Foi neste Forte que a Miriam Leitão, em 1972
– uma menina grávida de 19 anos – desceu ao
submundo da repressão desumana que marcou
o auge da violência no Governo mais truculento
da ditadura: o do General Emílio Garrastazu Médici.

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

Tortura

não é bolinho de bacalhau que se come na CADEG.

Tortura

é bolinho de ódio que dá uma baita caganeira.

 

 

Bolinho de Ódio

 

 

Tortura

não se varre para debaixo do tapete.

Tortura

deve ser succionada com aspirador de pó.

 

Tortura

não se deixa-pra-lá nem se finge não ver.

Tortura

se revela, se denuncia e se faz conhecer.

 

Tortura

não é defender a pátria de um perigo real e imediato.

Tortura

é meter alguém numa sala escura, abafadiça, com uma jibóia.

 

 

Dr. Pablo era o codinome de um dos mais truculentos oficiais
do DOI-CODI do II Exército, na Rua Barão de Mesquita,
no bairro carioca da Tijuca: Paulo Malhães,
coronel do Centro de Informações do Exército (CIE).
O Dr. Pablo relatou aos repórteres de O Globo:
Eu estava, um dia, à beira de um rio, na região do Araguaia,
quando senti a terra tremer. Descobri que estava sentado
em cima de um ninho com filhotes de jacaré. Consegui pegar cinco,
que batizei de Pata, Peta, Pita, Pota e Joãozinho. E ainda peguei
uma jibóia de seis metros, que chamei de Miriam. Trouxe todos
para o DOI-CODI, no Rio. Os filhotes de jacaré não mordiam.
Só faziam tec-tec com a boca…

 

 

Tortura

não é amor, solidariedade e bem-querer.

Tortura

é tratamento cruel, desumano e degradante.

 

Tortura

não é uma coisa digna de uma Democracia.

Tortura

é uma indignidade ignóbil, vil, baixa e infame.

 

Tortura

não é festa do Bolinha com sarrinho e choppeidança.

Tortura

é prisão, assassinato e desaparecimento forçado.

 

 

 

 

Tortura

não é aceitável em um Estado Democrático de Direito.

Tortura

é uma excrescência própria dos regimes de exceção.

 

Tortura

não é passear em Maracangalha com chapéu de palha.

Tortura

é Operação Bandeirante e Operação Condor.

 

 

 

 

Tortura

não é visitar Pasárgada e tomar banhos de mar.

Tortura

é a materialização do Inferno, de Dante Alighieri.

 

 

Manuel Bandeira

 

 

Tortura

não é esperançar um mundo melhor e mais fraterno.

Tortura

é lasciate ogni speranza, voi, [figlio di puttana], ch'entrate.
(Abandonai toda a esperança, vós, [filho-da-puta], que entrais.)

 

Tortura

não é o Dom Paulo Evaristo Arns nem o rabino Henry Sobel.

Tortura

é o pulha Daniel Anthony Mitrione e o doutor Tibiriçá.

 

Tortura

não é assistir uma partida de futebol ouvindo rádio de pilha.

Tortura

é um crime imprescritível praticado contra a humanidade.

 

 

 

 

Tortura

não é tratar o outro com irmandade, respeito e carinho.

Tortura

é tratar o outro como cagalhão do cavalo de bandido.

 

 

 

 

Tortura

não é perdoar Jean Valjean por ter furtado um pãozinho,
(para alimentar os filhos de sua irmã em um período de depressão econômica).

Tortura

é, criminosamente, roubar a vida de um ser-humano-aí-no-mundo.

 

Tortura

não é coisa do passado que deva ser enterrada e esquecida,
(como ± afirmou o Senhor Vice-presidente Hamilton Mourão).

Tortura

é uma coisa do ad æternum e que deve ser bem averiguada,
(custe o que custar, doa a quem doer e até as últimas conseqüências).

 

Tortura

não é uma atitude digna de um ser humano.

Tortura

é uma atitude própria de um delinqüente.

 

Tortura

não é uma história acabada e fim de papo.

Tortura

é uma história inacabada que precisa acabar.

 

 

Tortura

não é algo que condiga com a Unimultifraternidade.

Tortura

é um flagrante desrespeito à dignidade da pessoa humana.

 

Tortura

não nobilita, não honra e não dignifica um país.

Tortura

avilta, deprime e difama qualquer país.

 

Tortura

não encontra apoio em uma espiritualidade avançada.

Tortura

é magia negra rebaixadora, marca roscofe e da pior qualidade.