Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Tomás de Aquino

 

 

 

São Tomás de Aquino (Ordo Prædicatorum, Roccasecca, 1225 – Fossanova, 1274) foi um frade dominicano e teólogo italiano. Foi o mais distinto expoente da Escolástica, tendo sido proclamado santo pela Igreja Católica e cognominado de Doctor Communis ou Doctor Angelicus, e é considerado o mais sábio dos santos e o mais santo dos sábios.

 

Aos 19 anos fugiu de casa para, contra o desejo dos pais, se juntar aos dominicanos mendicantes, entrando na Ordem fundada por São Domingos de Gusmão (Ordo Prædicatorum, Caleruega, Reino de Castela, 24 de junho de 1170 – Bolonha, 6 de agosto de 1221), pois, segundo João Ameal, representava, na época a vanguarda doutrinadora e combativa da Igreja. Estudou Filosofia em Nápoles e depois em Paris, onde se dedicou ao ensino e ao estudo de questões filosóficas e teológicas. Estudou Teologia em Colônia e em Paris, se tornando discípulo de Santo Alberto Magno (1193 ou 1206 – 1280) que se impressionou com a sua inteligência. Por este tempo foi apelidado de boi mudo. Dele, disse Santo Alberto Magno: Chamamos-lhe o boi mudo; mas um dia virá em que seus mugidos, a expor a doutrina, hão de ser ouvidos no mundo inteiro.

 

A propósito dessa coisa bovina e desse tal de mugido tomístico monumental do grande boi siciliano (monumental é por minha conta), é contado o seguinte episódio pitoresco: Uma certa manhã, os frades resolveram brincar com Tomás. Tomás, como sempre, reflexivo e recolhido, estava no claustro meditando sobre profundos assuntos referentes a Deus e à Escritura. Um dos frades o chamou, dizendo: — Vem Irmão Tomás, vem ver um boi voando! Tomás, imediatamente, bem disposto e animado, acompanhou o frade e se pôs a olhar para o alto ao som das gostosas gargalhadas de seus confrades. Estes, então, lhe perguntaram como, sendo tão inteligente e culto, poderia ter imaginado que um boi pudesse estar a voar. A resposta de Tomás foi tão instantânea quanto educativa: — Olhei porque pensei que seria mais fácil ver um boi a voar do que ouvir um frade a mentir. Mas Tomás deve ter pensado: Esse meu Irmão Alberto Magno me apronta cada uma!

 

O maior mérito de Tomás foi a síntese que produziu da tradição revelada do Cristianismo com a visão aristotélico-racionalista do mundo, tendo, suas duas Summæ, sistematizado o conhecimento teológico e filosófico de sua época. São elas: a Svmma Theologica e a Svmma Contra Gentiles.

 

A partir de São Tomás, o Catolicismo passa a ter uma Teologia (fundada na revelação) e uma Filosofia (baseada no exercício da razão) – uma tentativa de fusão especulativo-dialética no sentido de uma orientação religiosa comum e unitária rumo a Deus. O Santo advogou que a Filosofia não pode ser substituída pela Teologia e que ambas não se opõem, sustentando que não pode haver contradição entre fé e razão. Textualmente escreveu: A causa e a raiz do bem humano é a razão. E também: Os princípios da razão são os mesmos que estruturam a Natureza. E ainda: O primeiro princípio de todas as ações humanas é a razão; e quaisquer outros princípios que se encontrem para as ações humanas obedecem, de algum modo, à razão. E finalmente: O ser do homem, propriamente, consiste em ser de acordo com a razão. E assim, manter-se alguém em seu ser, é manter-se naquilo que condiz com a razão. Entretanto, infelizmente, não é isto que se assiste no Catolicismo e nem no mundo laico deste Terceiro Milênio.

 

Seja como for, com o uso da razão, para Tomás, é possível demonstrar a existência de Deus. Para isto, propôs o Doctor Angelicus cinco Vias de demonstração:

 

Primeira Via:

Primeiro Motor Imóvel (Prova do Movimento) : Tudo o que se move é movido por algo ou por alguém. É impossível uma cadeia infinita de motores provocando o movimento dos movidos, pois, do contrário, nunca se chegaria ao movimento presente. Logo, há que haver um primeiro motor que deu início ao movimento existente e que por ninguém foi movido. Orlando Fedeli explica: Uma parede branca em ato e vermelha em potência, só ficará vermelha em ato caso receba o vermelho de outro ser – a tinta – que seja vermelho em Ato. Mudança ou movimento (M) é pois a passagem de potência (P) de uma perfeição qualquer (x) para a posse daquela perfeição em Ato (A), isto é: M = PX —> AX.

 

Segunda Via:

Causa Primeira (Prova da Causalidade Eficiente): Decorre da relação causa-e-efeito que se observa nas coisas criadas, já que toda causa é anterior a seu efeito. É necessário que haja uma causa primeira que por ninguém tenha sido causada, pois a todo efeito é atribuída uma causa, do contrário não haveria nenhum efeito, pois cada causa pediria uma outra em uma seqüência infinita de causas. Desse modo, observa Orlando Fedeli, se for supressa uma causa, fica supresso o seu efeito. Supressa a primeira, não haverá as intermediárias e tampouco haverá então a última. Existe, então, para Tomás, uma causa primeira que tudo causou (e que continua causando) e que não foi causada, e esta causa é Deus – a causa das causas não causada.

 

Terceira Via:

Ser Necessário (Prova da Contingência): Existem seres que podem ser ou não ser (os seres contingentes são entes que têm possibilidade de existir ou de não existir), mas nem todos os seres podem ser desnecessários, senão o mundo não existiria. Logo, é preciso que haja um ser que fundamente a existência dos seres contingentes e que não tenha a sua existência fundada em nenhum outro ser. Logo, aquilo que não existe não pode passar a existir por si mesmo; e o que existe só pode ter começado a existir em virtude de um outro ente já existente. E assim, argumenta Orlando Fedeli: Por conseguinte, é falso que nada existia. Alguma coisa devia necessariamente existir para dar, depois, existência aos entes contingentes. Este ser necessário ou tem em si mesmo a razão de sua existência ou a tem de outro. Se sua necessidade dependesse de outro, formar-se-ia uma série indefinida de necessidades, o que, como já vimos, é impossível. Logo, este ser tem a razão de sua necessidade em si mesmo. Ele é o causador da existência dos demais entes. Esse único ser absolutamente necessário – que tem a existência necessariamente – tem que ter existido sempre. Nele, a existência se identifica com a essência. Ele é o ser necessário em virtude do qual os seres contingentes têm existência. Este ser necessário é Deus.

 

Quarta Via:

Ser Perfeito (Dos Graus de Perfeição dos Entes): Verifica-se que há graus de perfeição nos seres. Uns são mais perfeitos do que outros. Qualquer graduação pressupõe um parâmetro máximo. Logo, deve existir um ser que tenha este padrão máximo de perfeição e que seja a Causa da Perfeição dos demais seres. Deste modo, só se pode dizer que alguma coisa é mais ou menos do que outra, com relação a certa perfeição, conforme sua maior ou menor proximidade, participação ou semelhança com o máximo ou o mínimo dessa mesma perfeição. E assim, conclui Orlando Fedeli: Ora, aquilo que é máximo em qualquer gênero é causa de tudo o que existe nesse gênero. Por exemplo, o fogo que tem o máximo calor, é causa de toda quentura, conforme diz Aristóteles. Há, portanto, algo que é para todas as coisas a causa de seu ser, de sua bondade, de sua verdade e de todas as suas perfeições. E a isto chamamos Deus.

 

Quinta Via:

Inteligência Ordenadora (ou da Ordem do Mundo ou da Existência de Deus Pelo Governo do Mundo): Existe uma ordem no Universo que é facilmente verificada. Ora, toda ordem é fruto de uma inteligência; não se chega à ordem pelo acaso e nem pelo caos. Logo, há um ser inteligente que dispôs o Universo em forma ordenada, ou seja, há uma força desencadeadora do movimento e que o sustenta. Regis Jolivet resume esta Quinta Via da seguinte forma: No conjunto das coisas naturais verificamos uma ordem regular e estável. Ora, toda ordem exige uma causa inteligente que adapte os meios aos fins e os elementos ao bem do todo. Portanto, a ordem do mundo é obra de uma Inteligência Ordenadora, transcendente a todo o Universo. Enfim, na Svmma Theologica Santo Tomás argumenta em favor desta prova teleológica da seguinte forma: Ora, aquilo que não tem conhecimento não tende a um fim, a não ser dirigido por algo que conhece e que é inteligente, como a flecha pelo arqueiro... Ora, o que não se pode alcançar com o poder de sua natureza, é necessário que seja transmitido por outro: como a flecha é lançada para o alvo pelo arqueiro. Por isto, para falar com exatidão, a criatura racional, que é capaz da Vida Eterna, é para Ela conduzida como que transportada por Deus... Por isto também, em todas as coisas movidas pela razão, embora não possuam razão, verifica-se a ordem da razão do movente. Assim, uma seta dirige-se diretamente ao alvo pela moção do sagitário, como se ela tivesse razão. E, finalmente, tudo isto supõe, então, que há uma inteligência sapientíssima que o dirige para o seu fim. Há pois uma inteligência que governa o mundo. E, definitivamente, Orlando Fedeli, acompanhando o pensamento de Tomás, conclui: Este ser sapientíssimo é Deus.

