Pierre
Michel (Strathanael)
Esta obra foi um presente que recebi do meu Irmão
Vicente
Velado, Abade da OS+B
para o 3º Mundo
VERITAS VINCIT (A VERDADE VENCEU)
Quero
que o homem que carrega a cruz
seja sua única vítima.
Vintras
O
homem sempre esteve disposto a negar e temer
tudo aquilo que não compreende.
Thelema
INTRODUÇÃO
Pierre
Eugène Michel Vintras (1807-1875) nasceu em 7 de Abril de 1807
em Baxeux, Normandia. A França do seu tempo, século
XIX, era a capital universal da razão. Sua transição
ocorreu em Lyon, em 7 de Dezembro de 1875. Mas, foi no âmbito
dessa mesma racionalidade que (re)floresceu o mais puro espiritualismo
— Vintras como um dos expoentes — herança, certamente,
de tempos que não voltarão mais, mas que estão
indelevelmente presentes (porque nunca foram dissolvidos) nas consciências
dos Filhos de
RA. No transcorrer
dos séculos XVIII, XIX e XX, místicos, Iniciados, Adeptos
e Mestres Cósmicos confluíram para Paris e para outras
cidades francesas. Lá, entrelaçaram-se os caminhos de
muitos espiritualistas. Um deles foi Gérard Anacelet Vincent
Encausse, nascido em Coruña, Espanha, em 13 de Julho de 1865,
conhecido no mundo ocultista como Papus — nome do gênio
da medicina do Nuctemeron, de Apolônio de Tiana —
e que viria a falecer, em decorrência de grave enfermidade contraída
no front da 1ª Grande Guerra, em 25 de Outubro de 1916.
A França acolheu e trouxe à Luz carinhosamente em seu
solo, além de Papus, Martinès de Pasqually (1710-1774),
Louis-Claude de Saint-Martin (1743-1803), Stanislas de Guaita (1861-1897),
François Jollivet Castelot (1874-1937), Saint-Yves D'Alveydre
(1842-1909), Paul Sedir (1871-1926), Augustin Chaboseau (1868-1946),
Éliphas Lèvi (1810-1875), Fabre Palaprat (1775-1838)
e muitos outros, e agasalhou com moderada tolerância movimentos
neotemplários, igrejas gnósticas, movimentos ocultistas
e fraternidades iniciáticas. Não se pode esquecer de
que Harvey Spencer Lewis (SÂR Alden) — 1º Imperator
da Ordem Rosacruz-AMORC para este Segundo Ciclo Iniciático
que teve início em 1915 — foi a Paris no verão
de 1909 em busca de mais Luz. 1915: foi, então, anunciado o
Novo Ciclo da Ordem através do PRIMEIRO MANIFESTO OFICIAL
e eleito o PRIMEIRO CONSELHO SUPREMO. Desse momento
em diante, a Ordem Rosacruz passou a ser reconhecida em todo o mundo
pelo seu legítimo título: ANCIENT MYSTICAL
ORDER ROSÆ CRUCIS, forma abreviada do título
latino ANTIQUUS ARCANUS ORDO ROSÆ RUBÆ ET
AURÆ CRUCIS.
Eugène
Vintras nasceu exatamente quando os estandartes de Napoleão
desfilavam pafiosos e triunfantes pela Europa e a França
ainda não havia se recomposto inteiramente da orgia sangrenta
que caracterizou a Revolução Francesa. Não
é difícil imaginar a repercussão que o caos
econômico-social francês, liberado há poucos
anos do terror jacobino, fundamentalismo em nome do qual seus agentes
justificavam seus atos brutais — nada diferente do que hoje
se assiste relativamente ao embate entre as forças do eixo
do bem(?) contra o presumido eixo do mal(?) —
impôs à personalidade juvenil deste grande místico
teurgo. Augustin Cochin (1876-1916) assim sintetiza o espírito
do jacobinismo: A liberdade que mata é irmã da
liberdade que aprisiona, da fraternidade que espiona, da razão
que excomunga – e todas juntas formam este estranho fenômeno
social que se chama jacobinismo. Como a História se
repete ciclicamente, contemporaneamente, estamos todos assistindo
ao mesmo jacobinismo-fanático, de parte a parte teológico-ultramontanista,
desunificado e retrógrado, Bush-Blair-Usama-Sharon &
Cia. Ltda. esfacelar o mundo em suas entranhas e pelas beiradas.
É claro que, sempre que a sustentação distorcida
mas democrática de liberdade, o utópico ideal de igualdade
e o sonho sonhado de fraternidade ultrapassam perversamente o formalismo
incipiente mas puramente jurídico (ainda que a Justiça
e o Direito estejam em permanente construção), acontecerá
— como tem acontecedido ao correr da História em diversos
países — a inevitável derrapagem para
o autoritarismo. Em casos mais tenebrosos sobrevém o totalitarismo,
que, em certos (ou muitos) aspectos, é mais cruel e apocópico.
A hereditariedade sociocrática — engendrada durante
a ditadura dos Césares Romanos, que escolhiam livremente
seus sucessores, escolha esta sancionada pelo exército, isto
é, a massa de homens livres que dava sustentação
ao poder imperial — sempre ocorreu nos regimes fortes (ditaduras
autoritárias ou totalitárias, de direita ou de esquerda).
Como bem recorda Gustavo Biscaia de Lacerda, Augusto Comte considerava
que os três melhores tipos romanos foram César, Cipião
e Trajano, citando-os nominalmente e reservando a eles, no Calendário
Positivista, o nome de um mês. O Positivismo, portanto,
não inventou a roda com sua pregação de uma
ditadura republicana e de uma hereditariedade sociocrática
para resolver os problemas políticos, econômicos e
sociais dos países em que se instalou. Basta lembrar dos
momentos autoritários brasileiros, que foram diversos e péssimos.
Não esqueçamos da forma como foi instalada a República
em nosso País e o que sucedeu depois. No Brasil, o Positivismo
teve quatro manifestações diferentes: a ortodoxa,
a ilustrada, a política e a militar. Acho que seria bom rever
rapidamente essas quatro correntes. Ouçamos juntos Ricardo
Vélez Rodríguez: A corrente ortodoxa teve
como principais representantes Miguel Lemos (1854-1917) e Teixeira
Mendes (1855-1927), os quais fundaram, em 1881, a Igreja Positivista
Brasileira, com o propósito de fomentar o culto da 'religião
da humanidade', proposta por Comte (1798-1857), no seu Catecismo
Positivista. A corrente ilustrada teve como principais representantes
Luís Pereira Barreto (1840-1923), Alberto Sales (1857-1904),
Pedro Lessa (1859-1921), Paulo Egydio (1842-1905) e Ivan Lins (1904-1975).
Esta corrente defendia o plano proposto por Comte na primeira parte
da sua obra, até 1845, antes de formular a sua 'religião
da humanidade', e que poderia ser sintetizado assim: o Positivismo
constitui a última etapa (científica) da evolução
do espírito humano, que já passou pelas etapas teológica
e metafísica e que deve ser educado na ciência positiva,
a fim de que surja, a partir desse esforço pedagógico,
a verdadeira ordem social, que foi alterada pelas revoluções
burguesas dos séculos XVII e XVIII. A corrente política
do Positivismo teve como maior expoente Júlio de Castilhos
(1860-1903), quem, em 1891, redigiu a Constituição
do Estado do Rio Grande do Sul, que entrou em vigor nesse mesmo
ano. Segundo essa Carta, as funções legislativas passavam
às mãos do Poder Executivo, sendo os outros dois poderes
públicos (Legislativo e Judiciário) tributários
do Executivo hipertrofiado. Para Castilhos, deveria se inverter
o dogma comteano de que à educação moralizadora
seguiria pacificamente a ordem social e política. O Estado
forte deveria, ao contrário, impor coercitivamente a ordem
social e política, para depois educar compulsoriamente o
cidadão na nova mentalidade, ilustrada pela ciência
positiva. Esta corrente ganhou maior repercussão do que as
outras três, devido a que obedeceu à tendência
cientificista de que já se tinha impregnado o modelo modernizador
do Estado consolidado pelo Marquês de Pombal. Assim, as reformas
autoritárias de tipo modernizador que o Brasil iria experimentar
ao longo do século XX deram continuidade à mentalidade
castilhista do Estado forte e tecnocrático. Este modelo consolidou-se
na obra de um seguidor de Castilhos: Getúlio Vargas (1883-1954).
Aconteceu com o castilhismo algo semelhante ao ocorrido no México
com o porfirismo: ambas as doutrinas cooptaram a Filosofia Positivista
como ideologia estatizante e reformista. A corrente militar positivista
teve como principal representante Benjamin Constant Botelho de Magalhães
(1836-1891), professor da Academia Militar e um dos chefes do movimento
castrense que derrubou a Monarquia em 1889. Esta corrente estruturou-se
paralelamente à ilustrada, projetando ao longo das últimas
décadas do século XIX o ideário cientificista
pombalino, conforme destacou Antônio Paim: 'A adesão
às doutrinas de Comte por parte dos líderes da Academia
Militar, deu-se no estreito limite em que contribuiu para desenvolver
as premissas do ideário pombalino, quer dizer, a crença
na possibilidade da moral e da política científicas.
Para comprová-lo, basta comparar as funções
às que Comte destinava as forças armadas e o papel
que Benjamin Constant atribuiu ao Exército'.
Vintras,
no outro lado do Atlântico, mastigou os restolhos daqueles
tempos franceses de ira, dias sombrios em que se ia para a cadeia
por furtar um único pão francês. Os Jeans Valjeans,
que não podem falar porque já morreram, conheceram
essa sucessão de desgraças.
O jacobinismo francês
seguiu à risca o conjunto de aspirações do
contestatário Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), no qual
a vontade geral deveria ser submetida à uma ideologia uniformizadora.
Em suma: liberdade tirânica e soberana sob os auspícios
protetores da vontade geral. Será isto possível? A
certeza de que o terror poderia purgar uma sociedade inteira, fazendo
da guilhotina um instrumento da implantação da virtude,
cegou os jacobinos mais extremados. Não souberam quando parar.
Os movimentos de Maximilien Marie Isidore de Robespierre (1758-1794)
e seus partidários tornam-se confusos, quase erráticos.
De um lado, em 14 de março de 1794, trataram de eliminar
os extremistas da esquerda; no final daquele mês de março,
voltaram-se contra a direita, os indulgentes de Danton, Desmoulins,
Philippeaux e Delacroix. Por
fim, ameaçaram todos os convencionais. Corria o boato que
32 convencionais seriam presos e guilhotinados em breve. A impressão
que a tirania de Robespierre causou é que a máquina
de decepar cabeças, acionada por ele, tinha assumido vida
própria, decapitando a torto e a direito, sem que ninguém
mais conseguisse desligá-la. Até que, ao acontecer
o Golpe do Termidor, em 28 de julho de 1794, o terrível aparelho
voltou-se contra ele e seus próximos. Os demais líderes
jacobinos que sobreviveram ao desastre do 9 do Termidor foram enviados
para o desterro na Guiana Francesa, nas bordas da Floresta Amazônica.
