Nossa descoberta dos valores práticos do Zen se desdobra
de acordo com um plano de dez passos, a saber: 1º) necessidade interior
premente de entender as coisas mais ampla e concertadamente do que agora
nós entendemos; 2º) compreensão necessária das
Leis Uni[multi]versais
para a nossa segurança interna; 3º) perceber que a paz interior
só pode ser alcançada através do controle correto [compreensão]
dos nossos pensamentos e das nossas emoções; 4º)
perceber que o caráter não pode ser aprimorado sem autodisciplina
[o que não significa
eremitismo, auto-repressão, autoflagelação etc.]; 5º)
colocar a vida mental, a vida emocional e a vida física sob o controle
de um Propósito [e
de um Plano] Illuminados;
6º) perceber que o controle sobre os pensamentos e as emoções
pode ser obtido sem ênfase e/ou tensão de qualquer
coisa; 7º)
confirmação de que o controle correto [compreensão]
torna possível a condição de paz interior
profunda e completa, reduzindo, gradativamente, o poder de fatores externos
[miragens + ilusões
(que também são internas)];
8º) percepção de que através da quietude
[quietação
= comedimento, modéstia, sobriedade, harmonia, concórdia,
entendimento etc.] é possível se tornar receptivo
a toda Beleza e a toda Sabedoria do Uni[multi]verso;
9º)
experiência de que existimos eternamente no Espaço-Tempo [Unimultiversal],
e que a Verdade, a Felicidade e a Paz chegam até nós por meio
da aceitação completa de um Plano[-Projeto]
Uni[multi]versal
e suas Leis; e
10º) experiência de que a Consciência Pura, além
da vontade própria e do propósito próprio, nos leva
[relativamente] à
união com a Realidade Indizível.
O
Zen só passará a ter um significado especial para nós,
quando percebermos que a Natureza nos dotou de todos os recursos necessários
para termos uma existência serena [e
produtiva].
Só
alcançaremos uma completa liberdade mental se/quando
tivermos um pensamento correto.
[Ego = Zero].
Em
outras palavras: só
alcançaremos uma completa liberdade mental se/quando
nos libertarmos da tirania dos nossos pensamentos e das nossas emoções,
[ou seja, basicamente,
quando nos libertarmos dos
nossos desejos, das nossas cobiças e das nossas paixões].
Então,
descobriremos
a verdadeira felicidade.
O
Zen
é uma doutrina de ação direta, e a chave é o
[Eterno]
Agora
[O-que-é].
Este é o momento em que podemos agir. O Agora nunca pode ser o passado
nem o futuro. O tempo passa, mas, o Agora sempre fica conosco. O homem é
um ser que só pode viver no Agora; tudo o mais é uma ilusão
psicológica. [Miragem
+ Ilusão = Miralusão.] O que o homem chama
de passado é simplesmente a memória que ele tem do Agora.
O que o homem chama de Futuro é a esperança que ele tem de
um momento no Agora. Somos não-contemporâneos apenas porque
estamos amarrados a algo fora de nós mesmos: o tempo [que
não é TEMPO]. E
o tempo [ilusório]
se torna o maior tirano de nossas vidas. Alguns dirão
que precisamos da instrução moral do passado e do encorajamento
da esperança no futuro, para que possamos nos mover adiante na vida.
O Zen não descarta inteiramente o passado e o futuro, mas, insiste
que a única razão pela qual nos apoiamos tanto neles é
porque o presente, para nós, é um vazio. Se tornarmos o presente
dinamicamente correto [efetivo],
o que era bom no passado perdurará e o resto cessará.
Se agirmos corretamente no presente, o que for necessário para o
futuro virá naturalmente. Mas, como nós poderemos nos libertar
do ontem e do amanhã, para que possamos viver no Agora? O Zen responde
a isto com o conceito de Aceitação
Dinâmica. A Aceitação
Dinâmica é uma aventura de aceitação,
[sem desejos, cobiças,
paixões ou restrições]. A Aceitação
Dinâmica é um processo permanente de descoberta
não apenas de o que precisamos saber, mas, também, de o que
queremos saber. [Na realidade,
a Aceitação
Dinâmica é
tão-somente compreender O-que-é].
