TRISTEZA

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

O processo de isolamento, a atividade egocêntrica na vida de cada dia, a ambição, o cultivo da própria importância, a maneira de viver em separado não importa se consciente ou inconscientemente traz, inevitavelmente, a solidão, a que tentamos fugir de tantas e diferentes maneiras. A autocomiseração é a dor da solidão, e esta dor se chama tristeza. Há, também, a tristeza decorrente da ignorância não ignorância por falta de livros, de conhecimentos técnicos ou de experiência, porém, a ignorância que nos faz aceitar o tempo a evolução do que é para o que "deveria ser"; a ignorância que nos faz aceitar a autoridade [e a tradição] e sua violência; a ignorância do conformismo [e da imitação], com seus perigos e dores; a ignorância, enfim, que consiste em desconhecermos nossa integral estrutura. Eis a tristeza que o homem tem espalhado em toda parte onde vive. Seja como for, se não compreendermos integralmente a nossa tristeza, como poderemos pôr-lhe fim? Uma coisa é certa: todas as fugas, não importa se para Deus ou para o sexo, se para o templo, para a igreja ou para a bebida, são iguais, pois, não dissolvem a tristeza. Mas, precisamos compreender que a tristeza não pode terminar pela ação do pensamento. Quando o tempo cessa, cessa também o veículo da tristeza: o pensamento. São o pensamento e o tempo que dividem e separam, e o Amor não é pensamento nem tempo. [In: A Outra Margem do Caminho, entrevistas realizadas na Índia, na Califórnia e na Europa, de autoria de Jiddu Krishnamurti.]

 

 

 

Stay Home

 

 

 

De repente,

de lá da puta que pariu sei lá,

pintou essa Pancoronamia

muito da filha-da-puta,

e se alastrou pelo mundo todo.

E tá morrendo gente,

que nem peixe na Lagoa Rodrigo de Freitas!

Oh! Que tristeza!

E eu, velhinho,

porque sou de risco,

tenho que ficar de molho.

Oh! Que tristeza!

E toca de lavar a mão...

E toca de álcool em gel...

E toca de máscara...

E toca de não pode isto...

E toca de não pode aquilo...

E toca de sei mais o quê...

Oh! Que tristeza!

O pior é ficar sozinho,

longe de tudo, longe de todos,

longe da borga, longe da pândega,

só na janela, tirando meleca,

que também não pode, mas, eu tiro.

Foda-se.

Oh! Que tristeza!

Não posso mais ver meus amigos,

não posso mais jogar conversa fora,

não posso mais tomar um chope geladinho,

não posso mais beijar minha neta,

não posso mais comer pastel no boteco,

não posso mais jogar tranca na pracinha,

não posso mais jogar porrinha na esquina,

não posso mais fazer uma fezinha no bicho,

não posso mais paquerar as mulatas,

não posso mais sassaricar na porta da Colombo,

não posso mais ir à Vila Mimosa,

não posso mais fazer footing no calçadão,

não posso mais jogar frescobol na praia,

não posso mais tomar banho de mar,

não posso mais fazer porra nenhuma.

Oh! Que tristeza!

Disseram-me que, se eu sair,

posso pegar o Corona...

E me foder todinho... E morrer.

Isso é uma merda ou não é?

Oh! Que tristeza!

Como eu morro de medo de morrer,

fico em casa, quietinho,

vendo novela, tomando um monte de café,

fumando pra cacete e peidando no sofá.

Oh! Que tristeza!

Bem, pelo menos ainda me deixam peidar!

Oh! Que alegria!

 

 

 

 

 

 

Música de fundo:

Tristeza
Composição: Nilton de Souza & Haroldo Lobo
Interpretação: Ary Cordovil

Fonte:

https://haroldo-lobo-niltinho-tristeza.mp3cielo.com

 

Páginas da Internet consultadas:

https://tenor.com

https://giphy.com/explore/chilli-fart/

 

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