Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

Síndrome de Tourette1

ou obsessão demoníaca?

Uma sedutora coquete

ou uma andromaníaca?

 

 

Sempre esta é a questão:

ou pode ser isto ou aquilo.

Depois, vem a justificação:

 

 

O pior são os funestos

efeitos e as frustrações.

Mesmo os mais honestos3

podem pintar anti-noções!

 

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. A Síndrome de Tourette – termo concebido em 1885 pelo neurologista francês Georges Albert Brutus Édouard Gilles de la Tourette (1857 – 1904) – é uma desordem neurológica ou neuroquímica caracterizada por tiques involuntários, reações rápidas, movimentos repentinos (espasmos) ou vocalizações que ocorrem repetidamente da mesma maneira. Estima-se que uma pessoa em cada grupo de 100 sofra de uma forma moderada da Síndrome. Esses tiques motores e vocais mudam constantemente de intensidade, e não existem duas pessoas no mundo que apresentem os mesmos sintomas. A maioria das pessoas afetadas é do sexo masculino. O início da Síndrome, geralmente, se manifesta na infância ou na juventude, eventualmente atingindo estágios classificados como crônicos. Entretanto, no decorrer da vida adulta, freqüentemente, os sintomas vão aos poucos se amenizando e diminuindo. Mesmo assim, até hoje, ainda não foi encontrada uma cura para esta Síndrome. Há tratamentos médicos para suavizar os sintomas da Síndrome, porém o consenso entre os profissionais da área é que os tratamentos precisam ser individualizados por causa das sempre presentes conseqüências adversas e colaterais da aplicação dos medicamentos. Os referidos tiques são movimentos bruscos involuntários que podem se manifestar em qualquer parte ou conjunto de partes do corpo (barriga, nádegas, pernas, braços etc.), mas tipicamente ocorrem no rosto e na cabeça. No rosto, particularmente, em forma de caretas repetidas; na cabeça como um todo, em forma de movimentos bruscos, repetidos, de lado-a-lado etc. Um aspecto que merece ênfase ao se tentar explicar ou compreender esta Síndrome é que os sintomas ocorrem involuntariamente. Raramente uma pessoa que sofre da Síndrome de Tourette consegue controlar um mínimo de seus tiques. Assim como o ser humano não consegue viver por muito tempo com os olhos abertos, pois seu corpo reage de forma natural, inconsciente, para que seus olhos pisquem, desta mesma forma se manifestam os sintomas da Síndrome de Tourette no indivíduo por ela afetado. Infelizmente, a reação de muitas pessoas desinformadas perante manifestações da Síndrome de Tourette é de fobia ao diferente ou de ridicularização daquele que padece desta doença. Ainda mais, às vezes, a reação é de repreensão. Isto ocorre especialmente quando a pessoa afetada por esta Síndrome manifesta sintomas de coprolalia. A coprolalia enquadra aqueles indivíduos que, além de outros sintomas de Tourette, se vêem obrigados a repetir palavras obscenas e/ou insultos. Como explica Ana Gabriela Hounie, há sempre um som vocálico associado ao tique motor. Fungar ou fazer barulho com a garganta são exemplos de tiques vocais simples. Os complexos são mais elaborados. É a repetição de sílabas ou palavras e, em 30% dos casos, a repetição de palavrões. Obviamente, as conseqüências deste tipo de comportamento geralmente se traduzem em diferentes graus de desvantagens no âmbito social.

Algumas vezes, estes comportamentos (particularmente os surtos vocais involuntários repletos movimentos espasmódicos e de obscenidades) chegam a ser tratados como obsessões demoníacas ou interferências indesejáveis de espíritos encarnados ou desencarnados. O mais triste de tudo isto é que alguns religiosos filhos-da-puta, em latitude e em longitude, enchem a panturra de dinheiro com sessões de exorcismos e de desobsessões, nas quais, no limite, os portadores desta Síndrome podem até morrer. Entretanto, para o Espiritismo, não há demônios, espíritos dedicados eternamente ao mal, tendo todos sido criados em igual condição pelo próprio homem, simples e ignorantes, e estando todos em graus diferentes de evolução. Na concepção espírita, portanto, o tratamento espiritual engloba o tratamento das duas partes envolvidas no processo: o obsedado e o obsessor. Apesar de ter suas raízes históricas nos trabalhos de exorcismo, no qual o procedimento religioso visa a pura expulsão de demônios, na desobsessão não é objetivado o afastamento puro e simples do obsessor, pois é admitido que isto nenhum efeito duradouro possua, sendo necessário conscientizar (esclarecer) tanto o encarnado obsedado como o espírito desencarnado obsessor. Parte importante do tratamento de desobsessão consiste da reforma íntima do obsedado e daqueles que lhe são próximos, sendo todos instados a rever seus conceitos de vida, seus hábitos e seus valores morais.

