PIERRE EUGÈNE MICHEL VINTRAS
(Lucubrações Comparadas)

 

por

Rodolfo Domenico Pizzinga

www.rdpizzinga.pro.br

 

Música de fundo: Adoramus Te

www.riverdale.demon.co.uk/midi.html

 

PIERRE EUGÈNE MICHEL VINTRAS

 Pierre Michel (Strathanael)
Esta obra foi um presente que recebi do meu Irmão

Vicente Velado, Abade da OS+B para o 3º Mundo
VERITAS VINCIT (A VERDADE VENCEU)

 

Quero que o homem que carrega a cruz
seja sua única vítima.
Vintras

O homem sempre esteve disposto a negar e temer
tudo aquilo que não compreende.
Thelema

 

INTRODUÇÃO

 

       Pierre Eugène Michel Vintras (1807-1875) nasceu em 7 de Abril de 1807 em Baxeux, Normandia. A França do seu tempo, século XIX, era a capital universal da razão. Sua transição ocorreu em Lyon, em 7 de Dezembro de 1875. Mas, foi no âmbito dessa mesma racionalidade que (re)floresceu o mais puro espiritualismo — Vintras como um dos expoentes — herança, certamente, de tempos que não voltarão mais, mas que estão indelevelmente presentes (porque nunca foram dissolvidos) nas consciências dos Filhos de RA. No transcorrer dos séculos XVIII, XIX e XX, místicos, Iniciados, Adeptos e Mestres Cósmicos confluíram para Paris e para outras cidades francesas. Lá, entrelaçaram-se os caminhos de muitos espiritualistas. Um deles foi Gérard Anacelet Vincent Encausse, nascido em Coruña, Espanha, em 13 de Julho de 1865, conhecido no mundo ocultista como Papus — nome do gênio da medicina do Nuctemeron, de Apolônio de Tiana — e que viria a falecer, em decorrência de grave enfermidade contraída no front da 1ª Grande Guerra, em 25 de Outubro de 1916. A França acolheu e trouxe à Luz carinhosamente em seu solo, além de Papus, Martinès de Pasqually (1710-1774), Louis-Claude de Saint-Martin (1743-1803), Stanislas de Guaita (1861-1897), François Jollivet Castelot (1874-1937), Saint-Yves D'Alveydre (1842-1909), Paul Sedir (1871-1926), Augustin Chaboseau (1868-1946), Éliphas Lèvi (1810-1875), Fabre Palaprat (1775-1838) e muitos outros, e agasalhou com moderada tolerância movimentos neotemplários, igrejas gnósticas, movimentos ocultistas e fraternidades iniciáticas. Não se pode esquecer de que Harvey Spencer Lewis (SÂR Alden) — 1º Imperator da Ordem Rosacruz-AMORC para este Segundo Ciclo Iniciático que teve início em 1915 — foi a Paris no verão de 1909 em busca de mais Luz. 1915: foi, então, anunciado o Novo Ciclo da Ordem através do PRIMEIRO MANIFESTO OFICIAL e eleito o PRIMEIRO CONSELHO SUPREMO. Desse momento em diante, a Ordem Rosacruz passou a ser reconhecida em todo o mundo pelo seu legítimo título: ANCIENT MYSTICAL ORDER ROSÆ CRUCIS, forma abreviada do título latino ANTIQUUS ARCANUS ORDO ROSÆ RUBÆ ET AURÆ CRUCIS.

       Eugène Vintras nasceu exatamente quando os estandartes de Napoleão desfilavam pafiosos e triunfantes pela Europa e a França ainda não havia se recomposto inteiramente da orgia sangrenta que caracterizou a Revolução Francesa. Não é difícil imaginar a repercussão que o caos econômico-social francês, liberado há poucos anos do terror jacobino, fundamentalismo em nome do qual seus agentes justificavam seus atos brutais — nada diferente do que hoje se assiste relativamente ao embate entre as forças do eixo do bem(?) contra o presumido eixo do mal(?) — impôs à personalidade juvenil deste grande místico teurgo. Augustin Cochin (1876-1916) assim sintetiza o espírito do jacobinismo: A liberdade que mata é irmã da liberdade que aprisiona, da fraternidade que espiona, da razão que excomunga – e todas juntas formam este estranho fenômeno social que se chama jacobinismo. Como a História se repete ciclicamente, contemporaneamente, estamos todos assistindo ao mesmo jacobinismo-fanático, de parte a parte teológico-ultramontanista, desunificado e retrógrado, Bush-Blair-Usama-Sharon & Cia. Ltda. esfacelar o mundo em suas entranhas e pelas beiradas. É claro que, sempre que a sustentação distorcida mas democrática de liberdade, o utópico ideal de igualdade e o sonho sonhado de fraternidade ultrapassam perversamente o formalismo incipiente mas puramente jurídico (ainda que a Justiça e o Direito estejam em permanente construção), acontecerá — como tem acontecedido ao correr da História em diversos países — a inevitável derrapagem para o autoritarismo. Em casos mais tenebrosos sobrevém o totalitarismo, que, em certos (ou muitos) aspectos, é mais cruel e apocópico. A hereditariedade sociocrática — engendrada durante a ditadura dos Césares Romanos, que escolhiam livremente seus sucessores, escolha esta sancionada pelo exército, isto é, a massa de homens livres que dava sustentação ao poder imperial — sempre ocorreu nos regimes fortes (ditaduras autoritárias ou totalitárias, de direita ou de esquerda). Como bem recorda Gustavo Biscaia de Lacerda, Augusto Comte considerava que os três melhores tipos romanos foram César, Cipião e Trajano, citando-os nominalmente e reservando a eles, no Calendário Positivista, o nome de um mês. O Positivismo, portanto, não inventou a roda com sua pregação de uma ditadura republicana e de uma hereditariedade sociocrática para resolver os problemas políticos, econômicos e sociais dos países em que se instalou. Basta lembrar dos momentos autoritários brasileiros, que foram diversos e péssimos. Não esqueçamos da forma como foi instalada a República em nosso País e o que sucedeu depois. No Brasil, o Positivismo teve quatro manifestações diferentes: a ortodoxa, a ilustrada, a política e a militar. Acho que seria bom rever rapidamente essas quatro correntes. Ouçamos juntos Ricardo Vélez Rodríguez: A corrente ortodoxa teve como principais representantes Miguel Lemos (1854-1917) e Teixeira Mendes (1855-1927), os quais fundaram, em 1881, a Igreja Positivista Brasileira, com o propósito de fomentar o culto da 'religião da humanidade', proposta por Comte (1798-1857), no seu Catecismo Positivista. A corrente ilustrada teve como principais representantes Luís Pereira Barreto (1840-1923), Alberto Sales (1857-1904), Pedro Lessa (1859-1921), Paulo Egydio (1842-1905) e Ivan Lins (1904-1975). Esta corrente defendia o plano proposto por Comte na primeira parte da sua obra, até 1845, antes de formular a sua 'religião da humanidade', e que poderia ser sintetizado assim: o Positivismo constitui a última etapa (científica) da evolução do espírito humano, que já passou pelas etapas teológica e metafísica e que deve ser educado na ciência positiva, a fim de que surja, a partir desse esforço pedagógico, a verdadeira ordem social, que foi alterada pelas revoluções burguesas dos séculos XVII e XVIII. A corrente política do Positivismo teve como maior expoente Júlio de Castilhos (1860-1903), quem, em 1891, redigiu a Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, que entrou em vigor nesse mesmo ano. Segundo essa Carta, as funções legislativas passavam às mãos do Poder Executivo, sendo os outros dois poderes públicos (Legislativo e Judiciário) tributários do Executivo hipertrofiado. Para Castilhos, deveria se inverter o dogma comteano de que à educação moralizadora seguiria pacificamente a ordem social e política. O Estado forte deveria, ao contrário, impor coercitivamente a ordem social e política, para depois educar compulsoriamente o cidadão na nova mentalidade, ilustrada pela ciência positiva. Esta corrente ganhou maior repercussão do que as outras três, devido a que obedeceu à tendência cientificista de que já se tinha impregnado o modelo modernizador do Estado consolidado pelo Marquês de Pombal. Assim, as reformas autoritárias de tipo modernizador que o Brasil iria experimentar ao longo do século XX deram continuidade à mentalidade castilhista do Estado forte e tecnocrático. Este modelo consolidou-se na obra de um seguidor de Castilhos: Getúlio Vargas (1883-1954). Aconteceu com o castilhismo algo semelhante ao ocorrido no México com o porfirismo: ambas as doutrinas cooptaram a Filosofia Positivista como ideologia estatizante e reformista. A corrente militar positivista teve como principal representante Benjamin Constant Botelho de Magalhães (1836-1891), professor da Academia Militar e um dos chefes do movimento castrense que derrubou a Monarquia em 1889. Esta corrente estruturou-se paralelamente à ilustrada, projetando ao longo das últimas décadas do século XIX o ideário cientificista pombalino, conforme destacou Antônio Paim: 'A adesão às doutrinas de Comte por parte dos líderes da Academia Militar, deu-se no estreito limite em que contribuiu para desenvolver as premissas do ideário pombalino, quer dizer, a crença na possibilidade da moral e da política científicas. Para comprová-lo, basta comparar as funções às que Comte destinava as forças armadas e o papel que Benjamin Constant atribuiu ao Exército'.

       Vintras, no outro lado do Atlântico, mastigou os restolhos daqueles tempos franceses de ira, dias sombrios em que se ia para a cadeia por furtar um único pão francês. Os Jeans Valjeans, que não podem falar porque já morreram, conheceram essa sucessão de desgraças.

       O jacobinismo francês seguiu à risca o conjunto de aspirações do contestatário Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), no qual a vontade geral deveria ser submetida à uma ideologia uniformizadora. Em suma: liberdade tirânica e soberana sob os auspícios protetores da vontade geral. Será isto possível? A certeza de que o terror poderia purgar uma sociedade inteira, fazendo da guilhotina um instrumento da implantação da virtude, cegou os jacobinos mais extremados. Não souberam quando parar. Os movimentos de Maximilien Marie Isidore de Robespierre (1758-1794) e seus partidários tornam-se confusos, quase erráticos. De um lado, em 14 de março de 1794, trataram de eliminar os extremistas da esquerda; no final daquele mês de março, voltaram-se contra a direita, os indulgentes de Danton, Desmoulins, Philippeaux e Delacroix.
Por fim, ameaçaram todos os convencionais. Corria o boato que 32 convencionais seriam presos e guilhotinados em breve. A impressão que a tirania de Robespierre causou é que a máquina de decepar cabeças, acionada por ele, tinha assumido vida própria, decapitando a torto e a direito, sem que ninguém mais conseguisse desligá-la. Até que, ao acontecer o Golpe do Termidor, em 28 de julho de 1794, o terrível aparelho voltou-se contra ele e seus próximos. Os demais líderes jacobinos que sobreviveram ao desastre do 9 do Termidor foram enviados para o desterro na Guiana Francesa, nas bordas da Floresta Amazônica. Os três momentos principais que o Célebre Clube Jacobino atravessou são: 1º) Jacobinismo original (1789-1791); 2º) Jacobinismo misto (1791-1793); e 3º) Jacobinismo extremista (1793-1794), cujo lema era defender a Virtude pelo Terror. Século XXI: o mesmo filme! O ultraconservador De Maistre definiu os jacobinos como um instrumento divino a serviço do retorno à moralidade e aos bons costumes. Disse textualmente: Os aristocratas, entregues aos luxos e aos costumes escandalosos durante o Antigo Regime, terminaram por ser alvo da indignação do céu, que enviou a gente de Robespierre para fazê-los padecer no cadafalso. Século XXI: jacobinismo bushblairiano e degolações sem guilhotina.

