VIVER SEM TEMOR
(
2ª Parte)

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução e Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo se constitui da 2ª parte de um conjunto de fragmentos garimpados e eventualmente comentados na obra Viver Sem Temor, de autoria de Jiddu Krishnamurti.

Breve Biografia

 

 

 

Jiddu Krishnamurti

Jiddu Krishnamurti

 

 

 

Jiddu Krishnamurti (Madanapalle, 11 de maio de 1895 – Ojai, 17 de fevereiro de 1986) foi um filósofo, escritor, orador e educador indiano. Proferiu discursos que envolveram temas como revolução psicológica, meditação, conhecimento, liberdade, relações humanas, a natureza da mente, a origem do pensamento e a realização de mudanças positivas na sociedade global. Constantemente, ressaltou a necessidade de uma revolução na psique de cada ser humano, e enfatizou que tal revolução não poderia ser levada a cabo por nenhuma entidade externa seja religiosa, seja política, seja social. Uma revolução que só poderia ocorrer através do autoconhecimento, bem como da prática corretada meditação do ser-humano-aí-no-mundo liberto de toda e qualquer forma de autoridade psicológica.

O cerne dos seus ensinamentos consiste na afirmação de que a necessária e urgente mudança fundamental da sociedade só poderá acontecer através da transformação da consciência individual. A necessidade do autoconhecimento e da compreensão das influências restritivas e separativas das religiões organizadas, dos nacionalismos e de outros condicionamentos foram por ele constantemente realçadas.

 

 

 

Fragmentos Krishnamurtianos

 

 

 

As idéias, certamente, têm uma certa função superficial. É evidente, porém, que elas não atingem os nossos impulsos e móveis mais profundos, as coisas que realmente queremos, não operando, assim, uma transformação ou uma revolução radical em nossas atitudes perante a vida.

 

Uma mudança de acordo com algum padrão de pensamento ou com algum desejo não adianta bulhufas. A mudança só é de fato uma MUDANÇA quando opera do conhecido para o desconhecido. Em nosso interior tem de nascer-surgir um processo inteiramente diverso, para que possamos enfrentar qualquer crise (seja pessoal, seja mundial), e o nascimento deste processo não pode ser provocado pela mente consciente. [Por que isto é assim? Porque a mente consciente está imersa em um oceano de fantasias, de miragens e de ilusões.]

 

Todo ato de vontade é condicionado pela nossa experiência, pela nossa educação e pelas nossas influências sociais, [o que vale dizer, pela nossa cultura], e já que é condicionado, limitado, não poderá produzir qualquer transformação, por mais que nós tentemos.

 

 

Transformação

Transformação

 

 

Nenhuma mudança poderá ser bem-sucedida se for ou estiver estribada no nacionalismo ou em qualquer religião.

 

 Eu quis mudar,
mas, me disseram:
você não pode isto.
Eu quis mudar,
mas, me disseram:
você não pode aquilo.
Então, eu continuei
na mesma, fazendo
os velhos isto e aquilo!

 

 

 

O que acontece quando não encontramos segurança, paz e permanência? Se não encontramos segurança, paz e permanência, nos voltamos para os ideais, para a projeção dos nossos anseios e desejos, e aí nos abrigamos, seja na idéia de Deus, seja em uma crença, seja em um dogma, seja em uma virtude, [seja em qualquer outra hipótese inventada.]

 

A grande questão é: a paz vem com a segurança? Ou, primeiramente, temos de encontrar a paz, que trará a segurança? Seja como for, enquanto houver esforço constante para sermos alguma coisa, seja lá que coisa for que faz ressaltar a importância do ego não haverá paz. [Esforço constante para sermos alguma coisa = apego, e o apego é o pai de todas as nossas desventuras e de todos os nossos dessossegos.]