 

Entre parêntesis: deixo, não para contrariar ou para contraditar ou como digressão, mas para estimular a razão (ainda que a razão – tanto quanto a fé – seja insuficiente para responder a esta especulação místico-filosófica), uma questão–reflexão em aberto: Quem ou o que criaram este algo que conhece e que é inteligente? E quem ou o que criaram o quem ou o que criadores deste algo que conhece e que é inteligente? E assim por diante... O que é fato é que a Teoria Criacionista não explica quem ou o que criaram o Mestre Designer, admitindo que Ele se autogerou do Nada. Todavia, se admitirmos que do Nada, nada; ou se admitirmos que o Nada também é alguma coisa... A Metafísica Rosacruz da AMORC, formulada pelo Mestre Alden (Dr. Harvey Spencer Lewis, Ph. D., FRC), assevera: Para o Ser nunca houve começo porque o Nada não pode dar origem a alguma coisa. Então, para se compreender esta questão, de uma forma mais ou menos concertada, só há um Caminho: O Caminho do Coração. A fé, a razão e a Dialética só construirão castelos quiméricos, castelos estes (belalugosianos e boriskarloffianos) que, ao longo da história da Humanidade, têm produzido – Quem não sabe? – mais dores, hipoteticidades e incompreensões do que segurança, categoricidade e satisfação. Por que, definitivamente, temos que buscar – para acreditar – uma Causa Primeira, causa-autogerada-de-tudo? Por que temos, como crédulos toleirões, que aceitar e engolir o que é dito pelos outros? Por que antes do Primeiro Um, zero, e depois do Primeiro Um, tudo? Por que, caramba, não ouvimos a Voz Insonora do nosso Coração? Viver dependente é prisão; viver autonomicamente é Liberdade. Para o Ser nunca houve começo... O Nada não pode dar origem a alguma coisa. Eis o Mistério dos Mistérios: a incriada Consciência Cósmica foi, é e será o que sempre foi, sem passado, sem presente, sem futuro, pois, como bem disse Santo Agostinho (354 – 430): É impróprio afirmar que os tempos são três: passado, presente e futuro. Mas, talvez, fosse próprio dizer que os tempos são três: o presente das coisas passadas..., o presente das coisas presentes... e o presente das coisas futuras... Existem, pois, na minha mente, três tempos que não vejo em outra parte: lembrança presente das coisas passadas, visão presente das coisas presentes e esperança presente das coisas futuras. É por isto que quando me refiro ao tempo digo: tempo que é tempo e tempo que não é tempo.

 

 

 

 

 

 

Em 7 de março de 1274, Tomás foi surpreendido pela morte no Mosteiro cisterciense de Fossanova. Estava a caminho de Lião onde, por ordem do Papa Gregório X, iria participar do Concílio de Lião. Ainda no leito de morte encontrou forças para falar aos monges sobre o livro da Bíblia denominado Cântico dos Cânticos. E, no leito de morte, ao receber os últimos Sacramentos, afirmou diante da Hóstia consagrada: Eu espero nunca ter ensinado qualquer verdade que não tenha aprendido de Vós. Se, por ignorância, fiz o contrário, eu revogo tudo e submeto todos os meus escritos ao julgamento da Santa Igreja Romana. O corpo de Tomás repousa na Catedral de Toulouse, na França. Foi declarado Santo pelo Papa João XXII que o canonizou em 1323; Paulo V, em 1567, o declarou Doutor da Igreja; e Leão XIII o proclamou, em 1879, padroeiro de todas as escolas católicas. Venera-se sua memória em 28 de janeiro, dia em que seu corpo foi transladado para Toulouse, em 1369.

 

 

 

 

Sobre Santo Tomás de Aquino

 

 

 

Após uma longa preparação e um desenvolvimento promissor, a Escolástica chega ao seu ápice com Tomás de Aquino. Adquire plena consciência dos poderes da razão, e proporciona, finalmente, ao pensamento cristão uma filosofia. Assim, converge para Tomás de Aquino não apenas o pensamento escolástico, mas também o pensamento patrístico, que culminou com Agostinho, rico de elementos helenistas e neoplatônicos, além do patrimônio de revelação judaico-cristã, bem mais importante. (Autor desconhecido).

 

A Nosso amado filho, Tomás de Aquino, distinto tanto por sua nobreza de sangue como pelo esplendor de suas virtudes, a quem a graça de Deus fez penetrar o tesouro da ciência das Escrituras. (Papa Alexandre VI, em uma carta a Santo Tomás).

 

Frei Giacomo di Viterbo, Arcebispo de Nápoles, costumava me dizer que cria, de acordo com a fé e o Espírito Santo, que nosso Salvador havia enviado, como doutor da verdade para iluminar o mundo e a Igreja universal, primeiro o apóstolo Paulo, em seguida Agostinho, e finalmente, nestes últimos tempos, Frei Tomás, a quem, cria, ninguém excederia até ao fim do mundo. (Testemunho de Bartolommeo di Capua nas audiências para a canonização de Santo Tomás, 8 de agosto de 1319).

 

Sua ciência não pode ser explicada sem admitir um milagre. (Papa João XXII, 1323).

 

Porque Tomás iluminou a Igreja mais do que todos os outros doutores. (Papa João XXII, 1323).

 

Os que seguiram a doutrina de Santo Tomás de Aquino não se desviaram jamais da chama da verdade, e quantos a combateram foram suspeitos de erro. (Papa Inocêncio VI).

 

Deveis seguir a doutrina do bem-aventurado Tomás, como verdadeira e católica, e aplicar todas as vossas forças a desenvolvê-la. (Papa Urbano V, em uma Carta à Universidade de Toulouse, 1368).

 

Lembrava de tudo o que havia lido, de tal maneira que sua mente era como uma grande biblioteca. (Santo Antônio de Florência).

 

O mais santo dos homens cultos e o mais culto dos homens santos. (Cardeal Johannes Bessarion).

 

Porque teve a mais profunda veneração pelos santos doutores da Antigüidade, adquiriu, de certa forma, a inteligência de todos eles. (Tomás de Vio Cayetano, superior-geral da Ordem dos Pregadores).

 

O que completa admiravelmente os méritos de um doutor tão grande é que nunca o viram desprezar, ferir ou humilhar qualquer adversário; ao contrário, tratou-os a todos com grande bondade e respeito. (Papa Bento XIV, 1753).

 

Citarei somente o Angélico Doutor Santo Tomás, porque ele sozinho vale por dez mil testemunhos, e sua doutrina é certa, segura e muito fundamentada; e com as verdades da Teologia escolástica aponta altíssimos pensamentos e sentimentos da Mística, porque ambas são muito irmãs. (Venerável Luis de la Puente, S. I.).

 

A Igreja possui dois incomparáveis monumentos, o Catecismo e a Svmma Theologica de Santo Tomás de Aquino; um é para os ilustrados, o outro é para os cultos. (Beato Antoine-Frédéric de Ozanam).

 

Devo tentar... devo tentar descrever esse homem e sua obra? Seria como tentar dar uma idéia perfeita das pirâmides descrevendo sua altura e ângulo. Se quereis conhecer as pirâmides, não vos contenteis em escutar uma descrição; cruzai os mares; ide à terra onde tantos conquistadores deixaram suas pegadas; adentrai desertos de areia, e aí estarão erguidas diante de vós, algo solenes, algo grandiosas, algo calmas, imutáveis e profundamente simples... as pirâmides! (Jean-Baptiste-Henri-Dominique Lacordaire).

 

Tudo o que posso saber sobre Teologia aprendi-o de meus livros favoritos, a Svmma de Santo Tomás e o tratado De Locis Theologicis de Melchor Canus, um discípulo do Aquinate. (Cardeal Gil, Arcebispo de Saragoça, Concílio Vaticano I).

 

Entre os doutores escolásticos, Tomás de Aquino ocupa lugar preeminente como príncipe e mestre de todos eles. (Papa Leão XIII, Encíclica Æterni Patris).

 

O Santo Doutor chegou ao duplo resultado de repelir por si só todos os erros dos tempos anteriores, e de fornecer armas invencíveis para dissipar os que não deixarão de surgir no futuro. (Papa Leão XIII, Encíclica Æterni Patris).

 

Urgentemente vos exortamos, para a defesa e a glória da fé católica, para o bem da sociedade, para o progresso de todas as ciências, a restaurar a preciosa sabedoria de Santo Tomás e propagá-la tão longe como possível. (Papa Leão XIII, Encíclica Æterni Patris).

 

Aqueles que desejam ser verdadeiramente filósofos (e os religiosos devem ser os primeiros a pretendê-lo) estão obrigados a assentar os princípios e fundamentos de sua doutrina em Santo Tomás de Aquino. (Papa Leão XIII, Carta à Ordem dos Frades Menores (Franciscanos), 25 de novembro de 1898).

 

Se se encontram doutores cuja doutrina não está de acordo com a de Santo Tomás de Aquino, e qualquer que seja seu mérito, não há dúvida possível: deve ser preferido este aos primeiros. (Papa Leão XIII, Carta à Companhia de Jesus, 30 de dezembro de 1892).

 

Sempre, desde a ditosa morte do Santo Doutor, a Igreja não manteve um só concílio sem que ele estivesse presente com toda a riqueza de sua doutrina. (Papa São Pio X, Motu Proprio Doctoris Angelici).

 

A Igreja declara que a doutrina de Tomás de Aquino é a sua. (Papa Bento XV, Encíclica Fausto Appetente Die, 29 de junho de 1921).

 

Quanto a nós, ao fazermos eco deste coro de recomendações tributadas àquele sublime gênio, aprovamos não só que seja chamado Angélico, mas também que se dê a ele o nome de Doutor Comum ou Universal, dado que a Igreja fez sua a doutrina dele, como se confirma por muitíssimos documentos. (Papa Pio XI, Encíclica Studiorum Ducem, 29 de junho de 1923).

 

A todos quantos agora sentem sede da verdade, dizemos-lhes: ide a Tomás de Aquino. (Papa Pio XI, idem).

 

Pela primeira vez, sucedeu que um Concílio ecumênico recomendasse um teólogo; isso se deu com Santo Tomás. (Papa Paulo VI, Lumen Ecclesiæ).

 

Mestre insubstituível da sabedoria humana e divina. (Papa Paulo VI).

 

Desde o início do meu pontificado não deixei passar ocasião propícia sem evocar a excelsa figura de Santo Tomás, como, por exemplo, em minha visita à Pontifícia Universidade Angelicum e ao Instituto Católico de Paris, na alocução a UNESCO e, de maneira explicita ou implícita, em meus encontros com os superiores, professores e alunos das Pontifícias Universidades Gregoriana e Lateranense. (Papa João Paulo II).

 

Este grande doutor, cujo ensinamento foi tantas vezes elogiado e recomendado por meus predecessores, também intercede hoje e constitui exemplo para todos os membros da escola católica. Na vida e na obra de Santo Tomás encontrareis o modelo tanto do discípulo como do mestre católico. (Papa João Paulo II).

 

O encontro de Tomás de Aquino com Alberto Magno representa um fato de extraordinária transcendência na história da cultura. Talvez mesmo se possa dizer que são os dois colaboradores necessários à elaboração do mais vasto e consistente sistema filosófico de todas as épocas. (João Ameal).

