PELA PRIMEIRA VEZ, ESCOLA FRANCESA
EXPULSA ALUNAS POR USO DE VÉU

Rodolfo Domenico Pizzinga

http://www.rdpizzinga.pro.br

Música de fundo: Hymne à L'Amour
(Edith Piaf)
Fonte: http://www.musicasmaq.com.br/

 

 

 

19/10/2004   —  19h12min

Reuters

MULHOUSE, França – Uma escola francesa expulsou na última terça-feira, 19/10/2004, duas alunas que usavam véus islâmicos. É a primeira vez que a polêmica lei que proíbe a exibição de símbolos religiosos em escolas públicas, em vigor desde setembro, gera expulsão.

As duas alunas da sétima série, de 12 e de 13 anos, recusavam-se a tirar os véus desde a volta às aulas, no mês passado, apesar das várias reuniões dos professores com elas e com seus pais, segundo o diretor Michelle Feder-Cunin.

O conselho disciplinar decidiu excluir definitivamente as duas alunas da escola — anunciou ele.

A França impôs a lei para reforçar o caráter laico da sua educação pública e para conter o radicalismo islâmico nas salas de aula. Crucifixos grandes e solidéus judaicos também foram proibidos. Jóias com alusões discretas a crenças continuam toleradas, para não violar as leis européias de direitos humanos.

Em Paris, o Ministro da Educação, François Fillon, disse que cerca de 70 meninas em todo o País podem ser expulsas de suas escolas por insistirem em usar o véu. Três meninos da religião sikh, em um subúrbio de Paris, também estão contestando a lei, porque não querem deixar de usar turbante. Fillon disse que não haverá exceção.

A lei vale para todos — declarou a autoridade.

As alunas expulsas da escola de Mulhouse podem agora se transferir para um colégio particular ou continuar sua educação matriculando-se em cursos por correspondência.
 

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† COMENTÁRIOS †


 

         A separação entre Religião e Estado é algo que me parece muito útil e muito bom. Esse tema já foi discutido à exaustão, por isso não acho necessário revisitá-lo. Mas, não posso deixar de refletir rapidamente que a religião pode ser uma coisa boa, mas também pode ser uma coisa muito má. Mais do que má, cruel. No século passado — isto para não andar mais para trás — a Igreja Católica apoiou, aplaudiu e levou algumas vantagens não lícitas e moralmente inaceitáveis de alguns regimes repulsivos, sórdidos e depravados e de diversos ditadores, como por exemplo: Mussolini, Salazar, Franco, Fulgencio Baptista, Pinochet e Videla. Estes são só alguns. Nem sei se são os piores. Também há a questão polêmica das medonhas concordatas, envolvendo particularmente Pio XII. Os interessados no tema encontrarão um campo fecundo para meditação sobre o assunto na própria Internet. Eu, confessadamente, não apóio, nem sou — simplesmente por ser — contra qualquer tradição religiosa. Mas conheço a história. Vivi (e continuo a viver) parte dela. Fiz, por isso mesmo, um esforço muito grande, mas aprendi a não fazer juízo de valor. Concluí, há muito tempo, que perdoar (no sentido usual do vocábulo) ou condenar são atos doentios de injustificada onipotência. Penso que, nesta matéria, a condição excelsa que o ser deverá atingir é o não-julgamento e a não-condenação de coisa alguma. Isto não quer dizer que eu e pessoas como eu sejamos alienados ou pacóvios. Somos Religiosos e Patriotas à nossa maneira, e sabemos que os Deuses de nossos corações não lavam mais branco que os dos outros, e nossa Ideologia é Universal e Categórica. Jamais agimos por impulsos ou imperativos hipotéticos. Contudo sabemos e admitimos que a separação entre Religião e Estado foi uma das maiores conquistas do Mundo Contemporâneo. Isto garantiu a liberdade de expressão que a boçalidade religiosa negava às consciências submissas. Em um passado não tão distante, os insubordinados declarados eram estorricados vivos. Isto não é juízo de valor. É uma óbvia constatação histórica. Para refletir sobre uma mulher que tenha sido estuprada: Se gozou, pecou; se não gozou, não pecou!


