MIGUEL TORGA

(Pensamentos e Reflexões)

 

 

 

Miguel Torga (1907 – 1995)

 

 

 

Uma singela colaboração
de
Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Dedicatória

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Miguel Torga é o pseudônimo literário de Adolfo Correia da Rocha – que escolheu o nome Miguel com o propósito de honrar a vizinha Espanha (em homenagem a Miguel de Cervantes e a Miguel de Unamuno) – um dos mais importantes escritores portugueses do século XX. Já torga (Erica lusitanica) é uma planta brava da montanha, que deita raízes fortes sob a aridez da rocha, de flor branca, arroxeada ou cor de vinho, com um caule incrivelmente retilíneo. O apelido Torga foi escolhido para metaforicamente representar a extensa ligação que o escritor possuía com a sua Terra Natal. A campa rasa de Miguel Torga, em São Martinho de Anta, tem uma torga plantada a seu lado, em honra ao Poeta que, um dia, compreendeu: Liberdade, que estais em mim,/Santificado seja o vosso nome.

 

Nascido em 12 de agosto de 1907, natural de São Martinho de Anta, Vila Real, Portugal, proveniente de uma família humilde, teve uma infância rural dura, que lhe deu a conhecer a realidade do campo, sem bucolismos, feita de árduo trabalho contínuo. Após uma breve passagem pelo seminário de Lamego, emigrou com 13 anos para o Brasil, onde durante cinco anos exerceu ofícios típicos de trabalhador rural na fazenda de um tio, em Minas Gerais. De regresso a Portugal, em 1925, concluiu o ensino liceal e freqüentou, em Coimbra, o curso de Medicina, que terminou em 1933. Exerceu a profissão de médico em São Martinho de Anta e em outras localidades do País, fixando-se definitivamente em Coimbra, como otorrinolaringologista, em 1941.

 

Ligado inicialmente ao grupo da revista Presença, dele se desligou em 1930, fundando nesse mesmo ano, com Branquinho da Fonseca (outro dissidente), a Sinal, de que sairia apenas um número. Em 1936, lançou outra revista, Manifesto, também de duração breve.

 

A sua saída da Presença reflete uma característica fundamental da sua personalidade literária: uma individualidade veemente e intransigente, que o manteve afastado, por toda a vida, de escolas literárias e mesmo do contato com os círculos culturais do meio português. A esta intensa consciência individual aliou-se, no entanto, uma profunda afirmação da sua pertença à natureza humana, com que se solidariza na oposição a todas as forças que oprimam a energia viva e a dignidade do homem, sejam elas as tiranias políticas ou o próprio Deus. Miguel Torga, tendo como homem a experiência dos sofrimentos da emigração e da vida rural, do contato com as misérias e com a morte, tornou-se o Poeta do mundo rural, das forças telúricas, ancestrais, que animam o instinto humano na sua luta dramática contra as leis que o aprisionam. Nesta revolta consiste a missão do Poeta, que se afirma tanto na violência com que acusa a tirania divina e terrestre, como na ternura franciscana que estende, de forma vibrante, a todas as criaturas no seu sofrimento.

 

A sua obra, recheada de simbologia bíblica, encontra-se, antes, imersa em um sentido divino que transfigura a Natureza e dignifica o homem no seu desafio ou no seu desprezo face ao divino. A ligação à terra, à região natal, a Portugal, à própria Península Ibérica e às suas gentes, é outra constante dos textos do autor. Ela justifica o profundo conhecimento que Torga procurou ter de Portugal e da Espanha, unidos no conceito de uma Ibéria comum, pela rudeza e pela pobreza dos seus meios naturais, pelo movimento de expansão e de opressões da História, e por certas características humanas definidoras da sua personalidade. A intervenção cívica de Miguel Torga, na oposição ao Estado Novo e na denúncia dos crimes da guerra civil espanhola e de Franco, valeu-lhe a apreensão de algumas das suas obras pela censura e, mesmo, a prisão pela polícia política Portuguesa.