 

Talvez nunca mestre algum fosse mais apaixonadamente admirado e escutado do que Tomás de Aquino. O seu culto exclusivo da verdade comunica às palavras e às demonstrações uma segurança que dá aos jovens auditórios o supremo júbilo de tocar de perto, em brusco prodígio, a região excelsa das grandes certezas. Em uma época cheia de vastas aspirações, de pesquisas sobre o Absoluto, as almas querem mais do que simples jogos dialéticos sobre conceitos abstratos. Querem palpar o real, ser introduzidas no âmago das questões, entrar na posse das altas evidências da razão e da fé. Fé que ambiciona compreender. E Tomás de Aquino, sem lhes proibir os ardentes deslumbramentos da fé, leva-as à máxima compreensão dos mistérios e das harmonias universais. (João Ameal).

 

Nas suas aulas levantava problemas novos, descobria novos métodos, empregava novas redes de provas e, ao ouvi-lo ensinar uma nova doutrina, com argumentos novos, não se podia duvidar, pela irradiação desta nova luz e pela novidade desta inspiração, que era Deus quem lhe concedeu ensinar, desde o princípio, com plena consciência, por palavra e por escrito, novas opiniões. (Guilhermo de Tocco, biógrafo de Tomás de Aquino).

 

É natural que Tomás se fizesse dominicano: o ideal de São Domingos coincide perfeitamente com a vocação de Tomás. Está centrado, por um lado, no retorno ao espírito do Evangelho, em uma pobreza e em uma pureza radicais, mas completadas pela fé e pela humildade; e, por outro, na paixão de anunciar a verdade, convencendo pela argumentação e não pela violência. (Jean Lauand).

 

Assim, para Tomás, a prudência leva-nos a tomar corajosa e prontamente o partido do que é justo (uma concepção que, no sentido que as palavras adquiriram hoje, tornou-se literalmente incompreensível para nós). É evidente, assim, que a 'prudentia' é uma virtude intelectual: é a atitude firme da inteligência que não se deixa subornar nem distorce sua capacidade de ver a realidade. E o homem prudente, além disso, transforma essa realidade percebida em decisão de ação. (Jean Lauand).

 

Esplendor e flor de todo o mundo. (Santo Alberto Magno).

 

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Como disse Pio XI em sua Alocução de 12 de dezembro de 1924, no Colégio Angelicum de Roma, a Svmma Theologica é o céu visto da Terra. E, no Studiorum Ducem, recomendou: A todos quantos, agora, sentem sede da verdade, dizemos-lhes: ide a Tomás de Aquino.

 

Este estudo objetivou disponibilizar para reflexão, principalmente, alguns pouquíssimos fragmentos da Svmma Theologica1 (com ligeiras edições para acomodá-los a este tipo de estudo), obra clássica de São Tomás de Aquino, e que se constitui em uma das bases da dogmática do Catolicismo, sendo considerada uma das principais obras filosóficas da Escolástica. Foi escrita entre os anos de 1265 e 1273. Nesta obra, o Aquinate trata da Natureza de Deus, das questões morais e da Natureza de Jesus. Nas palavras do teólogo português Leonel Franca, na história universal das idéias, a obra-prima de Santo Tomás ocupa um lugar privilegiado, quiçá uma situação de incomparável singularidade. Sete séculos já volvidos não esgotaram a opulência de seus tesouros. A sua vitalidade está intacta. As universidades do século XX comentam-na com não menos admiração e utilidade, que a jovem Universidade de Paris do século XIII. Com exceção, talvez, das obras de Aristóteles, nenhuma outra foi tão lida e tão comentada, estudada e discutida. O seu pensamento palpita sempre vivo, com uma fecundidade inexaurível. Em toda a exatidão do termo, é uma obra-prima. Que estes pouquíssimos fragmentos da Svmma Theologica que selecionei possam servir de estímulo para uma leitura da obra do Santo Aquinate. É o que desejo.

 

 

Svmma Theologica
Fac-símile (1623)

 

Conforme já adverti em trabalhos anteriores, concordar ou discordar de um pensador é privilégio de uma inteligência livre. No meu caso, tanto quanto com relação ao pensamento de Santo Agostinho (Tagaste, 354 – 430), o de Santo Tomás me comove, particularmente, em seus aspectos racional, espiritual e místico. Por isto, repito aqui o que escrevi no segundo parágrafo do estudo que fiz sobre o pensamento do Santo Tagastense: E quem pensa que há mais discordâncias do que conformidades entre religião e misticismo está redondamente enganado. Cito apenas um exemplo de concordância, uma espécie de décimo primeiro mandamento: não serás um sacanocrata maledíctus explorador dos pobres, dos miseráveis e dos desvalidos.

 

Nesta oportunidade, acrescento: o exercício de concordar ou de discordar de um autor (religioso ou não) não deve estar ancorado em preconceitos fideístas, ou seja, desraciocinando, desprezar a razão e preconizar a superioridade da fé em apoiamento do que quer que seja. Bem advertiu Santo Tomás quando disse que a Filosofia não pode ser substituída pela Teologia e que ambas não se opõem, sustentando que não pode haver contradição entre fé e razão. Por isto, o concordar ou o discordar de um pensador – privilégio de uma inteligência livre – não cabe na camisa-de-força da fé; e mais, muitíssimo mais, as concordâncias e as discordâncias não podem estar submetidas apenas ao raciocínio que conduz à indução ou à dedução de algo – em dois conceitos: à razão dianóica e à razão noética. Uma Compreensão-Illuminação concertada só poderá acontecer pela via transracional, transnoética, que tanto a fé quanto a razão impedem igualmente.

 

Por outro lado e por isso, não esqueçamos de que a fé irracional e delirante produziu, por exemplo, a Inquisição, as fogueiras, as cruzadas e as indulgências (plenárias e parciais), e que a razão, entre outras maravilhas, descobriu a radioatividade e formulou suas leis – que a estupidez humana (em uma espécie de sortilégio) efetivou e transformou em bombas nucleares, que arrasaram Hiroshima e Nagazaki no final da Segunda Guerra Mundial. É por isto que, também já disse, que em um sentido muito particular, razão e fé são moedas da mesma algibeira – irmãs univitelinas, idênticas, pares. E impedem, repito, igualmente, a tão desejada Compreensão-Illuminação. Mas, muito pior do que tudo isto, é quando uma ou outra ou ambas estão a serviço da Oitava Esfera. Aí, é a festa do inferno – que a boçalidade humana adora fabricar e nele chafurdar.

 

 

 

Os Delírios da Fé e as Boçalidades da Razão

 

 

 

 

Fragmentos do Pensamento
de Santo Tomás de Aquino

 

 

 

Não se deve esforçar o homem por alcançar objetos que ultrapassem a razão... o que é da alçada racional ensina-se, com suficiência, nas disciplinas filosóficas; logo, parece escusada outra doutrina além das disciplinas filosóficas.

 

É impossível proceder ao infinito na série dos seres que se geram sucessivamente. Deve-se admitir, por isso, que existe um ser necessário que tenha em si toda a razão de sua existência, e do qual procedam todos os outros seres. A este chamamos Deus.

 

Há pessoas que desejam saber só por saber, e isso é curiosidade; outras, para alcançarem fama, e isso é vaidade; outras, para enriquecerem com a sua ciência, e isso é um negócio torpe; outras, para serem edificadas, e isso é prudência; outras, para edificarem os outros, e isso é caridade.

 

Para a salvação do homem, foi preciso, por divina revelação, tornarem-se-lhe conhecidas certas verdades superiores à razão.

 

A doutrina sagrada não assenta conclusões a título igual sobre Deus e as criaturas, mas, sim, de Deus principalmente, e das criaturas enquanto se referem a Deus como princípio ou fim; o que não tolhe a unidade da ciência.

 

Dê-me, Senhor, agudeza para entender, capacidade para reter, método e faculdade para aprender, sutileza para interpretar, graça e abundância para falar. Dê-me, Senhor, acerto ao começar, direção ao progredir e perfeição ao concluir.

 

O mínimo conhecimento que pudermos adquirir das coisas altíssimas é mais desejável do que o conhecimento certíssimo de coisas mínimas, conforme o Filósofo. [Referência a Aristóteles].

 

Nenhuma doutrina que receba de outra os seus princípios, merece o nome de sabedoria, cabendo ao sábio ordenar e não ser ordenado, como diz Aristóteles... sábio se chama, em qualquer gênero, quem lhe atende à altíssima causa.

 

Quem, portanto, considera a causa absoluta mais alta do universo, que é Deus, deve ser chamado sábio por excelência. Pelo que também se define a sabedoria conhecimento das coisas divinas, como se vê em Agostinho. Ora, o próprio da sagrada doutrina é considerar a Deus, causa altíssima...

 

Há duas espécies de demonstração [para a existência de Deus]. Uma, pela causa, pelo porquê das coisas, a qual se apóia simplesmente nas causas primeiras. Outra, pelo efeito, que é chamada 'a posteriori', embora se baseie no que é primeiro para nós; quando um efeito nos é mais manifesto do que a sua causa, por ele chegamos ao conhecimento desta. Ora, podemos demonstrar a existência da causa própria de um efeito, sempre que este nos é mais conhecido do que aquela; porque, dependendo os efeitos da causa, a existência deles supõe, necessariamente, a preexistência desta. Por onde, não nos sendo evidente, a existência de Deus é demonstrável pelos efeitos que conhecemos.

 

A Natureza, operando para um fim determinado, sob a direção de um agente superior, é necessário que as coisas feitas por ela ainda se reduzam a Deus, como à causa primeira. E, semelhantemente, as coisas propositadamente feitas se devem reduzir a alguma causa mais alta, que não a razão e a vontade humanas, mutáveis e defectíveis; é, logo, necessário que todas as coisas móveis e suscetíveis de defeito se reduzam a algum primeiro princípio imóvel e por si necessário...

 

Conhecida a existência de uma coisa, resta inquirir como existe, para que se saiba o que é. Porém, como não podemos saber o que é Deus, mas o que não é, não podemos considerar como é, mas, como não é.

 

Todo ser diferente de outro, difere por alguma cousa. Por isto, rigorosamente falando, a matéria-prima e Deus não diferem, mas são diversos entre si. Donde, não se segue que sejam idênticos.