Os três momentos principais que o Célebre Clube
Jacobino atravessou são: 1º) Jacobinismo original (1789-1791);
2º) Jacobinismo misto (1791-1793); e 3º) Jacobinismo extremista
(1793-1794), cujo lema era defender a Virtude pelo Terror.
Século XXI: o mesmo filme! O ultraconservador De Maistre
definiu os jacobinos como um instrumento divino a serviço
do retorno à moralidade e aos bons costumes. Disse textualmente:
Os aristocratas, entregues aos luxos e aos costumes escandalosos
durante o Antigo Regime, terminaram por ser alvo da indignação
do céu, que enviou a gente de Robespierre para fazê-los
padecer no cadafalso. Século XXI: jacobinismo
bushblairiano e degolações sem guilhotina.
"Anima & mania - A guil
hotina", óleo/ tela, 250 x 200 cm,
1996
A Guilhotina
(Óleo/tela, 250 x 200 cm, 1996)
Antonio
Henrique Amaral
De
qualquer sorte, a importância do aprendizado político
que o jacobinismo suscitou não pode ser ignorada, ainda que
sua estrutura tenha demonstrado ser uma fonte de normas e de controles
burocráticos. Alexander Martins Vianna lembra que qualquer
forma de submissão ou diferença de status era vista
como um insulto à dignidade humana e, por isso, todo cidadão
em um comitê desempenharia alguma tarefa, e a presidência
seria ocupada por rodízio e as pretensões dos líderes
seriam mantidas sob vigilância. Em duas palavras: hereditariedade
sociocrática. O ideal era nobre; mas o modo de pôr
em prática esse ideal foi devastador. Como é de praxe
acontecer. Enfim, o objetivo final dos jacobinos, na síntese
feita por François Furet, era manter a nação
purificada dos seus inimigos, composta por cidadãos iguais
e virtuosos, regenerados pela educação e pelo serviço
à Pátria. Por último, para encerrar esta
breve revisitação histórica, reproduzo um comentário
de Augusto César Buonicore. Serve para que fiquemos atentos
a todas as formas de messianismo, venham de onde vierem. Diz Buonicore:
...era natural para Marx dizer simplesmente aos poloneses, em
1848: 'O jacobino de 1793 tornou-se o comunista de hoje'. Também
não surpreende o fato de que Lênin 'não escondesse
sua forte admiração pelo jacobinismo'. Mas, apesar
de certa identificação com o jacobinismo revolucionário,
Lênin fez questão de afirmar: 'A nossa Revolução
não é o terror revolucionário francês
que guilhotinou pessoas desarmadas. Espero que nunca tenhamos que
ir tão longe'. As esperanças de Lênin,
infelizmente, não iriam se confirmar nas décadas que
se seguiram. Mas, fico pensando: teria Wladimir Iljitsch Uljanow,
dito Lênin (1870-1924), sido sincero ao dizer que não
desejava ir tão longe? Não acredito. O que se conhece
da vida dele é simplesmente aterrador!
A
França de Vintras era, então, um país convulsionado
e, por isso, apesar de em sua juventude ter praticado diversos ofícios,
conheceu a privação e a fome. Entretanto, quando conseguiu
um emprego como contador de um moinho em Tilly-sur-Seulle estabilizou
sua vida e se casou. Acabou, todavia, entregando-se ao Deus de seu
Coração a partir de 6 de Agosto de 1839, em virtude
de contatos psíquicos com um ancião etéreo
—
identificado
por Vintras como o Arcanjo Miguel — com São José
e com a Virgem Maria, que o estimulou a fundar uma instituição
de caridade, mas que acabou sendo condenada pelo Papa em 1848. (Segundo
os antroposofistas, foi o mesmo Arcanjo Miguel o inspirador do pensador
e espiritualista austríaco Rudolf Steiner, 1861-1925, que,
fundamentado na Teosofia de Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891)
— de quem viria a discordar veementemente — e em elucubrações
filosóficas, religiosas, educacionais, políticas e
místicas, refletiu a respeito da humana condição
e fundou a Sociedade Antroposófica).
A
França estava precisada de obreiros dispostos a auxiliarem
a restaurar a paz, a ordem e a espiritualidade. Vintras, motivado
por esses encontros místico-psíquicos, acatou os conselhos
recebidos e daquele momento em diante... pôs mãos à
Oeuvre. Pouco tempo depois fundou a primeira SETENA
— grupo de SETE irmãos que oravam e meditavam
comunitariamente pela auto-iluminação e pela regeneração
da Humanidade. Assim, lentamente, foi-se formando e aumentando o
círculo vintrasiano. Nesse entretempo, o místico adotou
Pierre Michel como nome iniciático. Posteriormente, o trocaria
por Elias (por ter admitido que era a reencarnação
do profeta Hebreu), e, finalmente, assumiria o nome místico
de Strathanael. Publicamente, difundia sombriamente o final dos
tempos, o Advento do Paracleto (Espírito Santo) e chegada
próxima do Cristo Glorioso (Parúsia), e, principalmente,
a necessidade de todos se prepararem para esta Hora Sagrada. Acreditava
que ele e seus discípulos tinham a missão de revigorar
o Catolicismo decadente. O Monge Calabrês Joaquim de Flora
(1130-1202), entre tantos outros estudiosos das Profecias, propôs
o ano de 1260 para que se cumprissem os vaticínios de Daniel
e aqueloutros do Livro da Revelação. Estes
Livros, particularmente o último Livro Canônico do
Segundo Testamento, o Apocalipse — que nada tem de
apocalíptico —
só
poderão ser compreendidos por aqueles que tiverem as chaves
da Santa KaBaLa. Quando digo Santa,
quero me
referir à uma KaBaLa
que
não pode ser lida ou aprendiada nos livros, por mais respeitáveis
e dignos que sejam. Enfim,
acreditava Flora que
o mundo havia sido dividido em Três Idades: A primeira foi
a Idade do Pai, expressa no Primeiro Testamento; a Segunda era a
que ele próprio vivia — a Idade do Filho, na forma
do Segundo Testamento; a Terceira, a Idade do Espírito Santo
sobre a Terra, seria caracterizada pela sabedoria, concórdia,
alegria, fraternidade, justiça e paz entre todos os povos.
Flora viveu e faleceu convicto de que que a História depois
da vinda do Cristo duraria 42 gerações. Como naqueles
tempos se considerava que cada geração durava em média
30 anos, a 42ª geração terminaria no ano 1260,
data em que teria início um novo tempo: o Tempo do Amor ou
do Espírito Santo. Esse
culto foi amplamente divulgado e defendido em Portugal pela Rainha
D. Isabel, Princesa de Aragão e esposa de D. Dinis (séculos
XIII e XIV). No âmbito extravagante da aceitação
de uma tese escatológica do Império Espírito
Santo, seu reino substituiria o do Cristo Jesus,
da mesma forma que este substituíra o de Deus-Pai. Ora, isto
é uma maluquice sem pé nem cabeça. Por isso,
maluquice à parte, os cálculos matemáticos
simples nem sempre estão acordes com as Leis Cósmicas.
E os números bíblicos escondem mais do que mostram.
Ler ao pé da letra 42 e 1260 levará a equívocos
insanáveis. Cuidado é preciso! Por outro lado o número
Três é fascinante. Três...
GuiMeL... Trinta... LaMeD...
Trezentos... ShIN...
Mas, a Lei do Triângulo Eqüilateral, por
exemplo, não pode ser reduzida apenas a dez pontinhos...
Em outra dimensão, Augusto Comte (1789-1857), baseando-se
em Marie-Jean-Antoine-Nicolas de Caritat, Marquês de Condorcet
(1743-1794), propôs para a trajetória do pensamento
e da Humanidade, conforme já recuperei pelo texto de Velez
Rodríguez, a conhecida Lei dos Três Estados:
O espírito humano, na sua marcha espontânea,
está
sujeito a
passar por três estados sucessivos: o estado
teológico ou fictício [as
explicações da realidade seriam estruturadas com base
em seres sobrenaturais, em deuses e em demônios],
o estado metafísico ou abstrato [os seres sobrenaturais,
demônios e deuses seriam substituídos por entidades
abstratas], e o estado científico ou positivo
[o homem se restringirá a examinar tão-somente
as relações entre os fenômenos, desistindo de
suas pretensões metafísicas e/ou teológicas].
Mais outra arbitrariedade do Comtismo. Ora, porque somente três
estados? Esta foi uma das muitas falhas grosseiras do Positivismo,
que apesar de ter nascido morto — mas com ideais nobilíssimos
— fez
escola e discípulos ferozes. Curioso! Contraditório
até as entranhas! Comte rechaçou a metafísica,
mas criou uma Religião da Humanidade. Para mim, dentre os
agnósticos de carteirinha, Comte
foi
o maior metafísico de todos! Comentarei rapidamente o tema
das profecias um pouco mais adiante. Antes, uma palavra sobre Savonarola.
O
Monge Italiano Jerônimo Savonarola (1452-1498) médico,
filósofo, profeta, reformador, político e hábil
legislador, passou prematuramente pela transição imposta
pelos tribunais do santo ofício
aos 45 anos, no mesmo ano que Tomás de Torquemada [(1420-1498)
— primeiro inquisidor-mor da Espanha, que durante os dezesseis
anos em que cumpriu sua missão infernal, estimulou, permitiu,
masturbou-se alucinadamente e ordenou que fossem instaurados aproximadamente
cem mil processos inquisitoriais e torturadas, humilhadas e executadas
milhares de pessoas]. Savonarola foi sacrificado,
mas, como mártir, por causa de suas idéias contrárias
à decadência desonrante, de todos conhecida, do Pontificado
(de quase sempre) de Roma. Ao proclamar, em Florença, o Reino
do Cristo, como Vintras, verberava, quatro séculos antes,
contra os desmandos e as bacanálias eclesiais. Ousou acusar
a Igreja Católica — corajoso esse Irmão! —
bradando: A tua luxúria fez de ti uma prostituta.
És um monstro abominável. Criaste uma casa de devassidão.
Transformaste-te, de alto a baixo, em casa de infâmia. E o
que faz a mulher pública? Acena a todos que passam; quem
tiver dinheiro pode entrar e fazer o que desejar.
Savonarola acabou torturado, enforcado e queimado. Os pedaços
que sobraram foram lançados no Rio Arno, na bela Florença,
que foi fundada no ano 200 a.C., como colônia etrusca.
Vintras,
a seu turno, anunciava profeticamente a proximidade de espantosas
catástrofes pelas quais a Humanidade iria sofrer o rigor
de um julgamento prenunciativo do Juízo Final, e antevia
a futura conversão da Humanidade. Trinta e nove anos após
sua transição irromperia a Primeira Guerra Mundial.