Compreender
como funcionam as Leis Universais é sempre o melhor caminho. [Na
verdade, de fato, é o único caminho.]
Compreender como funcionam as Leis Universais é ser sábio;
obedecer as Leis Universais é ser virtuoso. Através da observação
correta, da compreensão concertada e da prática serena das
Leis Universais, nos tornamos mais atentos aos acontecimentos do cotidiano,
descobrindo a verdade, não no extraordinário, mas, no ordinário.
Teorema
de Pitágoras
Enfrentando
a turbulência mundana, o discípulo Zen declara: Isto
não sou eu, e porque isto não sou eu, isto não pode
perturbar minha consciência, a menos que eu permita.
Precisamos
Compreender e Amar as Leis Universais
que ainda tememos. Talvez, o primeiro passo seja aceitar o conceito do Zen
de Movimento Universal, que é eterno, e, portanto, a mudança
é inevitável. O homem é um ser que muda eternamente
em um mundo que muda eternamente [em
um Unimultiverso que muda eternamente];
no entanto, em sua mente, ele teme e rejeita a mudança,
[porque teme o que desconhece e não compreende]. Em nossa
vida diária, o conceito de Movimento Universal Eterno nos dá
uma nova perspectiva de vida e, embora não signifique uma mudança
óbvia no que fazemos diariamente, significa uma mudança de
atitude, por trás do que fazemos. Se compreendermos que o Uni[multi]verso
é mutável, e se compreendermos que é perfeitamente
correto que todas as coisas mudam, nós nos libertaremos do esforço
desesperado para prevenir experiências que não podem ser evitadas.
Particularmente, na esfera mundana, o novo tem que vir e o velho tem que
ir, pois, não há nada imutável, mas, sempre, mudança-em-si.
Definitivamente, as mudanças sempre são corretas, necessárias,
boas [e
inevitáveis]. O constante aparecimento e desaparecimento
das coisas não é um espetáculo sem-fim de tristezas
e perdas, mas, é uma evidência contínua do perfeito
cumprimento das Leis Universais. Em um mundo de movimento eterno, o homem
está em um estado de sempre realizar o que ainda não foi realizado,
deixando sempre para trás o que já foi realizado. Enfim, o
homem cresce porque o Ser dentro dele cresce, e este Ser se torna um pouco
mais sábio a cada dia. Seria mesmo uma inutilidade e uma tristeza
incomparável, se o ritmo de vida não nos impulsionasse a seguir
o caminho que leva além das estrelas!
A
ênfase
em uma ilusória realização individual à custa
do bem comum leva a uma atitude agressiva, [personalista
e covarde]
em relação à vida [e
à VIDA]. Há mesmo algo de melancólico nessa
idéia de dedicar um esforço desesperado para colher propósitos
escusos e egoístas, em um Uni[multi]verso
que, desta forma, não pode ser conquistado nem compreendido, [pois,
quem age desta maneira fica na mesma e na mesma fica].
À
medida que
reduzimos as demandas do ego, alcançamos paz de espírito.
Morrer
é se livrar da restrição contra a mudança; é
a liberdade, é a restauração do movimento. Na morte ou
transição, o ser, mais uma vez, se liberta da barreira temporária
do "posicionamento", e retorna ao estado de espaço ilimitado,
que é sua morada natural. Morrer é atravessar o portal de ilimitadas
oportunidades. Morrer é se libertar de velhas limitações.
Morrer é se libertar dos caprichos, dos velhos rancores e das opiniões
erradas do passado.
O
único reformador é aquele que está se aprimorando.
Os
antigos sábios nos deram a fórmula: Se
o corpo não é controlado, as emoções não
podem ser reguladas. Se as emoções não são reguladas,
a mente não pode ser governada. E se a mente não pode ser
governada, não pode haver libertação do sofrimento.
Todas
as Mudanças Começam na nossa Mente
A
base da segurança pessoal é a harmonia. [E
segurança
pessoal e harmonia, fundamentalmente, significam bom funcionamento
do nosso Sistema Imunológico.]