"Anima & mania - A guil

A Guilhotina

hotina", óleo/ tela, 250 x 200 cm, 1996
A Guilhotina

(Óleo/tela, 250 x 200 cm, 1996)

Antonio Henrique Amaral


 

       De qualquer sorte, a importância do aprendizado político que o jacobinismo suscitou não pode ser ignorada, ainda que sua estrutura tenha demonstrado ser uma fonte de normas e de controles burocráticos. Alexander Martins Vianna lembra que qualquer forma de submissão ou diferença de status era vista como um insulto à dignidade humana e, por isso, todo cidadão em um comitê desempenharia alguma tarefa, e a presidência seria ocupada por rodízio e as pretensões dos líderes seriam mantidas sob vigilância. Em duas palavras: hereditariedade sociocrática. O ideal era nobre; mas o modo de pôr em prática esse ideal foi devastador. Como é de praxe acontecer. Enfim, o objetivo final dos jacobinos, na síntese feita por François Furet, era manter a nação purificada dos seus inimigos, composta por cidadãos iguais e virtuosos, regenerados pela educação e pelo serviço à Pátria. Por último, para encerrar esta breve revisitação histórica, reproduzo um comentário de Augusto César Buonicore. Serve para que fiquemos atentos a todas as formas de messianismo, venham de onde vierem. Diz Buonicore: ...era natural para Marx dizer simplesmente aos poloneses, em 1848: 'O jacobino de 1793 tornou-se o comunista de hoje'. Também não surpreende o fato de que Lênin 'não escondesse sua forte admiração pelo jacobinismo'. Mas, apesar de certa identificação com o jacobinismo revolucionário, Lênin fez questão de afirmar: 'A nossa Revolução não é o terror revolucionário francês que guilhotinou pessoas desarmadas. Espero que nunca tenhamos que ir tão longe'. As esperanças de Lênin, infelizmente, não iriam se confirmar nas décadas que se seguiram. Mas, fico pensando: teria Wladimir Iljitsch Uljanow, dito Lênin (1870-1924), sido sincero ao dizer que não desejava ir tão longe? Não acredito. O que se conhece da vida dele é simplesmente aterrador!

       A França de Vintras era, então, um país convulsionado e, por isso, apesar de em sua juventude ter praticado diversos ofícios, conheceu a privação e a fome. Entretanto, quando conseguiu um emprego como contador de um moinho em Tilly-sur-Seulle estabilizou sua vida e se casou. Acabou, todavia, entregando-se ao Deus de seu Coração a partir de 6 de Agosto de 1839, em virtude de contatos psíquicos com um ancião etéreo identificado por Vintras como o Arcanjo Miguel — com São José e com a Virgem Maria, que o estimulou a fundar uma instituição de caridade, mas que acabou sendo condenada pelo Papa em 1848. (Segundo os antroposofistas, foi o mesmo Arcanjo Miguel o inspirador do pensador e espiritualista austríaco Rudolf Steiner, 1861-1925, que, fundamentado na Teosofia de Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891) — de quem viria a discordar veementemente — e em elucubrações filosóficas, religiosas, educacionais, políticas e místicas, refletiu a respeito da humana condição e fundou a Sociedade Antroposófica).

       A França estava precisada de obreiros dispostos a auxiliarem a restaurar a paz, a ordem e a espiritualidade. Vintras, motivado por esses encontros místico-psíquicos, acatou os conselhos recebidos e daquele momento em diante... pôs mãos à Oeuvre. Pouco tempo depois fundou a primeira SETENA — grupo de SETE irmãos que oravam e meditavam comunitariamente pela auto-iluminação e pela regeneração da Humanidade. Assim, lentamente, foi-se formando e aumentando o círculo vintrasiano. Nesse entretempo, o místico adotou Pierre Michel como nome iniciático. Posteriormente, o trocaria por Elias (por ter admitido que era a reencarnação do profeta Hebreu), e, finalmente, assumiria o nome místico de Strathanael. Publicamente, difundia sombriamente o final dos tempos, o Advento do Paracleto (Espírito Santo) e chegada próxima do Cristo Glorioso (Parúsia), e, principalmente, a necessidade de todos se prepararem para esta Hora Sagrada. Acreditava que ele e seus discípulos tinham a missão de revigorar o Catolicismo decadente. O Monge Calabrês Joaquim de Flora (1130-1202), entre tantos outros estudiosos das Profecias, propôs o ano de 1260 para que se cumprissem os vaticínios de Daniel e aqueloutros do Livro da Revelação. Estes Livros, particularmente o último Livro Canônico do Segundo Testamento, o Apocalipse — que nada tem de apocalíptico só poderão ser compreendidos por aqueles que tiverem as chaves da Santa KaBaLa. Quando digo Santa, quero me referir à uma KaBaLa que não pode ser lida ou aprendiada nos livros, por mais respeitáveis e dignos que sejam. Enfim, acreditava Flora que o mundo havia sido dividido em Três Idades: A primeira foi a Idade do Pai, expressa no Primeiro Testamento; a Segunda era a que ele próprio vivia — a Idade do Filho, na forma do Segundo Testamento; a Terceira, a Idade do Espírito Santo sobre a Terra, seria caracterizada pela sabedoria, concórdia, alegria, fraternidade, justiça e paz entre todos os povos. Flora viveu e faleceu convicto de que que a História depois da vinda do Cristo duraria 42 gerações. Como naqueles tempos se considerava que cada geração durava em média 30 anos, a 42ª geração terminaria no ano 1260, data em que teria início um novo tempo: o Tempo do Amor ou do Espírito Santo. Esse culto foi amplamente divulgado e defendido em Portugal pela Rainha D. Isabel, Princesa de Aragão e esposa de D. Dinis (séculos XIII e XIV). No âmbito extravagante da aceitação de uma tese escatológica do Império Espírito Santo, seu reino substituiria o do Cristo Jesus, da mesma forma que este substituíra o de Deus-Pai. Ora, isto é uma maluquice sem pé nem cabeça. Por isso, maluquice à parte, os cálculos matemáticos simples nem sempre estão acordes com as Leis Cósmicas. E os números bíblicos escondem mais do que mostram. Ler ao pé da letra 42 e 1260 levará a equívocos insanáveis. Cuidado é preciso! Por outro lado o número Três é fascinante. Três... GuiMeL... Trinta... LaMeD... Trezentos... ShIN... Mas, a Lei do Triângulo Eqüilateral, por exemplo, não pode ser reduzida apenas a dez pontinhos... Em outra dimensão, Augusto Comte (1789-1857), baseando-se em Marie-Jean-Antoine-Nicolas de Caritat, Marquês de Condorcet (1743-1794), propôs para a trajetória do pensamento e da Humanidade, conforme já recuperei pelo texto de Velez Rodríguez, a conhecida Lei dos Três Estados: O espírito humano, na sua marcha espontânea, está sujeito a passar por três estados sucessivos: o estado teológico ou fictício [as explicações da realidade seriam estruturadas com base em seres sobrenaturais, em deuses e em demônios], o estado metafísico ou abstrato [os seres sobrenaturais, demônios e deuses seriam substituídos por entidades abstratas], e o estado científico ou positivo [o homem se restringirá a examinar tão-somente as relações entre os fenômenos, desistindo de suas pretensões metafísicas e/ou teológicas]. Mais outra arbitrariedade do Comtismo. Ora, porque somente três estados? Esta foi uma das muitas falhas grosseiras do Positivismo, que apesar de ter nascido morto — mas com ideais nobilíssimos fez escola e discípulos ferozes. Curioso! Contraditório até as entranhas! Comte rechaçou a metafísica, mas criou uma Religião da Humanidade. Para mim, dentre os agnósticos de carteirinha, Comte foi o maior metafísico de todos! Comentarei rapidamente o tema das profecias um pouco mais adiante. Antes, uma palavra sobre Savonarola.

       O Monge Italiano Jerônimo Savonarola (1452-1498) médico, filósofo, profeta, reformador, político e hábil legislador, passou prematuramente pela transição imposta pelos tribunais do santo ofício aos 45 anos, no mesmo ano que Tomás de Torquemada [(1420-1498) — primeiro inquisidor-mor da Espanha, que durante os dezesseis anos em que cumpriu sua missão infernal, estimulou, permitiu, masturbou-se alucinadamente e ordenou que fossem instaurados aproximadamente cem mil processos inquisitoriais e torturadas, humilhadas e executadas milhares de pessoas]. Savonarola foi sacrificado, mas, como mártir, por causa de suas idéias contrárias à decadência desonrante, de todos conhecida, do Pontificado (de quase sempre) de Roma. Ao proclamar, em Florença, o Reino do Cristo, como Vintras, verberava, quatro séculos antes, contra os desmandos e as bacanálias eclesiais. Ousou acusar a Igreja Católica — corajoso esse Irmão! — bradando: A tua luxúria fez de ti uma prostituta. És um monstro abominável. Criaste uma casa de devassidão. Transformaste-te, de alto a baixo, em casa de infâmia. E o que faz a mulher pública? Acena a todos que passam; quem tiver dinheiro pode entrar e fazer o que desejar. Savonarola acabou torturado, enforcado e queimado. Os pedaços que sobraram foram lançados no Rio Arno, na bela Florença, que foi fundada no ano 200 a.C., como colônia etrusca.

