Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Quando eu tinha zero anos...

 

 

 

Quando eu tinha zero anos,

era só mamar, mijar, peidar e cagar.

Lá pelos meus oito anos

 

 

Por volta dos nove ou dez anos,

aceitei me tornar coroinha.1

Então, eu fiz doze anos:

nasceu a primeira espinha

(e me apaixonei pelo Sinatra).

 

 

Na altura dos meus treze anos,

tive minha primeira namorada.2

Quando eu fiz quinze anos,

botei o pé esquerdo na estrada.3

 

 

Ao chegar aos vinte anos,

me tornei meio que um avestruz.4

Com quase vinte e três anos,

fui Iniciado na Ordem Rosacruz.5

 

 

Aos trinta e três anos,

estava casado e tinha dois filhos.

Então, ao longo dos anos...

muitas alegrias e alguns cadilhos.6

 

 

Aos cinqüenta e sete anos,

livrei-me de todos os quereres.

Então, aos sessenta anos,

unifiquei-me a todos os seres.

 

 

Hoje, aos sessenta e três anos,

vivo devotado à Humanidade.

Quando eu completar xy anos,

será que passará a Saudade?

 

 

 

 

 

 

______

Notas:

1. Quem me convidou para esta função – que eu exercitei com a mais santa dignidade – foi o Padre Antônio Lemos Barbosa, na época o pároco da (Segunda) Igrejinha Nossa Senhora de Copacabana, Rio de Janeiro, no Posto 6, onde eram celebradas concorridíssimas missas campais (todas em latim). O Padre Barbosa, como era conhecido, se dedicou à Igrejinha de 1947 até sua morte, ocorrida em 5 de setembro de 1970. Em 1954, recebeu da Cúria Metropolitana a nomeação de Reitor da Igrejinha.

Uma curiosidade de antanho (e bota antanho nisso): naquela época, havia na Igrejinha Nossa Senhora de Copacabana, entre outros, um padre de nome Aníbal, muito simpático e também muito fedorento, mas eu gostava muito dele e só me confessava com ele. Eu podia contar os pecados que fossem – dos mais pra menos aos mais pra muito mais – que a penitência que o padre Aníbal me dava era sempre a mesma – uma Ave-maria. Padre bondadoso era aquele; se não errou o caminho, deve estar no céu!

 

 

Igrejinha Nossa Senhora de Copacabana

(Primeira) Igrejinha Nossa Senhora de Copacabana.
A Igreja não existe mais; hoje é o Forte de Copacabana.
Foto: Augusto Malta
(Livro: O Rio de Janeiro do Bota-Abaixo. Ed. Salamandra)

 

Observação:

Esta nota, no que concerne aos dados historiográficos, foi escrita com o auxílio de informações colhidas nas Páginas:

http://www.flickr.com/photos/
96016914@N00/312381332

http://www.copacabanadetoledo.blogger.com.br/
2005_08_01_archive.html

2. Verinha terminou comigo e acabou se casando com um dos meus melhores amigos. Como tudo em mim costumava tomar proporções avassaladoras, foram, mais ou menos, sete anos de sofrimento. A coisa só teve fim quando conheci (e namorei) o primeiro grande amor da minha vida – Maria da Graça...

3. Tempo de sacanagem – em pensamentos, palavras e ações – da alvorada à madrugada.

4. Ainda que eu não fosse um indivíduo de má reputação nem propriamente um Struthio camelus, minha reputationis spiritualis era pra lá de péssima; meio que agostinianamente, eu só pensava em festas de arromba, jogatina e sacanagem. E sexo, claro! Muito sexo!

5. Mas, estupidamente, demorei décadas para entender o que efetivamente é o Rosacrucianismo.

6. Quem tem filhos tem cadilhos; quem não os tem cadilhos tem. (Ditado português).

 

Página da Internet consultada:

http://www.solinguainglesa.com.br/
conteudo/numeros2.php

 

Música de fundo:

Cycles
Compositor: Gayle Caldwell
Intérprete Frank Sinatra

Fonte:

http://beemp3.com/download.php?
file=7274506&song=Cycles

 

Remate:

Por que dei este entrecortado-versejado depoimento? Por um só motivo: por que há, como eu disse em um dos versos, alegrias e cadilhos para todos nós, e não há aquele que não tenha cometido suas descambadas e não tenha tido seus reveses. Como dizia minha portuguesa mãe: Pra frente é que se anda; pra trás mija a burra. Enfim, quando revisito meu passado, verifico e confirmo que tudo se deu na hora certa e apropriadamente. Se eu tivesse mantido as coisas que me emocionavam, na época, eu teria entrado por um cano sem-termo e deslumbrante! Como diz a letra da música de fundo: Life is like the seasons, after winter comes the spring... So I'll keep this smile awhile and see what tomorrow brings.