 

Conforme refere Aristóteles, certos filósofos antigos – os Pitagóricos e Speusipo – não concebiam que o princípio primeiro fosse ótimo e perfeitíssimo. E a razão é que tais filósofos consideravam só o princípio material. Ora, o principio material primeiro é imperfeitíssimo; pois, sendo a matéria em si mesma potencial, por força o princípio material primeiro há de ser totalmente potencial por excelência e, portanto, totalmente imperfeito. Deus, porém, é considerado como primeiro princípio, não material, mas, no gênero, da causa eficiente; e, então, há de necessariamente ser perfeitíssimo. Pois, assim como, em si mesma, a matéria é potencial, assim, o agente é, em si mesmo, atual. Por onde, o primeiro princípio ativo há de, por força, ser soberanamente ativo, e, por conseqüência, perfeito em máximo grau. Pois, um ser é considerado perfeito na medida em que é atual; porque perfeito se chama aquilo ao que nada falta, nos limites da sua perfeição.

 

Assim como o conhecimento natural é sempre verdadeiro, assim também o amor natural é sempre reto, pois o amor natural não é senão a inclinação da Natureza, inserida pelo autor da Natureza. Portanto, afirmar que a inclinação natural não é reta é desacreditar o autor da Natureza.

 

Embora de algum modo se possa conceder que a criatura é semelhante a Deus, contudo, de maneira nenhuma é admissível seja Deus semelhante à criatura. Pois, como diz Dionísio, entre seres da mesma ordem admite-se a mútua semelhança; não, porém, entre a causa e seu efeito. Assim, dizemos que a imagem de uma pessoa lhe é semelhante, e não, ao contrário. E, do mesmo modo, pode-se, de certa maneira, dizer que a criatura é semelhante a Deus; não, porém, que Deus seja semelhante à criatura.

 

O bem do homem, enquanto homem, está em que a razão seja perfeita no conhecimento da verdade e em que os apetites inferiores se regulem pela regra da razão. Pois, se o homem é homem, é por ser racional.

 

O bem e o ser, realmente idênticos, diferem racionalmente, o que assim se demonstra. A essência do bem consiste em tornar alguma coisa desejável; pois, por isso, diz o Filósofo, que o bem é o que todas as coisas desejam. Ora, é claro que uma coisa é desejável na medida em que é perfeita, pois todos os seres desejam a própria perfeição. E como um ser é perfeito na medida em que é atual, é claro que é bom na medida em que é ser, pois o ser é a atualidade das coisas...

 

A ordem sempre implica anterioridade e posterioridade. Daí que, necessariamente, onde quer que haja um princípio, aí haverá também alguma ordem.

 

Dizemos que Deus não tem nome ou está acima de qualquer denominação, porque a sua essência sobrepuja o que Dele inteligimos e exprimimos pela palavra.

 

A verdade, considerada como virtude, não é a verdade comum, mas uma certa verdade, pela qual o homem se mostra como é, nas palavras e nas obras. A verdade da vida é aquela pela qual o homem, na sua vida, realiza o fim para o qual foi ordenado pelo intelecto divino...

 

Deus, sendo sem limites e infinito, está em toda parte e em todas as coisas... Como o ser divino não é recebido em nenhum outro, mas é o seu próprio ser subsistente, ...é manifesto que Deus é infinito e perfeito.

 

Deus está em todas as coisas, não, por certo, como parte da essência ou como acidente2 de cada uma delas, mas como o agente está presente ao que aciona. Pois, é necessário que todo agente esteja em conjunção com o ser sobre o qual age imediatamente, e o atinja pela sua virtude. E assim, Aristóteles prova que móvel e motor devem existir simultaneamente. Ora, tendo Deus a existência idêntica à essência, o ser criado há de necessariamente ser efeito próprio seu, assim como queimar é efeito próprio do fogo. Ora, tal efeito Deus causa nas coisas, não somente quando começam a existir, mas enquanto subsistem; assim como a luz é causada no ar pelo Sol, durante todo o tempo em que permanece iluminado. Logo, enquanto subsistir uma coisa, é necessário que Deus lhe esteja presente...

 

A lei é a regra e a medida dos atos, segundo a qual a pessoa é levada a agir ou impedida de agir... A lei má não é lei... A lei só obriga aos subordinados no foro da consciência, se é justa.

 

Do que já foi estabelecido resulta a imutabilidade de Deus. — Primeiro, porque como já se demonstrou, há um ser primeiro chamado Deus, ato puro, necessariamente, sem nenhuma mistura de potência, pois que esta é em si posterior ao ato. Ora, tudo o que muda, de qualquer modo, é, de certa maneira, potencial. Logo, é impossível que Deus seja mutável, de qualquer modo. — Segundo, porque de todo movido há algo que permanece e algo que se modifica: assim o que se move da brancura para negrura permanece pela substância; de maneira que todo ser movido implica uma composição. Ora, como já demonstramos, Deus, absolutamente simples, não tem nenhuma composição. Logo, é claro que não pode sofrer nenhuma mudança. — Terceiro, porque todo ser movido adquire, pelo seu movimento, algo que não possuía, e atinge o que primeiro não atingia. Ora, Deus, sendo infinito, compreendendo em si a plenitude da perfeição da totalidade do ser, nada pode adquirir, e nem atingir nada que antes não atingisse. Logo, de nenhum modo é suscetível de movimento. E por isso, certos antigos, quase arrastados por essa verdade, ensinaram que o princípio primeiro é imóvel.

 

Assim como devemos partir do simples para chegar ao conhecimento do composto, assim devemos partir do tempo para chegar ao conhecimento da eternidade. Ora, o tempo não é senão o número das partes do movimento, por anterioridade e posteridade. Pois, como em qualquer movimento, a uma parte sucede outra, pela enumeração das diversas partes, anteriores e posteriores, apreendemos o tempo, que não é senão o número do que é anterior e posterior, no movimento. Mas, onde não há movimento, mas, sempre o mesmo modo de existir, não se pode descobrir anterioridade e posteridade. Por onde, assim como a essência do tempo consiste na enumeração do que é anterior e posterior no movimento, assim, a da eternidade, consiste na apreensão da uniformidade do que está absolutamente fora do movimento. — Demais. Consideram-se medidas pelo tempo as coisas que nele têm princípio e fim, como diz Aristóteles; e isto, porque tudo o que é movido inclui um princípio e um fim. Logo, o que é absolutamente imutável, não tendo sucessão, também não pode ter princípio nem fim. — Assim, pois, por duas características se conhece a eternidade: o que nela está é interminável, isto é, não tem princípio nem fim, duas noções que implica o termo, e em segundo lugar, justamente por não ter sucessão, a eternidade existe total e simultaneamente... A noção da eternidade resulta da imutabilidade, como a de tempo resulta do movimento, conforme do sobredito resulta. Ora, sendo Deus o ser imutável por excelência, convém-Lhe, excelentemente, a eternidade. Nem só é eterno, mas é a sua eternidade, ao passo que nenhuma coisa é a própria duração, porque não é o próprio ser. Deus, porém, sendo o seu ser uniformemente e a sua própria essência, há de, necessariamente, ser a sua eternidade.

 

A palavra Natureza se impôs primeiramente para significar a geração dos seres vivos, que se chama nascimento. E como tal geração provém de um princípio intrínseco, estendeu-se o uso da palavra para significar princípio intrínseco de qualquer mudança. Sendo tal princípio formal ou material, tanto a matéria quanto a forma são comumente chamadas Natureza. Mas como é pela forma que se perfaz a essência de uma coisa qualquer, a essência, que é expressa na definição, é comumente chamada Natureza.

 

A reta ordem das coisas coincide com a ordem da Natureza; pois as coisas naturais se ordenam a seu fim sem qualquer desvio.

 

Não há tautologia3 em se dizer que o ser é uno, porque a unidade acrescenta algo de racional ao ser... A unidade se opõe à multiplicidade, mas, de modos diversos. Pois, a que é princípio do número opõe-se à multidão numérica como a medida, ao medido, porque corresponde à noção de primeira medida; e o número é a multidão por essa unidade medida, como se vê em Aristóteles. Ao passo que a unidade convertível no ser opõe-se à multidão a modo de privação, como o indiviso, ao dividido... Por três razões se demonstra que Deus é uno. — A primeira funda-se na sua simplicidade. Pois, como é manifesto, aquilo que faz um ente singular ser o que é, de nenhum modo é comunicável a muitos. Assim, o que faz Sócrates ser homem pode convir a muitos outros seres, mas só a um ser pode convir o que o constitui um determinado homem. Se, portanto, Sócrates fosse o determinado homem, que é, pela mesma razão porque é homem, então, como não podem existir vários Sócrates, também não poderiam existir vários homens. E o mesmo se dá com Deus que, sendo a sua própria Natureza, é Deus pela mesma razão porque é um Deus e, portanto, é impossível existirem vários deuses. — A segunda funda-se na infinidade da sua perfeição. Deus compreende em si a perfeição total do ser. Ora, se existissem vários deuses, necessariamente tinham que diferir e, portanto, algo conviria a um que não conviria aos outros; e se tal fosse uma privação, eles não seriam absolutamente perfeitos; se fosse perfeição, esta faltaria aos outros. Logo, é impossível existirem vários deuses. E, por isso, os antigos filósofos, quase arrastados pela verdade, admitindo um princípio infinito, consideravam-no único. — A terceira razão funda-se na unidade do mundo. Pois, vemos que todos os seres existentes se ordenam uns para os outros, na medida em que uns servem aos outros. Ora, coisas diversas não podem convir em uma mesma ordem, se não forem assim dispostas por um só ordenador. Pois, a multiplicidade de seres reduz-se melhor à unidade da ordem por um só, do que por muitos ordenadores; porque a unidade é, em si, a causa da unidade, ao passo que a multiplicidade causa a unidade só acidentalmente, enquanto a tem, de certo modo. Ora, como o ser primeiro é perfeitíssimo por si mesmo e não por acidente, necessariamente, o que reduz todos os seres à unidade da ordem há de ser uno. E a isto chamamos Deus.