       Vintras, a seu turno, anunciava profeticamente a proximidade de espantosas catástrofes pelas quais a Humanidade iria sofrer o rigor de um julgamento prenunciativo do Juízo Final, e antevia a futura conversão da Humanidade. Trinta e nove anos após sua transição irromperia a Primeira Guerra Mundial. A Segunda, vinte e um anos depois, foi tremendamente mais dolorosa e infame do que a Primeira. Câmaras mortais de cianeto, Hiroshima, Nagazaki... Milhões de mortos... Depois... Hoje, Afeganistão, Palestina e Iraque. Tudo isto determinaria, segundo Vintras, a aparição de Elias ou de um outro Mensageiro que traria consigo o seu espírito e poder. Cuidado: aqui não se trata de reencarnação pura e simplesmente. A Lei é outra! Aqui está implícita a admissibilidade de Leis que não são aceitas pelas religiões convencionais, muito menos pelos cientistas de plantão. São consideradas apostasias ou heresias. Ou, ainda, esquizofrenias. Para os especialistas, pessoas como Vintras ou como eu são esquizofrênicas, isto é, portadoras de um conjunto de psicoses endógenas, cujos sintomas fundamentais apontam para a existência de uma dissociação da ação e do pensamento, expressa em uma sintomatologia variada, como delírios persecutórios, alucinações — auditivas e visuais — labilidade afetiva etc. Como esses especialistas BOÇAIS nunca passaram por uma experiência mística, e só sabem repetir como papagaios-falantes o que lêem nos compêndios ou ouvem nos congressos dos quais participam, essas coisas vintrasianas e rodolfianas esquisitas os amedrontam e os confundem. Esses tais de Vintras e de Rodolfos são esquizofrênicos. Ou satanistas. É o laudo. Remédio neles e internação se preciso for. Por isso, os místicos devem ser cautelosos. Religiosos e especialistas não gostam de místicos. Os místicos, particularmente os Iniciados, devem falar ou escrever aquilo que possa servir de estimulação positiva ou que desencadeie uma ascensão espiritual interior. No mais, silêncio. Não por medo dos religiosos ou dos especialistas, mas para não ofender ou causar ira ou dor desnecessárias. Da mesma forma que uma guerra não muda corações, falar o que não deve e o que não pode ser dito é uma afronta à liberdade do outro em não querer saber. Nós místicos temos que aprender duas coisas: não somos os detentores da verdade, nem podemos julgar os outros por suas convicções. E comentar o que não deve ou pode ser comentado é despertar em quem ouve os piores sentimentos. E, quando fazemos discursos esotéricos sem que nos consultem, estamos, verdade seja dita, julgando nossos irmãos interlocutores menos capacitados espiritualmente do que nós. Atenção: isto não é nada mais nada menos do que vaidância, mistura de vaidade com arrogância. Precisamos estar atentos para não termos que responder por isso também. Quanto a Vintras, talvez tenha falado além da conta e prodigalizado sem se aperceber. Agora, provocar no(s) outro(s) a possibilidade de uma DIALÉTICA SUPERIOR É UMA OBRIGAÇÃO DE TODO E QUALQUER MÍSTICO CONSCIENTE. Essa coisa fedorenta de para responder a uma pergunta perguntar ao outro qual é o seu grau, é de um mau gosto e de um egoísmo ímpares. Quem pergunta está, geralmente, apto a poder receber uma resposta. Então, que se responda, com a cautela devida. Deixar o(s) outro(s) a pé é uma maldade e uma fraternidade às avessas. Eu sempre respondi tudo a todo mundo. Com precaução, claro.

       Profecias. O fato é que os místicos, geralmente, quando têm visões, estas são intemporais, isto é: podem acontecer de imediato ou não, e, se acontecerem, ou inexoravelmente tiverem que acontecer proximamente, normalmente as datas exatas não são decodificadas no êxtase místico, porque o tempo é um atributo da realidade, da consciência objetiva, não da atualidade cósmica. Acho que este momento é próprio para relatar um fato pessoal. Acredito que será ilustrativo. Mais ou menos uns dois meses antes de a mãe dos meus filhos ficar grávida de nosso segundo filho (uma menina), eu tive uma visão interna de que minha então esposa (hoje estou divorciado dela) ficaria grávida de uma menina. Assim sucedeu. Mas, eu nunca soube o dia exato em que ela nasceria. Hoje, 23 de Julho de 2004, 24 minutos, madrugada do dia 23, minha filha, que se formou em Psicologia, está completando suas bodas de prata: 25 anos. Em outra dimensão, algumas profecias são de uma exatidão surpreendente! A Grande Pirâmide! Egito Antigo! Quanto à questão da conversão da Humanidade, estou de acordo com Vintras. Mas, acredito que essa transformação não haverá de se dar no seio de uma religião específica. Em outro texto digital que escrevi há algum tempo e está disponível nesta página — UMA AVENTURA ROSACRUZ FORA DO CORPO. DEPOIMENTO: ANDROGINIA MÍSTICA — afirmei, e continuo a pensar assim, que na eviternidade inexistente do inexistente tempo, muitos e todos recobrarão, definitivamente, a instância primordial de SERES ANDRÓGINOS. O RAMO ASCENDENTE DA TRAJETÓRIA PARABÓLICA DO ENTE JÁ ESTÁ EM CURSO. Não pode ser sempre inverno; não pode ser sempre verão. Há dias chuvosos e dias ensolarados. A Primavera está nascendo para os que estão atentos! Então desejo e pronuncio o mantra sânscrito com o meu Coração: LOKA SAMASTHA SUKINO BHAVANTU! LOKA SAMASTHA SUKINO BHAVANTU! LOKA SAMASTHA SUKINO BHAVANTU! OM SHANTI, SHANTI, SHANTI-HI. Que todos os entes de todos os universos (que são UM) alcancem a PAZ PROFUNDA, e que a desejada TRANSMUTAÇÃO ALQUÍMICA INTERIOR possa ser operada. May all the beings in all the worlds be happy. May all the beings in all the worlds be happy. May all the beings in all the worlds be happy. AUM Peace, Peace, Peace.

 

+  PEACE  +  SHANTI  +  SALAM  +  SHALOM  +  PAZ  +  +  +  .  .  .

 

AUM RAH MAH HUM

 

       O reino do céu, que é descrito por muitas religiões como um lugar físico de delícias a ser conhecido depois da morte, é uma bem urdida estória da carochinha (ou da cacholinha) para impressionar os fiéis e os crentes, e mantê-los permanentemente sob domínio. A maldita contrapartida para um mau comportamento mortal é o fogo abrasador do inferno ou qualquer coisa do tipo que o valha. Mas, se o inferno existe, como disse Hans Urs Von Balthasar (1905-1988), deve estar vazio. Inconciliáveis contradições: pensamento linear Ocidental versus pensamento circular do Oriente; vida prazerosa abençoada ou morte perpétua irreversível versus Necessidade e Reciprocidade. Incomparavelmente pior do que esse inferno de brinquedo é se deixar ser devorado. Esfinge: DECIFRA-ME OU TE DEVORAREI. Como o Reino está dentro, este dentro está sendo desocultado por todos que O buscam. Daí a conversão ao D'US INTERIOR e a aceitação In Corde do CRESTOS KÓSMICO por um contingente cada vez maior de seres humanos. Vintras intuiu isso muito bem. Não será, portanto, uma conversão religiosa acreditada no sentido vulgar ou profano do termo, mas uma CONVERSÃO INTERIOR de natureza MÍSTICA, RELIGIOSA e INICIÁTICA. Vintras estava certo em sua esquizofrenia(?!), mas expressou publicamente suas vidências psíquicas de uma forma teurgoteoescatológica, smj, um tanto exageradas. Penso que assim tenha sido, o que, para mim, não faz nenhuma diferença. Buddha, Akhnaton e Jesus também cometeram seus equívocos. E daí? Mas, esse tempo anunciado está sendo gestado em meio a muitas dores, múltiplas doenças e diferentes formas de sofrimentos. É assim; mas não precisa(va) ser assim. Como tudo no Universo funciona de acordo com a Lei dos Ciclos (com subciclos e sub-subciclos), a agonia de Pisces ainda não acabou, ainda que este Ciclo já tenha se encerrado e estejamos vivendo a Era de Aquarius. Esta Era, que é positiva em relação à que se encerrou, não configurará um paraíso sobre a Terra. Mas, desembocará em um tempo teocientífico, no qual um Conselho Internacional Aristocrático (Filosófico) comandará mais concertadamente os rumos e os caminhos da Humanidade. Quanto ao Juízo Final, isto está relacionado ao final de um ciclo cósmico e começo de outro. Eu não sei exatamente o que Vintras pensava a respeito deste assunto. Resquícios de uma pedagogia da palmatória? Pode ser. Mas, uma das coisas que não entra na minha cabeça é o conceito misturado de teleologia com escatologia. O grande teólogo Hans Balthasar já citado disse: A Escatologia é o olho da tempestade na Teologia dos nossos tempos. De qualquer sorte, um GRANDE JUÍZO sempre acontece no final de cada Grande Expiração Cósmica. JUÍZO entre o ente e o ENTE que nele — ente — sempre esteve, está e estará. Em um nível menos intenso, mas fundamental e equivalente, a cada vez que dormimos, durante o sono, passamos diária e inevitavelmente por uma espécie de juízo final, ou, se se preferir, um juízo parcial. Mais não posso comentar. Minha esquizofrenia só me permite esquizofrenizar estes comentários. Quem se dispuser a meditar sobre esta afirmação, acabará descobrindo seu significado e concordando comigo.