 

Eu queria ser fortão,
mas, não tive paz.
Eu queria ser bonitão,
mas, não tive paz.
Eu queria ser presidente,
mas, não tive paz.
Eu queria ser profeta,
mas, não tive paz.
Eu queria ser salvo,
mas, não tive paz.
Eu queria ser escolhido,
mas, não tive paz.
Eu queria ser arrebatado,
mas, não tive paz.
Eu queria ser bem-amado,
mas, não tive paz.
Eu queria ser bem-aventurado,
mas, não tive paz.
Eu queria ser um ás,
mas, não tive paz.
Eu queria ser um bambambã,
mas, não tive paz.
Eu queria ser o mais esperto,
mas, não tive paz.
Eu queria ser chapa do rei,
mas, não tive paz.
Eu queria ser amante da rainha,
mas, não tive paz.
Eu queria ser picão,
mas, não tive paz.
Eu queria ser...
Mas, nunca tive paz.
Quando deixei de querer ser,
aí, então, encontrei a paz.
Sabe onde? Dentro de mim!

 

A mente que é ambiciosa, a mente que se identifica com qualquer grupo, nação, classe, crença, religião ou dogma é incapaz de ter paz, porque está sempre à procura de segurança, e com isso está sempre acentuando e fortalecendo a vontade do ego, o que, naturalmente, gera um conflito perene e insolúvel.

 

Eu quis alcançar,
e, depois de alcançar,
quis alcançar mais ainda.
Vivi sem conseguir alcançar,
e morri sem conseguir alcançar
paz, segurança e permanência,
bem-aventurança e felicidade.
Haverá bosta maior do que essa?

 

A Verdade – [mesmo que sempre, para nós, seja sempre uma conquista relativa] – é uma coisa que não pode ser imaginada pela mente, porque a mente é resultado do tempo, [que não é TEMPO], e toda projeção temporal-mental é sempre limitada, pois, é sempre resultado do passado, e, por conseguinte, não contém nada novo, não é o real, não é o estado criador.

 

Raciocinei e somei:
1 + 1 = 2.
Raciocinei e subtraí:
1 – 1 = 0.
Um dia,
não raciocinei
e não subtraí.
E acabei Compreendendo:
1 + 1 = 1.
e 1 – 1 = 1.

 

Se nos tornarmos capazes de observar, porém, sem fazer escolha alguma, de ver, simplesmente, o que está acontecendo, constataremos, então, como todo o processo do inconsciente, que se acha oculto, no escuro, sepultado nas profundezas, virá à superfície, por meio de sonhos, de sugestões, de várias formas de reação espontânea, e, ao surgirem, eles também poderão ser observados sem nenhuma tendência para a condenação ou para a justificação, sem aceitação e sem rejeição.

 

Mais uma pergunta para reflexão: A compreensão resulta do conhecimento [sistematicamente adquirido] ou surge quando a nossa mente não está mais dependente da carga do passado, possibilitando que todas as coisas nos sejam reveladas das profundezas da nossa consciência?

 

Cada um de nós deve se tornar um centro de paz, de verdadeira paz, e não aquela paz de mentira, mantida pelos exércitos e pelos Governos, no intervalo entre duas guerras. O fato é que, quando cada um de nós for capaz de compreender a si mesmo como um processo total não meramente o problema econômico ou o problema das massas, mas, o processo integral de nós mesmos, como indivíduos então, na compreensão destes processos, surgirá a paz. Só então poderá haver segurança. Se pusermos, porém, em primeiro lugar a segurança, se a considerarmos como a coisa mais importante da vida, neste caso nunca haverá paz; só escuridão e temor.

 

Ele matou;
eu o matei.
Ele me ofendeu;
eu o ofendi.
Ele escureceu;
eu escureci.
Ele perjurou;
eu perjurei.
Ele me amedrontou;
eu o amedrontei.
Ele me lesou;
eu o lesei.
Ele me feriu;
eu o feri.
Ele me prejudicou;
eu o prejudiquei.
Ele me denigriu;
eu o denigri.
Ele bifou minha paz;
eu bifei a dele.
E fizemos a guerra;
e morreram milhões!

