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Notas:
1. E
mesmo se o fato de a lady ser uma puta por hipótese a tornasse
uma corrupta, a quem cabe e quem pode desdenhar, julgar, condenar e apedrejar?
Eu? Você? Quem? Os preconceituosos e os carolas de plantão
devem pensar nisto: ingenuidades que vêm da vida são tão-somente
insabidades da Vida. Nada mais; simples travessuras, traquinices, mais ou
menos ignorantes eventualmente compensáveis. Essa coisa bíblica
– cloudy, cold, tramp and damp
– de interditar, de condenar, de pecadizar e de ilegalizar este ou
esta e aquele ou aquela por isto ou por aquilo (pelo que quer que seja)
não pode ter sido escrita por um inspirado ou por um iluminado por
Deus. Ou será que Deus – além de todas as coisas absurdas
que imaginamos que Ele seja e que Ele faça – haverá
também de ser preconceituoso e de condenar ao inferno uma puta, ad
æternum e mais seis meses? E mais: será que Deus também
muda de idéia, como foi o caso, por exemplo, de Santa Maria Madalena
(Santa Maria de Magdala), uma das discípulas de maior destaque dos
Evangelhos, que, depois de séculos de ostracismo – determinado
por um machismo de batina escrotérrimo e da pior qualidade –
foi perdoada, incensada e promovida de puta (arrependida) a Santa pela Igreja
Católica exotérica? Haverá
algo ou alguém no Universo que não seja nosso irmão?
O que de vós está sem pecado, seja o primeiro que lhe
atire a pedra. (Evangelho de São João, VIII
- 7).
Dos
Evangelhos, ditos apócrifos ou destituídos de autoridade canônica,
recolhi:
1º)
É em vosso interior que está o Filho do Homem; ide a Ele.
(Evangelho de Santa Maria de Magdala, publicado em
1955, após o aparecimento da Biblioteca de Nag Hammadi).
2º)
O Reino está dentro de vós e também em vosso exterior.
Quando conseguirdes conhecer a vós mesmos sereis conhecidos, e compreendereis
que sois os filhos do Pai vivo. Mas, se não vos conhecerdes, vivereis
na pobreza e sereis a pobreza. (Evangelho de Tomé,
preservado em versão completa em um manuscrito copta em Nag Hammadi).
2. Cada
qual cuide de seu enterro, impossível não há.
Frase derradeira de Quincas Berro Dágua, segundo o relato da prostituta
Quitéria do Olho Arregalado, que estava a seu lado, e que, nos momentos
de intimidade e de ternura, o chamava de Berrito. [Fragmento do romance,
A Morte e a Morte de Quincas Berro D'Água, publicado em
1961, de autoria do escritor brasileiro e membro da Academia Brasileira
de Letras Jorge Amado (Itabuna, 10 de agosto de 1912 – Salvador, 6
de agosto de 2001)].
Música
de fundo:
The
Lady Is A Tramp (Lorenz Hart & Richard Rodgers)
Fonte:
http://pagesperso-orange.fr/
jc.boudrant/Liens.htm