Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Reflexões Sobre a Morte

 

 

A Morte, assim chamada, é algo que faz os homens lamentarem: e ainda assim um terço da Vida é passado no sono. (George Gordon Byron).

 

Colombianos! A minha última vontade é a felicidade da pátria. Se a minha morte contribuir para o fim do partidarismo e para a consolidação da União, baixarei em paz à sepultura. (Simón Bolívar em seu último discurso ao povo da Colômbia, em 8 de dezembro de 1830).

 

Uma comoção descomunal imobilizou-a no seu centro de gravidade, plantou-a no lugar, e a sua vontade defensiva foi demolida pela ansiedade irresistível de descobrir o que eram os apitos alaranjados e os balões invisíveis que a esperavam do outro lado da morte. (Gabriel García Márquez, em Cem Anos de Solidão).

 

Não me venham com conclusões! A única conclusão é morrer. (Fernando Pessoa, em Poesia).

 

Todo mundo, então, era pérfido, mentiroso e falso? E lágrimas lhe vieram aos olhos, pois choramos sempre a morte das nossas ilusões com a mesma mágoa com que choramos os nossos mortos. (Guy de Maupassant, em Uma Vida).

 

Sempre me surpreendi um pouco com a paixão que as mulheres têm por se comportar de maneira tão perfeita no leito de morte daqueles que amam. Às vezes parece que lamentam a longevidade que adia sua oportunidade de representar uma cena tão comovente. (William Somerset Maugham, em Um Gosto e Seis Vinténs).

 

Os mortos vêem o mundo pelos olhos dos vivos. (Ferreira Gullar, em Toda Poesia).

 

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número. Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro. Bebeu...
Cantou...
Dançou...
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
(Manuel Bandeira).

 

A morte está escondida nos relógios. (Giuseppe Belli, em Sonetti, La Golaccia).

 

É sem qualquer terror que eu vejo a desunião das moléculas da minha existência. (Marquês de Sade, em Oeuvres).

 

Foi trabalhoso abrir a cova. A terra estava dura, calcada, havia raízes a um palmo do chão. Cavaram à vez o motorista, os dois policiais e o primeiro cego. Perante a morte, o que se espera da natureza é que percam os rancores a força e o veneno, é certo que se diz que o ódio velho não cansa, e disso não faltam provas na literatura e na vida, mas isto aqui, a bem dizer, não era ódio, e de velho nada, pois que valhe um roubo de um automóvel ao lado do morto que o tinha roubado, e menos ainda no mísero estado em que se encontra, que não são precisos olhos para cavar mais fundo que três palmos. (José Saramago, em Ensaio Sobre a Cegueira).

 

Às vezes, é pela forma como morre que um homem mostra que era digno de viver. (Francis Ponge).

 

Os homens são como ondas: quando uma geração floresce, a outra declina. (Homero).

 

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria mais tolo ainda do que tenho sido; na verdade, bem poucas coisas levaria a sério. Seria menos higiênico. Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios. Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários. Eu fui uma dessas pessoas que viveram sensata e produtivamente cada minuto da vida; mas, claro que tive momentos de alegria. Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos. Porque, se não sabem, disto é feita a vida: só de momentos. Não percas o agora! Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas. Se voltasse a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono. Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente. Mas já viram, tenho oitenta e cinco anos e sei que estou morrendo. (Jorge Luis Borges, no poema Instantes).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alguns Epitáfios

 

 

 

 

O Espírita: Volto já.

O Internauta: http://www.aquijaz.com.br

O Agrônomo: Favor regar o solo com Neguvon. Evita Vermes.

O Alcoólatra: Enfim, sóbrio.

O Arqueólogo: Enfim, fóssil.

O Assistente Social: Alguém aí, me ajude!

O Brother: Fui.

O Cartunista: Partiu sem deixar traços.

Delegado: Tá olhando o quê? Circulando... Circulando...

O Ecologista: Entrei em extinção.

O Enólogo: Cadáver envelhecido em caixão de carvalho. Aroma: formol. After tasting: presença de microorganismos diversos.

O Funcionário Público: É no túmulo ali ao lado.

O Femeeiro: Rígido, como sói sempre acontecer na abundância e na insignificância.

O Gay: Oh! Virei uma linda purpurina!

O Herói: Corri para o lado errado.

Hipocondríaco: Eu não disse que estava enfermiço?

O Humorista: Isto não tem a menor graça.

O Jangadeiro Diabético: Foi doce morrer no mar!

O Judeu: O que vocês está fazendo aqui? Quem está tomando conta do loja?

O Pessimista: Aposto que está fazendo o maior frio no inferno.

O Psicanalista: A eternidade não passa de um complexo de superioridade mal resolvido.

O Sanitarista: Sujou!

O Sex Symbol: Agora, só a terra vai comer.

O Viciado: Enfim, pó!

O Rodolfo Domenico Pizzinga: Não moro aqui; fui cremado.

 

 

 

 

 

 

 

Quando (re)abotoamos do lado de lá,

será que tivemos medo de (re)nascer?

Por que temos tanto medo de (re)morrer,

se (re)tornaremos ao lado de lá?

 

 

Quando (re)esticamos o pernil ,

ipso facto, (re)nascemos do lado de ;

então, teremos de (re)apitar do lado de ,

para, assim, podermos (re)florescer .

 

 

Bolas! Não há (re)nascer nem (re)morrer.

Há – e haverá sempre – um eterno vir-a-ser,

que vai purgando a asnice e o cabedal.

 

 

Mas, poderá haver um insólito resolver

para quem deu de embezerrar e de não-ser

– p.a.d.1, uma espécie de reciclagem espiritual.

 

 

 

 

 

 

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Nota:

1. p.a.d. = por assim dizer.

 

Fundo musical:

Comme D'habitude
Música: Claude François e Jacques Revaux
Letra: Claude François e Gilles Thibaut

Fonte:

http://www.esnips.com/doc/eeb872b5-0a1d-4e
0c-8b6c-100c85859721/Comme%20d'habitude

 

Página da Internet consultada:

http://fimdotedio.wordpress.com/2009/04/19/dona-morte/