acontecer um Lampejo de Compressão,
por meio do qual a pessoa fica instantaneamente livre de um determinado
erro de conduta, que, até aquele momento, dominava seus processos
intelectuais. Assim, há uma espécie de Luz Intensa de curta
duração, uma súbita Inspiração de Compreensão
pela qual, para nós, significa que uma Vasta Luz despertou dentro
de nós, e, pela primeira vez, Compreendemos. Esta Luz faz parte da
busca pela Virtude Inteligente a que se referem os poetas chineses. No entanto,
sem esta experiência imediata e dinâmica de consciência,
somos incapazes de quebrar a seqüência de eventos pelos quais
estamos amarrados a um amplo estado de existência miraginal e ilusório.
Deveremos
pescar? Sim, sempre, continuamente. Mas, onde deveremos pescar? No único
oceano que está inteiramente disponível para nós: nossa
natureza interior. Mas, deveremos pescar sem anzol, sem a intenção
de trazer o peixe à supefície e muito menos de matá-lo.
Na verdade, o anzol é a nossa mente, que não está interessada
na pesca em si, mas, em pescar peixes, em pescar pensamentos. Todavia, é
dever da mente alimentar os peixes, não fisgá-los. É
dever da mente explorar este mundo interior sem danificá-lo, sem
criar qualquer mal, sem destruir o direito de qualquer outro ser viver.
Nas profundezas de nosso misterioso oceano interior, existem seres que nunca
vêm à superfície. O Zen acredita que o subconsciente
do homem, como os oceanos da Terra, é uma região amplamente
povoada, e os seres que aí existem fazem parte da nossa subjetividade.
Portanto, abaixo da superfície de nossa objetividade, existe, dentro
de nós, um vasto Universo subjetivo –
um
Universo, certamente, mais esplêndido do que aquele que conhecemos.
Temos que conhecê-Lo, aprender a entendê-lo e apreciar suas
necessidades e seus propósitos. Mas, não deveremos intencionar
conquistar o nosso oceano interior, a nossa própria vida interior,
o nosso subconsciente interior, que, de fato, está amalgamado com
o subconsciente de todos os seres vivos. Deveremos, sim, sempre explorá-lo
um pouco, e tentar entender algo mais sobre ele.
Em
algum momento remoto, sob certas circunstâncias curiosas, surgimos
como seres objetivos, do subconsciente de nós mesmos, e assim, desta
forma, de forma simbólica, todo o conteúdo subjetivo de nossas
vidas é arquetipicamente o símbolo dos universais, dos eternos,
da imensidão das profundezas e, em um certo sentido, do Mistério.
Não
devemos permitir que o elemento de mistério tome conta da nossa mente
e nos leve à superstição, [e
a temer coisas inócuas, depositando confiança em coisas absurdas,
sem nenhuma relação racional entre os fatos e as supostas
causas a eles associadas].
Precisamos pôr um fim definitivo em todas as especulações
vãs que possam levar à miséria, ao arrependimento,
ao medo, à ansiedade e à doença. Não há
qualquer razão para supor a existência de ameaças. [A
suposição da existência de ameaças advém
da desrazão.] O
único perigo que existe é a nossa própria imaginação,
que poderá nos induzir a admitir hipoteticamente um plano desconhecido
repleto de demônios, de monstros, de fantasmas e de sombrações,
e, então, nos aprisionar em uma mortal luta para sobreviver diante
das sombras que nós mesmos mentalmente inventamos.
O
nosso misterioso subconsciente é ilimitadamente mais poderoso do
que as coisas objetivas. Ainda assim, com todo o seu poder, ele é
estranhamente simples e benevolente, quando se trata do homem. Ele nunca
descarrega nenhuma torrente de miséria, de infortúnio ou de
aflição sobre o homem, simplesmente em virtude de sua própria
natureza ou existência. O homem engendra essas coisas apenas por sua
própria interpretação [equivocada]
do
subconsciente.
O
nosso subconsciente é meramente a inversão de nossa própria
consciência, ou seja, nossa própria consciência refletida
dentro de alguma substância sutil tendo pouca ou nenhuma identidade
de si mesma.
Ao
ficarmos cara a cara com o conhecimento direto do valor ou da própria
realidade, instantaneamente, todas as incertezas, opiniões, dúvidas
e elucubrações se tornam desnecessárias.
As
coisas que realmente são lembradas por uma pessoa são aquelas
que, de alguma forma, significam algo para ela.
Você
já reparou que aquilo que não tem significado para nós
[aquilo que
não compreendemos] não
costuma ser nem fica profundamente registrado em nossa estrutura de memória?
O que não podemos usar é facilmente esquecido, o que não
parece ter nenhum propósito prático para nós não
é registrado e aquilo de que discordamos tem uma tendência
terrível a desaparecer da memória. Desta forma, a memória
é algo altamente condicionado. Nós nos lembramos do que precisamos
lembrar. Lembramo-nos daquilo a que queremos dedicar tempo e esforço
para imprimi-lo na consciência, mas, raramente, nos interessamos em
imprimir na consciência alguma memória desfavorável
às nossas próprias atitudes ou aos nossos próprios
desejos. Isto ocorre porque uma boa parte dos conselhos que não queremos
seguir é rapidamente esquecida, enquanto maus conselhos de que gostamos
são sempre lembrados.