 

Deus, não é um existente, mas está acima de toda a existência, como diz Dionísio... Nenhum intelecto criado pode ver a Deus em essência... SOLUÇÃO: Como um ser é conhecível enquanto atual, Deus, ato puro, sem nenhuma potência, é, em si mesmo, soberanamente conhecível. Mas, o que é, em si mesmo, soberanamente conhecível pode não o ser a um determinado intelecto, pelo próprio excesso de sua inteligibilidade; assim, o Sol, soberanamente visível, não pode ser visto pelo morcego, por causa do excesso da sua luz. Levando isto em consideração, certos disseram que nenhum intelecto criado pode ver a Deus, em essência. Mas, esta opinião é errônea. Pois, consistindo a felicidade última do homem, na sua altíssima operação, que é a do intelecto, se o intelecto criado não pudesse nunca ver a essência de Deus, ou não alcançaria nunca a beatitude, ou esta haveria de consistir em outro ser que não Deus, o que é contrário à fé. Pois, a perfeição última da criatura racional está no que é o princípio da sua existência, e um ser é perfeito na medida em que atinge o seu princípio. Além disso, tal opinião é também contrária à razão, pois é ínsito [inerente, congênito, inato] no homem o desejo natural de conhecer a causa, depois de conhecido o efeito, nascendo daqui a admiração. Se, portanto, a inteligência da criatura racional não pudesse atingir a causa primeira das coisas, seria vão o desejo da Natureza. Por onde, devemos admitir, pura e simplesmente, que os bem-aventurados vêem a essência de Deus.

 

 

Essência Compreensível de Deus?4

 

Dizemos que Deus não tem nome ou está acima de qualquer denominação, porque a sua essência sobrepuja o que Dele inteligimos e exprimimos pela palavra... Todo nome ou é abstrato ou concreto. Os concretos não convêm a Deus, que é simples. Os abstratos, também não, porque não exprimem nada de perfeitamente existente. Logo, nenhum nome pode ser atribuído a Deus... Segundo o Filósofo, as palavras são sinais dos conceitos, que são semelhanças das coisas. Por onde, é claro que as palavras se referem às coisas que devem significar, mediante a concepção do intelecto. Logo, na medida em que uma coisa pode ser conhecida por nós, essa mesma pode ser por nós nomeada. Ora, como já demonstramos, nós não podemos ver a Deus em essência, nesta vida. Mas somente O conhecemos por meio das criaturas, e por via da casualidade, da excelência e da remoção. Portanto, nós podemos nomeá-Lo por meio das criaturas. Não, porém, que o nome que designa exprima a divina essência, como ela é, assim como a palavra homem significa a essência do homem tal como é, exprimindo-lhe a definição, que lhe declara a essência, pois a noção significada pelo nome é a definição... Dizemos que Deus não tem nome ou está acima de qualquer denominação, porque a sua essência sobrepuja o que dele inteligimos e exprimimos pela palavra.

 

Em Deus há ciência perfeitíssima. Para evidenciá-lo, devemos considerar que os seres dotados de conhecimento distinguem-se dos que não o são, neste sentido que estes têm apenas a sua forma própria, ao passo que àqueles é natural poderem conter em si também a forma de outro ser, pois, a espécie do objeto conhecido está no conhecente. Por onde, é manifesto que a Natureza do ser que não conhece é mais restrita e limitada; ao passo que a dos que são dotados de conhecimento têm maior amplitude e extensão. E, por isso, diz o Filósofo que a alma é de certo modo tudo. Ora, a limitação da forma se dá pela matéria. Por isso, dissemos antes que, quanto mais imateriais são as formas, mais se aproximam de uma certa infinidade. Ora, é claro que a imaterialidade de um ser é a razão que o torna capaz de conhecimento; e conforme o modo da imaterialidade, assim o do conhecimento. Por isso, diz Aristóteles, que as plantas, por causa da sua materialidade, não conhecem; ao passo que o sentido é susceptível de conhecimento porque é capaz de receber as espécies sem matéria. E ainda mais capaz de conhecimento é o intelecto, porque é ainda mais separado e emerge da matéria, como diz Aristóteles. Por onde, sendo Deus o ser sumamente imaterial, conclui-se que é, por excelência, dotado de conhecimento... Não há ciência perfeita das coisas praticáveis, senão enquanto conhecidas como tais. Por onde, sendo a ciência de Deus, a todos os respeitos, perfeita, necessariamente conhece as coisas que pode fazer, como tais, e não somente, enquanto objeto de especulação. E, contudo, nada perde da nobreza da ciência especulativa, porque vê todas as coisas diferentes de si, em si mesmo, a quem conhece especulativamente. Por onde, pela ciência especulativa de si mesmo, tem conhecimento especulativo e prático de todos os outros seres.

 

As doenças e as enfermidades são partes da Natureza viciosa. Chama-se doença à corrupção de todo o corpo, ao passo que enfermidade é a doença acompanhada de fraqueza; e o vício supõe o dissídio entre as partes do corpo. Esses dois fenômenos não podem ser separados senão mentalmente. Pelo fruto é que se conhece a árvore; o vício da alma é um hábito ou um afeto da mesma, inconstante, durante toda a vida e dissentindo de si mesma... De Deus procedem todas as Naturezas o serem o que são; e são viciosas na medida em que se afastam da arte Daquele pelo qual foram feitas... Todo pecado (ato ou desejo contrário à Lei Eterna) é voluntário; pois, se fosse involuntário não seria pecado... Pecar não é senão buscar as causas temporais, desprezando as eternas; toda a perversidade humana consiste em usarmos do que devemos fruir e fruirmos do que devemos usar.

 

Dizei ao justo que ele será bem sucedido, pois, comerá o fruto dos seus conselhos. Ai do ímpio que corre ao mal; porque lhe será dada a retribuição das suas mãos... De tudo quanto se comete, fará Deus dar conta no seu juízo, seja boa ou má essa coisa...

 

O livre-arbítrio é o hábito da alma livre, em si... O homem, usando mal do livre arbítrio, perde-se a si mesmo e a este... É livre quem é causa de si. O coração do rei se acha na mão do Senhor; Ele o inclina para qualquer parte que quiser. E ainda: Deus é o que opera em vós o querer e o perfazer.

 

Das ações feitas pelo homem, só se chamam propriamente humanas as que lhe são próprias, enquanto homem. Ora, este difere das criaturas irracionais, por ser senhor dos seus atos. Por onde, chamam-se propriamente ações humanas só aquelas de que o homem é senhor. Ora, senhor das suas ações o homem o é pela razão e pela vontade, sendo por isso o livre-arbítrio chamado a faculdade da vontade e da razão. Portanto, chamam-se ações propriamente humanas as procedentes da vontade deliberada; e se há outras que convêm ao homem, essas podem, por certo, chamar-se ações do homem, mas não propriamente humanas, pois não procedem dele como tal. Ora, é manifesto que todas as ações procedentes de uma potência são por esta causadas, quanto à essência do objeto mesmo delas. E como o objeto da vontade é o fim e o bem, necessário é tendam todas as ações humanas para um fim.

 

Qualquer ação humana que seja fim último há de necessariamente ser voluntária; do contrário, não seria humana. Ora, em duplo sentido, uma ação é chamada voluntária. Por ser imperada pela vontade, como andar ou falar; ou por ser dela decorrente, como o querer, em si mesmo. Ora, é impossível que o ato, mesmo decorrente da vontade, seja fim último. Pois, o objeto da vontade é fim como o da visão é cor. Por onde, assim como é impossível que o primeiro visível seja a visão mesma, porque toda visão se refere a algum objeto visível; assim também é impossível que o primeiro desejável, que é fim, seja o querer em si mesmo. Donde resulta que se alguma ação humana for fim último, há de ser imperada pela vontade. E então, em tal caso, há de haver alguma ação do homem — ao menos, o próprio querer, que seja para um fim. Logo, faça o homem, seja o que for, é verdade dizer-se que age para um fim, mesmo operando um ato que seja o último fim.

 

Todos os agentes agem necessariamente para um fim. Ora, eliminada a primeira, de várias causas ordenadas umas para as outras, necessário é que sejam também essas outras eliminadas. Ora, a primeira de todas as causas é a final; pois, a matéria não busca a forma senão quando movida pelo agente, nada passando por si da potência para o ato. O agente, porém, só move visando um fim, pois se não fosse determinado a certo efeito não produziria antes um de preferência a outro. Ora, para produzir um determinado efeito, necessário é seja determinado a algo certo como Natureza de fim. E esta determinação, operada em a Natureza racional pelo apetite racional chamado vontade, o é, nos outros seres, pela inclinação natural denominada apetite natural. Deve-se, contudo, considerar, que um ser tende para um fim pela sua ação ou pelo seu movimento, de duplo modo: movendo-se por si mesmo para o fim, como o homem; ou movido por outro, ao modo da seta tendendo para um fim determinado, movida pelo sagitante, que dirige para ele a sua ação. Por onde, os seres dotados de razão a si mesmos se movem para o fim, por terem o domínio dos seus atos pelo livre-arbítrio, faculdade da vontade e da razão. Ao passo que os privados dela tendem ao fim por inclinação natural, como que movidos por outro e não por si mesmos, por não conhecerem a noção de fim. E, portanto, não podem ordenar nada para um fim, mas somente são para este ordenados por outro, pois toda a Natureza está para Deus como o instrumento para o agente principal, conforme já se estabeleceu.

 

O objeto da vontade é o fim e o bem universais. Por onde, por não serem capazes de apreender o universal, os seres privados de razão e de intelecto não podem ter vontade, senão apenas o apetite natural ou sensitivo determinado a um bem particular. Ora, é claro que as causas particulares são movidas pela causa universal; assim, o governador da república, que visa o bem comum, move pelo seu império todas as funções particulares dela. Por onde e necessariamente, todos os seres privados de razão hão de ser movidos, para fins particulares, por alguma vontade racional, que alcance o bem universal e que é a vontade divina.

 

Tudo o que é especificado o é pelo ato e não pela potência. Assim, os compostos de matéria e forma são especificados pelas formas próprias. E assim, também se deve pensar a respeito dos movimentos próprios. Pois, distinguindo-se de certo modo o movimento pela ação e pela paixão, uma e outra se especificam pelo ato: esta, pelo ato, princípio do agir; aquela pelo que é o termo do movimento. Assim, a calefação–ato não é mais do que uma certa moção procedente do calor; e a calefação–paixão, do que o movimento para o calor. E a definição dá a razão da espécie. Ora, de um e outro modo, os atos humanos, considerados, quer como ações, quer como paixões, especificam-se pelo fim. Pois, esses atos podem ser considerados de ambos os modos, porque o homem se move a si mesmo e é por si mesmo movido. Todavia, como já se disse, chamam-se humanos os atos procedentes da vontade deliberada. Ora, o objeto da vontade é o bem e o fim. Por onde é manifesto, que o princípio dos atos humanos, como tais, é o fim; e semelhantemente, também é o termo deles. Pois, um ato humano termina naquilo que a vontade visa, como fim; assim como nos agentes naturais a forma do gerado é conforme a do gerador. E porque, como diz Ambrósio, os costumes propriamente são humanos, os atos morais especificam-se propriamente pelo fim, pois, atos morais e atos humanos são o mesmo.