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       Cada um que queira ter uma religião pode e deve tê-la. Quem desejar adorar um Deus que se lhe pareça onipotente, providente e bom, que O adore. Quem quiser não acreditar em nada, que não acredite. Enfim, cada um que use seu livre-arbítrio da maneira que quiser. Mas cada um deve estar ciente e consciente de que é responsável pelo mau uso que fizer desse tal de livre-arbítrio, e do que engendrar em nome desse Deus. Contudo, eu sei, que, de maneira geral, isso é impraticável. Refiro-me à responsabilidade consciente. As pessoas andam hoje irresponsável e convictamente não dando a mínima para nada. Principalmente quando estão longe dos conflitos. Quando estão perto, geralmente apóiam seus governos, que notoriamente — essas pessoas mesmo sabem — produziram esses conflitos. A isto eu denomino de patriotismo de merda. Associado a isso, duas atitudes comuns têm apaticamente regulado a maioria dos comportamentos: locupletar-se e/ou transar. Parte dessa abocanhadora falta de solidariedade e dessa insana insanidade eu debito, em grande medida, na conta das diversas redes de televisão — a maior máquina já criada para anestesiar as consciências e criar ilusões nos distraídos. Informações úteis são transmitidas, reconheço. Mas a maioria dos programas só veiculam tolices e preconceitos. Basta, por exemplo, assistir às múltiplas prédicas e aos incontáveis cultos religiosos eletrônico-televisuais. Eu nunca vi tanto atrevimento e tanto incentivo aos 'negócios com Deus'. Há uma senhora, por outro lado — uma vovó espevitadíssima — em um canal a cabo, que é âncora de um programa que só trata de sexo. Ela ensina coisas que eu nos meus cinqüenta e oito anos nunca havia ouvido falar. Se as pessoas seguirem alguns de seus conselhos sexuais terão um orgasmo de 24 horas ou 24 horas de orgasmo. Ora, eu não tenho nenhum tipo de preconceito contra o sexo nem contra nada. Mas, viver para isso ou em função disso é uma distorção que consumirá o indivíduo em si próprio.

 

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       Mas, a Lei Cósmica é inexorável. Quem manipula consciências em nome de Deus, quem assassina em nome de Deus, quem invade em nome de Deus, quem tortura em nome de Deus, quem faz a guerra em nome de Deus, quem espolia em nome de Deus, quem sacrifica em nome de Deus, quem sacaneia em nome de Deus, quem, enfim, usa o nome e a figura mental de Deus para praticar perversidades, nada mais é do que um agente disfarçado das Trevas, pondo em execução reciprocidades individuais ou coletivas dolorosíssimas. Mas, ai dos que julgam e dos que condenam! Ai dos carrascos! Ai dos malditos! Ai dos disciplinadores enérgicos! Ai das autoridades francesas que deram agora para crucificar crianças indefesas! Allons enfants de la Patrie,/Le jour de gloire est arrivé!/Contre nous de la tyrannie...

       Aos homens de boa vontade deixo mais esta imagem para reflexão: Uma orquestra. Músicos e Maestro.

 

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       Estou absolutamente de acordo que seja vedada a exibição de símbolos religiosos em escolas públicas. Estou, portanto, de acordo que não seja, sob nenhuma alegação, permitido qualquer tipo de controle legal de qualquer igreja e de qualquer clero sobre a vida intelectual e moral dos seres humanos, sobre as instituições e, principalmente, sobre os serviços públicos. Estou de acordo, obviamente, que as escolas públicas não devem ministrar qualquer tipo de ensinamento religioso. E estou de acordo também que os professores devem se abster de fazer comentários religiosos aliciatórios em sala de aula. Estou de acordo com tudo isso e com algumas muitas coisas mais.

       Mas, como ser humano e como professor, eu não posso apoiar, e muito menos estar de acordo, que duas crianças de 12 e de 13 anos, por se recusarem a tirar os véus desde a volta às aulas, sejam sumariamente expulsas da escola em que estavam estudando. Isto é uma neoinquisição, de certa forma mais grave, pois é patrocinada por educadores. Eu mesmo não estou de acordo comigo. Como fui capaz de chamar esses fedorentos de educadores? Outras setenta crianças estão na fila para serem imoladas em nome da laicidade francesa. Vai ver que a lista aumentou de terça-feira para cá. Nesse ínterim, fico me perguntando: qual será o real motivo dessa medida? Acho até que sei a resposta. Mas, só rindo para não chorar. Jóias com alusões discretas a crenças continuam toleradas para que não sejam violadas as leis européias de direitos humanos. Leis européias? Direitos humanos? O que é que esse senhores sabem EFETIVAMENTE a respeito de DIREITOS HUMANOS? E dos DIREITOS DOS ANIMAIS? (Parece incrível que, em pleno século XXI, ainda existam pessoas que acreditem que a dor e a mutilação de quem quer que seja possam redimir culpas, realizar desejos ou seja lá o que for). E dos DIREITOS da TERRA como Ente Cósmico? Esses educadores franceses enlouqueceram. Estão mais por fora do que casca de jararaca. Querem muito mais do que apenas tirar o sofá da sala: estão pensando em jogar os namorados pela janela. A imagem é forte? Não. Não é. É fraquíssima em comparação com os fatos. Isto, porque, nas cabeças francesas desses senhores pseudo-educadores diplomados pela universidade de zéro-roscofe, usar um véu, um solidéu ou um turbante é uma desobediência civil que deve ser exemplarmente punida. Desobediência civil digna de aplauso seria não cumprir, nem fazer cumprir, essa lei não-sei-que-nome-dou-à-ela.