A Segunda, vinte e um anos depois, foi tremendamente mais dolorosa
e infame do que a Primeira. Câmaras mortais de cianeto, Hiroshima,
Nagazaki... Milhões de mortos... Depois... Hoje, Afeganistão,
Palestina e Iraque. Tudo isto determinaria, segundo Vintras, a aparição
de Elias ou de um outro Mensageiro que traria consigo o seu espírito
e poder. Cuidado: aqui não se trata de reencarnação
pura e simplesmente. A Lei é outra! Aqui está implícita
a admissibilidade de Leis que não são aceitas pelas
religiões convencionais,
muito menos pelos cientistas
de plantão. São consideradas apostasias ou heresias.
Ou, ainda, esquizofrenias. Para os especialistas,
pessoas como Vintras ou como eu são esquizofrênicas,
isto é, portadoras de um conjunto de psicoses endógenas,
cujos sintomas fundamentais apontam para a existência de uma
dissociação da ação e do pensamento,
expressa em uma sintomatologia variada, como delírios persecutórios,
alucinações — auditivas e visuais — labilidade
afetiva etc. Como esses especialistas
BOÇAIS nunca passaram por uma experiência
mística, e só sabem repetir como papagaios-falantes
o que lêem nos compêndios ou ouvem nos congressos dos
quais participam, essas coisas vintrasianas e rodolfianas
esquisitas os amedrontam e os confundem. Esses tais de Vintras
e de Rodolfos são esquizofrênicos. Ou satanistas. É
o laudo. Remédio
neles e internação se preciso for. Por isso, os místicos
devem ser cautelosos. Religiosos
e especialistas não
gostam de místicos. Os místicos, particularmente os
Iniciados, devem falar ou escrever aquilo que possa servir de estimulação
positiva ou que desencadeie uma ascensão espiritual interior.
No mais, silêncio. Não por medo dos religiosos
ou dos especialistas, mas
para não ofender ou causar ira ou dor desnecessárias.
Da mesma forma que uma guerra não muda corações,
falar o que não deve e o que não pode ser dito é
uma afronta à liberdade do outro em não querer saber.
Nós místicos temos que aprender duas coisas: não
somos os detentores da verdade, nem podemos julgar os outros por
suas convicções. E comentar o que não deve
ou pode ser comentado é despertar em quem ouve os piores
sentimentos. E, quando fazemos discursos esotéricos sem que
nos consultem, estamos, verdade seja dita, julgando nossos irmãos
interlocutores menos capacitados espiritualmente do que nós.
Atenção: isto não é nada mais nada menos
do que vaidância, mistura de vaidade
com arrogância. Precisamos estar atentos para não termos
que responder por isso também. Quanto a Vintras, talvez tenha
falado além da conta e prodigalizado sem se aperceber. Agora,
provocar no(s) outro(s) a possibilidade de uma DIALÉTICA
SUPERIOR É UMA OBRIGAÇÃO DE TODO E QUALQUER
MÍSTICO CONSCIENTE. Essa coisa fedorenta de para
responder a uma pergunta perguntar ao outro qual é o
seu grau, é de um mau gosto e de um egoísmo ímpares.
Quem pergunta está, geralmente, apto a poder receber uma
resposta. Então, que se responda, com a cautela devida. Deixar
o(s) outro(s) a pé é uma maldade e uma fraternidade
às avessas. Eu sempre respondi tudo a todo mundo. Com precaução,
claro.
Profecias.
O fato é que os místicos, geralmente, quando têm
visões, estas são intemporais, isto é: podem
acontecer de imediato ou não, e, se acontecerem, ou inexoravelmente
tiverem que acontecer proximamente, normalmente as datas exatas
não são decodificadas no êxtase místico,
porque o tempo é um atributo da realidade, da consciência
objetiva, não da atualidade cósmica. Acho que este
momento é próprio para relatar um fato pessoal. Acredito
que será ilustrativo. Mais ou menos uns dois meses antes
de a mãe dos meus filhos ficar grávida de nosso segundo
filho (uma menina), eu tive uma visão interna de que minha
então esposa (hoje estou divorciado dela) ficaria grávida
de uma menina. Assim sucedeu. Mas, eu nunca soube o dia exato em
que ela nasceria. Hoje, 23 de Julho de 2004, 24 minutos, madrugada
do dia 23, minha filha, que se formou em Psicologia, está
completando suas bodas de prata: 25 anos. Em outra dimensão,
algumas profecias são de uma exatidão surpreendente!
A Grande Pirâmide! Egito Antigo! Quanto à questão
da conversão da Humanidade, estou de acordo com Vintras.
Mas, acredito que essa transformação não haverá
de se dar no seio de uma religião específica. Em outro
texto digital que escrevi há algum tempo e está disponível
nesta página — UMA AVENTURA
ROSACRUZ FORA DO CORPO. DEPOIMENTO:
ANDROGINIA MÍSTICA
— afirmei, e continuo a pensar assim, que na
eviternidade inexistente do inexistente tempo, muitos e todos recobrarão,
definitivamente, a instância primordial de SERES
ANDRÓGINOS. O RAMO
ASCENDENTE DA TRAJETÓRIA PARABÓLICA DO ENTE JÁ
ESTÁ EM CURSO. Não pode ser sempre
inverno; não pode ser sempre verão. Há dias
chuvosos e dias ensolarados. A Primavera está nascendo para
os que estão atentos! Então desejo e pronuncio o mantra
sânscrito com o meu Coração: LOKA
SAMASTHA SUKINO BHAVANTU! LOKA
SAMASTHA SUKINO BHAVANTU! LOKA
SAMASTHA SUKINO BHAVANTU! OM SHANTI,
SHANTI, SHANTI-HI.
Que todos os entes de todos os universos (que são UM)
alcancem a PAZ PROFUNDA, e que a desejada TRANSMUTAÇÃO
ALQUÍMICA INTERIOR possa ser operada. May all
the beings in all the worlds be happy. May all the beings in all
the worlds be happy. May all the beings in all the worlds be happy.
AUM Peace, Peace, Peace.
|
O reino do céu,
que é descrito por muitas religiões como um lugar
físico de delícias a ser conhecido depois da morte,
é uma bem urdida estória da carochinha (ou da cacholinha)
para impressionar os fiéis e os crentes, e mantê-los
permanentemente sob domínio. A maldita contrapartida para
um mau comportamento mortal é o fogo abrasador do inferno
ou qualquer coisa do tipo que o valha. Mas, se o inferno existe,
como disse Hans Urs Von Balthasar (1905-1988), deve estar vazio.
Inconciliáveis contradições: pensamento linear
Ocidental versus pensamento circular do Oriente; vida prazerosa
abençoada ou morte perpétua irreversível versus
Necessidade e Reciprocidade. Incomparavelmente pior do que esse
inferno de brinquedo é se deixar ser devorado. Esfinge: DECIFRA-ME
OU TE DEVORAREI. Como o Reino está dentro,
este dentro está sendo desocultado por todos que O buscam.
Daí a conversão ao D'US INTERIOR
e a aceitação In Corde do CRESTOS
KÓSMICO por um contingente cada vez maior de
seres humanos. Vintras intuiu isso muito bem. Não será,
portanto, uma conversão religiosa acreditada no sentido vulgar
ou profano do termo, mas uma CONVERSÃO
INTERIOR de natureza MÍSTICA, RELIGIOSA
e INICIÁTICA. Vintras estava certo
em sua esquizofrenia(?!), mas expressou publicamente suas
vidências psíquicas de uma forma teurgoteoescatológica,
smj, um tanto exageradas. Penso que assim tenha sido, o que, para
mim, não faz nenhuma diferença. Buddha, Akhnaton e
Jesus também cometeram seus equívocos. E daí?
Mas, esse tempo anunciado está sendo gestado em meio a muitas
dores, múltiplas doenças e diferentes formas de sofrimentos.
É assim; mas não precisa(va) ser assim. Como tudo
no Universo funciona de acordo com a Lei dos Ciclos (com subciclos
e sub-subciclos), a agonia de Pisces ainda não acabou,
ainda que este Ciclo já tenha se encerrado e estejamos vivendo
a Era de Aquarius. Esta Era, que é positiva em relação
à que se encerrou, não configurará um paraíso
sobre a Terra. Mas, desembocará em um tempo teocientífico,
no qual um Conselho Internacional Aristocrático (Filosófico)
comandará mais concertadamente os rumos e os caminhos da
Humanidade. Quanto ao Juízo Final, isto está relacionado
ao final de um ciclo cósmico e começo de outro. Eu
não sei exatamente o que Vintras pensava a respeito deste
assunto. Resquícios de uma pedagogia da palmatória?
Pode ser. Mas, uma das coisas que não entra na minha cabeça
é o conceito misturado de teleologia com escatologia. O grande
teólogo Hans Balthasar já citado disse: A
Escatologia é o olho da tempestade na Teologia dos nossos
tempos. De qualquer sorte, um GRANDE
JUÍZO sempre acontece no final de cada Grande
Expiração Cósmica. JUÍZO
entre o ente e o ENTE que nele — ente —
sempre esteve, está e estará. Em um nível menos
intenso, mas fundamental e equivalente, a cada vez que dormimos,
durante o sono, passamos diária e inevitavelmente por uma
espécie de juízo final, ou, se se preferir, um juízo
parcial. Mais não posso comentar. Minha esquizofrenia só
me permite esquizofrenizar estes comentários. Quem se dispuser
a meditar sobre esta afirmação, acabará descobrindo
seu significado e concordando comigo.
Por
tudo isso e por outros motivos, o Moinho de Tilly-sur-Seulle acabou
se tornando um lugar de peregrinação. Todos queriam
conhecer o Santo Profeta. Ainda bem que eu não sou profeta
e muito menos santo. Assim, posso, em silêncio, cumprir minha
missãozinha aqui no meu canto. Sossegado. Eu não sei
se teria energia para sofrer e passar o que Vintras passou. Acho
que sou mais frágil do que ele. Ele, inclusive, teve seus
Judás Ihariotes. Quem não os teve? Dois membros de
sua Organização tiveram que ser expulsos da Oeuvre
de la Miséricorde (que acabou recebendo o epíteto
de herética) por terem praticado orgias sexuais na Capela
particular de Vintras – o Cœnaculum
(o Cenáculo). Que fizeram esses dois Ihariotes? Propagaram
contra o Místico as revelações mais odiosas.
O Abade Charvoz comentou com Éliphas Lèvi (que reprovou
Vintras in totum e o considerou um alucinado triunfante,
como também admitia que Charles
Naundorf era um grande charlatão)
que era mais prudente e mais adequado atribuir as acusações
dos Judás (um tal de Gozzoli e um outro tal de Alexandre
Geoffroi) ao ódio, ao desprezo e à inveja que passaram
a nutrir por Vintras e pela Oeuvre por
terem sido expulsos da Associação, em virtude de terem
cometido exatamente os atos impublicáveis que imputavam a
Vintras. Esse filme não era novo. Nem naquela época.
Depois de duas frases imorredouras, Alea jacta est
(A sorte está lançada) e Veni, vidi,
vinci (Vim, vi, venci), não perguntou, incrédulo,
Caius Julius Cæsar, ao ser assassinado com 23 punhaladas nas
escadarias do Senado, nos idos de março (44 a.C.), pelo filho
único e adotivo: Tu quoque, Brute, fili mi?!