 

Beatitude significa obtenção do último fim.

 

Qualquer defeito, por pequeno que seja, causa o mal; o bem procede só de uma causa íntegra... Em contrário, há certos fatos intermediários que podem ser produzidos com bom ou mau ânimo, dos quais seria temerário julgar...

 

O amor que deseja ardentemente possuir o objeto amado é cobiça; o que já o possui e o goza é alegria; o que foge do que se lhe opõe é temor; o que sente o mal sucedido é tristeza... Para todos, o bem e o belo são agradáveis... Todo amor é virtude, de algum modo... O amor é uma virtude unitiva; a união é um efeito do amor... A vontade reta é o amor bom; e a perversa, o mau...

 

Não há ninguém que não fuja da dor mais do que deseja o prazer... Aquele que ama a iniqüidade aborrece a sua alma... A avareza torna os homens odiosos... Os homens amam a verdade que os ilumina... A ira sempre se refere ao singular, e o ódio ao genérico; assim, todos odiamos o ladrão e o caluniador... A ira sempre é relativa ao singular; o ódio, porém, pode se referir ao seu objeto, genericamente...

 

O desejo da Sabedoria conduz ao reino eterno... A cobiça é o amor das coisas transitórias... Por ser a concupiscência infinita é que os homens desejam coisas infinitas... Todo aquele que bebe desta água tornará a ter sede...

 

A potência intelectual precisa da experiência e do tempo... Os velhos têm a esperança difícil, por causa da experiência... Em contrário, alguns se vêm cheios de esperança por terem vencido muitas vezes e muitos... A esperança que se retarda aflige a alma... A fé gerou a esperança; a esperança, a caridade...

 

A virtude aperfeiçoa o homem para os atos pelos quais se ordena para a felicidade. Ora, a felicidade ou beatitude do homem é dupla. Uma, proporcionada à Natureza, pode obtê-la pelos princípios desta. Outra lhe excede a Natureza, e só pode alcançá-la pelo auxílio divino, por uma como participação da divindade, conforme a Escritura onde diz que, por Cristo, nos tornamos participantes da Natureza divina. E como esta beatitude excede as proporções da Natureza humana, os princípios naturais, que dirigem o homem no agir proporcionado ao seu ser, não bastam a ordená-lo à referida beatitude. Portanto, é necessário lhe sejam acrescentados por Deus certos princípios pelos quais se ordene à beatitude sobrenatural, assim como, pelos princípios naturais se ordena a um fim que lhe é conatural; mas, isso não acontece sem o auxílio divino. Ora, esses princípios se chamam virtudes teologais, quer por terem Deus como objeto, enquanto nos ordenam retamente para ele, quer por nos serem infundidos só por Deus, quer por nos serem essas virtudes conhecidas só pela divina revelação, na Sagrada Escritura.

 

Essencialmente, e nesse sentido, as virtudes teologais excedem a Natureza do homem. Ou participativamente, como a madeira em ignição participa da Natureza do fogo; e nesta acepção o homem se torna, de certo modo, participante da Natureza divina. E assim, as virtudes teologais convêm ao homem segundo a Natureza participada... As virtudes teologais não se chamam divinas, como significando que Deus seja virtuoso por elas; mas, no sentido em que por meio delas, Deus nos torna virtuosos e nos ordena para Ele. Por onde não são exemplares, mas, exempladas.

 

A razão e a vontade se ordenam naturalmente para Deus, como princípio que é e fim da Natureza. Isto, contudo, proporcionadamente a esta. Mas, para Deus, como objeto da beatitude sobrenatural, a razão e a vontade não se ordenam suficientemente, por Natureza.

 

Ora, o objeto das virtudes teologais é Deus mesmo – fim último das coisas e enquanto excede o conhecimento da nossa razão. Ao passo que o objeto das virtudes intelectuais e morais é algo que a razão humana pode compreender. Por onde, as virtudes teologais se distinguem especificamente das morais e intelectuais... As virtudes teologais versam sobre o que excede a razão humana...

 

Embora a caridade seja amor, contudo, nem todo amor é caridade. Portanto, quando se diz que toda virtude manifesta a ordem do amor, isso pode ser entendido ou do amor, na acepção comum, ou do amor de caridade. No primeiro caso, qualquer virtude manifesta a ordem do amor, porque qualquer das virtudes cardeais exige o afeto ordenado, e a raiz e o princípio de todo afeto é o amor. No segundo, não se deve, por isso, considerar qualquer outra virtude como essencialmente caridade; mas como defendendo todas as outras, de certo modo, dela.

 

As virtudes teologais ordenam o homem para a beatitude sobrenatural, do mesmo modo que, pela inclinação natural, ele se ordena a um fim que lhe é conatural. Ora, isto se dá por dupla via. Primeiro, pela razão ou intelecto, enquanto trazem em si os primeiros princípios universais conhecidos pela luz natural do intelecto, nos quais se apóia a razão, tanto na ordem especulativa como na prática. Segundo, pela retidão da vontade naturalmente tendente para o bem da razão. Ora, estas duas potências são incapazes de se ordenar à beatitude sobrenatural, conforme aquilo da Escritura (I Cor. 2, 9): 'O olho não viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais veio ao Coração do homem o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.' Logo, é necessário que a ambas essas potências algo se lhes acrescente sobrenaturalmente para o homem se ordenar ao fim sobrenatural. Assim, primeiramente, ao intelecto se lhe acrescentam certos princípios sobrenaturais, apreendidos por iluminação divina, e que são os princípios da crença, objeto da fé. Em seguida, a vontade se ordena para o fim sobrenatural, pelo movimento intencional, tendendo para ele, como o que é possível de conseguir, o que pertence à esperança; e por uma como união espiritual, pela qual, de certo modo, se transforma nesse fim, o que se realiza pela caridade. Pois, o apetite de cada ser move-se naturalmente e tende para o seu fim conatural, e esse movimento procede de certa conformidade da coisa com o seu fim.

 

A fé e a esperança implicam uma certa imperfeição, porque aquela recai sobre o que não vemos, e esta, sobre o que não temos. Por onde, não constitui virtude, ter fé e esperança no que está ao alcance das forças humanas. Mas, tê-las no que supera a faculdade da nossa Natureza excede toda virtude proporcionada ao homem, conforme aquilo da Escritura (I Cor. 1, 25): 'o que parece em Deus uma estultícia é mais sábio que os homens.' O apetite implica duas condições: o movimento para o fim e a conformidade com ele pelo amor. E assim, é necessário admitir, no apetite humano, duas virtudes teologais, a saber: a esperança e a caridade.

 

Daí que... haja criaturas espirituais, que retornam a Deus não só segundo a semelhança de sua natureza, mas, também, por suas operações. E isto, certamente, só pode se dar pelo ato do intelecto e da vontade, pois nem no próprio Deus há outra operação em relação a Si mesmo.

 

Há uma dupla ordem: a da geração e a da perfeição. Ora, naquela, em que a matéria é anterior à forma, e o imperfeito, ao perfeito, num mesmo ser, a fé precede a esperança e esta, a caridade, atualmente falando, porque quanto aos seus hábitos eles são infundidos simultaneamente. Pois, o movimento apetitivo não pode tender esperando ou amando, senão para o que é apreendido pelo sentido ou pelo intelecto. Ora, pela fé, o intelecto apreende o que espera e ama. Logo, necessariamente, na ordem da geração, a fé precede a esperança e a caridade. Semelhantemente, se o homem ama alguma coisa é porque a apreende como bem seu. Ora, aquilo de que o homem espera poder receber um bem, ele o considera como seu bem. Logo, ama em quem espera, e, portanto, na ordem da geração e quanto ao ato, a esperança precede a caridade. Mas na ordem da perfeição, a caridade precede a fé e a esperança, porque tanto esta como aquela se formam e adquirem a perfeição de virtude, pela caridade. Por onde, a caridade é a mãe e a raiz de todas as virtudes, enquanto forma de todos.

 

Pode-se considerar de dois modos a ordem entre as criaturas e Deus. Um, é aquele segundo o qual as criaturas, sendo causadas por Deus, dependem Dele enquanto princípio do seu ser. E, assim, pela infinitude de seu poder, Deus atinge cada coisa, causando-a e conservando-a, e é nesse sentido que se afirma que Deus está imediatamente em todas as realidades por essência, por presença e por potência. Há, porém, uma outra ordem pela qual uma realidade tende para Deus como fim, e aí, como diz Dionísio, há mediação entre as criaturas e Deus: porque as inferiores são conduzidas a Deus pelas superiores.

 

Deus é a medida de todos os entes... O intelecto humano recebe sua medida das coisas, de tal modo que um conceito do homem não é verdadeiro por si mesmo, mas se diz verdadeiro pela consonância com a realidade. O intelecto divino, porém, é a medida das coisas, já que uma coisa tem tanto de verdade quanto reproduz em si o intelecto divino... As coisas naturais estão no meio entre o conhecimento de Deus e o nosso. Pois nós recebemos o conhecimento das coisas naturais, das quais, Deus, pelo seu conhecimento, é a causa. Daí que: assim como o cognoscível das coisas antecede o nosso conhecimento e é a sua medida, assim, também, o conhecimento de Deus antecede as coisas naturais e é medida para elas.

 

O verdadeiro e o bem estão incluídos um no outro. Pois o verdadeiro é um certo bem, senão não seria apetecível; e o bem, um certo verdadeiro, senão não seria inteligível... Na realidade objetiva das coisas, o bem e a verdade são permutáveis. Daí que o bem seja entendido pelo intelecto a título de verdade; e o verdadeiro, apetecido pela vontade a título de bem.