       Por tudo isso e por outros motivos, o Moinho de Tilly-sur-Seulle acabou se tornando um lugar de peregrinação. Todos queriam conhecer o Santo Profeta. Ainda bem que eu não sou profeta e muito menos santo. Assim, posso, em silêncio, cumprir minha missãozinha aqui no meu canto. Sossegado. Eu não sei se teria energia para sofrer e passar o que Vintras passou. Acho que sou mais frágil do que ele. Ele, inclusive, teve seus Judás Ihariotes. Quem não os teve? Dois membros de sua Organização tiveram que ser expulsos da Oeuvre de la Miséricorde (que acabou recebendo o epíteto de herética) por terem praticado orgias sexuais na Capela particular de Vintras – o Cœnaculum (o Cenáculo). Que fizeram esses dois Ihariotes? Propagaram contra o Místico as revelações mais odiosas. O Abade Charvoz comentou com Éliphas Lèvi (que reprovou Vintras in totum e o considerou um alucinado triunfante, como também admitia que Charles Naundorf era um grande charlatão) que era mais prudente e mais adequado atribuir as acusações dos Judás (um tal de Gozzoli e um outro tal de Alexandre Geoffroi) ao ódio, ao desprezo e à inveja que passaram a nutrir por Vintras e pela Oeuvre por terem sido expulsos da Associação, em virtude de terem cometido exatamente os atos impublicáveis que imputavam a Vintras. Esse filme não era novo. Nem naquela época. Depois de duas frases imorredouras, Alea jacta est (A sorte está lançada) e Veni, vidi, vinci (Vim, vi, venci), não perguntou, incrédulo, Caius Julius Cæsar, ao ser assassinado com 23 punhaladas nas escadarias do Senado, nos idos de março (44 a.C.), pelo filho único e adotivo: Tu quoque, Brute, fili mi?! (Até tu, Brutus, meu filho?!). Caius Suetonius Tranquillus (75?-160?), escritor romano autor de Vidas dos Doze Césares, deixou escrito que esta frase foi pronunciada em grego: kai\ su\, te/knon?! (Até você, minha criança?!). No âmbito do Direito, o tu quoque embute a idéia de que ninguém pode invocar quaisquer normas ou preceitos jurídicos após descumpri-los. Isto porque, não podem ser adquiridos quaisquer direitos de má-fé ou em contraposição à Lei. A pétrea cláusula (dispositivo constitucional que não pode ser revisto) do direito adquirido não poderá prevalecer jamais desta maneira. Marcus Junius Brutus Caepio (85 a.C.-42 a.C.), debilitado e derrotado por Otávio e Marco Antônio, e informado da morte de sua esposa, Portia, suicidou-se, evitando ser preso e executado. Suas últimas palavras foram: Escaparei, sim, mas desta vez com as mãos, não com os pés. Esses camaradas todos não ouviram os conselhos de Sêneca, que ensinou: Tria... praestanda sunt ut vitentur: odium, invidia, contemptus. (Três são as coisas que mais devem ser evitadas: ódio, inveja e desprezo). Isto considerado, este é um dos problemas gravíssimos (mas previsível e até contornável) das organizações e das fraternidades místicas ou iniciáticas. Os despreparados (e até os sem-alma) entram — porque para entrar basta mentir, fingir e falsificar — depois metem os pés pelas mãos, são desmacarados, afastados e, a partir daí... tricas, futricas, intrigas, mentiras, falsos testemunhos e sei-lá-mais-o-quê. Estes irmãos infelizes fazem parte do grupão que não conseguiu decifrar a Esfinge. Serão, fatal e infelizmente, devorados. O veneno que envenena é o veneno que fabricará o veneno que envenenará. Quem tiver olhos para ler estas últimas linhas, que as releia. Infeliz aquele que tiver que testemunhar. Mas, maldito aquele que testemunhar em falso. Estará também cometendo suicídio sem o saber, o que não muda absolutamente nada. Em sua próxima encarnação, a morte será penosa e possivelmente violenta. Eu não desejo que seja desta forma, mas não pode ser de outra. Se eu pudesse, mudaria esse desígnio, mas não posso. Disse Helena P. Blavatsky no volume VI de A Doutrina SecretaObjeto dos Mistérios e Prática da Filosofia Oculta: Quando a consciência se ocupa de coisas espirituais transporta-se a um Plano Espiritual... Os maus impulsos e tendências, depois de impressos na natureza humana, não podem se transmutar de repente... onde haja infortúnio e miséria, ali estará o inferno... Toda a causa gerada no Plano Físico repercute ... em todos os Planos...

       Ai do maldito. Ai do traidor. Ai do assassino. Ai do suicida.

       Infeliz do homem ou da mulher sem-alma.

       Bem-aventurados os que se arrependem e retornam ao CAMINHO. A recuperação do que foi perdido será lenta, mas não é impossível. Oremos:

 

D'US...  D'US...  D'US...  QUE  SE  FAÇA  A  LLUZ

 

        A maioria dos ocultistas franceses e belgas e todos os vintrasianos eram naundorfistas, entre os quais figuravam vários membros da aristocracia francesa. O próprio Charles Guillaume Naundorff (1785-1845) — o Rei Perdido e Delfim da França segundo o próprio Vintras e muitos outros místicos do século XIX como Joséphin Péladan, Stanislas de Guaita e Saint-Yves D'Alveydre que o consideravam, além disso e por isso, depositário das chaves esotéricas do Cristianismo Gnóstico, domínio que Éliphas Lèvi rejeitou — sentiu-se atraído pelo movimento de Vintras. Naundorf acabou falecendo na Holanda em 1845, mas, anteriormente, em seu exílio em Londres, produziu duas obras importantes: Doutrina Celeste e A Revelação Sobre os Erros do Antigo Testamento, este último, segundo consta, psicografado sob a inspiração de Joana D'Arc. O que parece incontestável é que o movimento místico organizado e dirigido por Vintras possuía um caráter religioso-escatológico-teúrgico em seu aspecto público (exotérico). Hóstias consagradas sangravam, cálices vazios se enchiam de vinho que se transformava em sangue, músicas melodiosas e desconhecidas eram ouvidas nas cerimônias místicas, perfumes de natureza ignorada eram sentidos e inalados, curas e prodígios eram operados contraditando as lógicas científica e médica da época, manifestações visíveis de entidades espirituais eram freqüentes e mensagens místicas eram reiteradamente recebidas. Ora, tudo isso incomodou o Governo Francês e inquietou a Corte Papal, e Vintras foi torpemente acusado de fraude e de charlatanaria, sendo condenado a cinco anos de prisão em 20 de Agosto de 1842, de onde saiu ileso em 25 de Março de 1848. No cárcere, criou a Ordem dos Cavaleiros da Virgem Maria e escreveu um ritual em honra e glória de Melquisedek, inspirado, segundo declaração do próprio Vintras, por um ser angelical. Prosseguiu com as ordenações de Sacerdotes da Oeuvre de la Miséricorde, que acabaram se constituindo nos alicerces e nas colunas da Ordem do Carmelo. Mas, em 8 de Novembro de 1843, o Papa Gregório XVI, por intermédio de um Breve, condenou oficialmente a Ordem Vintrasiana.

        De repente, lembrei-me de Dom Marcel Lefèbvre (1905-1991). Um disse: Serviu à causa da Igreja com todo o seu coração e toda a sua fé. Outro disse: Nunca perdoaremos a Dom Lefebvre a sua atitude durante o Concílio Vaticano II... Eu digo: transtorno fóbico-ansioso da Cúria em torno de uma posição teológica que nunca representou uma ameaça real para a Igreja Católica. 30 de Junho de 1988: O Vaticano excomungou o digno Bispo Francês Monsenhor Marcel Lefèbvre por não aceitar as mudanças decididas e aprovadas no Concílio Vaticano II. Ué! Dom Lefèbvre não podia discordar? É claro que podia. 90% da confraria católica há-de concordar comigo. Mas, essa mesma confraria, de uma maneira geral, sempre ficou calada e cumpriu a cartilha dogmático-retrógrada da Santa Sé. Como os Generais de Hitler. Mutatis mutandis, é claro! O tempo vai passar, e, um dia, um papa irá reconciliar Dom Lefèbvre com a Sé de Roma. Quem quiser comprar esse bilhete, pode comprar. É premiado. Mas, as defesas de caráter são difíceis de ser erradicadas pelo fato de serem bem racionalizadas. Quando são coletivas são piores e mais perigosas. As autojustificativas podem levar os seres humanos às maiores insanidades. Para mim, não há diferença alguma entre manter-se em silêncio a respeito da excomunhão de Dom Lefèbvre e silenciar enquanto milhares de judeus eram assassinados nas câmaras de gás. Mutatis mutandis. Sem mutatis mutandis também serve. Medo da danação eterna? Medo de morrer? Ora, só se morre uma vez. Em uma encarnação, obviamente. Também só se vive uma única vez. Na encarnação que está vigendo. Evidentemente. E a danação é, em nome de qualquer crença, matar, torturar, estuprar, excomungar e pensar que com isso se está conquistando o favor dos poderosos e a graça de um deus criado à própria imagem e semelhança de cada um que o imagina barbudo, branco e de olho azul, antropomorficamente, em sua razão pessoal. O fato é que, tanto generais quanto cardeais necessitam de subservientes, isto é, de homens e de mulheres que consentem em servir a dignidades eclesiásticas que compõem o Sacro Colégio Pontifício e a quaisquer generais abaixo do marechal de maneira humilhante. Mas generais e cardeais detestam e desprezam pessoas servis. E o Verdadeiro D'US não pode ser comprado ou realizado por essas vias enfermiças. Só in Corde e revisitado diuturnamente. E não há atalhos especiais para os subservientes. Eu não quero saber: vou repetir essas reflexões até meu último suspiro. Pode ser que alguém leia um texto destes e não leia outro. Então, não tenho alternativa. Repetir, repetir e repetir. Mas não é nada disso, meus irmãos. Não existe morte. Ou: só existe morte! Tudo depende. Ao se resolver a equação de 2º grau x² = 49, as raízes que satisfazem esta equação são: x' = +7 e x" = –7. Só a VIDA tem existência real. Melhor: ATUAL. A morte é uma ilusão da nossa consentida ignorância. Todos nós comprovaremos isso. De uma forma ou de outra. Isto é: VIVENDO ou MORRENDO. Nesse ínterim... reflitam sobre o conteúdo desta sentença de Vicente Velado, o Irmão que me presenteou com o retrato autografado de Vintras que abre este ensaio digital:

 

     
      Não deixe que fechem o Livro da Vida sobre você. Abra esse Livro e o leia. Compreenda bem que ele não é proibido — apenas é Sagrado, Sagrado no sentido de que você deve vê-Lo assim, para que possa entendê-Lo. Então, escreva você mesmo seu Livro Sagrado, mas saiba que esse Livro tem de ser de toda a Humanidade; não pode ser apenas de você mesmo e de seu clã, da sua tribo, da sua etnia.
 

 

 

Dom Marcel Lefèbvre

Dom Marcel Lefèbvre (1905-1991)

 

        E continuo me lembrando. FUDOSI (FEDERATION UNIVERSELLE DES ORDRES ET SOCIETÉS INICIATIQUES. FEDERATIO UNIVERSALIS DIRIGEN ORDINES SOCIETATESQUE INITIATIONIS) 1935: exclusão de duas Ordens por causa de rivalidades e disputa de cargos. Arnold Krumm-Heller, Constant Chevillon e Reuben Swinburne Clymer (1878-1966) fundam a FUDOSFI (Fédération Universelle des Ordres, Sociétés et Fraternités Initiatiques). Clymer acaba se tornando inimigo pessoal de Harvey Spencer Lewis. E continuo me lembrando. No opúsculo O Movimento Oculto no Século XIX e sua Relação com a Cultura Mundial (oitava palestra) Rudolf Steiner (1861-1925), originariamente teósofo, fez acusações gravíssimas contra Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891) e a Doutrina Secreta. Gravíssimas. Quase de não se poder acreditar. E essas coisas continuam a ser veiculadas hoje, 2004. Papus, por outro lado, teve que aceitar ser testemunha de um duelo, em nome da honra, entre Guaita e Jules de Bois. Que horror! Entretanto, eu não sou e não serei juiz de nada nem de ninguém. Comento para alertar. Só isso. Cada qual que aprenda que o maior inimigo do homem é o próprio homem, e que, se isto for uma verdade irredutível, responda por seus atos. Por isso, repito:

 

D'US...  D'US...  D'US...  QUE  SE  FAÇA  A  LLUZ

 

        E, mais uma vez, para que possamos todos refletir:

 


Do que tudo, muito mais
Prevejo com exaltação:
AMORC, CR+C e demais
Serão (são) um só CORAÇÃO.