(Até tu, Brutus, meu filho?!). Caius Suetonius Tranquillus
(75?-160?), escritor romano autor de Vidas dos Doze Césares,
deixou escrito que esta frase foi pronunciada em grego: kai\
su\, te/knon?! (Até você, minha criança?!).
No âmbito do Direito, o tu quoque
embute a idéia de que ninguém pode invocar quaisquer
normas ou preceitos jurídicos após descumpri-los.
Isto porque, não podem ser adquiridos quaisquer direitos
de má-fé ou em contraposição à
Lei. A pétrea cláusula (dispositivo constitucional
que não pode ser revisto) do direito adquirido não
poderá prevalecer jamais desta maneira. Marcus Junius
Brutus Caepio (85 a.C.-42 a.C.), debilitado e derrotado
por Otávio e Marco Antônio, e informado da morte de
sua esposa, Portia, suicidou-se, evitando ser preso e executado.
Suas últimas palavras foram: Escaparei, sim,
mas desta vez com as mãos, não com os pés.
Esses camaradas todos não ouviram os conselhos de Sêneca,
que ensinou: Tria... praestanda sunt ut vitentur: odium,
invidia, contemptus. (Três são as coisas
que mais devem ser evitadas: ódio, inveja e desprezo). Isto
considerado, este é um dos problemas gravíssimos (mas
previsível e até contornável) das organizações
e das fraternidades místicas ou iniciáticas. Os despreparados
(e até os sem-alma) entram — porque para entrar basta
mentir, fingir e falsificar — depois metem os pés pelas
mãos, são desmacarados, afastados e, a partir daí...
tricas, futricas, intrigas, mentiras, falsos testemunhos e sei-lá-mais-o-quê.
Estes irmãos infelizes fazem parte do grupão que não
conseguiu decifrar a Esfinge. Serão, fatal e infelizmente,
devorados. O veneno que envenena é o veneno que fabricará
o veneno que envenenará. Quem tiver olhos para ler estas
últimas linhas, que as releia. Infeliz aquele que tiver que
testemunhar. Mas, maldito aquele que testemunhar em falso. Estará
também cometendo suicídio sem o saber, o que não
muda absolutamente nada. Em sua próxima encarnação,
a morte será penosa e possivelmente violenta. Eu não
desejo que seja desta forma, mas não pode ser de outra. Se
eu pudesse, mudaria esse desígnio, mas não posso.
Disse Helena P. Blavatsky no volume VI de A Doutrina Secreta
— Objeto dos Mistérios e Prática da Filosofia
Oculta: Quando a consciência se ocupa de
coisas espirituais transporta-se a um Plano Espiritual... Os maus
impulsos e tendências, depois de impressos na natureza humana,
não podem se transmutar de repente... onde haja infortúnio
e miséria, ali estará o inferno... Toda a causa gerada
no Plano Físico repercute ... em todos os Planos...
Ai
do maldito. Ai do traidor. Ai do assassino. Ai do suicida.
Infeliz
do homem ou da mulher sem-alma.
Bem-aventurados
os que se arrependem e retornam ao CAMINHO. A recuperação
do que foi perdido será lenta, mas não é impossível.
Oremos:
|
A
maioria dos ocultistas franceses e belgas e todos os vintrasianos
eram naundorfistas, entre os quais figuravam vários membros
da aristocracia francesa. O próprio Charles Guillaume Naundorff
(1785-1845) — o Rei Perdido e Delfim da França segundo
o próprio Vintras e muitos outros místicos do século
XIX como Joséphin Péladan, Stanislas de Guaita e Saint-Yves
D'Alveydre que o consideravam, além disso e por isso, depositário
das chaves esotéricas do Cristianismo Gnóstico, domínio
que Éliphas Lèvi rejeitou — sentiu-se atraído
pelo movimento de Vintras. Naundorf acabou falecendo na Holanda
em 1845, mas, anteriormente, em seu exílio em Londres, produziu
duas obras importantes: Doutrina Celeste e A Revelação
Sobre os Erros do Antigo Testamento, este último, segundo
consta, psicografado sob a inspiração de Joana D'Arc.
O que parece incontestável é que o movimento místico
organizado e dirigido por Vintras possuía um caráter
religioso-escatológico-teúrgico em seu aspecto público
(exotérico). Hóstias consagradas sangravam, cálices
vazios se enchiam de vinho que se transformava em sangue, músicas
melodiosas e desconhecidas eram ouvidas nas cerimônias místicas,
perfumes de natureza ignorada eram sentidos e inalados, curas e
prodígios eram operados contraditando as lógicas científica
e médica da época, manifestações visíveis
de entidades espirituais eram freqüentes e mensagens místicas
eram reiteradamente recebidas. Ora, tudo isso incomodou
o Governo Francês e inquietou a Corte Papal, e Vintras foi
torpemente acusado de fraude e de charlatanaria, sendo condenado
a cinco anos de prisão em 20 de Agosto de 1842, de onde saiu
ileso em 25 de Março de 1848. No cárcere, criou a
Ordem dos Cavaleiros da Virgem Maria e escreveu um ritual em honra
e glória de Melquisedek, inspirado, segundo declaração
do próprio Vintras, por um ser angelical. Prosseguiu com
as ordenações de Sacerdotes da Oeuvre de la Miséricorde,
que acabaram se constituindo nos alicerces e nas colunas da Ordem
do Carmelo. Mas, em 8 de Novembro de 1843, o Papa Gregório
XVI, por intermédio de um Breve, condenou oficialmente a
Ordem Vintrasiana.
De
repente, lembrei-me de Dom Marcel Lefèbvre (1905-1991). Um
disse: Serviu à causa da Igreja com todo o seu
coração e toda a sua fé. Outro
disse: Nunca perdoaremos a Dom Lefebvre
a sua atitude durante o Concílio Vaticano II... Eu
digo: transtorno fóbico-ansioso da Cúria em torno
de uma posição teológica que nunca representou
uma ameaça real para a Igreja Católica. 30 de Junho
de 1988: O Vaticano excomungou o digno Bispo Francês Monsenhor
Marcel Lefèbvre por não aceitar as mudanças
decididas e aprovadas no Concílio Vaticano II. Ué!
Dom Lefèbvre não podia discordar? É claro que
podia. 90% da confraria católica há-de concordar comigo.
Mas, essa mesma confraria, de uma maneira geral, sempre ficou calada
e cumpriu a cartilha dogmático-retrógrada da Santa
Sé. Como os Generais de Hitler. Mutatis mutandis,
é claro! O tempo vai passar, e, um dia, um papa irá
reconciliar Dom Lefèbvre com a Sé de Roma. Quem quiser
comprar esse bilhete, pode comprar. É premiado. Mas, as defesas
de caráter são difíceis de ser erradicadas
pelo fato de serem bem racionalizadas. Quando são coletivas
são piores e mais perigosas. As autojustificativas podem
levar os seres humanos às maiores insanidades. Para mim,
não há diferença alguma entre manter-se em
silêncio a respeito da excomunhão de Dom Lefèbvre
e silenciar enquanto milhares de judeus eram assassinados nas câmaras
de gás. Mutatis mutandis. Sem mutatis mutandis
também serve. Medo da danação eterna? Medo
de morrer? Ora, só se morre uma vez. Em uma encarnação,
obviamente. Também só se vive uma única vez.
Na encarnação que está vigendo. Evidentemente.
E a danação é, em nome de qualquer crença,
matar, torturar, estuprar, excomungar e pensar que com isso se está
conquistando o favor dos poderosos e a graça de um deus criado
à própria imagem e semelhança de cada um que
o imagina barbudo, branco e de olho azul, antropomorficamente, em
sua razão pessoal. O fato é que, tanto generais quanto
cardeais necessitam de subservientes, isto é, de homens e
de mulheres que consentem em servir a dignidades eclesiásticas
que compõem o Sacro Colégio Pontifício e a
quaisquer generais abaixo do marechal de maneira humilhante. Mas
generais e cardeais detestam e desprezam pessoas servis. E o Verdadeiro
D'US não pode ser comprado ou realizado
por essas vias enfermiças. Só in Corde
e revisitado
diuturnamente. E não há atalhos especiais para os
subservientes. Eu não quero saber: vou repetir essas reflexões
até meu último suspiro. Pode ser que alguém
leia um texto destes e não leia outro. Então, não
tenho alternativa. Repetir, repetir e repetir. Mas não é
nada disso, meus irmãos. Não existe morte. Ou: só
existe morte! Tudo depende. Ao se resolver a equação
de 2º grau x² = 49, as raízes
que satisfazem esta equação são: x'
= +7 e x" = –7. Só
a VIDA tem existência real. Melhor: ATUAL.
A morte é uma ilusão da nossa consentida ignorância.
Todos nós comprovaremos isso. De uma forma ou de outra. Isto
é: VIVENDO ou MORRENDO.
Nesse ínterim... reflitam sobre o conteúdo desta sentença
de Vicente Velado, o Irmão que me presenteou com o retrato
autografado de Vintras que abre este ensaio digital:
Não deixe que fechem
o Livro da Vida sobre você. Abra esse Livro e o leia.
Compreenda bem que ele não é proibido —
apenas é Sagrado, Sagrado no sentido de que você
deve vê-Lo assim, para que possa entendê-Lo. Então,
escreva você mesmo seu Livro Sagrado, mas saiba que
esse Livro tem de ser de toda a Humanidade; não pode
ser apenas de você mesmo e de seu clã, da sua
tribo, da sua etnia.
|
Dom
Marcel Lefèbvre (1905-1991)
E
continuo me lembrando. FUDOSI (FEDERATION UNIVERSELLE DES ORDRES
ET SOCIETÉS INICIATIQUES. FEDERATIO UNIVERSALIS
DIRIGEN ORDINES SOCIETATESQUE INITIATIONIS) 1935: exclusão
de duas Ordens por causa de rivalidades e disputa de cargos. Arnold
Krumm-Heller, Constant Chevillon e Reuben Swinburne Clymer (1878-1966)
fundam a FUDOSFI (Fédération Universelle des Ordres,
Sociétés et Fraternités Initiatiques). Clymer
acaba se tornando inimigo pessoal de Harvey
Spencer Lewis. E continuo me lembrando. No opúsculo O
Movimento Oculto no Século XIX e sua Relação
com a Cultura Mundial (oitava palestra) Rudolf Steiner (1861-1925),
originariamente teósofo, fez acusações gravíssimas
contra Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891) e a Doutrina Secreta.