Nota editada das fontes:

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Desobsess%C3%A3o

http://drauziovarella.ig.com.br/
entrevistas/tiques2.asp

http://saude.hsw.uol.com.br/
tourette.htm

http://pt.wikipedia.org/
wiki/S%C3%ADndrome_de_Tourette

2. Ainda dá para pensar em fi-lo porque não qui-lo e em não fi-lo porque qui-lo. Contudo, salvo melhor juízo, penso que não haja licença poética que justifique qualquer uma destas esdrúxulas construções lingüísticas ou literárias; estão todas quadraticamente erradas. A partícula porque, no caso, funciona como uma conjunção subordinativa causal, e, como tal, exerce força atrativa sobre o pronome oblíquo. Desta forma o emprego da próclise é obrigatório.

Sobre a expressão fi-lo porque qui-lo, Washington Novaes relata: Jânio Quadros, quando presidente, era fascinado pelo Otto Lara Resende e queria levá-lo a qualquer custo para Brasília. Otto resistia sempre. Mas foi lá que ele testemunhou o episódio que entrou para a história, quando Jânio, certo dia, perguntado por que tomara determinada posição, teria respondido: — Fi-lo porque qui-lo.* Otto, que estava no gabinete presidencial, contava a versão correta. Ele mesmo perguntara ao presidente por que fizera algo. Jânio, com seu modo peculiar, começou a responder: — Fi-lo porque… Silêncio. — Fi-lo porque... E novo silêncio. Jânio, então, levantou-se da cadeira, foi até a janela, mão no queixo, olhar perdido na Praça dos Três Poderes, e completou: — Fi-lo porque… Fi-lo… Fi-lo… Puta que o pariu! Que coisa estranha é a língua portuguesa!

* O jocoso episódio, segundo Sérgio Cruz Lima, deriva do diálogo entre o então Ministro da Educação e Cultura Brígido Tinoco e Jânio Quadros, sobre certas mudanças que o Presidente determinara:

Presidente, permita-me dizer-lhe que discordo dessa solução. A meu ver, é um ato equivocado. Fê-lo por quê?

— Ágil, Jânio responde-lhe: Fi-lo por razões que me pareceram relevantes. Primeiro, fi-lo porque estou convencido de que é a melhor solução. Segundo, porque o Brasil tem pressa. Terceiro, fi-lo porque sou o Presidente. Por fim, Senhor Ministro, fi-lo porque qui-lo.

Epílogo: ou é fi-lo porque o quis, ou é fi-lo porque quis.

Melhor e sem esnobação: fiz porque quis.

3. Aqui, forcei um pouco a barra. Não há mais honesto ou menos honesto; há apenas honestidade e honestos e desonestidade e desonestos. Nesta matéria, meio-termo é sinônimo de desonestidade. Isto é meio que mais ou menos como a Justiça. Não existe essa coisa de Justiça isto, Justiça aquilo, Justiça esta, Justiça aquela etc. Só há uma e uma só Justiça. Justiça é Justiça. Como dizia Aristóteles, Justiça denota, ao mesmo tempo, legalidade e eqüidade. Assim, justo é tanto aquele que cumpre a lei (Justiça em sentido universal) quanto aquele que realiza a eqüidade (Justiça em sentido estrito). A Justiça implica, também, em alteridade, isto é, situação, estado ou qualidade que se constitui através de relações de contraste, de distinção e de diferença. Uma vez que a Justiça equivale à eqüidade, e que eqüidade é um conceito relacional, é impossível, segundo Aristóteles e Santo Tomás de Aquino, praticar uma injustiça contra si mesmo. Apenas em sentido metafórico poderíamos falar em injustiça contra si, mas, neste caso, o termo injustiça pode mais adequadamente ser substituído por um outro vício do caráter, como, por exemplo, a filhodaputice mau-caratista de exorcizar criminosamente pessoas portadoras da Síndrome de Tourette como se estivessem cheias de demônios, porque tudo de mal ou de injusto que se faz ao outro é feito – primeiro – contra si. Precisamos compreender, repito mais uma vez, que não há, propriamente, o ser singular e o outro; todos os seres singulares e todos os outros são, desde sempre e para sempre, um no seio do Todo-Sempre-Um. A Síndrome de Tourette do outro é de todos nós! Se você, um dia, se defrontar com uma pessoa que padeça deste mal e quiser fazer uma coisinha, olhe fixamente para o centro da cabeça dela e emita, suavemente e em silêncio, um pensamento harmonizador e curativo. Se souber fazer algo mais efetivo, faça. Isto vale para qualquer coisa e para tudo. A redundância foi enfaticamente consciente.

 

 

 

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.diariopopular.com.br/
17_09_06/artigo.html

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Desobsess%C3%A3o

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Justi%C3%A7a

http://ogargantadefogo.org/
2008/01/04/saudade-dos-mineiros/

http://www.bergoiata.org/
gif/page65.htm

 

Fundo musical:

Prism

Fonte:

http://br.geocities.com/mimifantasy01/midi.htm