 

 

 

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        As SETENAS, mais tarde federadas, deram origem à Ordem do Carmelo. Contudo, em decorrência da espúria aliança entre Napoleão III e o Vaticano, Vintras e seus Irmãos voltaram a ser perseguidos. Vintras foi definitivamente condenado pelo Vaticano em 1851 sob a acusação de comandar práticas satânicas e infernais. Entretanto, o Místico-Teurgo e Soldado da Luz Vintras era um combatente consciente e pertinaz das forças das trevas, tendo chegado, inclusive, a elaborar um complicadíssimo ritual de exorcismo, que utilizou não raras vezes. Para se prevenir (e aos membros de sua confraria, como também àqueles que solicitavam seu auxílio) das tentações e das ações inebriantes dos representantes das trevas, Vintras, executando sagrada e criteriosamente um ritual de natureza mágico-teúrgica, confeccionava hóstias consagradas que operavam alterações súbitas e incomuns naqueles que as recebiam. Redigiu, também, diversos rituais e cerimônias protetivas. Segundo consta, uma dessas cerimônias era o Sacrifício Provitimal de Maria. Praticava, portanto, exatamente o oposto do que era acusado, mas, parece que não conseguiu impedir as sempre presentes e indesejáveis infiltrações de representantes da senda esquerda, que estava articulada e empenhada em, sub-repticiamente, na segunda metade do século XIX, impor seu domínio aos mais variados círculos ocultistas e fraternidades místicas em todo o continente europeu. Tempos difíceis. Ontem, hoje, amanhã. Sempre. Missas negras, capelas sacrílegas, símbolos e cultos fálicos e invocações bastardas prosperavam e atraíam os incautos e distraídos. Ontem, hoje, amanhã. Sempre. CUIDADO IRMÃOS! Resistiu Vintras enquanto pôde. Mas, em 17 de Março de 1852, o Santuário de Tilly — sede da Ordem do Carmelo — foi covardemente invadido, interditado e seus arquivos, instrumentos sagrados e objetos ritualísticos confiscados. Vintras e alguns Irmãos-sacerdotes escaparam ao cerco policial e se refugiaram em Londres. De lá, difundiram a Obra da Misericórdia para a Escócia e boa parte da Inglaterra. Também foram instaladas sucursais na Espanha, na Bélgica e na Itália. Com a queda de Napoleão III, Vintras retornou à França e não sofreu mais perseguições em sua missão apostólica nem encontrou obstáculos à ordenação de novos sacerdotes até o dia de sua Grande Transição, que ocorreu em Paz Profunda em 7 de Dezembro de 1875, em Lyon. Com a Transição de Vintras, assumiu o comando da Ordem do Carmelo o teólogo Joseph-Antoine Boullan (1824-1893), que a dirigiu, até sua morte, por dezoito anos consecutivos. Ao assumir a direção da Instituição, Boullan, um fanático atraído pelas aparições marianas e pelas profecias apocalípticas, proclamou-se Supremo Pontífice, declarando-se, inclusive, a reencarnação de João, o Batista. Escreveu Boullan: Um grande número de vidas de santos ou de santas que Deus elevou a um estado particular de graça sobrenatural, estão recheadas de fatos referentes a que estas almas sofreram as enfermidades dos outros, que aceitaram sofrimentos estranhos, que suportaram enfermidades que não lhes pertenciam e das quais os demais acabaram por ficar liberados... Pergunto: então, por que o pecado não poderia ser também transferido, previamente, pela aceitação da alma reparadora... A base da Reparação, o que com justo título é sua verdadeira pedra angular, é a reversibilidade, não possível, e sim real, do pecado; é a transferência de uma pessoa a outra, com seu consentimento, dos pecados estranhos em seu ser... A transferência de um pecado de uma pessoa a outra é um fato que pode ser verificado e comprovado da maneira mais segura... Ser uma alma reparadora consiste em aceitar o pecado de nossos irmãos na medida em que expiamos os nossos. Trata-se, com ajuda da Graça Santificante que está em nós, assim como da Graça que nos é concedida, de suportar o peso do pecado e destruí-lo em nosso corpo pela virtude de Jesus Cristo... Assim, na Divina Reparação, o pecado está em nós com suas características, sua espécie, sua natureza e todas as formas que tinha naquele que o cometeu. A alma reparadora experimenta e sente o pecado em seu corpo... constata as fases e os progressos do vícios, dos defeitos e das paixões. Em uma palavra: sofre todas as crises da lei do pecado. Doutor em Teologia, Boullan certamente conhecia a Doutrina da Reparação, mas a adaptou aos seus desvarios psicóticos. Neste ensaio, não pretendo discutir as idéias e os conceitos inerentes à essa Doutrina. Mas, com base em qualquer doutrina, ninguém está autorizado a transgredir por si mesmo, muito menos ser o gerador de perversidades em série. Isto não é religiosidade; é psicopatia da melhor qualidade. De passagem: fanatismos, ultramontanismos, religiosidades mal resolvidas e patologias mentais sempre andaram de mãos dadas, aconchego propício e perfeito para... Amparado nesta Doutrina, Boullan submetia as noviças a cerimônias aberrantes que não reproduzirei neste trabalho. Acabou Boullan — tristeza! — sendo acusado das práticas mais perversas e hediondas, tendo sido submetido a um Tribunal Iniciático, do qual fizeram parte, entre outros, Guaita — o convocador do Tribunal — Péladan, Bricaud, Barlet e Papus, Tribunal este que o condenou à Morte Iniciática. Esta exclusão terrível determinava, minimamente, a difusão pública dos preceitos da Organização, a denúncia aberta pelos meios de comunicação da época das ilicitudes praticadas e o desmascaramento de suas práticas e daqueles que não foram alienados por Boullan e que o acompanharam depois da Transição de Vintras. Este acontecimento ficou conhecido como a GUERRA DOS MAGOS. Infelizmente, a bondade de Vintras o impediu de perscrutar o interior doentio de Boullan, e o que hoje lhe é atribuído como nefando teve origem após sua partida deste Plano. Não se pode esquecer do fato histórico de que Vintras ao sair da prisão em 25 de Março de 1848, encontrou a Ordem que fundara imersa em um antro de masturbação e de insanidades. A emissão de sêmen era fundamental para criar novos anjos, segundo um tal de Pierre Maréchal que havia adquirido prestígio e ascendido no seio do Movimento. O que esses malucos não sabem — mas, iludidos, pensam que sabem — é que a Andoginia Primordial NÃO NECESSITA de práticas sexuais abstrusas para ser reconquistada. Mais: sem que saibamos, somos todos andróginos. Esta é uma das poucas Leis Cósmicas de que tenho CERTEZA ABSOLUTA. Vintras, responsável e coerente, expulsou imediatamente o sacerdote Maréchal e restabeleceu a pureza e a harmonia da Ordem. Contudo, a notícia dos escândalos transbordara e foi utilizada pelos antivintrasianos para desacreditar a Obra de Vintras. Padeceu muito esse nosso Irmão.

      Religiões nascem; religiões morrem. Seitas nascem; seitas morrem. Ordens, entre aspas, nascem; ordens, entre aspas, morrem. Apenas a Rosa+Cruz Invisível é eterna. Até suas representações visíveis ou são dissolvidas ou entram em dormência. Este é um dos porquês, ainda que muitos não compreendam e não aceitem, da invulnerabilidade do CICLO de 108 ANOS.

 

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EXCERTOS, CITAÇÕES E REFLEXÕES DO PENSAMENTO DE PIERRE MICHEL

 

Dormi, ó indolentes mortais!
Ficai sobre vossos leitos macios!
Sorri a vossos sonhos de festas e de grandezas...
Pendei para o lado da Terra, mas não vos espanteis deste ruído tão ativo dos túmulos.
Dormi...
Elias, no ocidente, põe uma Cruz na Porta do Templo! 
Ele a sela com fogo e com o aço de um punhal.

 

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Oh! Se meu espírito tivesse qualquer parte nestes escritos... Não é obra minha; eu não dei à ela o meu concurso por investigação ou por desejo...

 

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Eu posso dizer ao meu Deus com um coração livre: Custodi animam meam et erue me; non erubescam quoniam speravi in Te. (Guarda a minha alma e livra-me; não seja eu confundido por ter recorrido a Ti. Os Salmos, XXIV, 20).

 

Salmo XXIV, 20

Salmo  XXIV, 20

 

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Estou sempre à espera de novos tormentos.

 

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...não poderei viver sem amar Deus!

 

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Ah! Se eu fizesse conhecer aos inimigos da Obra da Misericórdia o que se passa em mim, seriam eles que clamariam vitória.

 

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FILOGENIA DO MODERNO GNOSTICISMO
(Phylogeny of Modern Gnosticism)  

Fonte:

http://www.hermetic.com/dionysos/phylo.htm#carmel

Acesso: 24/7/2004

 

 

 

 

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

          Pierre Eugène Michel Vintras foi um homem de bem em meio a uma coletividade que, de certa forma, não estava preparada para amá-lo, nem muito menos compreendê-lo. Viveu em uma época em que a teurgia, o espiritismo, o mesmerismo, a magia e o próprio misticismo se confundiam entre si, e as pessoas — nomeadamente a aristocracia e os que estavam bem posicionados socialmente — estavam mais preocupadas e interessadas em ver as coisas acontecer do que buscar a vereda iniciática e se porem em caminho. Eu costumo qualificar respeitosamente essa coisa toda de pirotecnia mágico-teurgo-especulativa. Essa pirotecnia ocorria e continua a ocorrer porque os entes encarnados querem ver com os olhos físicos o que só pode ser visto com o Olho da Alma. As pessoas queriam e precisavam ver, Vintras mostrava. As pessoas continuam a querer e a precisar ver. Há quem mostre.