 

Notável pela sua técnica narrativa no conto, pela expressividade da sua linguagem, freqüentemente de cunho popular, mas de uma força clássica, fruto de um trabalho intenso da palavra, conseguiu conferir aos seus textos um ritmo vigoroso e original, a que associa uma imaginação extremamente sugestiva e viva.

 

Várias vezes premiado, nacional e internacionalmente, foram-lhe atribuídos, entre outros, o Prêmio Diário de Notícias (1969), o Prêmio Internacional de Poesia (1977), o Prêmio Montaigne (1981), o Prêmio Camões (1989), o Prêmio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (1992) e o Prêmio da Crítica, consagrando a sua obra (1993). Em 2000, é publicado Poesia Completa. A capacidade criadora de Miguel Torga manter-se-á até próximo da morte, que irá ocorrer em Coimbra, em 17 de janeiro de 1995.

 

Enfim, para o Poeta Miguel, nenhum deus é digno de louvor: na sua condição onisciente é-lhe muito fácil ser virtuoso, e enquanto ser sobrenatural não se lhe opõe qualquer dificuldade para fazer a Natureza – mas o homem, limitado, finito, condicionado, exposto à doença, à miséria, à desgraça e à morte é também capaz de criar, e é, sobretudo, capaz de se impor à Natureza, como os trabalhadores rurais transmontanos impuseram a sua vontade de semear a terra aos penedos bravios das serras. E é essa capacidade de moldar o meio, de verdadeiramente fazer a Natureza malgrado todas as limitações de bicho, de ser humano mortal, que, no entendimento de Torga, fazem do homem o único ser digno de adoração.

 

No poema Rogo, Torga escreveu:

 

Não, não rezes por mim.
Nenhum deus me perdoa a humanidade.
Vim sem vontade
E vou desesperado.
Mas assinei a vida que vivi.
Doeu-me o que sofri.
Fui sempre o senhorio do meu fado.

Por isso, quero a morte que mereço.
A morte natural,
Solitária e maldita
De quem não acredita
Em nenhuma oração
De salvação.
De quem sabe que nunca ressuscita.

 

Em Pudor, escreveu:

 

Vens, e não sonho mais
Quebra-se a onda do penedo austero.
E o mar recua, sem haver sinais
De que te quero.


Não sei amar, ou amo o que me foge.
Já com Deus foi assim, na juventude:
Dei-lhe a paixão que pude
Enquanto o namorava na distância;
Depois, ou medo, ou ânsia
De maior perfeição,
Vi-o junto de mim e fiquei mudo.
Neguei-lhe o coração.
E então perdi-o, como perco tudo.

 

Aqui, para concluir esta breve biografia de Miguel Torga, penso que caiba, mais uma vez, recordar Protágoras de Abdera (Abdera, 480 a.C. - Sicília, 410 a.C.), que cunhou a frase: O homem é a medida de todas as coisas; das coisas que são, enquanto são, e das coisas que não são, enquanto não são. Enfim, como afirmou Johann Heyss, com quem tenho que concordar, se cada um de nós é um Deus (não o Deus), cada um de nós é uma estrela e gira em torno de si mesmo, criando uma órbita particular. Assim, o desenvolvimento espiritual só pode se dar quando o indivíduo descobre o seu próprio caminho, o qual será necessariamente único e indivisível – o que revela a fragilidade dos sistemas religiosos em geral, que procuram unificar os seres humanos através de regras de conduta blasfemas e artificiais, que ferem a individualidade e a divindade do Homem. Todos os mitos religiosos – sejam cristãos, muçulmanos, budistas, afro-brasileiros – todos eles têm seu valor e beleza. Mas a relação do Adepto com estes deve ser direta, sem intermediários, sem bulas redigidas por outrem. Por melhor que seja a intenção destes criadores de leis espirituais, o resultado final é turvar a liberdade de experiência do estudante. E o que acontece quando se reprime a experiência como e de pesquisa? Anda-se em círculos. A Ciência não seria o prodígio que é hoje em dia se não fosse a atitude cética e experimental de seus praticantes – muitos dos quais já pararam na fogueira em tempos medievais por causa de sua convicção em descobrir a Verdade [ainda que a Verdade conquistada e apreendida seja sempre relativa, portanto mutável, ascensional e ilimitada ad semper].

