Este estudo se compõe da 9ª parte de uma coletânea de fragmentos garimpados (e, eventualmente, ligeiramente editados e comentados) na obra Assim Falou Zaratustra: um Livro para Todos e para Ninguém (em alemão: Also Sprach Zarathustra: Ein Buch für Alle und Keinen), escrito entre 1883 e 1885 pelo filósofo, filólogo, crítico cultural, poeta e compositor prussiano do século XIX Friedrich Wilhelm Nietzsche (Röcken, Reino da Prússia, 15 de outubro de 1844 – Weimar, Império Alemão, 25 de agosto de 1900), que influenciou significativamente o mundo moderno.

Friedrich Wilhelm Nietzsche (Röcken, Reino da Prússia, 15 de outubro de 1844 – Weimar, Império Alemão, 25 de agosto de 1900) foi um filósofo, filólogo, crítico cultural, poeta e compositor prussiano do século XIX, nascido na atual Alemanha. Escreveu vários textos criticando a religião, a moral, a cultura contemporânea, a filosofia e a ciência, exibindo uma predileção por metáforas, ironias e aforismos.

 

Suas idéias-chave incluíam a crítica à dicotomia apolíneo/dionisíaca, o perspectivismo, a vontade de poder, a morte de Deus, o Übermensch (Além-homem, Super-homem ou Sobre-homem) e o eterno retorno. Sua filosofia central é a ideia de afirmação da vida, que envolve o questionamento de qualquer doutrina que drene energias, não importando o quão socialmente predominantes essas idéias poderiam ser. Seu questionamento radical do valor e da objetividade da verdade tem sido o foco de extenso comentário, e sua influência continua a ser substancial, especialmente na tradição filosófica continental, compreendendo o Existencialismo, o Pós-modernismo e o Pós-estruturalismo. Suas ideias de superação individual e de transcendência além da estrutura e do contexto tiveram um impacto profundo sobre pensadores do final do século XIX e início do século XX, que usaram estes conceitos como pontos de partida para o desenvolvimento de suas filosofias. Mais recentemente, as reflexões de Nietzsche foram recebidas em várias abordagens filosóficas que se movem além do Humanismo, por exemplo, o Transumanismo.

Tudo vai; tudo retorna. A roda da existência gira eternamente. Tudo morre. Tudo torna a florescer. Correm eternamente as estações da existência. Tudo se destrói; tudo se reconstrói. Eternamente, se edifica a mesma casa da existência. Tudo se separa; tudo se saúda outra vez. Fiel a si mesmo, o anel da existência se conserva eternamente. Em todos os momentos, a existência principia. O Centro está em toda parte. [Por isto, o Unimultiverso é; não foi e não será.]

 

 

Em toda acusação há uma espécie de prazer.

 

O mal [as experiências educativas dolorosas] é necessário para o maior bem do homem. É mister que o homem se torne bom e melhor.

 

Todos nós já existimos uma infinidade de vezes, e todas as coisas conosco.

 

Há um grande ano do acontecer, que, à semelhança de um relógio de areia, tem sempre que voltar novamente e se esvaziar outra vez. Todos os grandes anos são iguais a si mesmos.

 

O nó das causas em que nos encontramos enlaçados torna sempre a nos criar novamente! [Na verdade, todos nós somos os efeitos das causas que criamos.]

 

Todos nós fazemos parte das causas do eterno regresso das coisas.

 

Precisamos aprender como e ter coragem de estrangular o estrangulador!

 

Todo o pranto é uma queixa. Toda a queixa é uma acusação.

 

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei a preguiça.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei a canseira.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei a tempestade.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei a negação.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei a escuridade.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei a incontinência.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei a genuflexão.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei o servilismo.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei a boçalidade.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei a imitação.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei a mentira.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei a insolidariedade.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei o egoísmo.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei a imisericórdia.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei a dissintonia.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei a 'vendetta'.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei a conspirata.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei a paúra.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei a melancolia.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei o queixume.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei a dolência.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei a ansiedade.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei a acusação.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei a crueldade.

— Aprendi como, tive coragem
e estrangulei o meu demônio.

— Aprendi como, tive coragem
e continuei estrangulando...

 

O ruído assassina os pensamentos...

 

Eu te amo Eternidade, anel dos anéis, anel do regresso!

 

Existe, em mim, essa paixão investigadora que impele a vela para o desconhecido! A caminho, velho Coração!

 

O meu e o meu é tornar leve tudo quanto é pesado!

 

Pobres dos que amam sem que a sua [personalidade-]alma esteja acima de sua piedade!

 

Deus também tem o seu inferno: é o seu amor pelos homens. Deus morreu; matou-O a sua piedade pelos homens.

 

O mel que tenho nas veias é que torna mais espesso o meu sangue e torna mais silenciosa a minha [personalidade-]alma.

 

Oh! Tão rico é o mundo em prodígios grandes e pequenos!

 

Não devemos ter vergonha. Se somos bons, devemos nos mostrar como somos e quem somos.

 

Nem impacientes, nem pacientes; apenas, devemos esquecer a paciência, [porque, esquecendo a paciência, não ficamos impacientes e não sofremos.]

 

Hoje ou nunca! Por quê?

 

Risonho silêncio! Silêncio sem nuvens!

 

Horror! O que valem os reis?

 

Não há calamidade mais dura em todos os destinos humanos do que quando os poderosos da Terra não são, ao mesmo tempo, os primeiros homens. Então, tudo se torna falso e monstruoso; tudo anda ao invés.

 

Antes não saber nada do que saber muitas coisas por metade! Antes ser louco por seu próprio critério do que sábio segundo a opinião dos outros!

 

 

 

 

A inteligência é a Vida que escarifica a própria vida. [Neste caso, bendita escarificação!]

 

Para que servem os foles, se deles apenas sai vento?

 

Aflição mascarada é coisa de sacerdotes.

 

Comprazer-se com recordações é viver em uma prisão.

 

Zaratustra foi o mais piedoso de todos os que não acreditam em Deus!

 

Como? Como é possível que um Deus seja ríspido e sedento de vingança? Como? Como é possível que um Deus tenha criado um inferno para deleite dos seus prediletos?

 

 

Continua...