Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

O Ventríloquo Vaniloqüente

 

 

 

Bêbedos e golpistas arderão no averno

discursava um vaniloqüente ventríloquo.1

— Só será salvo quem for uníloquo.2

 

 

Um bêbedo se aproximou:

— Seu ventrículo, seja mais modesto;

eu bebo, sim, mas sou honesto.

 

 

O vaníloquo, inclementíssimo, praguejou:

— Maldito! Tu és um escravo da bebida.

O averno te espera; não 'tem' saída.

 

 

O bêbedo, muito puto, retrucou:

— Alto lá! Eu bebo, mas não praguejo;

vê lá se vai dar uma de 'prapernanguejo'.3

 

 

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. No caso, o boneco é o ventríloquo ou o ventríloquo é o boneco. Dá na mesma como na mesma dá, porque quem fica 'vaniloqüando', 'blablablando' e praguejando, sem saber o que está dizendo e fazendo, é 'zilhões' de vezes pior do que boneco de ventríloquo, que, na realidade, é muito simpático e agradável.

2. Aqui, o vaniloqüente ventríloquo refere-se à necessidade, para que haja salvação, segundo ele, de se fazer a vontade de Deus, pois, uníloquo é, neste discurso, aquele que exprime o pensamento, o sentimento e a vontade de Deus.

3. 'Prapernanguejo' = caranguejo que – além de perneta – é praguejador.