 

 

 

Protágoras de Abdera

Protágoras de Abdera
(O homem é a medida de todas as coisas...)

 

 

 

 

 

Objetivo do Trabalho

 

 

 

Este singelo trabalho

nada tem de original.

São só alguns excertos

de um Poeta magistral.

 

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Portugal não é só de Camões,

de Antero e de Pessoa;

é de Miguel Torga também.

Se acaso você é alguém

que anda volteando à-toa,

de Torga, colha algumas lições.

 

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Eu, com emoção,

bem colhi as minhas.

Guardarei no Coração

– linhas e entrelinhas.

 

 

 

 

Reflexões Torguianas

 

 

 


Miguel Torga
(Retrato a Carvão de Isolino Vaz
e
Pintura de H. Mourato)

 

 

 

Que belo e que natural é ter um amigo!

 

 

 

A unidade de uma pessoa é tal, que basta um gesto para revelar um homem.

 

 

 

Todo o semeador semeia contra o presente.

 

 

 

Não há céu que me queira depois disto,
Nem deus capaz de ouvir-me.
Um homem firme
É firme até no céu,
E até diante
Do Criador!
É o que eu diria se, ressuscitado,
Fosse chamado
A depor!

 

 

 

Mais um ano. Mais um palmo a separar-me dos outros, já que a vida não passa de um progressivo distanciamento de tudo e de todos, que a morte remata.

 

 

 

A Velhice é isto: ou se chora sem motivo ou os olhos ficam secos de lucidez.

 

 

 

Ter um destino é não caber no berço onde o corpo nasceu; é transpor as fronteiras, uma a uma, e morrer sem nenhuma.

 

 

 

O que sou toda a gente é capaz de ver; mas o que ninguém é capaz de imaginar é até onde sou e como.

 

 

 

Que cada frase, em vez de um habilidoso disfarce, fosse uma sedução... e um ato sem subterfúgios. Para tanto, limpo-a escrupulosamente de todas as impurezas e ambigüidades.

 

 

 

Nascemos sós, vivemos sós e morremos sós.

 

 

 

Junto dos analfabetos encontro ainda o riso, a indignação, o espanto...

 

 

 

O Capitalismo não hesita mesmo diante de um leito de sofrimento.

 

 

 

Nada há de menos sociológico de que a aplicação a uma comunidade viva do estrito espírito do sistema.

 

 

 

A política é para eles [os políticos] uma promoção e, para mim, uma aflição.

 

 

 

Não há uniformidade de critério possível perante a surpreendente e paradoxal diversidade da vida.

 

 

 

Canto como quem usa
Os versos em legitima defesa.
Canto sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.

 

 

 

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer...

 

 

 

Fomos descobrir o mundo em caravelas e regressamos dele em traineiras. A fanfarronice de uns, a incapacidade de outros e a irresponsabilidade de todos deu este resultado: o fim sem a grandeza de uma grande aventura. Metade de Portugal a ser o remorso da outra metade.

 

 

 

Já bati palmas com brio
À confusão do trajeto
Que fez o meu rodopio
De posições no vazio
Inserto mo meu projeto...

 

 

 

A vida é lenta quando a morte tem pressa.

 

 

 

Apetece cantar, mas ninguém canta.
A
petece chorar, mas ninguém chora.
Um fantasma levanta
A mão do medo sobre a nossa hora.

Apetece gritar, mas ninguém grita.
Apetece fugir, mas ninguém foge.
Um fantasma limita
Todo o futuro a este dia de hoje.

Apetece morrer, mas ninguém morre.
Apetece matar, mas ninguém mata.
Um fantasma percorre
Os motins onde a alma se arrebata.