 

Por que precisamos nos ajustar à sociedade? Por que devemos manter o atual estado de coisas? O que é a sociedade? A sociedade é produto da ânsia de aquisição, da ambição, da avidez, da inveja, da busca de preenchimento individual, de alegrias passageiras, de divertimentos variados e anestesiantes, da busca incessante, enfim, de alguma espécie de permanência neste mundo impermanente. Por que devemos manter estas coisas? Por que devemos nos adaptar a um determinado padrão?

 

Todos os problemas da Humanidade jamais poderão ser resolvidos como americano ou como iraniano, como comunista ou como capitalista, como judeu ou como muçulmano, como católico ou como hinduísta, como religioso ou como ateu, como pirata ou como papagaio de pirata, como gay ou como hétero, como Mahatma Gandhi ou como Nathuram Godse, como Yitzhak Rabin ou como Yigal Amir. Só poderemos resolvê-los como entes humanos. Se não dermos atenção ao TODO, nunca acharemos solução alguma, e, por conseguinte, teremos complicações crescentes e mais misérias.

 

O problema da educação consiste em criar uma atmosfera de verdadeira liberdade, não liberdade para fazermos o que entendermos, mas, liberdade para cultivarmos aquela inteligência que sabe enfrentar cada experiência e cada influência condicionadora enfrentá-la, compreendê-la e ultrapassá-la.

 

Quanto mais eficiente e quanto mais eficaz se tornar uma sociedade, tanto mais condicionada ela se tornará, [pois, cada vez mais, se tornará dependente desta eficiência e desta eficácia]. A liberdade só virá com a compreensão de nós mesmos, e só a liberdade nos habilitará a enfrentar sem temor todas as crises e todas as influências que nos condicionam. Precisamos compreender que a paz não é o oposto da agitação. Mas se, em vez de procurarmos a paz, formos capazes de compreender o que causa a nossa agitação [que, basicamente, são os nossos desejos, as nossas cobiças, as nossas paixões e os nossos apegos] –se formos capazes de compreender qual é o processo que faz nascer a agitação em nós, nas nossas relações, nos nossos valores, e, portanto, na sociedade, se, enfim, pudermos compreender todo o processo responsável pela agitação, então, nos libertaremos desta agitação e encontraremos a paz. [Tudo isto significa que precisamos compreender o que nos afasta da Estrada, o que gera a Noite e o que nos torna doentes.] Entretanto, procurar a paz sem compreender o processo total em que estamos inseridos, responsável pela agitação, só resultará em mais miragens e mais ilusões. O que, definitivamente, trará a paz, a verdadeira tranqüilidade e serenidade da mente, é a compreensão do processo total de nós mesmos. Mas, isto não significa buscar a paz, porém, compreendermos o nosso ego, com todas as suas ambições, as suas invejas, as suas cobiças, as suas ânsia de aquisição, com todas as suas violências, com todos os seus preconceitos e com todos os seus 'cousismos' e achismos. Compreender tudo isto é função da meditação uma meditação que deverá ser isenta de condenação e de escolha, uma meditação que deverá ser percebimento no mais alto grau, uma meditação observadora sem senso de identificação.

 

 

Sociedade Condicionada

Sociedade Condicionada

 

 

Eu não tenho um 'smartphone',
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não tenho um 'laptop',
e, por isto, me sinto muito infeliz.

Eu não entendo nada de computador,
e, por isto, me sinto muito infeliz.

Eu não tenho um carro zero,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não tenho uma bicicleta ergométrica,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não tenho um 'personal trainer',
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não tenho um Bombardier Challenger 350,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não tenho um Vacheron Constantin,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não tenho uma Aurora Diamante,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não sou sócio do Clube dos Caiçaras,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca comi ova de esturjão,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca tomei Henri Jayer Richebourg Grand Cru,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca almocei no Le Pré Catelan,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca jantei no Belmond Copacabana Palace,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca passei férias em Nova Iorque,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não tenho uma piroga de cristal,
e, por isto, me sinto muito infeliz.

