Fernando Pessoa e
Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

Triste de quem por si mesmo

precisa ser enganado.

Triste, vive só; só vive a esmo.

Vive mesmo abolorentado.

 

 

Dona Rosa, Dona Rosa,

quando eras inda botão,

eu era um parvo, um prosa

– mouco para o Coração.

 

 

Onda que vens e que vais,

mar que vais e depois vens,

já não sei se tu me atrais,

e, se me atrais, se me tens.

 

 

Acabei por me convencer

de que antes fui não sendo.

Meu triste passado a rever...

Oh!, irresoluto subtraendo!

 

 

Hoje, sim, consigo perceber,

sem dúvida nem hesitação:

para subir é preciso descer.

Um dia, Santa Illuminação!

 

 

invade corpo e alma,

vem a estranha sensação

de que a calma não é calma.

 

 

E parece que o tempo não dá

para tudo aprender e dizer;

parece que o tempo só dá

para ser um com cada ser.

 

 

 

 

 

 

Observação:

Neste poema, todos os versos em itálico são de autoria de Fernando Pessoa (1888-1935).

 

Bibliografia:

PESSOA, Fernando. Obra poética e em prosa. Volume I. Introduções, organização, biobibliografia e notas de António Quadros e Dalila Pereira da Costa. Porto: Lello & Irmão Editores, 1986.

 

Música de fundo:

Que C'est Triste Venise
Composição: Françoise Dorin & Charles Aznavour
Interpretação: Charles Aznavour

Fonte:

http://www.charles50tao.com.br/francesa.htm

 

Página da Internet consultada:

http://laurobarbosa.com/?m=200711