       Engraçado. Véu não pode, mas jóias com alusões discretas a quaisquer crenças podem ser livremente usadas. Turbante também não pode. Santinho pequenininho pendurado no pescocinho deve poder. Crucifixo grandão, daqueles que você não consegue tirar o olho, isso não pode. Quipá pode. Em Israel. Na França, não pode. Pode cá, não pode lá... O que serão alusões discretas? Nossa sociedade, em muitos aspectos, é mesmo ridícula e contraditória. Se alguém tem uma crise de tosse ou se engasga, somos solidários e nos preocupamos. Se alguém espirra, dizemos: saúde! Se alguém tem uma crise de soluços, inventamos mil e duas mandingas para ajudar a debelar a crise. Se alguém suspira, nem damos bola. Se alguém assoa o nariz, já olhamos com um certo ar de nojo e de desdém. Mas, se alguém dá um traque (ventosidade que sai ruidosamente pelo ânus) morremos de rir. As senhoras de antigamente fariam uma careta e diriam: mal-educado! Peidorrear é concomitantemente engraçado e mal-educado. Eu não consigo entender esses parâmetros. E não conheço ninguém que não peidorreie. Peidorreia a Rainha da Inglaterra, peidorreia o Presidente do Brasil, peidorreio eu e peidorreiam todos e mais mil. Alguém, em sã consciência, pode discordar que peidorrear seja um ato fisiológico normal e sadio? Quando eu tinha mais ou menos quinze anos conheci um senhor — o 'seu' Álvaro que tinha imensa dificuldade em expelir seus puns. Nessa época eu morava na Rua Raul Pompéia nº 25, aptº 101, em Copacabana, no Rio de Janeiro. A acumulação dos gases no seu estômago e no seu intestino causava a ele um superlativo mal-estar, e ele sofria muito com isso. Muitas vezes eu o ouvi gemendo de dor. Algumas vezes, conversando comigo, pedia licença e... peidorreava. Em determinados dias, parecia um trovão. Em outros, uma metralhadora de 987.345,5 tiros. Aquilo parecia que não ia ter fim. Confesso que, em certas ocasiões, eu ficava meio aflito. Para quem não sabe, gás de pum é inflamável! Depois, meio sem jeito, pedia desculpas. Nunca entendi porque ele pedia desculpas. Eu, penalizado, só dizia: — Bobagem 'seu' Álvaro. Os inimigos se expulsam de casa. Quer peidar mais um tantinho, pode peidar. Eu não ligo a mínima. Às vezes ele aproveitava minha generosidade juvenil e soltava mais alguns. Eu ouvia o matraquear daquelas sinfonias em absoluto e reverente silêncio e com uma solidariedade auditiva de fazer inveja.

 

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       As meninas: reforçar o caráter laico da educação pública com uma crucificação expulsória da forma como foi noticiado pela imprensa é simplesmente revoltante e abominável. Será que as autoridades francesas não pararam para pensar um pouquinho só que essas duas garotas, no fundo no fundo, nem sabem porque estão usando véus? Ninguém vai me convencer também que um garoto judeu sabe porque está usando (ou tem que usar) um quipá. Ou que um fedelho da religião sikh saiba porque tem que pôr um turbante colorido na cabeça. Todos podem achar que sabem. Mas 'sabem' o que lhes foi enfiado goela abaixo como odediência. As tradições exigem e impõem, os pais convencem e obrigam e os filhos são crucifixados. Já esse tipo de intolerância laica por parte das autoridades francesas contra as desprotegidas crianças é igualzinha, em valor absoluto, à crença de que, para agradar a Deus, quipás, turbantes e véus devam ser usados. É igualzinho, em valor absoluto, a pensar que Deus aceita e retribui com favores, promessas que só interessam a quem as faz. É igualzinho, em valor absoluto, a pensar que Deus possa existir e ficar tomando conta lá do alto para premiar os bem-comportados ou punir infiéis e os não-dizimistas. Véu islâmico não pode. Mas um crucifixozinho católico pode. Alguém duvida disso? Afinal, as pessoas do lado de cá estão acostumadas com crucifixozinhos, mas não estão com véus islâmicos. O medo de que o Islamismo se espalhe pelo Mundo — como está acontecendo é que produziu na França a tal lei infame que proíbe o uso do que não interessa que seja divulgado ou usado. Ou que ameace o Sistema. Mesmo dormindo, os sacerdotes da intelligentsia mantêm um olho aberto. Eu não tenho qualquer dúvida sobre isso. No bolo, não pode nada que não tenha cheiro de Catolicismo. Não se sabe de nenhum caso de cianças perseguidas para serem crucificadas por usarem símbolos católicos. Mas, os estudos mostram que o Catolicismo está perdendo terreno para outras denominações religiosas, apesar de ainda ser predominante em alguns países do Ocidente. E, definitivamente, eu não acredito no motivo que gerou essa famigerada Lei: conter o radicalismo islâmico nas salas de aula. Isso é um tremendo papo furado. Só mesmo pra francês ver e acreditar se for idiota! Crianças radicais? Tudo grupo.

