Em
um mundo no qual os fortes podem procurar se impor aos mais vulneráveis
e em que determinadas nações ou grupos ainda tentam
decidir o destino do planeta, em um mundo assim, o respeito pelo
multilateralismo, a moderação do discurso público
e a procura paciente do compromisso se tornam ainda mais vitais
para salvar o mundo de conflitos debilitantes e de desigualdades
persistentes.
Nelson 'Madiba'
Mandela
Muito
antes de o homem estar maduro para ser confrontado com uma atitude
moral universal, o medo dos perigos da vida o levaram a atribuir
a vários seres imaginários, não palpáveis
fisicamente, o poder de libertar as forças naturais que temia
ou que, talvez, desejasse. E ele acreditava que estes seres, que
dominavam toda a sua imaginação, eram feitos fisicamente
à sua imagem, mas, eram dotados de poderes sobre-humanos.
Estes foram os precursores primitivos da idéia de Deus. Nascidos
inicialmente dos medos que enchiam a vida diária dos homens,
a crença na existência de tais seres e nos seus poderes
extraordinários teve uma influência tão forte
nos homens e na sua conduta, que é difícil de imaginar
por nós. Por isto, não surpreende que aqueles que
se empenharam em estabelecer a idéia de moral, abarcando
igualmente todos os homens, o tenham feito associando-a intimamente
à religião. E o fato de estas pretensões morais
serem as mesmas para todos os homens pode ter tido muito a ver com
o desenvolvimento da cultura religiosa da espécie humana,
desde o politeísmo até ao monoteísmo. A idéia
de moral universal deve, assim, a sua potência psicológica
original àquela ligação com a religião.
No entanto, em outro sentido, esta associação íntima
foi fatal à idéia de moral. A religião monoteísta
adquiriu formas diferentes com várias pessoas e grupos. Apesar
de estas diferenças não serem de forma alguma fundamentais,
passaram rapidamente a ser sentidas mais fortemente do que a Essência,
que era comum. E, desta forma, freqüentemente, a religião
provocou inimizade e conflito, em vez de unir conjuntamente a espécie
humana em uma idéia de moral universal. Então, surgiu
o crescimento das ciências naturais, com a sua grande influência
no pensamento e na vida prática, enfraquecendo ainda mais,
nos tempos modernos, os sentimentos religiosos das pessoas. O modo
causal e objetivo de pensar – apesar de não estar necessariamente
em contradição com a esfera religiosa – deixa
na maioria das pessoas pouco espaço para um aprofundamento
do sentido religioso. E, por causa da tradicional associação
íntima entre religião e moral, isto trouxe consigo,
nos últimos cem anos, mais ou menos, um enfraquecimento sério
do sentimento e do pensamento moral. Esta é, para mim, a
causa principal da crescente barbaridade dos meios políticos
dos nossos dias. Considerada conjuntamente com a terrível
eficiência dos novos meios técnicos, a barbárie
representa já uma ameaça temível para o mundo
civilizado. É escusado dizer que estamos gratos pelo fato
de a religião lutar arduamente pela realização
do princípio moral. No entanto, o imperativo moral [categórico]
não é um assunto apenas para a igreja e a para
religião, sendo, sim, a mais preciosa possessão tradicional
de toda a espécie humana. Consideremos sob este ponto de
vista a posição da imprensa ou das escolas com o seu
método competitivo! Tudo é dominado pelo culto da
eficácia [+
eficiência] e do sucesso, e não pelo valor
das coisas e do homem em relação aos fins morais da
sociedade humana. A isto deve ser acrescentada a deterioração
moral resultante da dura [não-fraterna]
luta econômica. A criação deliberada do sentido
moral fora da esfera religiosa deve, todavia, ajudar este propósito:
levar os homens a encarar os problemas sociais como uma oportunidade
para desempenharem um serviço jubiloso em prol de uma vida
melhor. Porque analisada sob um ponto de vista humano simples, a
conduta moral não significa apenas uma rígida exigência
de renúncia de algumas das desejadas alegrias da vida, mas,
pelo contrário, um interesse sociável pelo bem comum
para todos os homens... A moralidade, no sentido aqui rapidamente
discutido, não é um sistema fixo e rígido.
É, sim, uma posição segundo a qual todas as
questões que ocorrem na vida podem e devem ser julgadas.
É uma tarefa nunca terminada, algo sempre presente para guiar
o nosso julgamento e inspirar a nossa conduta.
Albert
Einstein