Conduta
Honrosa = Nobreza de Caráter e Pureza de Convicções.
Sempre
que deixamos de ajudar os outros por motivos egoístas, logo surgem
muitas dificuldades e os laços de amizade entre os homens são
enfraquecidos.
Jamais
deveremos ser autoritários; as palavras são mensageiros, não
soldados.
Devemos
temer mais nossas faltas e estar ansiosos por corrigi-las do que tentar
mudar a maneira de ser e de viver dos outros.
O
mais simples e o mais difícil de todos os códigos é
o código do autocontrole [da
autolimitação], e,
para isto, é necessário uma aceitação [Compreensão]
contínua
da Beleza e da Sabedoria eternas do mundo e dentro de nossos Corações,
de tal maneira que percebamos a irmandade de tudo o que vive, de acordo
com um Plano/Propósito além do tempo. No Unimultiverso,
tudo é natural, e assim, é natural que o pássaro cante
e que a flor desabroche, e é igualmente natural que busquemos felicidade
para nós mesmos e que a levemos para os outros.
O
Uni[multi]verso
é um ente eterno, em movimento eterno, em descoberta eterna, em mudança
eterna. Esta eternidade universal, sem começo nem fim, é um
estado contínuo de ser.
O
conceito de um Deus acima e de um homem abaixo não existe no Zen.
As
divindades não devem ser adoradas como déspotas arbitrários;
elas não são princípios eternos que podem ser apaziguados;
elas não são ditadoras. Elas são, na verdade, meras
partes deste grande fluxo de vida ao qual pertencemos e ao qual todas as
coisas pertencem. [Unimultiplicidade.]
No
Budismo, não existe a paternidade de um Deus onipotente; o conceito
de Divindade está relacionado com a irmandade dos seres humanos,
pois, deuses e homens são irmãos, e o que chamamos de Deus
é meramente o arquétipo exaltado da nossa própria bondade,
não em um tipo separado de criação especial para criar
os homens. De acordo com o Budismo, o homem e os deuses não foram
criados, assim como o Jardim não foi criado. Tudo cresce e se desenvolve
em um ambiente vasto e ilimitado, que chamamos de "criação".
[Talvez,
para uma pessoa religiosa, as duas coisas mais difíceis de serem
compreendidas sejam os conceitos de ex
nihilo nihil fit (nada surge do nada) e o de um Unimultiverso
finito, porém, ilimitado, que, na origem sem origem, é energia.]
Na
origem sem origem,
tudo é energia incriada.
Desta energia incriada sem origem,
tudo vem à manifestação.
Findo o ciclo de manifestação,
tudo acaba retornando
à energia incriada sem origem.
De fato, não existe vida
e não existe morte.
Não existe nada
e não existe tudo.
Não existe ontem
e não existe amanhã.
Não existe 1 + 1 = 2
e não existe 1 – 1 = 0.
Não existe Deus
e não existe demônio.
Não existe céu
e não existe inferno.
Não existe salvo
e não existe condenado.
Existe, sim, sempre,
tão-somente
E, nesta
indestrutivelmente, se expressa
a beleza da
A
maior
fé [confiança]
de
todas é a fé [confiança]
que não tem propósito. [Fé
Categórica.] É uma fé [confiança]
que nada pede de nós para a demonstração
de si mesma. É uma fé [confiança]
que simplesmente é, pois, é uma realização
interior constante, ininterrupta, imortal.
Para
os primeiros e antigos samurais, não havia diferença entre
a guerra e a paz e entre um momento de fortaleza ou de debilidade: eram
a mesma coisa. Para nós, o que isto significa, simboliza e importa?
Significa, simboliza e importa que, em nossa vida, entre outras coisas,
o medo-em-si não deve existir, mas, sempre, sim, apenas um estado
de contínua coordenação, de absoluta dedicação
ao dever e de permanente realização de todos os tipos de boas
obras. O homem que se esquece
de si mesmo e se coloca a serviço de uma causa maior do que ele mesmo
já é, por si, Imortal. Nada pode perturbá-lo,
pois, ele é-está imune a enfermidades, maldades e sofrimentos.