 

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       Se bombas e massacres exacerbam revanches sem limites, a intolerância contra uma inocente criança que usa um véu, um turbante ou um quipá — por puro medo dos pais, da comunidade e do próprio Deus que meteram na cabeça dela — poderá gerar, no futuro, um desajustado ou um revoltado social. Talvez coisa bem pior. Depois cadeia, pena capital, exclusão etc.

       Precisamos pensar muito profundamente nas palavras de nosso Irmão Usama Bin Laden: Um milhão de crianças inocentes estão morrendo no momento em que falamos; estão sendo mortas no Iraque sem nenhuma culpa. Precisamos pensar muito profundamente nessas palavras, porque uma criança tanto pode ser morta por um canhão, quanto pode ser 'morta' por uma apócope intolerante, abusiva e desproporcional. Quando eu era garoto furtei de sacanagem uma mariola (doce de goiaba em forma de tablete envolvido em papel celofane). Na verdade, achava mariola um doce enjoativo. Foi uma das minhas rodolfices de criança. Já pensou se o dono da quitanda amputasse minha mão por causa dessa traquinada? Por último, eu não dou a mínima nem para os quipás, nem para os turbantes, nem para os véus. Nem para quem solta pum. O gás de pum é a alegria dos idosos. Grave é violar uma criança. Grave é perseguir e invadir a casa de místicos à procura de documentos e papéis presumidamente 'subversivos', 'ameaçadores', 'revolucionários', 'secretos' ou 'comprometedores' (isto aconteceu na França de Louis-Claude de Saint-Martin, de Papus e de Raymond Bernard, que agora deu para implicar com turbantes, véus e solidéus). Essas coisas, sim, são gravíssimas. Há piores. Isso eu também sei. Mas, quem persegue crianças e místicos, ou sofreu maus-tratos quando era criança e não resolveu isso de maneira concertada na cabeça e amarga um tremendo complexo de culpa, ou foi obrigado a professar uma fé contra sua vontade. Ou é patologicamente perverso e intolerantemente intolerante. Tavez todas essas coisas. Terapia junguiana nesses mal resolvidos, pois todos eles precisam de muita ajuda. A nós, místicos, cabe orar e trabalhar. Por isso, também, tenho contado alguns 'causos' de minha vida para alegrar os corações e auxiliar a dessacralizar certos diplomas ilegítimos. Da mesma forma que a infelicidade e a doença repousam no modo como as pessoas vivem suas vidas, o prazer e a beleza de viver repousam sobre TRÊS PILARES. Um deles é a LIBERDADE.

 