 

Quando tratamos das paixões, a esperança visa um objeto principal, que é o bem esperado. E em relação a ele, o amor sempre precede a esperança; pois, nenhum bem é esperado sem ser antes desejado e amado. Em segundo lugar, a esperança também recai sobre aquele por quem esperamos poder conseguir um bem. E neste caso a esperança, primeiramente, precede o amor, embora depois, pelo próprio amor, a esperança aumente. Pois é porque julgamos podermos conseguir um bem por meio de outrem, que começamos a amá-lo; é por isso mesmo que o amamos e nele mais fortemente esperamos.

 

A concórdia não é uniformidade de opiniões, mas concordância de vontades.

 

A bem-aventurança é o fim último da vida humana. Ora, considera-se como já possuindo o fim quem tem a esperança de obtê-lo. Donde, diz o Filósofo que as crianças se consideram felizes por causa da esperança; e o Apóstolo (Rm. VIII, 24): 'na esperança é que temos sido feitos salvos.' Ora, a esperança de conseguir o fim resulta de nos movermos convenientemente para ele e dele nos aproximarmos, e isso se faz pelo agir. Ora, nós nos movemos para a bem-aventurança final e dela nos aproximamos, pelos atos virtuosos, e principalmente pela influência dos dons, se nos referimos à eterna beatitude, para a qual não basta a razão, mas é necessário o auxílio do Espírito Santo, para obedecer e seguir ao qual nos tornam aptos os dons. Logo, as bem-aventuranças distinguem-se das virtudes e dos dons, não como hábitos deles distintos, mas como os atos se distinguem dos hábitos.

 

Deus, sendo uno, produz o uno. Não só porque qualquer coisa é em si una, mas, também, porque, de certo modo, a totalidade das coisas, encerra unidade de perfeição... Quanto mais algo é uno, tanto mais perfeita sua bondade e força.

 

Agostinho e Ambrósio atribuem as bem-aventuranças aos dons e às virtudes, assim como os atos são atribuídos aos hábitos. Os dons porém são mais eminentes que as virtudes cardeais, como já dissemos. E, por isso, Ambrósio, explicando as bem-aventuranças propostas à multidão, as atribui às virtudes cardeais; ao passo que Agostinho, ...as atribui aos dons do Espírito Santo.

 

Sempre se verifica o fato de que o ínfimo de uma ordem de um ser superior é limítrofe ao supremo da ordem inferior. Assim, certos ínfimos do gênero animal mal superam a vida das plantas, como é o caso da ostra, que é imóvel, só tem tato e está fixa como as plantas. Daí São Dionísio dizer: 'A sabedoria divina enlaçou os fins dos superiores com os princípios dos inferiores'. No âmbito corporal, há, também, algo, o corpo humano, harmonicamente disposto, que também se enlaça com o ínfimo do superior, a alma humana, que está no último grau das realidades espirituais. Tal enlace se manifesta no próprio modo de conhecer da inteligência humana. Daí que a alma espiritual humana seja como que um certo horizonte e fronteira entre as realidades corpóreas e as incorpóreas: ela mesma é incorpórea e, no entanto, é forma de corpo.

 

Deve-se considerar que a natureza de algo é principalissimamente a forma segundo a qual se constitui a espécie da coisa. Ora, o homem é constituído em sua espécie pela alma racional. Daí que aquilo que é contra a ordem da razão seja propriamente contra a natureza do homem enquanto tal.

 

Sobre os prêmios... manifestam-se diversamente os expositores da Sagrada Escritura. Uns, como Ambrósio, dizem pertencerem todos à futura beatitude. Agostinho, porém, considera-os pertencentes à vida presente. Crisóstomo, por seu lado, nas suas Homilias, diz pertencerem uns à vida futura, e outros, à presente. Para evidenciá-lo, devemos considerar que a esperança da futura beatitude pode existir em nós por duas razões: primeiro, por uma certa preparação ou disposição à futura beatitude, e isso se dá pelo mérito; ou, segundo, por uma incoação imperfeita da futura beatitude, nos varões santos, já nesta vida. Pois, uma é a esperança na frutificação da árvore, quando rondeja viridente, e outra, quando começam a aparecer os primeiros frutos. Por onde, o nas bem-aventuranças concernente ao mérito; são umas preparações ou disposições à beatitude, perfeita ou incoada. E o concernente nelas aos prêmios, pode consistir ou na beatitude perfeita em si mesma, e então respeitar à vida futura, ou em uma incoação da beatitude, como se dá com os santos varões, e então dizem respeito à vida presente. Pois, quem começa por progredir nos atos das virtudes e dos dons pode ter esperança de chegar à perfeição da via e da Pátria.

 

Diferem a apreensão dos sentidos e a do intelecto. Ao sentido compete apreender o colorido; ao intelecto, a própria natureza da cor.

 

Embora às vezes, os maus não sofram nesta vida penas temporais, as sofrem, contudo, espirituais: Por isso, diz Agostinho: 'Conforme mandaste, Senhor, a alma desregrada é para si mesma o seu castigo'. E o Filósofo, falando dos maus: 'na alma deles domina a discórdia, que os arrasta, ora para aqui e ora, para lá' E depois, conclui: 'Se a tal ponto é miserável o ser mau, havemos de fugir intensamente a malícia'. E semelhante e inversamente, embora os bons não recebam às vezes prêmios materiais nesta vida, nunca lhes hão de faltar, contudo, os espirituais, já nesta vida, conforme aquilo da Escritura (Mt. XIX, 29 e Mc. X, 30): 'recebereis, já neste século, o cêntuplo.'

 

As naturezas intelectuais têm maior afinidade com o todo do que as outras naturezas. Uma substância intelectual qualquer é, de certo modo, todas as coisas, já que pode apreender a totalidade do real pelo seu intelecto; ao passo que qualquer outra substância participa apenas de um setor particular do ser.

 

Todos os prêmios, de que se trata, se consumarão por certo, na vida eterna; mas de certo modo, enquanto lá não chegamos, começam já nesta vida. Pois, o reino dos céus, no dizer de Agostinho, pode ser entendido como o início da sabedoria perfeita, por já começar a reinar neles o espírito. Quanto à posse da Terra, ela significa o bom afeto da alma repousando pelo desejo na estabilidade da herança perpétua, que é o significado de Terra. São consolados nesta vida, participando do Espírito Santo, denominado 'Paráclito', isto é, Consolador. Ficam saturados, já no estado atual, do alimento de que diz o Senhor (Jo IV, 34): 'A minha comida é fazer eu a vontade de meu Pai.' Também nesta vida os homens alcançam a misericórdia de Deus. Nela, purificada a visão pelo dom da inteligência, Deus pode, de certo modo, ser visto. Mesmo nesta vida, também os que pacificam os seus movimentos tornando-se mais semelhantes a Deus, são chamados seus filhos. Mas, sê-lo-ão mais perfeitamente, na Pátria.

 

Quanto aos dons espontâneos, a virtude da liberalidade nos aperfeiçoa para darmos a quem a razão nos manda fazer, por exemplo, aos amigos ou a outros que nos são chegados. Mas o dom, pela reverência para com Deus, só considera a necessidade nos casos em que são preferíveis os benefícios gratuitos. Donde o dizer Lucas (XIV, 12): 'Quando deres algum jantar ou alguma ceia, não chames nem teus amigos, nem teus irmãos etc.; mas convida os pobres, os aleijados etc...', o que é propriamente ter misericórdia. E por isso a quinta bem-aventurança proclama: 'Bem-aventurados os misericordiosos.'

 

Somos senhores de nossas ações no sentido de que podemos escolher isto ou aquilo. Não há escolha, porém, no que diz respeito ao fim, mas somente sobre 'o que se ordena ao fim' (como se diz na Ética de Aristóteles). Daí que o querer o último fim não seja uma daquelas coisas de que somos senhores.

 

Também os prêmios diferem entre si por mais ou menos ricos. Assim, possuir a Terra do Reino dos Céus é mais do que simplesmente tê-La; pois temos muitas coisas que não possuímos firme e pacificamente. Consolar-se no reino é mais do que tê-Lo e possuí-Lo, pois muitas coisas nós as possuímos com dor. Ser saciado é mais do que simplesmente consolar-se; pois a sociedade implica a abundância da consolação. Mas a misericórdia ainda excede à sociedade, porque recebemos, por ela, mais do que merecemos ou podemos desejar. E, mais ainda é ver a Deus, assim como maior é quem, na corte, além de se sentar à mesa do Rei, vê-Lhe a face. Por isso, na Casa Real, a maior dignidade é a do Filho do Rei.

 

Temo o homem de um livro só.

 

Tudo o que é imperfeito tende à perfeição.

 

A consciência é chamada de lei do nosso intelecto porque é o juízo da razão deduzido da lei natural.

 

Quando a razão, mesmo errando, propõe algo como preceito de Deus, então desprezar o ditame da razão é o mesmo que desprezar o preceito de Deus.

 

Veritas est adaequatio rei et intellectus. (A verdade é a adequação da coisa ao intelecto).

 

O meu Coração e a minha carne se regozijaram no Deus vivo.

 

 

 

 

Uma Palavra Final

 

 

 

 

Não é meu propósito querer corrigir ou acrescentar algo ao pensamento de Santo Tomás. Não porque eu concorde com tudo que está na Svmma Theologica. Misticamente, não concordo. Mas porque, primeiro, não me entranhei com a profundidade desejada para um estudo desta Natureza; segundo, porque, no principal, mutatis mutandis, subscrevo as entrelinhas do Doctor Angelicus; e, terceiro, porque, neste caso, qual seria a utilidade de discordar? Como afirmei no objetivo do estudo, espero que estes pouquíssimos fragmentos da Svmma Theologica que selecionei (sem comentar) possam vir a servir de estímulo para uma leitura da obra do Aquinate. Depois...