Gravíssimas. Quase de não se poder acreditar. E essas
coisas continuam a ser veiculadas hoje, 2004. Papus, por outro lado,
teve que aceitar ser testemunha de um duelo, em nome da honra, entre
Guaita e Jules de Bois. Que horror! Entretanto, eu não sou
e não serei juiz de nada nem de ninguém. Comento para
alertar. Só isso. Cada qual que aprenda que o maior inimigo
do homem é o próprio homem, e que, se isto for uma
verdade irredutível, responda por seus atos. Por isso, repito:
|
E,
mais uma vez, para que possamos todos refletir:
Do que tudo, muito mais
Prevejo com exaltação:
AMORC, CR+C e demais
Serão (são) um só CORAÇÃO.
|
*
* * *
* * *
As
SETENAS, mais tarde federadas, deram origem à Ordem
do Carmelo. Contudo, em decorrência da espúria aliança
entre Napoleão III e o Vaticano, Vintras e seus Irmãos
voltaram a ser perseguidos. Vintras foi definitivamente condenado
pelo Vaticano em 1851 sob a acusação de comandar práticas
satânicas e infernais. Entretanto, o Místico-Teurgo
e Soldado da Luz Vintras era um combatente consciente e pertinaz
das forças das trevas, tendo chegado, inclusive, a elaborar
um complicadíssimo ritual de exorcismo, que utilizou não
raras vezes. Para se prevenir (e aos membros de sua confraria, como
também àqueles que solicitavam seu auxílio)
das tentações e das ações inebriantes
dos representantes das trevas, Vintras, executando sagrada e criteriosamente
um ritual de natureza mágico-teúrgica, confeccionava
hóstias consagradas que operavam alterações
súbitas e incomuns naqueles que as recebiam. Redigiu, também,
diversos rituais e cerimônias protetivas. Segundo consta,
uma dessas cerimônias era o Sacrifício Provitimal
de Maria. Praticava, portanto, exatamente o oposto do que era
acusado, mas, parece que não conseguiu impedir as sempre
presentes e indesejáveis infiltrações de representantes
da senda esquerda, que estava articulada e empenhada em, sub-repticiamente,
na segunda metade do século XIX, impor seu domínio
aos mais variados círculos ocultistas e fraternidades místicas
em todo o continente europeu. Tempos difíceis. Ontem, hoje,
amanhã. Sempre. Missas negras, capelas sacrílegas,
símbolos e cultos fálicos e invocações
bastardas prosperavam e atraíam os incautos e distraídos.
Ontem, hoje, amanhã. Sempre. CUIDADO IRMÃOS!
Resistiu Vintras enquanto pôde. Mas, em 17 de Março
de 1852, o Santuário de Tilly — sede da Ordem do Carmelo
— foi covardemente invadido, interditado e seus arquivos,
instrumentos sagrados e objetos ritualísticos confiscados.
Vintras e alguns Irmãos-sacerdotes escaparam ao cerco policial
e se refugiaram em Londres. De lá, difundiram a Obra da Misericórdia
para a Escócia e boa parte da Inglaterra. Também foram
instaladas sucursais na Espanha, na Bélgica e na Itália.
Com a queda de Napoleão III, Vintras retornou à França
e não sofreu mais perseguições em sua missão
apostólica nem encontrou obstáculos à ordenação
de novos sacerdotes até o dia de sua Grande Transição,
que ocorreu em Paz
Profunda em 7 de Dezembro de 1875, em Lyon. Com a Transição
de Vintras, assumiu o comando da Ordem do Carmelo o teólogo
Joseph-Antoine Boullan (1824-1893), que a dirigiu, até sua
morte, por dezoito anos consecutivos. Ao assumir a direção
da Instituição, Boullan, um fanático atraído
pelas aparições marianas e pelas profecias apocalípticas,
proclamou-se Supremo Pontífice, declarando-se, inclusive,
a reencarnação de João, o Batista. Escreveu
Boullan: Um grande número de vidas de santos
ou de santas que Deus elevou a um estado particular de graça
sobrenatural, estão recheadas de fatos referentes a que estas
almas sofreram as enfermidades dos outros, que aceitaram sofrimentos
estranhos, que suportaram enfermidades que não lhes pertenciam
e das quais os demais acabaram por ficar liberados... Pergunto:
então, por que o pecado não poderia ser também
transferido, previamente, pela aceitação da alma reparadora...
A base da Reparação, o que com justo título
é sua verdadeira pedra angular, é a reversibilidade,
não possível, e sim real, do pecado; é a transferência
de uma pessoa a outra, com seu consentimento, dos pecados estranhos
em seu ser... A transferência de um pecado de uma pessoa a
outra é um fato que pode ser verificado e comprovado da maneira
mais segura... Ser uma alma reparadora consiste em aceitar o pecado
de nossos irmãos na medida em que expiamos os nossos. Trata-se,
com ajuda da Graça Santificante que está em nós,
assim como da Graça que nos é concedida, de suportar
o peso do pecado e destruí-lo em nosso corpo pela virtude
de Jesus Cristo... Assim, na Divina Reparação, o pecado
está em nós com suas características, sua espécie,
sua natureza e todas as formas que tinha naquele que o cometeu.
A alma reparadora experimenta e sente o pecado em seu corpo... constata
as fases e os progressos do vícios, dos defeitos e das paixões.
Em uma palavra: sofre todas as crises da lei do pecado.
Doutor em Teologia, Boullan certamente conhecia a Doutrina da Reparação,
mas a adaptou aos seus desvarios psicóticos. Neste ensaio,
não pretendo discutir as idéias e os conceitos inerentes
à essa Doutrina. Mas, com base em qualquer doutrina, ninguém
está autorizado a transgredir por si mesmo, muito menos ser
o gerador de perversidades em série. Isto não é
religiosidade; é psicopatia da melhor qualidade. De passagem:
fanatismos, ultramontanismos, religiosidades mal resolvidas e patologias
mentais sempre andaram de mãos dadas, aconchego propício
e perfeito para... Amparado nesta Doutrina, Boullan submetia as
noviças a cerimônias aberrantes que não reproduzirei
neste trabalho. Acabou Boullan — tristeza! — sendo acusado
das práticas mais perversas e hediondas, tendo sido submetido
a um Tribunal Iniciático, do qual fizeram parte, entre outros,
Guaita — o convocador do Tribunal — Péladan,
Bricaud, Barlet e Papus, Tribunal este que o condenou à Morte
Iniciática. Esta exclusão terrível
determinava, minimamente, a difusão pública dos
preceitos da Organização, a denúncia aberta
pelos meios de comunicação da época das ilicitudes
praticadas e o desmascaramento de suas práticas e daqueles
que não foram alienados por Boullan e que o acompanharam
depois da Transição de Vintras. Este acontecimento
ficou conhecido como a GUERRA DOS MAGOS. Infelizmente,
a bondade de Vintras o impediu de perscrutar o interior doentio
de Boullan, e o que hoje lhe é atribuído como nefando
teve origem após sua partida deste Plano. Não se pode
esquecer do fato histórico de que Vintras ao sair da prisão
em 25
de Março de 1848, encontrou a Ordem que fundara imersa
em um antro de masturbação e de insanidades. A
emissão de sêmen era fundamental para criar novos anjos,
segundo um tal de Pierre Maréchal que havia adquirido prestígio
e ascendido no seio do Movimento. O que esses malucos não
sabem — mas, iludidos, pensam que sabem — é que
a Andoginia Primordial NÃO NECESSITA
de práticas sexuais abstrusas para ser reconquistada. Mais:
sem que saibamos, somos todos andróginos. Esta é uma
das poucas Leis Cósmicas de que tenho CERTEZA ABSOLUTA.
Vintras, responsável e coerente, expulsou imediatamente o
sacerdote Maréchal
e restabeleceu a pureza e a harmonia da Ordem. Contudo, a notícia
dos escândalos transbordara e foi utilizada pelos antivintrasianos
para desacreditar a Obra de Vintras. Padeceu muito esse nosso Irmão.
Religiões nascem; religiões morrem. Seitas nascem;
seitas morrem. Ordens, entre aspas, nascem; ordens, entre
aspas, morrem. Apenas a Rosa+Cruz Invisível é
eterna. Até suas representações visíveis
ou são dissolvidas ou entram em dormência. Este é
um dos porquês, ainda que muitos não compreendam e
não aceitem, da invulnerabilidade do CICLO de 108
ANOS.
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* * *
* * *
EXCERTOS,
CITAÇÕES E REFLEXÕES DO PENSAMENTO DE PIERRE
MICHEL
Dormi,
ó indolentes mortais!
Ficai sobre vossos leitos macios!
Sorri a vossos sonhos de festas e de grandezas...
Pendei para o lado da Terra, mas não vos espanteis deste
ruído tão ativo dos túmulos.
Dormi...
Elias, no ocidente, põe uma Cruz na Porta do Templo!
Ele a sela com fogo e com o aço de um punhal.
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* * *
Oh!
Se meu espírito tivesse qualquer parte nestes escritos...
Não é obra minha; eu não dei à ela o
meu concurso por investigação ou por desejo...
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* * *
Eu
posso dizer ao meu Deus com um coração livre: Custodi
animam meam et erue me; non erubescam quoniam speravi in Te. (Guarda
a minha alma e livra-me; não seja eu confundido por ter recorrido
a Ti. Os Salmos, XXIV, 20).
Salmo
XXIV, 20
*
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Estou
sempre à espera de novos tormentos.
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* * *
...não
poderei viver sem amar Deus!
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Ah!
Se eu fizesse conhecer aos inimigos da Obra da Misericórdia
o que se passa em mim, seriam eles que clamariam vitória.
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* * *
FILOGENIA
DO MODERNO GNOSTICISMO
(Phylogeny of Modern Gnosticism)
Fonte:
http://www.hermetic.com/dionysos/phylo.htm#carmel
Acesso: 24/7/2004
*
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* * *
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Pierre
Eugène Michel Vintras foi um homem de bem em meio a uma coletividade
que, de certa forma, não estava preparada para amá-lo,
nem muito menos compreendê-lo. Viveu em uma
época em que a teurgia, o espiritismo, o mesmerismo, a magia
e o próprio misticismo se confundiam entre si, e as pessoas
— nomeadamente a aristocracia e os que estavam bem posicionados
socialmente — estavam mais preocupadas e interessadas em ver
as coisas acontecer do que buscar a vereda iniciática e se
porem em caminho. Eu costumo qualificar respeitosamente
essa coisa toda de pirotecnia mágico-teurgo-especulativa.
Essa pirotecnia ocorria e continua a ocorrer porque os entes encarnados
querem ver com os olhos físicos o que só pode ser
visto com o Olho da Alma. As pessoas queriam e precisavam ver, Vintras
mostrava. As pessoas continuam a querer e a precisar ver. Há
quem mostre.
O
misticismo, tão-só pelo puro e desinteressado misticismo,
dá trabalho e, em certo sentido, é muito doloroso.
O sendeiro será indubitavelmente florido; mas é cheio
de espinhos, de armadilhas e de contradições. Tudo
isso por conta da ignorância e da vaidade humana. Vintras,
cristão, teólogo, sensitivo e místico por excelência,
interpretou suas experiências psíquicas interiores
como eu interpreto as minhas, isto é, no nível sincero
e digno que decodificamos as impressões cósmicas recebidas.
Para ele foram sagradas. Para mim são sagradas. Vintras manifestava
publicamente determinadas Leis que acabaram por arrastá-lo
à prisão, com prazer para seus detratores e humilhação
educativa para seu coração. É assim mesmo.