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       Todos os textos que acrescento a este site são lidos carinhosamente por um Irmão Querido que, quando acha necessário, emite sua opinião sobre o tema. Eu aprecio e aproveito as idéias. Hoje mesmo, depois de colocar esta matéria no ar, recebi um e-mail desse Irmão, que, em tese, concordou com minhas idéias sobre o assunto. Reproduzo a seguir um fragmento do e-mail recebido para poder comentá-lo: Sobre a expulsão acho que pessoas de qualquer religião não devem ir vestidas a caráter a uma escola na qual estudam. Inclusive sou contra o ensino religioso nas escolas públicas. Creio que uma solução menos traumática teria sido a França instituir uniforme-padrão para os estudantes, como os que existiam no tempo em que fiz o ginásio. O véu e a burka fazem parte da cultura islâmica, mas essas muçulmanas estudam em um país não-islâmico; se querem usar véu para estudar deveriam procurar escolas muçulmanas. Religião e Estado não devem se misturar e as escolas públicas são estatais. Mas, a verdade é que quando as pessoas estão envolvidas em um dado clima místico querem que ele prevaleça sobre tudo. Eu estou absolutamente de acordo com o teor destas idéias. Sempre pensei desta forma. Impor alguma coisa a alguém é MEDONHO. Mas, penso que, talvez, a escolha por esta ou aquela escola, seja, geralmente, feita pelos pais. Os filhos, normalmente, não apitam nada. Principalmente no domínio do Islamismo. Então, as crianças 'pagam o pato' pelo autoritarismo de seus pais, por, inclusive, estarem todos envolvidos em um dado clima místico, e quererem que ele [determinações tidas como sagradas e idéias religiosas particulares] prevaleça sobre tudo. Um fato concreto: As religiões, que deveriam unir e harmonizar os seres humanos, universalmente tendem a fragmentar e a causar desarmonias. Mas, repito o que disse no início deste ensaio: Não sou contra nada. Sou contra, sim — e contra com todas as letras as apócopes, as dores, as misérias e os preconceitos que as religiões produzem. Assim, inconscientemente, esses pais são também crucificadores de seus filhos. Isto é um tema que precisa ser esmiuçado mais a fundo, porque isto não está restrito apenas à essa questão escolar e envolve Leis que não serão discutidas neste ensaio. Talvez, a solução para o momento histórico que estamos vivendo seja mesmo a instituição de um tipo de uniforme-padrão para os estudantes. Mas, fico preocupado. No Rio de Janeiro, há muitos anos, havia uma disputa violenta e permanente entre alunos do Colégio Militar e alunos do Colégio (de) Pedro II. Eram verdadeiras batalhas campais quase semanalmente. E os alunos se identificavam pelos uniformes. Será que uma providência desta natureza não poderia despertar, na França, uma situação semelhante? Isto é: alunos de colégios católicos guerreando contra alunos de colégios muçulmanos? Por outro lado, como disse, concordo que a neutralidade na maneira de se trajar para ir às aulas resolveria o problema. Mas, neutralidade total. A abolição de uniformes, em algumas escolas, trouxe esta neutralidade. Hoje, por outro lado, apesar de os uniformes não terem sido abolidos, não há mais lutas entre os alunos dos colégios que citei mais acima. Tenho muitas dúvidas com essa complicação toda. Enfim, tudo isso, em termos. Em termos porque, se os pais impõem, como disse meu Irmão, que seus filhos se vistam a caráter para ir às aulas, a neutralidade desaparece. Tudo é muito complicado. E pior: gera essas crucificações, que, agora, depois desse e-mail que recebi, refletindo mais acuradamente, penso que são muito piores. Crucificação paterna impositiva + crucificação legal direcionada + inexistência de solução a curto prazo. As inermes crianças sempre acabam 'pagando o pato'. (Não estou examinando neste momento as questões reais e profundas que 'comandam' esta situação). Mas, como tenho muita pena de quem sofre, idosos, crianças e animais, particularmente, me comovem profundamente quando são martirizados e supliciados. Eu, com muita tristeza, tenho que confessar: não sei como apresentar uma solução concertada para esse clima que se estabeleceu na França, e que pode se esparramar pelo Planeta. Perseguição eu não aceito sob nenhuma alegação. No momento, irei meditar e orar. Voltarei a esse tema se e quando tiver encontrado uma possível solução mais completa. De antemão, para este momento histórico, penso que não haja uma solução no horizonte. Oremos por todos. Pelos que sofrem e pelos que fazem sofrer. Que haja TOLERÂNCIA. Que adianta rezarmos para os Deuses de nossos entendimentos se não temos TOLERÂNCIA com aqueles que louvam Deuses de outros entendimentos?

 

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Ofereço, como Rosacruz ad æternum, a pequenina luz de meu interior para servir à causa da Paz, do Bem e da Compreensão entre todos os seres. Hoje. Amanhã. Sempre. ESTÁ FEITO.
 

.'. AUM  .'. RAH .'. MAH .'.

 

DADOS SOBRE O AUTOR

Mestre em Educação, UFRJ, 1980. Doutor em Filosofia, UGF, 1988. Professor Adjunto IV (aposentado) do CEFET-RJ. Consultor em Administração Escolar. Presidente do Comitê Editorial da Revista Tecnologia & Cultura do CEFET-RJ. Professor de Metodologia da Ciência e da Pesquisa Científica e Coordenador Acadêmico do Instituto de Desenvolvimento Humano - IDHGE.


 

PAZ PROFUNDA