          O misticismo, tão-só pelo puro e desinteressado misticismo, dá trabalho e, em certo sentido, é muito doloroso. O sendeiro será indubitavelmente florido; mas é cheio de espinhos, de armadilhas e de contradições. Tudo isso por conta da ignorância e da vaidade humana. Vintras, cristão, teólogo, sensitivo e místico por excelência, interpretou suas experiências psíquicas interiores como eu interpreto as minhas, isto é, no nível sincero e digno que decodificamos as impressões cósmicas recebidas. Para ele foram sagradas. Para mim são sagradas. Vintras manifestava publicamente determinadas Leis que acabaram por arrastá-lo à prisão, com prazer para seus detratores e humilhação educativa para seu coração. É assim mesmo. É imperativo que sejam respeitadas as recomendações iniciáticas: A vós é permitido conhecer os mistérios do Reino da Divindade; porém, aos que são de fora [os não-iniciados], todas estas coisas se dizem por parábolas, para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam, de sorte que não se convertam, e lhes sejam perdoados os pecados (Evangelho de São Marcos, IV, 11 e 12). Grande mistério no final desta advertência! Esta admoestação aparece preliminarmente em Mateus, VII, 6: Não deis aos cães as coisas santas, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas, para que não as esmaguem com os pés, e, voltando-se contra vós, vos dilacerem. Nenhum mistério nesta advertência. Por isso, o verdadeiro significado dos mistérios não é conhecido (nem jamais poderá ser) fora das Escolas Iniciáticas. Mas Pierre Michel, apesar de conhecer bem o sentido destas duas advertências, não as respeitou. Fico, contudo, pensando: será que alguns Iluminados, como parte de suas missões, devem quebrar certas regras? Ou será que ultrapassam determinados limites porque se julgam inatingíveis? Isso não sei responder no que concerne a Pierre Michel — abençoado seja.

          Em um ponto deste ensaio, que estou escrevendo com satisfação, afirmei: ninguém é dono da verdade. Ninguém é. A VERDADE vencerá independente de quem julga possuí-la parcialmente ou até — inacreditável! — integralmente. Eu, por exemplo, durante anos acreditei que a única Ordem detentora do direito e do poder de transmitir a Iniciação autêntica era a Ordem Rosacruz – AMORC. Quero deixar bem claro que o único responsável por esta asneira sou eu. Mas, já faz muito tempo que fiquei curado dessa doença involuntária, mas descabida e envergonhadora. Todos nós cometemos nossos equívocos e continuaremos a cometer. Talvez até os mesmos erros. Mas, certamente, cometeremos outros nessa peregrinação interminável e ilimitada em busca da VIDA que se contrapõe à morte. Em um dos documentos mais fascinantes produzidos por Vicente Velado (O Sacrifício Ritualístico de Animais e a Política) ele recorda: Akhnaton (a Paz do Cristo Cósmico esteja com Ele) também sacrificou um pato ao Disco Solar, conforme consta de um alto-relevo do Antigo Egito. Eu fui vegetariano por mais de doze anos e deixei de sê-lo. Hoje (para sempre) não coloco mais em minha boca a carne de qualquer irmão. Que meu D'US INTERNO não se envergonhe de mim como eu me envergonho D'le, por ter, durante muito tempo, retrocedido. Perdão. Peço, chorando muito, humildemente perdão por este crime. Assassino não é só aquele que mata seres humanos!!!

          Com que direito julgaram Pierre Michel? Satanismo? Se ser satanista é ser adversário de todas as pessoas e instituções que tentam dominar outras pessoas, impondo infernos, dogmas e pecados e determinando obediência às vontades de seus deuses, então eu sou satanista convicto. Se Satanismo representa ser gentil e ter a mente livre dos valores pré-fabricados e impostos pela sociedade, então eu sou um satanista convicto. Se ser satanista é não se deixar subjugar pelos caprichos dos outros, então eu sou um convicto satanista. Se ser satanista é não se deixar abater nem se intimidar pelas diversas formas de repressão injungidas pela sociedade, então eu sou um senhor satanista. Se ser satanista é, quando necessário, dizer: sinto muito, eu cometi um engano, desejava que pudéssemos nos ajustar de algum modo, então eu sou um satanista persuadido. Ora, muçulmanos, budistas, cristãos, evangélicos, satanistas, judeus, rosacruzes, pedreiros-livres, martinistas, espíritas, lamaístas... todos cumprem um papel. Qual o papel mais importante? O mais importante é exatamente aquele que é desempenhado por um ser com todo o seu coração, com todas as suas forças e com toda a sua dignidade. Sempre, sempre categoricamente; jamais hipoteticamente. E isto implica obrigatória e irrecusavelmente a exclusão mental de um deus, antropomórfico ou sustentado mentalmente como uma abstrata ideação, como peça de sustentação de todo um sistema profundamente injusto sob todos os aspectos e, mais recentemente, como sofisticado produto da sociedade de consumo, como diz Vicente Velado e com o qual concordo inteiramente. O subtítulo deste ensaio é Lucubrações Comparadas, o que me dá oportunidade de reproduzir abaixo um texto desse meu querido Irmão a quem acabei de fazer referência. O documento, divulgado hoje, 27/7/2004, especialmente escrito para o Forum Teísmo e Religião da Ateus.Net, que roda em http://www.ateus.net/, apresenta as seguintes lucubrações, que, advirto: não serão integralmente compreendidas se examinadas uma única vez e se houver rancor e preconceito no coração. Egoísmo, vaidade e preconceito são, de plano, incompatíveis com LIBERDADE e REINTEGRAÇÃO e, conseqüentemente, com a desejada, se compreendida e buscada, realização interna do CRESTOS CÓSMICO.

 

ATEÍSMO & MISTICISMO: UMA EVOLUÇÃO DO ESOTERISMO
pelo Frater Velado (*)

 

       A idéia de Deus (Deus tal qual é apresentado pelas religiões e por esoteristas não religiosos, como os Maçons, que o chamam de Grande Arquiteto do Universo) é de um primarismo tão absurdo que chega a ser um insulto ao bom senso. Essa concepção, com a conseqüente adoração e subserviência a uma Divindade imaginada, teria surgido de um arroubo místico, um fervor espiritual voltado para o bem geral, mas acabou sendo utilizada para a manipulação das massas, gerando perseguições, horror e morte — e isso inclui dois eventos realmente detestáveis para qualquer primata humano medianamente são de mente: GUERRA e TERRORISMO.

       Os ateus, de uma forma geral, são discriminados pela 'inteligentzia' cristã ocidental, que os considera destituídos de sentimentos e totalmente sem 'feeling' para fazerem parte da casta elitista dos intelectuais cristianizados. Os muçulmanos chegam a dar-se ao trabalho de produzir ensaios nos quais pretendem provar, por equações e fórmulas matemáticas a existência de Deus como o Originador de tudo o que existe, Criador do Universo e Pai Onipotente e Onisciente. Na agenda islâmica o ateísmo sequer é cogitado como hipótese a ser considerada. Contudo, o ateísmo me parece ser condição 'sine qua non' para a evolução da consciência humana (em última análise também da chamada evolução espiritual, por paradoxal que isso possa parecer, já que as pessoas se habituaram a conectar automaticamente os conceitos de Deus e de espiritualidade, como se uma coisa tivesse obrigatoriamente a ver algo com a outra).

       Devemos examinar com muita atenção o que vem a ser exatamente um ateu. O Aurélio define o verbete Ateu assim: "Diz-se daquele que não crê em Deus ou nos deuses; ímpio." Essa simples definição é suficiente para nos mostrar que um místico pode ser ateu sem deixar de ser místico e, conseqüentemente, esoterista e investigador do oculto, porque essas condições são muito mais próximas da ciência do que da religião propriamente dita. Digamos que a religião seja um mal necessário, um engodo para as massas não desesperarem ante o jugo das elites imperialistas e da sua própria oligarquia nacional, que nem sempre é elite. Deus entra nesse contexto mais como peça de sustentação de todo
um sistema profundamente injusto sob todos os aspectos e, mais recentemente, como sofisticado produto da sociedade de consumo.

       Acredito que nenhum ateu, por mais fanático que seja em suas convicções, deixe de ter mente aberta e se recuse a conjeturar sobre a possibilidade de existirem instâncias superiores no Cósmico — níveis mais elevados e provavelmente não-hierarquizados — onde algum tipo de regência prevalece, definindo leis da mecânica celeste e do comportamento dos corpos celestiais (planetas, estrelas etc.) e dos seres animados e inanimados. Tudo isso, entenda-se bem, completamente destituído da idéia de Deus, tanto em concepção antropomórfica como em ideação abstrata.

       Na minha maneira de ver, entendo que talvez um ateu tenha mais condições místicas do que um 'filho de Deus', justamente por estar despojado de toda uma parafernália de tabus, a qual funciona como uma espécie de venda ante os olhos ou mesmo como os antolhos de um cavalo de montaria ou de tração de charretes, que só enxerga para a frente, porque se convencionou que este é o melhor meio de se seguir por um percurso definido. É assim que o 'filho de Deus' vê o mundo, sempre olhando para seu 'pai' — Deus — essa figura simbólica que a mente humana criou no alvorecer da consciência, em um processo automático de explicação pela similitude.

      Mesmo no atual estágio da sociedade humana o tema Deus é considerado tabu, e no ocidente poucos místicos conseguem escrever um ensaio sem mencionar versículos desse livro histórico — a Bíblia. A quase que total maioria das ordens e fraternidades ditas esotéricas e iniciáticas — e nisso incluo a própria AMORC, da qual sou membro vitalício — simplesmente se recusa a aceitar postulantes que se declarem ateus 'ab initio', porque isso, segundo entendem, excluiria a possibilidade de aceitação da concepção pessoal de Deus, o 'Deus do meu coração, da minha compreensão'. Tal é a força com que o símbolo Deus carimba todas as instituições por uma questão social e por uma contingência cultural simplesmente avassalante. Cria-se um conceito-carimbo —'contém Deus' — e isso é considerado bom.

       Entretanto, se examinarmos um sistema de harmonização dos seres e evolução pessoal bem mais antigo do que o Cristianismo, o Budismo, tão incensado por esoteristas de várias vertentes, esbarraremos na crua e nua verdade de que no Budismo não existe a idéia de Deus. Desta forma, muitos consideram que o Budismo simplesmente não é uma religião, enquanto outros afirmam que, paradoxalmente, o Budismo é e não é ao mesmo tempo uma grande religião. A idéia do ateísmo místico, portanto, não é algo novo: remonta ao Buda, e este — quem contestará? — foi realmente um iluminado. Depois dele, como sempre acontece em relação aos avatares, seus discípulos criaram a Ordem Budista e suas divisões, e foram tecendo ao longo do tempo toda a parafernália tradicionalista e ritualística. O interessante é que esse 'totum' metafísico se mantém praticamente incólume aos efeitos da entropia até os dias de hoje, enquanto outros contexto-tessituras totalmente baseados em Deus, pouco a pouco vão ruindo. Vejam o Cristianismo e o Islamismo, sem falar no Judaísmo como Sionismo. Será que a Kabbalah, com sua Árvore da Vida, se mantém ereta nessa areia movediça, com sua hierarquia e seus seres angélicos? Tenho minhas dúvidas, sinceramente.