É imperativo que sejam respeitadas as recomendações
iniciáticas: A vós é permitido
conhecer os mistérios do Reino da Divindade; porém,
aos que são de fora [os não-iniciados],
todas estas coisas se dizem por parábolas, para que, vendo,
vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não
entendam, de sorte que não se convertam, e lhes sejam perdoados
os pecados (Evangelho de São Marcos, IV, 11
e 12). Grande mistério no final desta advertência!
Esta admoestação aparece preliminarmente em Mateus,
VII, 6: Não deis aos cães as coisas santas,
nem lanceis aos porcos as vossas pérolas, para que não
as esmaguem com os pés, e, voltando-se contra vós,
vos dilacerem. Nenhum mistério nesta advertência.
Por isso, o verdadeiro significado dos mistérios não
é conhecido (nem jamais poderá ser) fora das Escolas
Iniciáticas. Mas Pierre Michel, apesar de conhecer bem o
sentido destas duas advertências, não as respeitou.
Fico, contudo, pensando: será que alguns Iluminados, como
parte de suas missões, devem quebrar certas regras? Ou será
que ultrapassam determinados limites porque se julgam inatingíveis?
Isso não sei responder no que concerne a Pierre Michel —
abençoado seja.
Em
um ponto deste ensaio, que estou escrevendo com satisfação,
afirmei: ninguém é dono da verdade. Ninguém
é. A VERDADE vencerá independente
de quem julga possuí-la parcialmente ou até —
inacreditável! — integralmente. Eu, por exemplo, durante
anos acreditei que a única Ordem detentora do direito e do
poder de transmitir a Iniciação autêntica era
a Ordem Rosacruz – AMORC. Quero deixar bem claro que o único
responsável por esta asneira sou eu. Mas, já faz muito
tempo que fiquei curado dessa doença involuntária,
mas descabida e envergonhadora. Todos nós cometemos nossos
equívocos e continuaremos a cometer. Talvez até os
mesmos erros. Mas, certamente, cometeremos outros nessa peregrinação
interminável e ilimitada em busca da VIDA
que se contrapõe à morte.
Em um dos documentos mais fascinantes produzidos por Vicente Velado
(O
Sacrifício Ritualístico de Animais e a Política)
ele recorda: Akhnaton (a Paz do Cristo Cósmico
esteja com Ele) também sacrificou um pato ao Disco Solar,
conforme consta de um alto-relevo
do Antigo Egito. Eu fui vegetariano por mais de
doze anos e deixei de sê-lo. Hoje (para sempre) não
coloco mais em minha boca a carne de qualquer irmão. Que
meu D'US INTERNO não se envergonhe de mim
como eu me envergonho D'le, por ter, durante muito
tempo, retrocedido. Perdão. Peço, chorando muito,
humildemente perdão por este crime. Assassino não
é só aquele que mata seres humanos!!!
Com
que direito julgaram Pierre Michel? Satanismo? Se ser satanista
é ser adversário de todas as pessoas e instituções
que tentam dominar outras pessoas, impondo infernos, dogmas e pecados
e determinando obediência às vontades de seus deuses,
então eu sou satanista convicto. Se Satanismo representa
ser gentil e ter a mente livre dos valores pré-fabricados
e impostos pela sociedade, então eu sou um satanista convicto.
Se ser satanista é não se deixar subjugar pelos caprichos
dos outros, então eu sou um convicto satanista. Se ser satanista
é não se deixar abater nem se intimidar pelas diversas
formas de repressão injungidas pela sociedade, então
eu sou um senhor satanista. Se ser satanista é, quando necessário,
dizer: sinto muito, eu cometi um engano, desejava que pudéssemos
nos ajustar de algum modo, então eu sou um satanista persuadido.
Ora, muçulmanos, budistas, cristãos, evangélicos,
satanistas, judeus, rosacruzes, pedreiros-livres, martinistas, espíritas,
lamaístas... todos cumprem um papel. Qual o papel mais importante?
O mais importante é exatamente aquele que é desempenhado
por um ser com todo o seu coração, com todas as suas
forças e com toda a sua dignidade. Sempre, sempre categoricamente;
jamais hipoteticamente. E isto implica obrigatória e irrecusavelmente
a exclusão mental de um deus, antropomórfico ou sustentado
mentalmente como uma
abstrata ideação,
como peça de sustentação de todo
um sistema profundamente injusto sob todos os
aspectos e, mais recentemente, como sofisticado produto da sociedade
de consumo, como diz Vicente Velado e com o qual concordo
inteiramente. O subtítulo deste ensaio é Lucubrações
Comparadas, o que me dá oportunidade de reproduzir
abaixo um texto desse meu querido Irmão a quem acabei de
fazer referência. O documento, divulgado hoje, 27/7/2004,
especialmente escrito para o Forum
Teísmo e Religião da Ateus.Net, que roda
em http://www.ateus.net/,
apresenta as seguintes lucubrações, que, advirto:
não serão integralmente compreendidas se examinadas
uma única vez e se houver rancor e preconceito no coração.
Egoísmo, vaidade e preconceito são, de plano, incompatíveis
com LIBERDADE e REINTEGRAÇÃO
e, conseqüentemente, com a desejada, se compreendida e buscada,
realização interna do CRESTOS CÓSMICO.
ATEÍSMO
& MISTICISMO: UMA EVOLUÇÃO DO ESOTERISMO
pelo Frater Velado (*)
A
idéia de Deus (Deus tal qual é apresentado pelas religiões
e por esoteristas não religiosos, como os Maçons,
que o chamam de Grande Arquiteto do Universo) é de um primarismo
tão absurdo que chega a ser um insulto ao bom senso. Essa
concepção, com a conseqüente adoração
e subserviência a uma Divindade imaginada, teria surgido de
um arroubo místico, um fervor espiritual voltado para o bem
geral, mas acabou sendo utilizada para a manipulação
das massas, gerando perseguições, horror e morte —
e isso inclui dois eventos realmente detestáveis para qualquer
primata humano medianamente são de mente: GUERRA e TERRORISMO.
Os
ateus, de uma forma geral, são discriminados pela 'inteligentzia'
cristã ocidental, que os considera destituídos de
sentimentos e totalmente sem 'feeling' para fazerem parte da casta
elitista dos intelectuais cristianizados. Os muçulmanos chegam
a dar-se ao trabalho de produzir ensaios nos quais pretendem provar,
por equações e fórmulas matemáticas
a existência de Deus como o Originador de tudo o que existe,
Criador do Universo e Pai Onipotente e Onisciente. Na agenda islâmica
o ateísmo sequer é cogitado como hipótese a
ser considerada. Contudo, o ateísmo me parece ser condição
'sine qua non' para a evolução da consciência
humana (em última análise também da chamada
evolução espiritual, por paradoxal que isso possa
parecer, já que as pessoas se habituaram a conectar automaticamente
os conceitos de Deus e de espiritualidade, como se uma coisa tivesse
obrigatoriamente a ver algo com a outra).
Devemos
examinar com muita atenção o que vem a ser exatamente
um ateu. O Aurélio define o verbete Ateu assim: "Diz-se
daquele que não crê em Deus ou nos deuses; ímpio."
Essa simples definição é suficiente para nos
mostrar que um místico pode ser ateu sem deixar de ser místico
e, conseqüentemente, esoterista e investigador do oculto, porque
essas condições são muito mais próximas
da ciência do que da religião propriamente dita. Digamos
que a religião seja um mal necessário, um engodo para
as massas não desesperarem ante o jugo das elites imperialistas
e da sua própria oligarquia nacional, que nem sempre é
elite. Deus entra nesse contexto mais como peça de sustentação
de todo
um sistema profundamente injusto sob todos os aspectos e, mais recentemente,
como sofisticado produto da sociedade de consumo.
Acredito
que nenhum ateu, por mais fanático que seja em suas convicções,
deixe de ter mente aberta e se recuse a conjeturar sobre a possibilidade
de existirem instâncias superiores no Cósmico —
níveis mais elevados e provavelmente não-hierarquizados
— onde algum tipo de regência prevalece, definindo leis
da mecânica celeste e do comportamento dos corpos celestiais
(planetas, estrelas etc.) e dos seres animados e inanimados. Tudo
isso, entenda-se bem, completamente destituído da idéia
de Deus, tanto em concepção antropomórfica
como em ideação abstrata.
Na
minha maneira de ver, entendo que talvez um ateu tenha mais condições
místicas do que um 'filho de Deus', justamente por estar
despojado de toda uma parafernália de tabus, a qual funciona
como uma espécie de venda ante os olhos ou mesmo como os
antolhos de um cavalo de montaria ou de tração de
charretes, que só enxerga para a frente, porque se convencionou
que este é o melhor meio de se seguir por um percurso definido.
É assim que o 'filho de Deus' vê o mundo, sempre olhando
para seu 'pai' — Deus — essa figura simbólica
que a mente humana criou no alvorecer da consciência, em um
processo automático de explicação pela similitude.
Mesmo
no atual estágio da sociedade humana o tema Deus é
considerado tabu, e no ocidente poucos místicos conseguem
escrever um ensaio sem mencionar versículos desse livro histórico
— a Bíblia. A quase que total maioria das ordens e
fraternidades ditas esotéricas e iniciáticas —
e nisso incluo a própria AMORC, da qual sou membro vitalício
— simplesmente se recusa a aceitar postulantes que se declarem
ateus 'ab initio', porque isso, segundo entendem, excluiria a possibilidade
de aceitação da concepção pessoal de
Deus, o 'Deus do meu coração, da minha compreensão'.
Tal é a força com que o símbolo Deus carimba
todas as instituições por uma questão social
e por uma contingência cultural simplesmente avassalante.
Cria-se um conceito-carimbo —'contém Deus' —
e isso é considerado bom.
Entretanto,
se examinarmos um sistema de harmonização dos seres
e evolução pessoal bem mais antigo do que o Cristianismo,
o Budismo, tão incensado por esoteristas de várias
vertentes, esbarraremos na crua e nua verdade de que no Budismo
não existe a idéia de Deus. Desta forma, muitos consideram
que o Budismo simplesmente não é uma religião,
enquanto outros afirmam que, paradoxalmente, o Budismo é
e não é ao mesmo tempo uma grande religião.
A idéia do ateísmo místico, portanto, não
é algo novo: remonta ao Buda, e este — quem contestará?
— foi realmente um iluminado. Depois dele, como sempre acontece
em relação aos avatares, seus discípulos criaram
a Ordem Budista e suas divisões, e foram tecendo ao longo
do tempo toda a parafernália tradicionalista e ritualística.
O interessante é que esse 'totum' metafísico se mantém
praticamente incólume aos efeitos da entropia até
os dias de hoje, enquanto outros contexto-tessituras totalmente
baseados em Deus, pouco a pouco vão ruindo. Vejam o Cristianismo
e o Islamismo, sem falar no Judaísmo como Sionismo. Será
que a Kabbalah, com sua Árvore da Vida, se mantém
ereta nessa areia movediça, com sua hierarquia e seus seres
angélicos? Tenho minhas dúvidas, sinceramente.