Tudo isto se resume e é representado pelo Código Bushido1
[,
desenvolvido entre os séculos IX e XII],
ou seja, de que todos nós devemos nos dedicar a algo além
de nós mesmos, a
um ideal superior a nós mesmos,
e, no caso do Budismo,
significa a própria Integridade Universal.
Como
um Artista Experto, na vida, precisaremos e deveremos alcançar um
ponto tal de perícia, no qual não teremos mais consciência
do Pincel. [Nós
e o nosso Pincel deveremos nos tornar uma Unidade.] E
ao pintarmos [o
nosso destino],
não poderemos sentir medo, pois, o medo destruirá a nossa
Arte. Como pintores dos nossos destinos, não poderemos ter dúvidas
ou hipotéticas intenções. Deveremos trabalhar [Lutar
o Bom Combate] e nos transmutar continuamente, sem interrupções,
com uma visualização interna completa e concertada do que
desejamos realizar e nos tornar.
A
matéria (faculdade ou atitude) e o objeto (a coisa pensada ou vista),
unidos, levam a um estado particular de consciência. Conseqüentemente,
o mundo, visto de fora, é apenas aquilo que as nossas faculdades
são capazes interpretar. Portanto, tudo o que é externo existe
para nós apenas por causa das nossas faculdades. E estas faculdades
são o resultado pelo qual a pressão de dentro atua para fora.
Elas também são o resultado pelo qual as pressões do
mundo agem sobre nós. E assim, qual é a causa singular de
angústia no mundo? O Zen responde: a atitude, o que significa que
o indivíduo pára de se mover. Onde quer que haja uma atitude,
a circulação da Vida é alterada, podendo, em muitos
casos, ser prejudicada. Precisamos aprender a nos livrar da atitude, que
é a raiz de todos os nossos problemas, pois, ela faz com que nos
detenhamos em algum lugar. Este é o problema: permitir que a nossa
mente nos domine pela importância que damos ao nosso próprio
pensamento [e
à nossa cultura pessoal]. Desta
forma, a lealdade à atitude [ao
nosso pensamento e à nossa cultura] obstaculiza a circulação
da Vida, interfere em o que realmente estamos buscando e nos impede se ser
pessoas melhores do que somos. A atitude é uma parada, um estacionamento,
[uma espécie morte
em vida], que quebra o ritmo da nossa existência. Mas,
é possível viver sem atitudes? Sim, porém, para conseguir
isto, devemos fazer o que os antigos samurais faziam: colocar nossa confiança
em Algo além de nós mesmos. No momento em
que a nossa atitude não significar mais nada para nós, porque
nossa atenção está focalizada em Algo Mais
Elevado, então, nos tornaremos livres desta fixação,
já que todas as atitudes procedem do ego. Precisamos compreender
que todas as nossas atitudes estão arraigadas no egoísmo –
o inimigo mortal do Movimento Universal, que é nossa
Verdadeira Vida e a Verdadeira Razão de
nossa Existência. [Este
estudo se resume ao seguinte: na vida, precisamos nos esforçar, buscar
e tentar compreender
não
o-que-foi
nem o-que-será.
[Se ou quando compreendermos
haveremos
de compreender porque foi e como e quando será. O tempo objetivo
como todos os deuses criados por nós são uma mistura de miragem
+ ilusão, e, assim, o passado e o futuro, como os deuses por nós
inventados, são estados temporais inexistentes e entidades irreais.
O Unimultiverso é um eterno agora, e, in potentia, todas
as suas micromanifestações, do bóson a uma galáxia,
são Divindades.]
Com
as nossas atitudes como instrumento, pintamos uma situação
mental, e a projetamos. Então, o mundo que nos rodeia e tudo o que
fazemos são, segundo o Zen, desenhos executados pelos pincéis
das nossas atitudes. Desenhamos as nossos atitudes, e, depois, elas se cristalizam
em estruturas, que são o nosso modo de ser.
Se
dermos uma espiada lá fora, no limite de nossa própria neurose,
encontraremos dois verdadeiros olhos neuróticos olhando para nós
no espelho da Natureza.