       Contudo,  mesmo  inferindo-se  que a idéia de Deus não é necessária para se ter uma religião, sente-se que há uma necessidade de combater o Mal como entidade, em um nível de antítese de Deus. Esse Mal seria igualmente uma criação mental do homem, consubstanciada em pensamentos, palavras e ações voltados para a malignidade, para a perversão e para a imposição de sofrimento ao próximo — sempre ao próximo, nunca a si mesmo — o que cabe como em uma forma àquela idéia sartriana de que 'o inferno são os outros'. A congregação mental dos seres voltados para isso seria o verdadeiro Demônio, mais ou menos isso que os muçulmanos fanáticos rotulam de o Grande Satã, estendendo-se essa concepção ao chamado Governo Oculto do Mundo e não restringindo-a apenas ao eixo Fundamentalismo Cristão-Sionismo.

       Tal é o apego da imensa maioria dos esoteristas ao obscurantismo mais crasso, que se aferram desesperadamente não só à idéia de Deus, como às concepções medievais de como deva ser uma ordem ou uma fraternidade dita hermética, iniciática e cultuadora do oculto (quando por sua própria essência e natureza deveria ser, antes de tudo, vasculhadora, descobridora, criadora). É tal a exigüidade de visão dessas toupeiras, que sequer podem conceber a possibilidade de tais organizações existirem em termos modernos afinados com a sociedade de consumo. Sim, e porque não? Qual o problema? Bem, na verdade, o que essa grande massa esotérica deseja com sôfrega ansiedade é sentir-se mafiada em um clube muito particular — uma espécie de nicho burocrático — no qual se masturbem mentalmente andando em círculos em torno de idéias pré-concebidas, totalmente padronizadas. Discutem, por exemplo, a autenticidade uma uma ordem esotérica como se estivessem avaliando a excelência de uma linhagem de galinhas.

       Mas nem todos os esoteristas, evidentemente, estão inseridos no padrão 'cuecão' acima, e creio que isso se deva, de alguma forma, a Aleister Crowley, que realmente teve este mérito: mexer com a massa encefálica de uma categoria que já estava sendo mumificada no mais medíocre formol. Graças a Crowley, muitos místicos passaram a pensar, inclusive misticamente, e acredito até que isto muito influenciou o Dr. Harvey Spencer Lewis na fundação da AMORC. Creio que ali estava a semente que iria germinar, mais tarde, já na administração de seu filho e II Imperator da Ordem, Ralph Maxwell Lewis, com a remoção da teurgia dos ensinamentos Rosacruzes distribuídos em monografias para os estudantes regulares. O atual Imperator, Christian Bernard, é rotulado por muitos spencerianos fundamentalistas como um homem que mudou tudo na AMORC, constituindo uma equipe de cientistas e doutores para redigir monografias, em princípio destinadas à formação metafísica de estudantes do oculto. De minha parte, considero que isso foi um passo adiante na organização de um sistema de estudos Rosacruz. Vejo a Ordem Rosacruz como uma congregação de mentes essencialmente dialética, totalmente engajada na evolução, subindo com a 'Spira Legis' — e não uma coisa estacionária e estratificada, cristalizada em concepções do passado. Devemos nos lembrar de que esse passado produziu suas noções e seus valores como presente, como aqui e agora, porque significava justamente a atualidade para os místicos de então. É compreensível que um estudante de misticismo e de ocultismo — ou de ambas as vertentes — se agarre à Tradição para se sentir com raízes, mesmo porque esta é uma fase inicial muito cara para os neófitos de qualquer ordem ou fraternidade, tanto da luz como das trevas. O que não é aceitável é que se pretenda fazer da Tradição o cerne, o tônus de um organismo metafísico.

       Considero pois que um místico pode ser ateu — dentro da definição que o Aurélio dá para ateísmo. Este, inclusive, seria o ateísmo avançado, compromissado com a evolução cerebral forçada pelo próprio usuário do cérebro. E isso não é nenhuma novidade, porque se assim não fosse os budistas não ascenderiam ao Nirvana sem a necessidade de Deus. O grande mérito do homem, como animal autoconsciente, haverá de ser superar sua criação mental primitiva — Deus — substituindo-a por uma noção mais plausível, científica mesmo. E mais: produzir sob total controle a evolução da sua própria consciência e do cérebro, que — digamos assim — centralizaria o gerenciamento desse processo, estando a consciência presente em toda a matéria animada que constitui o corpo de um ser vivo.

       É compreensível que um místico se aferre a princípios teúrgicos, os quais lhe foram inculcados solerte e inexoravelmente pela religião, embutidos em seu DNA ao longo das gerações e gerações de 'filhos de Deus'. Mas, se o místico fizer uma autocrítica consciente, nos moldes daquelas que geravam expurgos no Partido Comunista (guardada a distância da comparação, evidentemente); e, se depois desta, se dispuser fazer não apenas uma revisão, mas uma atualização de valores honestamente dialética, esse mesmo místico acabará por concluir que a idéia da 'necessidade de Deus' é totalmente prescindível. Quando esse tabu é removido, todo um campo de visão inteiramente novo se descortina ante os olhos físicos e suprafísicos do estudante que realmente quer desvendar o oculto e não apenas fazer a decoreba, totalmente mecânica, de fórmulas que julga ser eficientes por serem 'tradicionais', 'antigas' ou suportadas por alguma egrégora imaginadamente poderosa.

       O místico com essa concepção é aquele que não busca pura e simplesmente o poder, mas busca algo muito mais precioso e consistente que é a compreensão do funcionamento do esquema cósmico e o claro entendimento do relacionamento bilateral seres-universos. De posse desse conhecimento, tanto o místico como o ocultista podem contribuir para a criação de melhores condições de vida para todas as criaturas, em todos os Planos. Quando alguém, mesmo que sozinho, consegue produzir isto aqui na Terra, é realmente uma grande coisa, porque se cria um foco de evolução sob controle, partindo do qual ele e outros poderão programar o todo evolutivo em favor de menos sofrimento e de mais felicidade. Para isso, porém, é necessário que, após a subjugação do ego, não se deixe florescer uma nova forma de egoísmo, que seria a exacerbação do eu superior suposta ou realmente assumido iniciaticamente. Assim, é fundamental, simplesmente visceral, que se tenha sempre mente aberta para poder não só aceitar como vivenciar as constantes mudanças que fazem parte da evolução do todo.

Paz Profunda a todos os seres!

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(*) O Frater Velado é Abade Especial da ORDO SVMMVM BONVM para o Terceiro Mundo http://svmmvmbonvm.org

 


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          Enfim, se Pierre Michel entendeu que tinha que implementar a Oeuvre de la Miséricorde porque recebeu um sinal para assim trabalhar, as mulas-de-padre que o enxovalham pela Internet precisam reler a Santa Bíblia que essas mesmas mulas proclamam como o Livro dos livros, pois, repito: o veneno que envenena é o veneno que fabricará o veneno que envenenará. PRECONCEITO, na língua portuguesa, possui ONZE LETRAS! A FORÇA! ARCANO XI DO TARÔ! A FORÇA É O ARCANO DA INTEGRALIDADE NATURAL DO SER — DO PODER SEM ESFORÇO. Será que chegaremos a compreender o que significa PODER SEM ESFORÇO? Enfim, tudo, sem excessão, deve, obrigatoriamente, estar aberto — na verdade, escancarado — a todos os questionamentos que, parafraseando Velado, devem ser vasculhadores, descobridores, criadores. Para Pierre Michel esqueceram o 70 x 7! PACEM IN TERRIS.

 

O  veneno  que  envenena  é  o  veneno  que  fabricará  o  veneno  que  envenenará

 

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OBSERVAÇÃO

 

         A cruz invertida que se vê no balandrau de Pierre Michel na pintura digital apresentada no início deste ensaio simboliza a CRUZ INVERTIDA DE PEDRO, o Apóstolo. Esta CRUZ tem vários significados. Por exemplo: valor do sacrifício, sucessão, e, principalmente, lição de humildade. Foi o próprio Pedro que pediu para ser crucificado de cabeça para baixo por se julgar indigno de morrer da mesma forma que seu Mestre e Senhor — Jesus. É um símbolo de superlativa humildade consciente. Julgar? Acusar? Cobiçar? Criticar? Prevaricar? Isolar? Perdoar? Punir? Torturar? Assassinar? Explorar? Classificar? Luxuriar? Estuprar? Excisar? Adulterar? Desurdir? Fofocar? Maquinar? Conspirar? Apodar? Digladiar? Invadir? Perjurar? Mentir? Prender? Santooficiar? Dominar? Impor? Trair? Bombardear? Destruir? Degolar? Esqueci alguma coisa? Em nome de quê? Não entendo. Todos estes questionamentos podem ser direcionados para múltiplos aspectos e fatos distintos, quer da História Moderna, quer da História Contemporânea, de Pierre Michel a George Bush (pai e filho), por exemplo. O medo covarde e iconoclástico prende, desmoraliza e arrebenta. Pierre Michel foi preso por ameaçar a tirania teoestatal. Cinco anos por pregar a Miséricorde e alertar para a possibilidade de um ENCONTRO com ALGO que que minimizaria (ou até — quem sabe? — aboliria) tanto o poder opressor do Estado quanto autoritarismo eclesiástico muito bem costurados durante séculos. Será que Paulo imaginou que o Cristianismo que propôs se transformaria em um Catolicismo retalhado, inquisitorial e autoritário? Não creio. Bush — o cristianizador — quer e está decepando, com o beneplácito abonador dos ignorantes, a Liberdade e a Autodeterminação planetária, isto é, a possibilidade de todo e qualquer povo determinar os rumos políticos de seu país através do voto de seus cidadãos. Pierre Michel, o Misericordioso, teve, como José Maria da Cunha Seixas (1836-1895), o Pantiteísta, seu pensamento apocopado e sua Oeuvre frustrados. Pierre Michel e Cunha Seixas não estão mais conosco. Não? Bush está. Está mesmo? Estará? Vamos garantir que — cocordo com Al Gore lembrando sua derrota em 2000 desta vez, não seja a Corte Suprema que escolha o próximo Presidente dos Estado Unidos, e também que não seja o atual presidente [Bush filho] quem vá escolher a Corte Suprema.

       Um acréscimo: Primeiro, precisamos inverter a CRUZ INVERTIDA DE PEDRO; depois, encurtar; e finalmente, eliminar (pela compreensão, pelo amor e pela ascensão) seus dois braços horizontais. Uma das fases da Alquimia Interior é a transmutação da força centrífuga que nos projeta no mais descontrolado e absurdo egoísmo em FORÇA CENTRÍPETA, que nos reconciliará com nosso D'US INTERIOR, o D'US que dorme e não dorme em nosso ser. AUM.

 

 

Cruz Invertida de Pedro

Cruz Invertida de Pedro

 

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DEDICATÓRIA

 

          Dedico esta incompletíssima pesquisa a dois Irmãos: Frater +Vicente Velado (que me estimulou a conhecer Vintras) e a Pierre Michel, que seguiu a Voz de Seu Coração e cumpriu a Oeuvre.