Eu não conheço o rei de Pasárgada,
e, por isto, me sinto muito infeliz.

Eu não moro em Ipanema,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não vôo como o Super-homem,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não canto como o Chitãozinho,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não sou engraçado como o Jô Soares,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não jogo tênis como o Tiger Woods,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não danço como o Mikhail Baryshnikov,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca viajei à Europa,
e, por isto, me sinto muito infeliz.

Eu não conheço a Disneylândia,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca vi um show do Roberto Carlos,
e, por isto, me sinto muito infeliz.

Eu nunca elegi o meu candidato,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não tenho um bom salário,
e, por isto, me sinto muito infeliz.

Eu não tenho a inteligência do Stephen Hawking,
e, por isto, me sinto muito infeliz.

Eu não tenho a simpatia do Silvio Santos,
e, por isto, me sinto muito infeliz.

Eu não tenho o carisma do Lula,
e, por isto, me sinto muito infeliz.

Eu não tenho a grana do Eike Batista,
e, por isto, me sinto muito infeliz.

Eu não tenho um autógrafo do Ronnie Von,
e, por isto, me sinto muito infeliz.

Eu não tenho um ar-condicionado,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não tenho uma Panela Gourmet Plus,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não tenho um 'home theater',
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não tenho uma casa de campo,
e, por isto, me sinto muito infeliz.

Eu não tenho uma gorda conta bancária,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não tenho aquilo grande,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não tenho mais cabelos na cuca,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não tenho mais a beleza de outrora,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não tenho mais o charme de antigamente,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não tenho mais a virilidade da juventude,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não tenho mais o controle dos meus puns,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca acertei no milhar,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca conquistei uma linda mulher,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca compreendi a Teoria da Relatividade,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca compreendi a Mecânica Quântica,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca compreendi a Teoria das Supercordas,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca compreendi o Cálculo,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca encontrei a Princesa Adormecida,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca compreendi o Teorema de Rolle,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca fui corajoso como o Che,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca fui importante como o de Gaulle,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca fui determinado como o Churchill,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca fui enérgico como o Patton,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca fui sábio como Sâr Hieronymus,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca fui útil como Alexander Fleming,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca pintei como o Rembrandt,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca joguei sinuca como o Carne Frita,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca fui ao Vaticano,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca recebi uma bênção especial do Papa,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu não faço milagres como o João de Deus,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Eu nunca fui eu e sempre imitei os outros,
e, por isto, me sinto muito infeliz.
Oh!, plágio! Oh!, peta! Oh!, ignorância!
Isto nunca jamais deu certo!

 

Para cada um e todos nós, a paz só virá com a compreensão total de nós mesmos, que é autoconhecimento, e este autoconhecimento não pode ser negociado nem comprado. Para isto, não precisamos de nenhum livro, nenhuma igreja, nenhum sacerdote, nenhum analista. Poderemos observar o processo de e em nós mesmos no espelho das nossas relações em tudo e com todos. Se a nossa mente estiver sempre muito atenta e vigilante, sem escolha, estaremos, então, libertos das limitações do ego, e, por conseguinte, teremos a paz, a qual traz a sua segurança própria.

 

Se e quando ouvirmos e fizermos comparações com o que achamos que sabemos, se não experimentarmos diretamente o que está sendo dito, então, não estaremos, de fato, escutando. Mas, se a coisa que está sendo dita for verdadeira, e se a escutarmos sem qualquer tipo de comparação, sem tomar notas, sem oposição e sem resistência, então, essa própria ação de escutar terá efeito libertador, sendo mesmo o começo da libertação, porquanto porá em movimento um processo de libertação da mente, ou seja, das coisas com que estamos onerados.

