Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Berçário Estelar
Nuvem de Rho Ophiuchi (407 anos-luz da Terra)
Área de Formação Estelar Próxima da Nossa Galáxia
(Fotografia: Nasa/Reuters)

 

 

 

 

ser-no-mundo se cansa;

precisa repousar.

O Universo não descansa;

é ativo sem parar.

 

 

Nem durante o Mahâprâlâya1

o Universo sossega.

Seja Manvântâra, seja Prâlâya,

não pára a trasfega.

 

 

Movimento eterno e atividade.

Éden vitalício?

Mudança e transmutabilidade.

Eterno suplício?

 

 

Cada qual cuide de seu enterro,

impossível não há.2

Esperar o lado de lá?3

 

 

 

 

 

 

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Notas:

 

1. Mahâprâlâya é a expressão teosófica (Teosofia = Sabedoria Divina ou Sabedoria dos Deuses) usada para designar o período de inatividade do Kósmos, com duração idêntica a um Mahâmanvântâra (ou Mahâ Kalpa), o equivalente a 72.000 Pralayas, com um total de 311.040 x 109 anos, ou seja, 100 anos de Brahman. Segundo Helena Petrovna Blavatsky (Ekaterinoslav, 12 de agosto de 1831 – Londres, 8 de maio de 1891), no Mahâprâlâya o Kósmos deixa de existir, permanecendo inativo, até ser acordado no alvorecer de um novo Mahâmanvântâra (período de atividade). Durante o Mahâprâlâya, Parabrahman – em sânscrito: Para, além; Brahman, o Espírito Universal – (expressão usada pelos estudiosos vedantinos e na Teosofia para designar o Princípio Uno, a essência de tudo o que forma o Kósmos) permanece envolto em seu véu – Mulaprakriti (Substância Primordial ou Substância Abstrata) – e ambos, Mahapralaya e Parabrahman, conservam-se unidos por Fohat (Daiviprakriti, a Luz do Logos) que permanece latente. Nada se manifesta, permanecendo ativo apenas o Movimento Eterno. Por isto, o poema afirma: Nem durante o Mahâprâlâya o Universo sossega. Seja Manvântâra, seja Prâlâya, não pára a trasfega.

2. Cada qual cuide de seu enterro, impossível não há. Frase derradeira de Quincas Berro Dágua, segundo o relato da prostituta Quitéria do Olho Arregalado, que estava a seu lado, e que, nos momentos de intimidade e de ternura, o chamava de Berrito. [Fragmento do romance, A Morte e a Morte de Quincas Berro D'Água, publicado em 1961, de autoria do escritor brasileiro e membro da Academia Brasileira de Letras Jorge Amado (Itabuna, 10 de agosto de 1912 – Salvador, 6 de agosto de 2001)].

3. Ainda que adiantasse esperar o lado de lá para corrigir erros, defeitos e babaquices, isto seria, no mínimo, uma sesquipedális et innominabìlis stultitìa. Ou será que, por outro lado, em pleno século XXI, ainda se possa acreditar que, por exemplo, benzeduras, promessas, genuflexões, suplícios, perdão de padre, peditório clamoroso de pastor e mandingarias de nhamussoros resolvam ou ab-roguem nossos desconcertos? Eu sei. Infelizmente, muitos acreditam! É por isto que todos os próceres dessas religiões que conhecemos não fazem por menos: todos têm carrões novinhos, e, quando dá, a caranguejola é importada. Com o dinheiro de quem? Com o meu é que não é.

 

Fundo musical:

Forever in Love (Kenny G)

Fonte:

http://www.musicamidigratis.com/
midis/459/infomidi.html

 

 

 

 

 

 

Nem durante no Mahâprâlâya o Universo descansa.