 

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ANEXO I

O AMPLO CONCEITO DE MISTICISMO

Frater + Vicente Velado

 


       A grande maioria das ordens e fraternidades esotéricas e iniciáticas costuma definir o que é ser um místico de uma forma muito restrita: uma pessoa que busca a Deus. Este é um resquício religioso do qual essas organizações não conseguiram — e talvez por conveniência nem tentaram — se livrar. Com isso ficam restritas a um círculo teúrgico — queiram o não — mesmo se tiverem feito expurgo do teurgismo. Esse expurgo se mostra necessário porque a teurgia, em si, é extremamente limitante, mesmo que se aponha elasticidade ao conceito de Deus. Não adianta, por exemplo, se insistir em que há uma diferenciação 'fundamental' entre os conceitos religioso de Deus (dogmático e conseqüentemente tabu) e esotérico — Deus como experiência pessoal de cada um — porque, no fundo, o ponto focal é exatamente o mesmo: a suposição (inargüível) de que existe uma Divindade imaginada, originadora da realidade e disciplinadora da atualidade. O conceito de Misticismo é muito mais amplo do que o meramente circunscrito a esta limitação. Conseqüentemente, há vários tipos de místicos e nem todos necessariamente buscam a Deus.

       Fundamentalmente, o místico é perscrutador do Oculto, uma espécie de cientista que trabalha, não apenas com comprovações, mas também e principalmente com 'insights'. Tanto o cientista como o místico podem se servir da intuição para estabelecerem uma meta de pesquisa a ser atingida e trabalham com suposições. O cientista coloca de lado tudo o que não for comprovável racionalmente, enquanto o místico prossegue no caminho que a intuição lhe mostrou, mesmo que uma comprovação científica da sua viabilidade não esteja disponível no momento. Ele sabe — é uma certeza interior, inabalável, que não vem de algo como a fé, mas da harmonização real com algo percebido — que, cedo ou tarde, suas constatações por intuição serão referendadas pela ciência, dependendo isto única e tão-somente do avanço científico e do desenvolvimento tecnológico.

       Há, assim, muitas e muitas espécies de místico. Um artista — pintor, escultor, poeta, escritor, músico instrumentista, cantor, dançarino ou ator — pode ser um místico em sua atividade e como pessoa, sem com isso estar buscando a Deus exatamente. Seu misticismo consiste em expressar por imagens, formas, sons, palavras, gestos e assunções uma experiência interior na qual se harmoniza com os Planos Superiores do Cósmico, sejam eles lá o que forem e tenham lá a natureza que tiverem, compreensível ou não pela racionalidade ou pela aquisição de conhecimento por osmose. Um religioso que arde em fervor místico harmonizando-se com a figura de seu avatar ou diretamente com Deus é, evidentemente, também um místico totalmente assumido. Um esoterista que busca pela meditação a ascensão a Planos Superiores também é, evidentemente, um místico na total acepção da palavra. Há místicos que fundem em um produto final suas experiências artísticas e iniciáticas e, para citar um exemplo, mencionarei Mozart, que era Maçom.

       De uma forma geral pode-se dizer que o místico é um ser harmonizado com o Cósmico. Ele ascende a Planos Superiores em vários graus de ascensão e também pode descer a Planos Inferiores em várias gradações de penetração na condição abissal. Basicamente, um místico é uma criatura que caminha pelo mundo sob as injunções da Dualidade, mas procura se situar acima das Polaridades. Uma definição clássica do caminho místico, estabelecida por místicos, é que a senda do
Misticismo é como a tortuosa estrada que leva ao cume de uma montanha. Conforme se vai subindo a visão vai-se ampliando. O cenário não muda, mas agora pode ser apreciado de maneira mais ampla, mais total. Existe, porém, um grande problema: quando se atinge o cume dessa montanha imaginária constata-se que se está sozinho, com nuvens abaixo toldando a visão do mundo, mas que ao mesmo tempo pode-se ver melhor o Disco Solar. Os místicos inseridos em um contexto religioso percorrem esse caminho intuitivamente, guiados pelo fervor; os místicos não religiosos fazem tal ascensão guiados igualmente pela intuição, mas com uma grande diferença: eles estão — ou pelo menos deveriam estar — no total controle do processo.

       É de praxe fazer-se distinção entre místicos e ocultistas quando se aborda o assunto. Na verdade, misticismo e ocultismo são funções complementares que devem estar apostas a um estudante sincero de esoterismo. A Metafísica, que faz parte da Filosofia, é ao mesmo tempo o cerne e o casulo de que os místicos e ocultistas se servem para construir um contexto que sirva para algo. De que adiantariam, em um mundo baseado na interação dos seres, as experiências místicas, iniciáticas e 'magickas' se não houvesse uma forma de apresentá-las como insumo para outras coisas? Seria um processo de finalidade estacionária, isto é: natimorto. De que adianta, por exemplo, você se tornar eremita se isso não servir para a descrição de métodos
que possam ser adotados por outras criaturas? Toda vez que alguém faz isto está ajudando os outros a queimarem etapas em um caminhada que é sempre difícil e cheia de percalços e armadilhas. Nesse contexto o místico segue uma intuição e o ocultista vasculha o Oculto, às vezes sem intuições e utilizando métodos já consagrados. Ambos, místico e ocultista, podem, a qualquer momento, adotar novos métodos, e declarar obsoletos os que vinham sendo utilizados. É a isso que se chama evolução espiritual.

       Na junção do conhecimento adquirido com o saber intuído o místico pode se tornar um ocultista, tanto no sentido de perscrutar o oculto como no de manipular forças da Natureza. Da mesma forma pode o ocultista assumir uma vertente mística e produzir, digamos, um ritual mais propício à consecução dos fins a que se propõe.

       Todas essas possibilidades podem se materializar como caminho, com Deus ou sem Deus. Para quem tem a mente aberta não há uma verdade absoluta, mesmo porque a verdade, como já tive ocasião de expor em outro ensaio, é meramente um consenso sobre vários pontos. Assim, temos que a concepção religiosa de que 'sem Deus nada é possível' deve ser respeitada, bem como a sua antítese, que seria um 'slogan' para o místico-ateu, deve igualmente merecer todo o respeito. Ambas são aspectos de uma mesma verdade em um Universo sob a égide da Dualidade. O que é preciso ter em mente — e isto se aplica tanto ao místico como ao ocultista — é que se torna necessária, como coisa fundamental, uma revisão periódica de posições assumidas e de conceitos adotados e/ou externados. Cada um deve fazer o que quiser com isto, destruindo e reciclando crenças, mas o que não se deve fazer é considerar etapas e produções do passado como rejeito metafísico. Eu, por exemplo — e aí só posso falar de mim mesmo — costumo rever periodicamente minhas posições e tento extrair dos mitos o símbolo místico que ele contenha (ou possa conter) e uso, então, o ocultismo, para que esse símbolo não venha a se transformar em um mero signo. Em etapas anteriores da minha vida mística, por exemplo, produzi peças que hoje certamente não produziria, mas não as descarto como rejeito por considerar que são de utilidade para compreensão em outros níveis de entendimento. Desses níveis não se pode dizer com segurança que estejam abaixo ou estejam acima, porque o referencial seria sempre o ponto no qual quem julga se encontra (no momento). Portanto, todos os níveis de compreensão, na prática, se equivalem, e o importante é que propiciem Paz, Luz, Vida, Amor, Justiça, Equilíbrio, Harmonia e Liberdade para todos os seres.

       Cada místico, cada ocultista, cada criatura (viva ou morta neste Plano) é o centro de um círculo de poder com capacidade de interagir com as Leis Cósmicas. Dessa interação, da maneira como ela é feita, é que pode nascer algum tipo de poder que seja benéfico para todos. É por esse processo que os avatares, por exemplo, se constituem a si próprios sem que algo possa destruí-los. Um avatar pode ser assassinado, como Spitman Zaratustra (Zoroastro), por exemplo, mas o seu legado é praticamente imune à Lei da Entropia, por estar harmonizado com uma Legislação Cósmica de natureza superior àquela. Existem conceitos-chave como, por exemplo, o de que qualquer ser humano pode ser um Buda. São contribuições como esta à História da Humanidade que tornam tão amplos o conceito de Misticismo e a descrição do que vem a ser exatamente um místico. Um místico pode ser versátil e interagir em vários níveis de compreensão produzindo simultaneamente peças para cada um desses níveis, como pode considerar que está em uma escalada na qual as etapas transpostas devem ser descartadas. Isso varia de pessoa para pessoa, conforme a natureza de cada uma. Não se pode traçar uma definição-mestra, como se se estivesse lidando com um mero verbete e enunciar 'um místico deve ser assim e assado'. Realmente não se pode fazer isso. O misticismo é que é uma experiência individual e não apenas Deus é que a é. Deus é um detalhe em um contexto muito amplo. Um ponto focal, para um determinado nível-geral de compreensão. O místico — e por extensão o ocultista — transcendem tal limitação e é exatamente para isso que servem as iniciações.

Paz Profunda a todos os seres!

 

COMENTÁRIO

 

       Aos que andam, pela Internet, enxovalhando a memória de místicos do passado e do presente, repensem esta passagem: Portanto, todos os níveis de compreensão, na prática, se equivalem, e o importante é que propiciem Paz, Luz, Vida, Amor, Justiça, Equilíbrio, Harmonia e Liberdade para todos os seres. Paz no Cristo Cósmico a Pierre Michel.

 

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BIBLIOGRAFIA

BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. 9a ed. São Paulo: Paulinas, 1958.

BLAVATSKY, Helena Petrovna. A doutrina secreta: síntese de ciência, filosofia e religião/The secret doctrine: the synthesis of science, religion and philosophy. 6 vol. Tradução de Raymundo Mendes Sobral. São Paulo: Pensamento, 1973.

LÈVI, Éliphas. História da Magia (Com uma exposição clara e precisa de seus processos, de seus ritos e de seus mistérios). São Paulo: Pensamento, 1974.

LEWIS, H. Spencer. Preguntas y respuestas rosacruces com la historia completa de la Ordem Rosacruz. 5ª ed. EUA, San José, California: Gran Logia Suprema de AMORC, 1966.

MEDITAÇÕES SOBRE OS 22 ARCANOS MAIORES DO TARÔ. Por um autor que quis se manter no anonimato. 4ª ed. São paulo: Paulus, 1989.

 

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DADOS SOBRE O AUTOR

Mestre em Educação, UFRJ, 1980. Doutor em Filosofia, UGF, 1988. Professor Adjunto IV (aposentado) do CEFET-RJ. Consultor em Administração Escolar. Presidente do Comitê Editorial da Revista Tecnologia & Cultura do CEFET-RJ. Professor de Metodologia da Ciência e da Pesquisa Científica e Coordenador Acadêmico do Instituto de Desenvolvimento Humano - IDHGE.