 

A questão é: de maneira geral, estamos sempre sendo ameaçados por uma série ininterrupta de crises raciais, individuais, familiares, religiosas, existenciais, econômicas, políticas, nacionais, internacionais etc. e, portanto, precisamos ser ou nos tornar capazes de enfrentar esses desequilíbrios com uma mente não-limitada, não-condicionada e não-carregada de crenças religiosas, de dogmas, de conhecimentos prévios, de achismos, de nacionalismos, de coisismos etc. porque, como poderão ser resolvidos os problemas da existência, se a mente for pequena, estreita, preconceituosa e limitada? Enfim, certamente, só com uma mente que esteja livre é possível atacar os problemas que surgem de maneira nova, compreendê-los de um modo inteiramente novo, porque todo problema, ainda que pareça velho, é sempre novo. Não há problema velho. Só a mente é velha, e, por isto, quando ela tem que enfrentar um problema novo, ela reduz o que é novo aos termos do que é velho, que sempre envolve atividades e raciocínios egocêntricos e mesquinhos e concepções de automelhoramento e autopreservação. Ora, isto não pode dar certo!

 

Reduzimos as religiões a meros ritos e crenças, [e não raramente a negócios e mandingas], e nossos deuses e disciplinas não nos levam à REALIDADE, mas, tão-somente à respeitabilidade. O que são todos os nossos deuses? Os nossos deuses nada mais são do que autoprojeções nossas. Criamos os deuses e seguimos ideais e crendices [inventados por nós mesmos] porque nos dão satisfação, conforto, consolação [e segurança]. Nossos deuses, portanto, não têm significação nenhuma, e as religiões se converteram em um simples conjunto de crenças e de rituais também sem qualquer significado. A influência das religiões é condicionadora, como qualquer outra influência organizada, não importa se é comunista, cristã, hinduísta ou todas as demais. O domínio dos dogmas, das crenças e dos rituais é tirânico e limitante, porquanto condiciona a mente, tornando-a restrita, [assustadiça] e trivial. O fato é que estamos sendo desafiados por problemas imensos, e os enfrentamos com as nossas mentes condicionadas, com o que tornamos estes vastos problemas em conflitos estúpidos, [insolúveis] e superficiais, multiplicando, deste modo, as nossas tribulações. Conclusão: as religiões organizadas, tal como são conhecidas, são processos de hipocrisia, e, por isto, não conduzem à REALIDADE, pois, a REALIDADE só poderá surgir se e quando a mente for livre, isto é, se e quando não estiver mais condicionada de forma alguma por coisa nenhuma. [Mais do que a REALIDADE, precisamos mergulhar na ATUALIDADE CÓSMICA.]

 

 

religiões

 

 

De maneira geral, utilizamos o saber apenas para nossos propósitos mesquinhos e para nos destruirmos mutuamente. O saber, pois, acaba se tornando um obstáculo, em vez de produzir um processo libertador.

 

 


Uma crença ou um dogma, afinal de contas, nada mais são do que meios de autoproteção. Portanto, os dogmas e as crenças têm apenas a função de nos dar segurança e de nos proteger contra a solidão e contra o temor. A mente humana, de maneira geral, está sempre em busca de sua própria segurança, seja na nacionalidade, seja nas crenças, seja nos ritos, e, por conseguinte, sempre está se fazendo mesquinha, estreita, limitada, preconceituosa e criando problemas. Então, podemos fazer alguma coisa? O que precisamos fazer? Precisamos verificar a maneira de nos libertarmos do nosso ego, cujas atividades são sempre estreitas, limitadas, interesseiras, prejulgadoras, temerosas e hipotéticas. E como isto poderá ser efetivado? Olhando os nossos problemas de maneira nova, o que significa com a mente não corrompida. Mas, isto só poderá acontecer se estivermos sozinhos e em SILÊNCIO. Enfim, a Verdadeira Revolução é psicológica, profunda, interior e silenciosa, de tal sorte que nos fará reconhecer o falso como sendo falso, fazendo, assim, surgir o Novo, o Real, o Verdadeiro, o Uni[multi]versal. Portanto, só poderemos olhar qualquer problema de maneira nova, se não deixarmos que ele se enraíze em nossa mente, isto é, sem o compararmos, sem o julgarmos, sem o condenarmos, ou seja, sem nos identificarmos com ele. A Verdadeira Compreensão jamais poderá vir ou surgir por qualquer tipo de comparação, porque comparar, em uma espécie de ação esquizofrênica, é procurar relações de semelhança ou de disparidade com o passado, e o passado sempre é condicionador [e fantasmal.]