Contudo,
mesmo inferindo-se que a idéia de Deus
não é necessária para se ter uma religião,
sente-se que há uma necessidade de combater o Mal como entidade,
em um nível de antítese de Deus. Esse Mal seria igualmente
uma criação mental do homem, consubstanciada em pensamentos,
palavras e ações voltados para a malignidade, para
a perversão e para a imposição de sofrimento
ao próximo — sempre ao próximo, nunca a si mesmo
— o que cabe como em uma forma àquela idéia
sartriana de que 'o inferno são os outros'. A congregação
mental dos seres voltados para isso seria o verdadeiro Demônio,
mais ou menos isso que os muçulmanos fanáticos rotulam
de o Grande Satã, estendendo-se essa concepção
ao chamado Governo Oculto do Mundo e não restringindo-a apenas
ao eixo Fundamentalismo Cristão-Sionismo.
Tal
é o apego da imensa maioria dos esoteristas ao obscurantismo
mais crasso, que se aferram desesperadamente não só
à idéia de Deus, como às concepções
medievais de como deva ser uma ordem ou uma fraternidade dita hermética,
iniciática e cultuadora do oculto (quando por sua própria
essência e natureza deveria ser, antes de tudo, vasculhadora,
descobridora, criadora). É tal a exigüidade de visão
dessas toupeiras, que sequer podem conceber a possibilidade de tais
organizações existirem em termos modernos afinados
com a sociedade de consumo. Sim, e porque não? Qual o problema?
Bem, na verdade, o que essa grande massa esotérica deseja
com sôfrega ansiedade é sentir-se mafiada em um clube
muito particular — uma espécie de nicho burocrático
— no qual se masturbem mentalmente andando em círculos
em torno de idéias pré-concebidas, totalmente padronizadas.
Discutem, por exemplo, a autenticidade uma uma ordem esotérica
como se estivessem avaliando a excelência de uma linhagem
de galinhas.
Mas
nem todos os esoteristas, evidentemente, estão inseridos
no padrão 'cuecão' acima, e creio que isso se deva,
de alguma forma, a Aleister Crowley, que realmente teve este mérito:
mexer com a massa encefálica de uma categoria que já
estava sendo mumificada no mais medíocre formol. Graças
a Crowley, muitos místicos passaram a pensar, inclusive misticamente,
e acredito até que isto muito influenciou o Dr. Harvey Spencer
Lewis na fundação da AMORC. Creio que ali estava a
semente que iria germinar, mais tarde, já na administração
de seu filho e II Imperator da Ordem, Ralph Maxwell Lewis, com a
remoção da teurgia dos ensinamentos Rosacruzes distribuídos
em monografias para os estudantes regulares. O atual Imperator,
Christian Bernard, é rotulado por muitos spencerianos fundamentalistas
como um homem que mudou tudo na AMORC, constituindo uma equipe de
cientistas e doutores para redigir monografias, em princípio
destinadas à formação metafísica de
estudantes do oculto. De minha parte, considero que isso foi um
passo adiante na organização de um sistema de estudos
Rosacruz. Vejo a Ordem Rosacruz como uma congregação
de mentes essencialmente dialética, totalmente engajada na
evolução, subindo com a 'Spira Legis' — e não
uma coisa estacionária e estratificada, cristalizada em concepções
do passado. Devemos nos lembrar de que esse passado produziu suas
noções e seus valores como presente, como aqui e agora,
porque significava justamente a atualidade para os místicos
de então. É compreensível que um estudante
de misticismo e de ocultismo — ou de ambas as vertentes —
se agarre à Tradição para se sentir com raízes,
mesmo porque esta é uma fase inicial muito cara para os neófitos
de qualquer ordem ou fraternidade, tanto da luz como das trevas.
O que não é aceitável é que se pretenda
fazer da Tradição o cerne, o tônus de um organismo
metafísico.
Considero
pois que um místico pode ser ateu — dentro da definição
que o Aurélio dá para ateísmo. Este, inclusive,
seria o ateísmo avançado, compromissado com a evolução
cerebral forçada pelo próprio usuário do cérebro.
E isso não é nenhuma novidade, porque se assim não
fosse os budistas não ascenderiam ao Nirvana sem a necessidade
de Deus. O grande mérito do homem, como animal autoconsciente,
haverá de ser superar sua criação mental primitiva
— Deus — substituindo-a por uma noção
mais plausível, científica mesmo. E mais: produzir
sob total controle a evolução da sua própria
consciência e do cérebro, que — digamos assim
— centralizaria o gerenciamento desse processo, estando a
consciência presente em toda a matéria animada que
constitui o corpo de um ser vivo.
É
compreensível que um místico se aferre a princípios
teúrgicos, os quais lhe foram inculcados solerte e inexoravelmente
pela religião, embutidos em seu DNA ao longo das gerações
e gerações de 'filhos de Deus'. Mas, se o místico
fizer uma autocrítica consciente, nos moldes daquelas que
geravam expurgos no Partido Comunista (guardada a distância
da comparação, evidentemente); e, se depois desta,
se dispuser fazer não apenas uma revisão, mas uma
atualização de valores honestamente dialética,
esse mesmo místico acabará por concluir que a idéia
da 'necessidade de Deus' é totalmente prescindível.
Quando esse tabu é removido, todo um campo de visão
inteiramente novo se descortina ante os olhos físicos e suprafísicos
do estudante que realmente quer desvendar o oculto e não
apenas fazer a decoreba, totalmente mecânica, de fórmulas
que julga ser eficientes por serem 'tradicionais', 'antigas' ou
suportadas por alguma egrégora imaginadamente poderosa.
O
místico com essa concepção é aquele
que não busca pura e simplesmente o poder, mas busca algo
muito mais precioso e consistente que é a compreensão
do funcionamento do esquema cósmico e o claro entendimento
do relacionamento bilateral seres-universos. De posse desse conhecimento,
tanto o místico como o ocultista podem contribuir para a
criação de melhores condições de vida
para todas as criaturas, em todos os Planos. Quando alguém,
mesmo que sozinho, consegue produzir isto aqui na Terra, é
realmente uma grande coisa, porque se cria um foco de evolução
sob controle, partindo do qual ele e outros poderão programar
o todo evolutivo em favor de menos sofrimento e de mais felicidade.
Para isso, porém, é necessário que, após
a subjugação do ego, não se deixe florescer
uma nova forma de egoísmo, que seria a exacerbação
do eu superior suposta ou realmente assumido iniciaticamente. Assim,
é fundamental, simplesmente visceral, que se tenha sempre
mente aberta para poder não só aceitar como vivenciar
as constantes mudanças que fazem parte da evolução
do todo.
Paz
Profunda a todos os seres!
_______
(*)
O Frater Velado é Abade Especial da ORDO SVMMVM
BONVM para o Terceiro Mundo http://svmmvmbonvm.org
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Enfim,
se Pierre Michel entendeu que tinha que implementar a Oeuvre
de la Miséricorde porque recebeu um sinal para
assim trabalhar, as mulas-de-padre que o enxovalham pela Internet
precisam reler a Santa Bíblia que essas mesmas mulas proclamam
como o Livro dos livros, pois, repito: o veneno que envenena é
o veneno que fabricará o veneno que envenenará. PRECONCEITO,
na língua portuguesa, possui ONZE LETRAS!
A FORÇA! ARCANO XI DO TARÔ! A FORÇA
É O ARCANO DA INTEGRALIDADE NATURAL DO SER — DO PODER
SEM ESFORÇO. Será que chegaremos a compreender
o que significa PODER SEM ESFORÇO? Enfim,
tudo, sem excessão, deve, obrigatoriamente, estar aberto
— na verdade, escancarado — a todos os questionamentos
que, parafraseando Velado, devem ser vasculhadores,
descobridores, criadores. Para Pierre Michel esqueceram o 70
x 7! PACEM IN TERRIS.
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OBSERVAÇÃO
A
cruz invertida que se vê no balandrau de Pierre Michel na
pintura digital apresentada no início deste ensaio simboliza
a CRUZ INVERTIDA DE PEDRO, o Apóstolo. Esta
CRUZ tem vários significados. Por exemplo:
valor do sacrifício, sucessão, e, principalmente,
lição de humildade. Foi o próprio Pedro que
pediu para ser crucificado de cabeça para baixo por se julgar
indigno de morrer da mesma forma que seu Mestre e Senhor —
Jesus. É um símbolo de superlativa humildade consciente.
Julgar? Acusar? Cobiçar? Criticar? Prevaricar? Isolar? Perdoar?
Punir? Torturar? Assassinar? Explorar? Classificar? Luxuriar? Estuprar?
Excisar? Adulterar? Desurdir? Fofocar? Maquinar? Conspirar? Apodar?
Digladiar? Invadir? Perjurar? Mentir? Prender? Santooficiar?
Dominar? Impor? Trair? Bombardear? Destruir? Degolar? Esqueci alguma
coisa? Em nome de quê? Não entendo. Todos estes questionamentos
podem ser direcionados para múltiplos aspectos e fatos distintos,
quer da História Moderna, quer da História Contemporânea,
de Pierre Michel a George Bush (pai e filho), por exemplo. O medo
covarde e iconoclástico prende, desmoraliza e arrebenta.
Pierre Michel foi preso por ameaçar a tirania teoestatal.
Cinco anos por pregar a Miséricorde
e alertar para a possibilidade de um ENCONTRO com
ALGO que que minimizaria (ou até —
quem sabe? — aboliria) tanto o poder opressor do Estado quanto
autoritarismo eclesiástico muito bem costurados durante séculos.
Será que Paulo imaginou que o Cristianismo que propôs
se transformaria em um Catolicismo retalhado, inquisitorial e autoritário?
Não creio. Bush — o cristianizador — quer e está
decepando, com o beneplácito abonador dos ignorantes, a Liberdade
e a Autodeterminação planetária, isto é,
a possibilidade de todo e qualquer povo determinar os rumos políticos
de seu país através do voto de seus cidadãos.
Pierre Michel, o Misericordioso, teve, como José
Maria da Cunha Seixas (1836-1895), o Pantiteísta,
seu pensamento apocopado e sua Oeuvre
frustrados. Pierre Michel e Cunha Seixas não estão
mais conosco. Não? Bush está. Está mesmo? Estará?
Vamos garantir que — cocordo com
Al Gore lembrando sua derrota em 2000 —
desta vez, não seja a Corte Suprema que escolha
o próximo Presidente dos Estado Unidos, e também que
não seja o atual presidente [Bush filho]
quem vá escolher a Corte Suprema.
Um
acréscimo: Primeiro, precisamos inverter a CRUZ INVERTIDA
DE PEDRO; depois, encurtar; e finalmente, eliminar (pela
compreensão, pelo amor e pela ascensão) seus dois
braços horizontais. Uma das fases da Alquimia Interior é
a transmutação da força centrífuga que
nos projeta no mais descontrolado e absurdo egoísmo em FORÇA
CENTRÍPETA, que nos reconciliará com nosso
D'US INTERIOR, o D'US que dorme
e não dorme em nosso ser. AUM.
