urismo espacial é um fenômeno recente que consiste em viagens espaciais realizadas por indivíduos com propósitos não-científicos, por prazer e de puro lazer. Atualmente, o turismo espacial está aberto apenas a indivíduos excepcionalmente ricos – bota excepcionalmente nisso – e o transporte é assegurado pelo programa espacial russo, através de um acordo comercial com a empresa norte-americana Space Adventures.

 

Além do custo de milhões de dólares cobrado pela viagem, o candidato a turista espacial precisa passar por uma série de testes físicos e médicos – podendo ser reprovado e impedido de viajar caso apresente alguma anomalia ou deficiência em qualquer etapa da preparação – além de um treinamento intensivo de seis meses na Cidade das Estrelas (uma área do programa espacial russo de acesso altamente restrito a nordeste de Moscou, capital da Federação Russa), simulando as condições de adaptação à microgravidade (ou ausência de peso) encontrada nas naves espaciais em órbita.

 

As principais atrações no turismo espacial são a própria experiência em si, a fantástica sensação de observar a Terra desde o espaço, a elevação do status quo (poder dizer: eu estive no espaço) e as vantagens da ausência de gravidade – potencial para desportos extremos e benefícios na saúde, especialmente para pessoas idosas.

 

O turismo espacial é um passo inevitável no século XXI como o turismo aéreo foi no século XX. A tendência é que cada vez mais pessoas tenham acesso ao espaço via empresas privadas, e o início desta trajetória em direção a nova fronteira começou em 2001, com o primeiro turista espacial, o americano Denis Tito (Nova York, 8 de agosto de 1940), que foi ao espaço na nave russa Soyuz TM-32 até a Estação Espacial Internacional, em 28 de abril de 2001, pagando, na época, a mixaria (para ele) de vinte milhões de dólares pelo excêntrico bordejo, marcando uma nova era para a Humanidade.

 

 

Dennis Tito
(Primeiro Turista Espacial)

 

 

Um capítulo histórico na saga das viagens espaciais foi concretizado recentemente, nesta quarta-feira (15 de setembro de 2021): a SpaceX, de propriedade do bilionário Elon Musk, realizou com sucesso o primeiro lançamento de uma viagem tripulada apenas com civis, sem astronautas, ao espaço.

 

A missão, chamada Inspiration 4 – primeiro vôo espacial humano totalmente civil a orbitar – aconteceu a bordo do foguete Falcon 9 da SpaceX e da espaçonave Crew Dragon C201. O lançamento ocorreu na Kennedy Space Center, em Orlando, Flórida, nos Estados Unidos, quarta-feira, 15 de setembro de 2021. Hoje, sábado, 18 de setembro de 2021, após 3 dias em órbita, a cápsula pousou por volta das 20h, e a SpaceX encerrou esta missão histórica para o turismo espacial.

 

 

 

 

Imagem da Tripulação
(Chistopher Sembroski, Sian Proctor, Jared Isaacman, Hayley Arceneaux)

 

Em alguns anos, viagens ao espaço poderão se tornar cada vez mais comuns. Pelo menos esse é o desejo de empresas como a SpaceX, de Elon Musk, a Virgin Galactic, de Richard Branson, e a BlueOrigin, de Jeff Bezos. As passagens, no entanto, não serão baratas. A expectativa da consultoria Research and Markets é de que, até 2031, o setor irá chegar a faturar US$ 2,58 bilhões, com um crescimento previsto de 17,15% por ano.

 

Tudo bem. Parabéns para a Humanidade, que, qualquer dia, estará tomando o café-da-manhã em Marte. Eu não tenho nada a criticar o turismo espacial nem qualquer outra forma de turismo. Mas, quanto a tudo isto, eu, que penso na Humanidade em termos globais, unifraternais e interdependentes, só tenho seis perguntinhas:

1ª) E os milhões de seres humanos – nossos irmãos – que morrem de fome, esquecidos, abandonados, desamparados e negligenciados, em todas as partes da Terra?

2ª) E os milhões de seres humanos – nossos irmãos – inteiramente analfabetos e desprovidos, que não têm acesso à educação, ao lazer, ao saneamento básico, à água tratada, a remédios, a médicos, a dentistas, a hospitais, a exames laboratoriais (visando um diagnóstico ou confirmação de uma patologia) e à cirurgias, quer dizer, em bom português, que não têm acesso à porríssima nenhuma, em todas as partes da Terra?

3ª) E os milhões de seres humanos – nossos irmãos – que não têm onde morar nem como viver com um mínimo de dignidade, em todas as partes da Terra?

 

 

 

 

4ª) E os milhões de seres humanos – nossos irmãos – refugiados e deslocados devido às guerras e aos conflitos internos em seus respectivos países (como é o caso, por exemplo, da Síria, em cuja guerra civil genocida já foram contabilizados mais de 7,6 milhões de deslocados internos e mais de 5,1 milhões de refugiados), em todas as partes da Terra?

5ª) E os milhões de seres humanos – nossos irmãos – que passaram e continuam a passar por desastres derivados de fenômenos naturais (terremotos, afundamentos e colapsos, tsunamis, vulcões, deslizamentos ou escorregamentos de terra, furacões, inundações, tempestades, tornados, rajadas violentas de vento, incêndios, ondas de calor etc.), que afetam uma comunidade ou até um país inteiro, com perdas humanas, sociais, econômicas e ambientais, em todas as partes da Terra?

6ª) E os milhões de seres humanos – nossos irmãos – que, devido ao egoísmo e ao absurdo apartheid das vacinas, querem e precisam se vacinar, mas, não conseguem se imunizar, em todas as partes da Terra?

Bem, como eu disse, eu não tenho nada a criticar o turismo espacial nem qualquer outra forma de turismo, porém, eu teria vergonha de torrar milhões de dólares em um turisminho de merda desses, enquanto uma parcela gigantesca da Humanidade não sabe se terá amanhã. Não sabe mesmo se chegará ao fim do dia de hoje. Não sabe sequer o que acontecerá nos próximos trinta segundos. Grande Heresia da Separatividade é isto também. Quando nós cagamos e andamos para os outros, estamos cagando e andando para nós mesmos, porque nós somos os outros e os outros são nós! Quanto a isto, não há qualquer abatimento na nossa responsabilidade coletiva.