Oh! maldição do tempo em que vivemos,
Sepultura de grades cinzeladas,
Que deixam ver a vida que não temos
E as angústias paradas!

 

 

 

No silêncio cansado
E paciente
Canta um galo vidente.
E diz que cada dia
Que anuncia
É sempre um dia novo
De renovo
E poesia.

 

 

 

Peço-te lucidez, Senhor.
Rogo-te humildemente.
Em nome da terrena condição,
Que me não cegues neste labirinto
De paixões.
Que nele, aos tropeções,
Eu nunca chegue até onde, perdido,
O homem já não pode
Saber até que ponto é consentido
O jugo que sacode.

 

 

 

Deixem passar quem vai na sua estrada.
Deixem passar
Quem vai cheio de noite e de luar.
Deixem passar e não lhe digam nada.

Deixem, que vai apenas
Beber água de Sonho a qualquer fonte;
Ou colher açucenas
A um jardim que ele lá sabe, ali defronte.

Vem da terra de todos, onde mora
E onde volta depois de amanhecer.
Deixem-no, pois, passar, agora

Que vai cheio de noite e solidão.
Que vai ser
Uma estrela no chão.

 

 

 

De um lado terra, doutro lado terra;
De um lado gente, doutro lado gente...
O mesmo beijo aqui; o mesmo beijo além...

 

 

 

Aqui, diante de mim,
Eu, pecador, me confesso
De ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
Que vão em leme da nau
Nesta deriva em que vou.

Me confesso
Possesso
Das virtudes teologais,
Que são três,
E dos pecados mortais
Que são sete,
Quando a terra não repete
Que são mais.

Me confesso
O dono das minhas horas.
O das facadas cegas e raivosas
E das ternuras lúcidas e mansas.
E de ser de qualquer modo
Andanças
Do mesmo todo.

Me confesso de ser charco
E luar de charco, à mistura.
De ser a corda do arco
Que atira setas acima
E abaixo da minha altura.

Me confesso de ser tudo
Que possa nascer em mim.
De ter raízes no chão
Desta minha condição.
Me confesso de Abel e de Caim.

Me confesso de ser Homem.
De ser o anjo caído
Do tal céu que Deus governa;
De ser o monstro saído
Do buraco mais fundo da caverna.

Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
Para dizer que sou eu
Aqui, diante de mim!

 

 

 

Em nome do teu nome,
Que é viril,
E leal,
E limpo, na concisa brevidade
— Homem, lembra-te bem!
Sê viril,
E leal,
E limpo, na concisa condição.
Traz à compreensão
Todos os sentimentos recalcados
De que te sentes dono envergonhado;
Leva, dourado,
O Sol da consciência
Às íntimas funduras do teu ser,
Onde moram
Esses monstros que temes enfrentar.
Os leões da caverna só devoram
Quem os ouve rugir e se recusa a entrar.

 

 

 

A vida afetiva é a única que vale a pena. A outra apenas serve para organizar na consciência o processo da inutilidade de tudo.

 

 

 

A maior desgraça que pode acontecer a um artista é começar pela literatura, em vez de começar pela vida.

 

 

 

Enquanto não alcances não descanses; de nenhum fruto queiras só metade.

 

 

 

É instrutivo ver os vários retratos que fazem de nós pela vida fora. Com traços lisonjeiros ou desagradáveis, entram-nos sempre pelos olhos dentro como estranhos, a perturbar uma paz que tinha um rosto habitual, familiar, a que estávamos acostumados. À imagem tranqüila, sobrepõem-se outras inquietantes que não servem no cartão de identidade, e, contudo, nos identificam publicamente mais até do que a que nele figura. É que não se trata de neutras fotografias. São perfis apaixonados, justos ou injustos, com as virtudes e os defeitos cruamente patenteados. Quem um dia nos lembrar, é por eles que nos lembra. Somos o que nós sabemos, e parecemos o que os outros dizem de nós.