Cruz
Invertida de Pedro
*
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* * *
DEDICATÓRIA
Dedico
esta incompletíssima pesquisa a dois Irmãos: Frater
+Vicente Velado (que me estimulou a conhecer Vintras) e a Pierre
Michel, que seguiu a Voz de Seu Coração e cumpriu
a Oeuvre.
*
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* * *
ANEXO
I
O
AMPLO CONCEITO DE MISTICISMO
Frater + Vicente Velado
A grande maioria das ordens
e fraternidades esotéricas e iniciáticas costuma definir
o que é ser um místico de uma forma muito restrita:
uma pessoa que busca a Deus. Este é um resquício religioso
do qual essas organizações não conseguiram
— e talvez por conveniência nem tentaram — se
livrar. Com isso ficam restritas a um círculo teúrgico
— queiram o não — mesmo se tiverem feito expurgo
do teurgismo. Esse expurgo se mostra necessário porque a
teurgia, em si, é extremamente limitante, mesmo que se aponha
elasticidade ao conceito de Deus. Não adianta, por exemplo,
se insistir em que há uma diferenciação 'fundamental'
entre os conceitos religioso de Deus (dogmático e conseqüentemente
tabu) e esotérico — Deus como experiência pessoal
de cada um — porque, no fundo, o ponto focal é exatamente
o mesmo: a suposição (inargüível) de que
existe uma Divindade imaginada, originadora da realidade e disciplinadora
da atualidade. O conceito de Misticismo é muito mais amplo
do que o meramente circunscrito a esta limitação.
Conseqüentemente, há vários tipos de místicos
e nem todos necessariamente buscam a Deus.
Fundamentalmente,
o místico é perscrutador do Oculto, uma espécie
de cientista que trabalha, não apenas com comprovações,
mas também e principalmente com 'insights'. Tanto o cientista
como o místico podem se servir da intuição
para estabelecerem uma meta de pesquisa a ser atingida e trabalham
com suposições. O cientista coloca de lado tudo o
que não for comprovável racionalmente, enquanto o
místico prossegue no caminho que a intuição
lhe mostrou, mesmo que uma comprovação científica
da sua viabilidade não esteja disponível no momento.
Ele sabe — é uma certeza interior, inabalável,
que não vem de algo como a fé, mas da harmonização
real com algo percebido — que, cedo ou tarde, suas constatações
por intuição serão referendadas pela ciência,
dependendo isto única e tão-somente do avanço
científico e do desenvolvimento tecnológico.
Há,
assim, muitas e muitas espécies de místico. Um artista
— pintor, escultor, poeta, escritor, músico instrumentista,
cantor, dançarino ou ator — pode ser um místico
em sua atividade e como pessoa, sem com isso estar buscando a Deus
exatamente. Seu misticismo consiste em expressar por imagens, formas,
sons, palavras, gestos e assunções uma experiência
interior na qual se harmoniza com os Planos Superiores do Cósmico,
sejam eles lá o que forem e tenham lá a natureza que
tiverem, compreensível ou não pela racionalidade ou
pela aquisição de conhecimento por osmose. Um religioso
que arde em fervor místico harmonizando-se com a figura de
seu avatar ou diretamente com Deus é, evidentemente, também
um místico totalmente assumido. Um esoterista que busca pela
meditação a ascensão a Planos Superiores também
é, evidentemente, um místico na total acepção
da palavra. Há místicos que fundem em um produto final
suas experiências artísticas e iniciáticas e,
para citar um exemplo, mencionarei Mozart, que era Maçom.
De
uma forma geral pode-se dizer que o místico é um ser
harmonizado com o Cósmico. Ele ascende a Planos Superiores
em vários graus de ascensão e também pode descer
a Planos Inferiores em várias gradações de
penetração na condição abissal. Basicamente,
um místico é uma criatura que caminha pelo mundo sob
as injunções da Dualidade, mas procura se situar acima
das Polaridades. Uma definição clássica do
caminho místico, estabelecida por místicos, é
que a senda do
Misticismo é como a tortuosa estrada que leva ao cume de
uma montanha. Conforme se vai subindo a visão vai-se ampliando.
O cenário não muda, mas agora pode ser apreciado de
maneira mais ampla, mais total. Existe, porém, um grande
problema: quando se atinge o cume dessa montanha imaginária
constata-se que se está sozinho, com nuvens abaixo toldando
a visão do mundo, mas que ao mesmo tempo pode-se ver melhor
o Disco Solar. Os místicos inseridos em um contexto religioso
percorrem esse caminho intuitivamente, guiados pelo fervor; os místicos
não religiosos fazem tal ascensão guiados igualmente
pela intuição, mas com uma grande diferença:
eles estão — ou pelo menos deveriam estar — no
total controle do processo.
É
de praxe fazer-se distinção entre místicos
e ocultistas quando se aborda o assunto. Na verdade, misticismo
e ocultismo são funções complementares que
devem estar apostas a um estudante sincero de esoterismo. A Metafísica,
que faz parte da Filosofia, é ao mesmo tempo o cerne e o
casulo de que os místicos e ocultistas se servem para construir
um contexto que sirva para algo. De que adiantariam, em um mundo
baseado na interação dos seres, as experiências
místicas, iniciáticas e 'magickas' se não houvesse
uma forma de apresentá-las como insumo para outras coisas?
Seria um processo de finalidade estacionária, isto é:
natimorto. De que adianta, por exemplo, você se tornar eremita
se isso não servir para a descrição de métodos
que possam ser adotados por outras criaturas? Toda vez que alguém
faz isto está ajudando os outros a queimarem etapas em um
caminhada que é sempre difícil e cheia de percalços
e armadilhas. Nesse contexto o místico segue uma intuição
e o ocultista vasculha o Oculto, às vezes sem intuições
e utilizando métodos já consagrados. Ambos, místico
e ocultista, podem, a qualquer momento, adotar novos métodos,
e declarar obsoletos os que vinham sendo utilizados. É a
isso que se chama evolução espiritual.
Na
junção do conhecimento adquirido com o saber intuído
o místico pode se tornar um ocultista, tanto no sentido de
perscrutar o oculto como no de manipular forças da Natureza.
Da mesma forma pode o ocultista assumir uma vertente mística
e produzir, digamos, um ritual mais propício à consecução
dos fins a que se propõe.
Todas
essas possibilidades podem se materializar como caminho, com Deus
ou sem Deus. Para quem tem a mente aberta não há uma
verdade absoluta, mesmo porque a verdade, como já tive ocasião
de expor em outro ensaio, é meramente um consenso sobre vários
pontos. Assim, temos que a concepção religiosa de
que 'sem Deus nada é possível' deve ser respeitada,
bem como a sua antítese, que seria um 'slogan' para o místico-ateu,
deve igualmente merecer todo o respeito. Ambas são aspectos
de uma mesma verdade em um Universo sob a égide da Dualidade.
O que é preciso ter em mente — e isto se aplica tanto
ao místico como ao ocultista — é que se torna
necessária, como coisa fundamental, uma revisão periódica
de posições assumidas e de conceitos adotados e/ou
externados. Cada um deve fazer o que quiser com isto, destruindo
e reciclando crenças, mas o que não se deve fazer
é considerar etapas e produções do passado
como rejeito metafísico. Eu, por exemplo — e aí
só posso falar de mim mesmo — costumo rever periodicamente
minhas posições e tento extrair dos mitos o símbolo
místico que ele contenha (ou possa conter) e uso, então,
o ocultismo, para que esse símbolo não venha a se
transformar em um mero signo. Em etapas anteriores da minha vida
mística, por exemplo, produzi peças que hoje certamente
não produziria, mas não as descarto como rejeito por
considerar que são de utilidade para compreensão em
outros níveis de entendimento. Desses níveis não
se pode dizer com segurança que estejam abaixo ou estejam
acima, porque o referencial seria sempre o ponto no qual quem julga
se encontra (no momento). Portanto, todos os níveis de compreensão,
na prática, se equivalem, e o importante é que propiciem
Paz, Luz, Vida, Amor, Justiça, Equilíbrio, Harmonia
e Liberdade para todos os seres.
Cada
místico, cada ocultista, cada criatura (viva ou morta neste
Plano) é o centro de um círculo de poder com capacidade
de interagir com as Leis Cósmicas. Dessa interação,
da maneira como ela é feita, é que pode nascer algum
tipo de poder que seja benéfico para todos. É por
esse processo que os avatares, por exemplo, se constituem a si próprios
sem que algo possa destruí-los. Um avatar pode ser assassinado,
como Spitman Zaratustra (Zoroastro), por exemplo, mas o seu legado
é praticamente imune à Lei da Entropia, por estar
harmonizado com uma Legislação Cósmica de natureza
superior àquela. Existem conceitos-chave como, por exemplo,
o de que qualquer ser humano pode ser um Buda. São contribuições
como esta à História da Humanidade que tornam tão
amplos o conceito de Misticismo e a descrição do que
vem a ser exatamente um místico. Um místico pode ser
versátil e interagir em vários níveis de compreensão
produzindo simultaneamente peças para cada um desses níveis,
como pode considerar que está em uma escalada na qual as
etapas transpostas devem ser descartadas. Isso varia de pessoa para
pessoa, conforme a natureza de cada uma. Não se pode traçar
uma definição-mestra, como se se estivesse lidando
com um mero verbete e enunciar 'um místico deve ser assim
e assado'. Realmente não se pode fazer isso. O misticismo
é que é uma experiência individual e não
apenas Deus é que a é. Deus é um detalhe em
um contexto muito amplo. Um ponto focal, para um determinado nível-geral
de compreensão. O místico — e por extensão
o ocultista — transcendem tal limitação e é
exatamente para isso que servem as iniciações.
Paz
Profunda a todos os seres!
COMENTÁRIO
Aos
que andam, pela Internet, enxovalhando a memória de místicos
do passado e do presente, repensem esta passagem: Portanto,
todos os níveis de compreensão, na prática,
se equivalem, e o importante é que propiciem Paz, Luz, Vida,
Amor, Justiça, Equilíbrio, Harmonia e Liberdade para
todos os seres. Paz no Cristo Cósmico a Pierre
Michel.
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BIBLIOGRAFIA
BÍBLIA.
Português. Bíblia Sagrada.
9a ed. São Paulo: Paulinas, 1958.
BLAVATSKY,
Helena Petrovna. A doutrina secreta: síntese
de ciência, filosofia e religião/The secret doctrine:
the synthesis of science, religion and philosophy.
6 vol. Tradução de Raymundo Mendes Sobral. São
Paulo: Pensamento, 1973.
LÈVI,
Éliphas. História da Magia
(Com uma exposição clara e precisa de
seus processos, de seus ritos e de seus mistérios).
São Paulo: Pensamento, 1974.
LEWIS,
H. Spencer. Preguntas y respuestas rosacruces com la
historia completa de la Ordem Rosacruz. 5ª ed.
EUA, San José, California: Gran Logia Suprema de AMORC, 1966.
MEDITAÇÕES
SOBRE OS 22 ARCANOS MAIORES DO TARÔ. Por um autor
que quis se manter no anonimato. 4ª ed. São paulo: Paulus,
1989.
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