Se,
temporariamente, pudermos interromper a nossa consciência objetiva,
acessaremos o que está encerrado no nosso subconsciente, e, inclusive,
o que está submerso na memória do próprio Uni[multi]verso.
Se permitirmos que o subconsciente
opere de sua própria maneira, muito conhecimento, geralmente desconhecido,
retornará, para que possa ser usado quando for necessário.
Este é o estado de verdadeira Paz Profunda.
A
pessoa média, em suas horas de vigília, nunca ou raramente
está quieta, integrada e não é especialmente observadora
– particularmente
sobre sua própria vida interior –
e quase
nunca é meditativa. Ela vive em um estado de contínua turbulência
intelectual e emocional. Está constantemente agitando a superfície
da água, explodindo em tempestades com seus próprios pensamentos
e emoções. Portanto, não é capaz de experimentar
a Natureza e não é capaz de se sentir parte da Natureza viva.
Quase sempre se sente com algo que assusta a vida, que destrói o
conteúdo normal das coisas e que se obriga, por sua própria
ação, a viver sempre em um mundo artificial.
[Tudo
isto quer dizer que, de modo geral, as pessoas desconhecem o Silêncio
Interior. A tenebrosidade insuperável disto é que, sem quietude,
sem paz interior e sem mergulharmos no Silêncio, não poderá
haver Compreensão, e sem Compreensão, nada feito, porque a
Porta está fechada e só há barulho, tanto dentro quanto
fora, e, portanto, não poderá acontecer a Libertação
pelo Entendimento. O pior e o mais dramático nesta coisa toda é
que, de noite, ao dormirmos, voamos pela barriga, e o nosso sono, que deveria
ser Espiritual e revigorante, se torna um sono catártico e doentio,
repleto de sonhos aflitivos e de pesadelos angustiantes –
uma espécie de prenúncio do que poderá ser o intervalo
no Plano Astral, depois da morte ou transição.]
As
pessoas, de maneira geral, nunca estiveram nem estão em paz com a
vida, e, por isto, não podem perceber como é maravilhoso estar
em paz com a vida.
O
nosso mundo interior é um mundo de coisas esquecidas. É o
mundo interior da Beleza, da Verdade, da LLuz e do Amor. Mas, não
há qualquer significado quando meditamos ou especulamos sobre o nosso
mundo interior objetiva e intelectualmente. Entretanto, se pudermos ir mais
fundo em nós mesmos, poderemos descobrir que estes valores sempre
estiveram lá, estão lá e sempre estarão lá,
porque estes valores são eternos. Só pela quietude, pela meditação,
pela paz profunda e pelo mergulho dentro de nós mesmo poderemos começar
a ter consciência de nossa própria eternidade, de nossa própria
existência além do espaço-tempo e de qualquer outra
condição, [ou,
em outras palavras, de nossa própria Divindade].
Se pudermos manter um contato ocasional com essas coisas internas, isto
poderá nos ajudar imediatamente na compreensão e na solução
de problemas externos da nossa existência neste Plano.
O
Uni[multi]verso
da Verdade realmente existe. E, quando Ele é conhecido, passa a ser
aceito, não por reverência, não por persuasão
intelectual, mas, apenas por causa do impacto pessoal imediato derivado
da própria experiência. Nós passamos a Saber. E, num
único lampejo de Verdade, o Conhecimento Absoluto dissipa toda a
ignorância e vence toda a ignorância.
Por
que não conseguimos mudar? Porque, entre uma experiência interior
espiritual mais profunda e o nosso estado atual [miralusional
= miraginal + ilusório],
existe um extenso mecanismo de hábitos mentais e emocionais que insistem
na perpetuação de si próprios. Eles estabelecem uma
série de reações em cadeia, que se estendem do passado
ao presente e do presente ao futuro. De maneira geral, somos impotentes,
pois, estamos dominados e estamos escravizados pelas pressões dos
nossos próprios hábitos [adquiridos
ou fabricados, mas, amamentados por nós]. Somos incapazes
de nos desembaraçar deles, e é quase impossível para
nós desenvolver a energia moral suficiente para permitir uma reintegração
de nossa própria natureza [em
nós mesmos]. Nosso conflituoso senso de derrotismo é
tão forte, que nem sequer queremos tentar, pois, não temos
continuidade mental [persistência
+ constância] para que possa acontecer a mudança.
Nossa memória falha, e, simplesmente, não conseguimos manter
a mente em um elevado padrão de autodisciplina, mesmo que queiramos.
Nossos 'insights' escapam da nossa atenção, e quase imediatamente
se dissipam, pois, em nós, não há consistência,
nem força interior, nem resolução para suportá-los.
[Mas, se
formos capazes de reconhecer estas fraquezas, com certeza, teremos dado
já um grande passo em nossa autolibertação.]
Uma
vez que começarmos a viver de acordo com as Leis Cósmicas,
descobriremos que estas Leis nos servem inteiramente. Descobriremos que
estamos colocando em ação Princípios Eternos que se
tornam forças benevolentes na ação e nas conseqüências.
No momento em que formos capazes de fazer até mesmo um pequeno progresso,
notaremos um ganho semelhante na serenidade interior de espírito.
Talvez, este progresso não seja tão rápido ou tão
imediato quanto desejaríamos, mas, é evidente e imperdível.
Precisamos
nos livrar do anzol mental com o qual tentamos nos ligar às coisas
ou as coisas a nós mesmos.