 

Eu tinha cagaço de ladrão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de maganão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de operação,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de transfusão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de opressão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de mandão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de anteposição,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de inopção,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço da inflação,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço da deflação,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço da estagflação,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço do bicho-papão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço do macacão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de excomunhão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de confusão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de trovão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de furacão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de vagalhão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de vulcão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de inundação,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de aglomeração,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de abdução,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de afegão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de alemão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de anticristão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de arara-do-beiradão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de tubarão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de gibão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de viborão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de bandalhão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de brigalhão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de espertalhão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de espião,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de franco-mação,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de grandalhão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de ermitão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de nazistão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de lambuzão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de pagão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de paracatejê-gavião,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de velhacão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de zombeirão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de benzilhão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço da solidão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de perder a proteção,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço de ouvir um não,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço do armagedão,
então, eu ajoelhava e orava.
Eu tinha cagaço do mim mesmo,
então, eu ajoelhava e orava.

 

 

Bicho-papão

Bicho-papão

 

 

A mente pequena não pode ter a paz. A mente pequena, que pratica várias formas de disciplina, que procura a paz, jamais a encontrará. Poderá achar alguma espécie de consolação, de satisfação, mas, isso não é a paz. Enquanto o indivíduo estiver sendo impelido pelo espírito de competição, pela ambição, terá de haver conflito. Sempre que houver uma escolha, de qualquer espécie, não poderá haver paz, porque, ao escolhermos, estaremos, então, imersos no processo de adquirir e de alcançar.

 

O Real, aquilo que é verdadeiramente espiritual, não é uma coisa construida pela mente, e, portanto, não pode ser por ela praticado. Isto é simples de ser compreendido, pois, a mente, que é resultado do tempo, jamais poderá encontrar aquilo que é atemporal e ilimitado. Enfim, enquanto estivermos lutando para ser espirituais, continuaremos vulgares, mesquinhos e preconceituosos. [A Espiritualidade não se busca; se alcança. Esforço + Mérito.]

 

Quando seguimos outra pessoa, seja ela qual for, nunca encontraremos outra coisa senão aquilo que queremos encontrar, ou seja, a nossa própria satisfação. Para descobrirmos o que é verdadeiro, teremos de discernir o que é ilusório e o que é falso. Não poderemos ser guiados para descobrir o que quer que seja. Se formos guiados, não haverá descobrimento. Só haverá descobrimento quando a nossa mente estiver muito tranqüila, quando não estiver mais exigindo, quando não estiver mais pedindo e quando não tiver mais medo. [De fato, só haverá (algum) descobrimento quando pararmos de buscar. E parar de buscar significa deixar de não-ser.]

 

Assim como o nacionalismo separa os homens e gera guerras, assim também as religiões e as igrejas dividem os homens e geram antagonismos. Nada disto conduz à Paz e à Verdade.

 

Só à mente que é livre, sem medo, que está só, não corrompida e não influenciada que a Verdade [ainda que relativa] se manifestará. Logo, não adianta sair de uma gaiola para entrar em outra. Só quando formos totalmente livres, sem medo de nada, a nossa mente poderá conhecer e receber aquilo que é eterno, atemporal. Não antes.

 

 

 

 

Continua...


Música de fundo:

Música de fundo:

Symphony Nº 6 (Pastorale), em Fá Maior, opus 68
Compositor: Ludwig van Beethoven
Interpretação: DuPage Symphony Orchestra (condução de: Barbara Schubert)

Fonte:

https://imslp.org/wiki/Symphony_No.6,_Op.68_(Beethoven,_Ludwig_van)

 

Páginas da Internet consultadas:

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_religions_and_spiritual_traditions

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