 

Entretanto, como este estudo foi muito longo, vou reapresentar o parágrafo que sucede a Quinta Via utilizada por Santo Tomás para demonstrar a existência de Deus. Deixo uma questão–reflexão em aberto: Quem ou o que criaram este algo que conhece e que é inteligente? E quem ou o que criaram o quem ou o que criadores deste algo que conhece e que é inteligente? E assim por diante... A Metafísica Rosacruz da AMORC, formulada pelo Mestre Alden (Dr. Harvey Spencer Lewis, Ph. D., FRC), assevera: Para o Ser nunca houve começo porque o Nada não pode dar origem a alguma coisa. Agora acrescento: se para o Ser nunca houve começo, para o ser não poderá haver fim porque se o Nada não pode originar ou criar alguma coisa, também não pode descriar o que quer que seja, nem mesmo uma ínfima e tenuíssima particulazinha de poeira. Movimento e mudança, sim; desaparecimento ou sumição no Nada, pelo Nada ou pelo que quer que seja, não. Na própria desintegração radioativa de um núcleo atômico instável, seja por ter excesso de prótons, seja por ter excesso de nêutrons, seja por ter excesso de ambos, este núcleo instável tende a se transformar em outro nuclídeo mais estável, basicamente por emissões alfa, beta ou gama. Como acuradamente percebeu Antoine-Laurent de Lavoisier (Paris, 26 de agosto de 1743 – Paris, 8 de maio de 1794), em a Natureza (ou no Universo) nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. Sub Sole nihil novi est. Não há nada de novo debaixo do Sol.

 

Mas não posso deixar de, mais uma vez, para concluir, insistir no fato de que nada, absolutamente nada, terá qualquer valor religioso, espiritual ou místico se ancorado em um imperativo hipotético malsão, isto é, se a ação for boa exclusivamente como um meio para a obtenção de alguma coisa – a obtenção do presumido céu, por exemplo, a troco de comedeiras. Ou ainda: se o imperativo hipotético impuser um dado curso de ação para se chegar a um determinado e interesseiro fim – escapar do abrasador inferno, por exemplo, a troco das mesmas ou de outras comedeiras. Se... porque... para... então... não têm o menor cabimento no seio da Sideralidade Incriada e Eterna (em termos espirituais). Daí, a total inefetividade das negociatas com Deus e com os Santos, a total inefetividade dos hipotéticos e exigidores dízimos tipo toma-lá-dá-cá, a total inefetividade das genuflexões almofadadas e interesseiras et cetera e tal e coisas e loisas. Eu não tenho a menor dúvida de que Santo Agostinho, Santo Tomás e os Santos Padres e as Santas Madres do Deserto sabiam disso e que concordam comigo. E Confissão auricular e Comunhão de manhã e sacanice e mixórdia à tarde adianta o quê? Isto é hipocrisia para nenhum fariseu botar defeito. Kantianamente, a coisa é assim e somente assim:

 

1º - Age somente em concordância com aquela máxima através da qual tu possas ao mesmo tempo querer que ela venha a se tornar uma lei universal.

2º - Age por forma a que uses a Humanidade, quer na tua pessoa como de qualquer outra, sempre ao mesmo tempo como fim, nunca meramente como meio.

2º - Deveremos agir por forma a que possamos pensar de nós próprios como leis universais legislativas através das nossas máximas. Podemos pensar em nós como tais legisladores autônomos apenas se seguirmos as nossas próprias leis.

 

Resumo: há uma obrigação moral única e geral —› Age de tal modo que a máxima da tua ação possa se tornar princípio de uma legislação universal.

 

O resto é simplesmente um hipotético e entrópico resto.

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. A Svmma Theologica (escrita entre os anos de 1265 e 1273) encontra-se dividida em três partes, onde se encontram 512 questões. Cada questão tem perguntas individuais. Estas representam os 2.669 capítulos onde estão contidas as 1,5 milhões de palavras; 1,5 vezes mais que todas as palavras de Aristóteles (1 milhão) e o dobro de todas as palavras conhecidas de Platão.

2. Nos pensamentos aristotélico e escolástico, acidente é o aspecto casual ou fortuito de uma realidade, que, por esta razão, é irrelevante para a compreensão do que nela é essencial e imprescindível (por exemplo, a cor azul de um tecido é um acidente que, por sua presença, não transforma a Natureza essencial desse objeto). Renato Nunes, Professor do Departamento de Ciências Humanas da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), no trabalho Aristóteles: a Filosofia e a Busca do Universal, explica: O fato é que o acidental, além de simples nome, não é muita coisa; ele está muito mais próximo do não-ser do que do ser. Contudo, o acidente, enquanto acidente, é, existe, ou seja, ele é uma categoria existencial positiva: existencial porque faz parte de um ser, da existência, da realidade de um ser; e positiva porque, de fato, é, está presente neste determinado ser. Pode não ser, entretanto, uma característica comum aos demais seres da mesma espécie, mas deste ora em análise, é, e, portanto, não pode deixar de ser real, ao menos para esse representante da espécie. Exemplo: livro volumoso. O acidente, para de fato ser considerado como acidente, só pode estar presente em um ser apenas em um determinado sentido. Assim, este livro que tenho agora em minhas mãos é volumoso; contudo, ser volumoso não é característica concernente a todo e qualquer livro, mas sim, deste que ora tenho em mãos. Nesse sentido, Aristóteles afirma: "aos resultados acidentais nenhuma arte ou faculdade corresponde, pois as coisas que são ou vêm a ser por acidente, também a causa é acidental".

3. A tautologia é, na Retórica, um termo ou texto redundante, que repete a mesma idéia. Como um vício de linguagem, a tautologia pode ser considerada um sinônimo de pleonasmo ou de redundância. A origem do termo vem de do grego tautó, que significa 'o mesmo', mais logos, que significa 'assunto'. Portanto, tautologia é dizer sempre a mesma coisa em termos diferentes. Em Filosofia e em outras áreas das ciências humanas, diz-se que um argumento é tautológico quando se explica por ele próprio, às vezes redundantemente ou falaciosamente. Por exemplo, dizer que o mar é azul porque reflete a cor do céu e o céu é azul por causa do mar é uma afirmativa tautológica. Da mesma forma, um sistema é caracterizado como tautológico quando não apresenta saídas à sua própria lógica interna. Em outro exemplo, exige-se de um trabalhador que tenha curso universitário para ser empregado, mas ele precisa ter um emprego para receber um salário e, assim, custear as despesas do curso universitário.

4. Diz o Frater Velado – Abade da Ordo Svmmvm Bonvm, Iniciado do Sétimo Grau do Faraó e Irmão Leigo da Ordem Rosacruz – no trabalho A Expansão dos Universos e o Trabalho dos Místicos (Instrução simplificada para buscadores que avançam na Senda): Tudo o que existe, sendo permanentemente extraído do Nada Absoluto, como uma contraforma do Nada Aparente, é gerado pela rotação da 'Spira Legis' (Espiral da Lei), que gira sobre si mesma ao mesmo tempo em que descreve um movimento de ascensão. Para configurar essa ascensão a própria 'Spira Legis' gera o Tempo, como um círculo de aferição dos eventos, e estabelece a Dualidade como um parâmetro de compreensão para as criaturas animadas. A noção de em cima e de em baixo é fixada na Mente e, por osmose, nas mentes das criaturas, e, então, a ascensão como um movimento vindo de um ponto e indo para outro pode ser compreendida pela consciência material, a habilidade que a matéria adquire de perceber e se perceber, quando animada... Na verdade, porém, coincidentemente, a era temporal em que o ser humano entrou agora marca a transposição do seu ser como um todo (físico e consciência) de um degrau para outro na escalada do animal homem para planos superiores de percepção, de vida e de manifestações. Nesse novo patamar, a alegoria da Queda perde o sentido, a Árvore da Vida cabalística se restringe às suas limitações e a concepção de Deus muda totalmente. Trata-se não só de uma evolução imaterial, nas vibrações mais sutis, que se refinam, com reflexos nas mais grosseiras, como uma etapa tipicamente cerebral, uma evolução do cérebro como transformador de vibrações, codificador/decodificador de símbolos e simbologias inteiras. Ou seja: o tipo biológico humano começa agora a apresentar as mutações que vinham sendo preparadas há vários séculos, e isto se reflete na capacidade de ter mais memória e usar a memorização melhor, na habilidade de desenvolver sistemas de raciocínio mais próximos da verdade e na possibilidade de lidar com tecnologias cada vez mais capazes de influir diretamente na genética humana. É nesse contexto que o moderno místico tem de se situar para poder realizar seu trabalho, em uma missão que conjuga misticismo, ciência e tecnologia para a consecução de objetivos sociais e políticos bem definidos. Cabe ao místico moderno influir incisivamente nos acontecimentos políticos de seu tempo de modo que o sistema social possa melhorar, tendo-se como referencial a totalidade da raça humana e sua egrégora. Para que um místico possa atuar efetivamente dentro dessa realidade, é necessária harmonização com a Criação e com os seus mecanismos de evolução, e perfeito entrosamento com outros místicos que pensem e ajam da mesma forma, independente da organização a que sejam afiliados ou que tenha fundado e estejam conduzindo na face da Terra. Muitas tentativas sérias nesse sentido têm sido feitas nos últimos anos que precederam a passagem do Terceiro Milênio CE, como uma preparação para o que deve vir agora. Este texto, para leitura integral, está disponibilizado no endereço:

http://svmmvmbonvm.org/expansuniv/

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.montfort.org.br/index.php?secao=cadernos
&subsecao=religiao&artigo=existencia&lang=bra#5

http://www.consciencia.org/filosofia_
medieval19_sao_tomas_de_aquino.shtml

http://www.impactnew.com/filosofante/
pdf/filosofia_cultura_popular.pdf

http://www.consciencia.org/
aquinovidigal.shtml

http://desintencao.blogspot.com/
2007_01_01_archive.html

http://jus2.uol.com.br/
doutrina/texto.asp?id=2883

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Immanuel_Kant

http://www.permanencia.org.br/
sumateologica/suma.htm

http://sumateologica.permanencia.org.br/
suma.htm

http://sumateologica.permanencia.org.br/

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Tom%C3%A1s_de_Aquino

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Alberto_Magno

http://www.consciencia.org/
aquinovidigal.shtml

http://swordovoden.blogspot.com/

http://www.mctv.ne.jp/~bigapple/

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Suma_Teol%C3%B3gica

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Indulg%C3%AAncia_Plena

http://www.unisc.br/cursos/graduacao/
filosofia/docs/Aristoteles.doc#footnote18

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Tautologia

http://www.interconect.com.br/
clientes/pontes/externas/suma.htm

http://www.santotomas.com.br/
aquino/frasessobre.asp

http://www.mundodosfilosofos.com.br/
aquino.htm

http://anomalias.weblog.com.pt/
arquivo/2006_01.html

http://www.hottopos.com/
mp3/sentom.htm

 

Música de fundo:

Laudate Pueri Dominum

Fonte:

http://www.geocities.com/
nunes_garcia/JM_P_Sal.htm