 

 

 

O que é bonito neste mundo, e anima, é ver que na vindima de cada sonho fica a cepa a sonhar outra aventura. E que a doçura que não se prova se transfigura noutra doçura muito mais pura e muito mais nova.

 

 

 

Bichos que cavam no chão
atuam como parecem
sem um disfarce que os mude.

 

 

 

Embora muitas pessoas digam que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade e o Coração, depois, não hesite.

 

 

 

Canta, poeta, canta!
Violenta o silêncio conformado.
Cega com outra luz a luz do dia.
Desassossega o mundo sossegado.
Ensina a cada alma a sua rebeldia.

 

 

 

Não sei quantos seremos, mas qu'importa?
Um só que fosse e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.

E o que não presta é isto: esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.

 

 

 

Na terra negra da vida,
Pousio do desespero,
É que o Poeta semeia
Poemas de confiança.
O Poeta é uma criança
Que devaneia.

Mas todo o semeador
Semeia contra o presente.
Semeia como vidente
A seara do futuro,
Sem saber se o chão é duro
E lhe recebe a semente.

 

 

 

Vem, camarada, vem
Render-me neste sonho de beleza!
Vem olhar doutro modo a natureza
E cantá-la também!

Ergue o teu coração como ninguém;
Fala doutro luar, doutra pureza;
Tens outra humanidade, outra certeza:
Leva a chama da vida mais além!

Até onde podia, caminhei.
Vi a lama da terra que pisei
E cobri-a de versos e de espanto.

Mas, se o facho é maior na tua mão,
Vem, camarada irmão,
Erguer sobre os meus versos o teu canto.

 

 

 

Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre nosso que sabia,
A pedir-te humildemente,
O pão de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

Liberdade, que estais na Terra...
E a minha voz crescia
De emoção,
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.

 

 

 

 

 

Despretensioso Remate

 

 

 

 

Eu-pecador me confesso

Ao Deus do meu Coração:

Oh!, Deus de pálido fulgor!

Se não fosse o Teu verdor,

Eu já não seria maganão

Do meu próprio insucesso.

 

Eu-penitente me dilacero

Ao Deus do meu Coração:

Oh! Deus de tanta ausência!

Se me doasses Tua ciência,

Teria trocado o sim pelo não

E já não mais bramiria fero.

 

Eu-transgressor oro sentido

Ao Deus do meu Coração:

Oh! Deus como estou aflito!

Se Tu ouvisses o meu grito,

Eu não requestaria ademão

E já não me oneraria o alarido.

 

Eu-infringente me humilho

Ao Deus do meu Coração:

Oh! Deus não ouças calado!

Fosse eu Teu bem-amado,

Não mais vagaria em solidão

E outro já seria o meu brilho.

 


 


Erica lusitanica ainda adormecida!

 

 

 

Erica lusitanica


 

 

 

Bibliografia:

TORGA, Miguel. Antologia poética. 2ª edição. Coimbra: Gráfica de Coimbra, 1985.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.rizoma.net/
interna.php?id=130&secao=ocultura

http://www.kenbmiller.com/
paintings/solitude/solitude.html

http://www.joaquimevonio.com/
espaco/h_mourato/hmourato.htm

http://www.cm-coimbra.pt/
cmmtorga/mtorga.htm

http://www.pglingua.org/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Miguel_Torga

http://www.notapositiva.com/

http://www.neumanne.com/jp6_19.htm

http://www.mundolusiada.com.br/
COLUNAS/ml_artigo_310.htm

http://www.pensador.info/autor/Miguel_Torga/

http://www.jornaldepoesia.jor.br/torga.html

http://purl.pt/13860/1/

http://www.bragancanet.pt/filustres/torga.html

http://www.astormentas.com/torga.htm

http://www.vidaslusofonas.pt/miguel_torga.htm

http://pt.wikiquote.org/wiki/Miguel_Torga

 

Fundo musical:

Ai Mouraria
Compositores: Amadeu do Vale e Frederico Valério
Intérprete: Amália Rodrigues

Fonte:

http://carlosqueirozpt.multiply.com/journal/item/423/423