Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

1º Parágrafo:

 

 

De maneira geral, os espiritualistas, os religiosos e alguns místicos gostariam de ver a Coisa para confirmar e robustecer suas crenças, em uma espécie de looping ou dobra do espaço-tempo. Tomando emprestado o conceito da Ovniologia, desejariam, por assim dizer, que acontecesse um Contato Imediato de Quinto Grau com um Ser Ascensionado, preferentemente de outra dimensão, ou que algo insólito acontecesse que os tornassem sabedores daquilo que (pensam que) não sabem, para que, inclusive, fraterna e altruisticamente, pudessem divulgar este novo conhecimento adquirido para a Humanidade. Isto é bom? Em um certo sentido, sim, é bom; mas, se tiver que ser o caso, há (quase ilimitadas) limitações que precisam ser superadas, geralmente desconhecidas ou não levadas na devida conta.

 

 

 

Looping ou Dobra do Espaço-tempo
(animação meramente simbólica)

 

 

 

2º Parágrafo:

 

 

Supondo que isto seja possível – um Contato Imediato de Quinto Grau com um Ser Ascensionado – em primeiro lugar, há a questão dupla do mérito. Dupla, sim, porque, primeiro, um evento desta natureza – repito, se for possível – envolverá sempre o espiritualista, o religioso ou o místico e a própria Humanidade, já que há, fraterna e altruisticamente, o interesse sincero de divulgar este novo conhecimento adquirido. E, segundo, abrangentemente, o nosso conceito de mérito (ou de demérito) costuma não ser coadunável com o Entendimento e a Sabedoria de um Ser Ascensionado. Bondade, misericórdia, categoricidade, humildade, caridade, lealdade, lhaneza, justiça, acatamento, cumprimento, docilidade, obediência etc. são categorias desejáveis e moralmente elevadas, mas isto não significa mérito propriamente dito nem obrigatoriamente empresta valor a desejos espirituais esperançosos e acalentados, justos e fraternais, misericordiosos e inimputáveis. E, por outro lado, em terceiro lugar, antonimicamente, o que pensamos que possa ser um demérito pode ser que não o seja. Tudo isto é mais complicado do que parecer ser.

 

 

 

Ilusão Antonímica Mérito/demérito

 

 

 

 

3º Parágrafo:

 

 

E, em segundo lugar e finalmente, há a questão da oportunidade, que normalmente não é considerada. O que precisa ser vivenciado em um Kali Yuga, em princípio, não comporta experiências que sejam, por exemplo, próprias de um Satya Yuga. Swami Vivekananda (12 de janeiro de 1863 – 4 de julho de 1902), o principal discípulo de Ramakrishna Paramahamsa (18 de fevereiro de 1836 – 16 de agosto de 1886) e um dos mais célebres e influentes líderes espirituais do hinduísmo moderno, sobretudo da Filosofia Vedanta, ensinou: Cada ser individual é potencialmente divino. A meta é manifestar esta Divindade Interior, controlando as naturezas externa e interna. Todavia, este controle e esta possível Comunhão com o Eu Interno não podem derivar de uma irresponsabilidade meio que rapidinha e mal feita e serem inconseqüentemente acelerados, ou seja, não podem ser feitos à bangu e sem ordem. É mais ou menos como querer que uma criança de dez anos aprenda (ou entenda) Cálculo Diferencial e Integral, que um analfabeto conceba (ou imagine de maneira ideal) a Teoria da Relatividade Restrita ou a Teoria Geral da Relatividade, e que alguém que não tenha conhecimento de Medicina pegue um bisturi e saia operando concertadamente a três por dois. Ora, um ovo para cozinhar precisa de um certo tempo. Querer que ele cozinhe em três segundos é efetivamente uma impossibilidade. Então, para que um presumido um Contato Imediato possa eventualmente acontecer – e se for viável que aconteça – é necessário que estejam ajustados o mérito e a oportunidade. Pode haver mérito, mas, se a hora não for adequada, ele não ocorrerá; e a oportunidade pode estar à vista, mas, se não houver mérito, ele também não poderá acontecer.

 

 

 

 

 

 

Epílogo:

 

 

O que se pode concluir desta rápida reflexão? Que, lícita e o mais possível conscientemente, devemos viver e seguir nossa vida de forma honesta e categórica – sem querer nada, sem pedir nada e sem esperar por nada. Se for o caso, havendo mérito, associado à devida oportunidade, a coisa poderá (ou não) acontecer. Por fim, não é bem assim, mas é mais ou menos assim: bem-aventurados os que não viram e creram. Também não é bem assim, mas é mais ou menos assim: bem-aventurados os que não vêem e crêem. Estejamos convictos de que nossa memória espiritual haverá de nos conduzir para o melhor. Assim seja! Assim seja! Assim seja!

 

 

 

Ascensionabilidade

 

 

 

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Nota:

1. Segundo os Vedas originais, existem quatro eras principais: Satya-Yuga, Treta-Yuga, Dwapara-Yuga e Kali-Yuga. A primeira dura 1.728.000 anos; a segunda, 1.296.000 anos; a terceira, 864.000 anos; e a última, 432.000 anos. Todas estão relacionadas com o Dharma ou retidão de princípios e deveres. Em Satya-Yuga predomina a virtude e a sabedoria, de tal sorte que os princípios éticos são integralmente respeitados. Na Treta-Yuga, começa a penetração do vício e o Dharma começa a decair. Em Dwapara-Yuga o Dharma degrada-se ainda mais. Por fim, na Kali-Yuga, o Dharma é praticamente perdido, restando muito poucos seres-no-mundo que mantêm sua reta conduta, conservando o conceito místico de Unicidade como norma primacial de vida.

 

 

 

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.feebleminds-gifs.com/
ani3.html

http://www.gita.ddns.com.br/
pergunte/yugas.php

http://www.vedanta.org.br/
Duvidas.htm

 

Fundo musical:

The Mist (Kitaro)

Fonte:

http://www.umnovoencontromusical.com/
new_age.htm